RAUL SEIXAS
“Estamos materializando aqui uma ideia de cinco anos atrás, quando um garoto visionário decidiu que iria fazer um filme sobre Raul Seixas”.
O autor da frase é Walter Carvalho, mais respeitado diretor de fotografia do cinema brasileiro em atividade (”Central do Brasil”, “Lavoura Arcaica”), ao iniciar, no último domingo(19) em Salvador, as fillmagens de “O Inicio, o Fim e o Meio”, documentário que promete abrir ainda mais o baú de informações sobre a vida do lendário roqueiro baiano, morto em 21 de agosto de 1989
O “garoto” em questão é o produtor Denis Feijão, 30, idealizador do longa. Para um completo desconhecido no mercado cinematográfico, quando teve a ideia, é impressionante ver a estrutura que o projeto tomou.
É uma conquista ver tudo se concretizando. E, para mim, era fundamental começar aonde tudo começou para Raul”, diz Feijão, explicando o motivo das filmagens começarem pela capital baiana.
Depois de Salvador, a equipe parte para filmagens no Rio de Janeiro e São Paulo, finalizando em junho com entrevistas no exterior (provavelmente na Suíça) com o parceiro de Raul, o escritor Paulo Coelho. Também impressiona a escalação para a direção do projeto: Walter Carvalho e Evaldo Mocarzel, nomes consagrados do cinema nacional.
Carvalho tem, como diretor, no currículo, a bem sucedida cinebiografia “Cazuza – O Tempo Não Para” (co-dirigido por Suzana Werneck) e o premiado documentário “Janela da Alma”, (co-dirigido por João Jardim).
“Fiquei muito sensibilizado com o convite porque, como documentarista, gosto de trabalhar com a memória”, disse ele, em um intervalo nas gravações das primeiras entrevistas do filme, realizadas no Café Portela, no bairro do Rio Vermelho.
Acostumado aos trabalhos em dupla e vendo o tamanho da proporção do trabalho, Carvalho (que lança no próximo dia 22 de maio a adaptação para o cinema do livro de Chico Buarque, “Budapeste”) convidou para a empreitada o amigo Mocarzel – editor nos anos 90 do caderno de cultura do jornal Estado de S. Paulo e, na atual década, um documentarista de filmes como “Do Luto à Luta” e “A Imagem do Concreto”. “Serviu para aumentar o meu medo em me meter nesta aventura”, brinca Carvalho.
Parece que, realmente, Raul Seixas estava no caminho de Mocarzel. Além de ser testemunha de vários momentos do que chama de “ascensão e queda de Raul”, outro fato curioso liga o jornalista/cineasta ao cantor: “Quando fui morar em São Paulo, em 1990, morei no apart hotel em que ele morreu. O filme está cheio dessas coincidências loucas. Quando o Waltinho me chamou para dividir a direção, fiquei muito excitado. Raul é o expoente de uma época. Vamos falar de Brasil, dos anos 60. Quer dizer, até o fato dele ter nascido em 1945, ano das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, marcou o estilo apocalíptico dele”
Falando em coincidências, uma delas veio logo de cara no início das filmagens em Salvador. É que, como o humorista Chico Anysio estava na cidade, se apresentando no Teatro Castro Alves, os diretores foram atrás de uma entrevista. Mas o que ligaria Raul Seixas e Chico Anysio?
“Tivemos a informação de que o Chico deu uma força para o Raul ir para o Rio. Na verdade, o que ele fez foi sugerir ao (cantor) Jerry Adriani os Panteras (banda com que Raul tocou no início de sua carreira). Muitos episódios da vida de Raul são lendas. Disseram também que o Chico Anysio tinha ajudado a carregar os instrumentos dos Panteras. O que até tem uma parte de verdade. Vamos ter que enfrentar essas várias camadas de realidades, essas ciladas”, explica Carvalho
Outra coincidência que os diretores esperam que aconteça é que dois fãs especiais do cantor leiam esta matéria. São personagens de duas fotos de momentos peculiares: uma delas, feita durante o velório do cantor, mostra alguns fãs chorando copiosamente no seu caixão (o fã desejado é o mais em destaque na imagem, na extrema direita, de barba).
Já a outra foto mostra Carlos Augusto Santana Silva, que em 1993, foi flagrado tentando levar para casa, como recordação, a lápide do túmulo de Raul. “Estamos curiosos para descobrir como essas pessoas se relacionam com Raul hoje em dia”, diz o produtor Feijão, que deixa o contato da produção – (71) 2103-2233 ramal 2074, para quem souber alguma informação.
Carvalho e Mocarzel se mostram abertos às possibilidades que podem aparecer na busca de informações e no processo de realização do filme. “O ponto de partida é Raul. Não temos um ponto a chegar, e, sim, de partir. Quanto mais elementos você tem, mais você descobre as relações entre estes pontos com o tema”. diz Carvalho
“Claro que você vislumbra um filme na sua cabeça. Eu vislumbro essa textura de memória, ir no colégio Maristas, onde ele foi expulso, e observar a ação do tempo nessas locações. O filme terá várias texturas, porque temos matérias das mais diversas fontes: Super 8, VHS, e por aí vai. Também queremos trabalhar com o silêncio e, ao mesmo tempo, o universo rock’n'roll do Raul, sua trajetória, problemas com o alcoolismo. Uma de suas mulheres diz que, se ele passava uma imagem de artista muito agressivo, em casa era um homem muito delicado. Queremos também humanizar o mito”, complementa Mocarzel.
Entre as 54 pessoas pré-selecionadas para as entrevistas, estão personalidades como os cantores Jerry Adriani e Marcelo Nova, as três mulheres com quem Raul foi casado, os companheiros de banda local Os Panteras, além de personalidades da indústria musical, como os produtores Roberto Menescal, André Midani e Marco Mazolla. E, claro, Paulo Coelho.
Por fim, a pergunta que os fãs devem estar ansiosos: quando o filme chega às telas? “Te garanto que sai esse ano. Acho que está mais para a Mostra Internacional de São Paulo (fim de outubro), entrando no circuito comercial logo depois”, afirma Feijão.
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