Paulo Villaça e Helena Ignez (cena do filme O Bandido da Luz Vermelha)
Rogério Sganzerla (Joaçaba, 26 de novembro de 1946 — São Paulo, 9 de janeiro de 2004)
Desde cedo, Sganzerla manifestou sua vocação para o cinema. Casou-se com sua própria musa do cinema (a atriz Helena Ignez), viveu para o cinema e morreu fazendo cinema.
De natureza intelectual, leitor e escritor precoce, formado desde a adolescência na leitura de diversas tradições artísticas e de vanguardas mundiais. Antes de começar sua produção cinematográfica, ainda muito jovem, foi acolhido por Décio de Almeida Prado, que na época dirigia o Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo, e seu texto de estréia foi sobre Os Cafajestes, filme de Ruy Guerra de 1962.
Continuou no Suplemento e colaborou também com o Jornal da Tarde. Sempre escrevendo sobre cinema.Em 1967 realizou seu primeiro curta-metragem titulado como Documentário.
E em 1968 seu primeiro longa-metragem foi rodado, o consagrado O bandido da luz vermelha. Estrelado por Paulo Villaça, perfeito no papel de um psicopata, o filme caiu como uma bomba no colo de uma intelectualidade que repetia feito papagaio o discurso pós-moderno de Michel Foucault e outros ideólogos que radiografaram a ascensão dos discursos das minorias. Com uma violência estilizada, tataravó do estilo “Pulp Fiction”, “O Bandido da Luz Vermelha” acompanhava o bafafá criado pelas ações de um ladrão, assassino e estuprador que representava uma metáfora da ação do poder repressor.Anos antes de Stanley Kubrick abordar realidade similar com seu “Laranja Mecânica”, Sganzerla chocava com sua experiência visual rica em referências à cultura nacional, incluindo MPB, literatura e o próprio cinema. Já ali aparecia Helena Ignez como a ninfa que inspira o gênio criador do cineasta. Lançado em 1968, o filme deixou a crítica, que ainda procurava se acostumar com os desvarios estéticos dos cinemanovistas, de cabelo em pé. Afinal, ali ganhava maturidade e voz grossa de adulto um novo projeto de se abordar a realidade brasileira na tela grande. Projeto este batizado como “Cinema Marginal”, que ganhara vida no ano anterior com o lançamento de “A Margem”, obra-prima de Ozualdo R. Candeias, calcado na pobreza de quem está na periferia do grande capital. Até hoje, no cenário acadêmico há quem prefira “O Bandido da Luz Vermelha” a “Deus e o Diabo na Terra do Sol”.
Em instituições públicas de ensino de cinema, como a Universidade Federal Fluminense, no Rio, e a Universidade de São Paulo, existem legiões de estudantes que enxergam em Sganzerla um mito de renovação e revolução estética. E, por isso, sua obra mais popular é tema de pesquisas e estudos, como o de Fernão Ramos, aclamado pesquisador e autor do livro “Cinema Marginal”. “’O Bandido da Luz Vermelha’ é um filme singular em diversos aspectos. Por seu ineditismo, já incorpora uma certa desenvoltura em relação à utilização irônica da narrativa clássica, embora seja ainda marcado pelo Cinema Novo”, afirmou Fernão em seu livro.
“Faltou linguagem depois do ‘Bandido’. Ninguém está se mancando. Naquele momento estávamos sintonizados.
“Faltou linguagem depois do ‘Bandido’. Ninguém está se mancando. Naquele momento estávamos sintonizados.
Nós éramos muito cultos naquele momento. Faltaram condições históricas para não deixar acontecer. Os produtores se tornaram muito ingênuos, não entendiam mais nada de cinema. O cinema tem de ter linguagem. Tem de ter estrutura. Em São Paulo perdeu-se a sintaxe do cinema e perdeu-se também até a dignidade do cinema. E não se culpem os realizadores por isso”.