domingo, 4 de outubro de 2009

DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL

Por Beto Magno

Glauber Rocha, possivelmente o mais genial cineasta Brasileiro, já vinha de um curta memorável, O Pátio (1959), e de um primeiro longa mítico, Barravento (1962), quando rodou este que é considerado por muitos o maior filme brasileiro já feito. Na verdade, algumas raras vezes ultrapassado por Limite (1962), de Mário Peixoto, e por outro do mesmo diretor baiano, a obra-prima Terra em Transe (1967). Mas Deus e o Diabo na Terra do Sol pisa em terreno sagrado do cinema nacional, que é o Nordeste brasileiro, espaço simbólico que representa a realidade do País, suas origens e marginalidade em contraste com grandes centro urbanos. Nos anos 60, com a efervescência do debate político, ás véspera do golpe militar de abril de 1964, o longa ganha a importância suprema.

Glauber Rocha, diferentimente do que se via nos documentários e do que outros cineastas fizeram nos anos 90, não glamoriza a região, tampouco enxerga seus habitantes como coitadinhos. A luta de Manoel (Geraldo Del Rey), boiadeiro que se rebela contra a exploração do seu cruel patrão e parte, com a mulher, Rosa (Yoná Magalhães), á procura de um líder, é complexa, insolúvel, cheia de escorregões e acertos. Ele seguirá primeiramente um líder religioso, Sebastião (Lídio Silva), que prega o olhar para Deus e renúncia aos bens materiais. Depois, enganjam-se na luta armada de Corisco (Othon Bastos), líder de um bando de sanguinário e consciente de que o projeto político caiu por terra. Em meio a tudo isso, encontra-se o mais esclarecido de todos, o mercenário Antonio das Mortes (Maurício do Valle).

Antes de lançar o seu manifesto A Estética da Fome, em 1965, no qual elaborou um estilo e meios de produção que dessem conta das condições materiais precárias do Terceiro Mundo, Glauber já colocou em prática aqui alguns desses procedimentos. Seu programa pretendia captar a urgência do real e, ao mesmo tempo, deixar evidente seu caráter de encenação, de representação e de metáfora. Em Deus e o Diabo na Terra do Sol, o resultado é uma visão critica do país traduzida num faroeste encenado como ópera musicada com cordel (escrita pelo próprio Glauber e por Sérgio Ricardo). O diretor tambêm usa a Bachianas nº 5, de Heitor Villa-Lobos, como trilha da sequência que ficou célebre, em que corísco e Rosa se beijam e a câmera gira em torno do casal.
Revista Bravo! (Filmes essenciais da história do cinema)

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