Turma de alunos da Cap Escola de Tv e Cinema em Salvador gravando um curta no Jardim de Alha...
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quarta-feira, 20 de outubro de 2010
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
ODE AO DOIS DE JULHO
sábado, 24 de abril de 2010
FUNÇÔES CINEMATOGRÁFICAS E SUAS ATRIBUIÇÕES
Por Beto Magno
Ator - 2 – Cria , interpreta, e representa uma ação dramática baseando-se em textos, estímulos visuais, sonoros e outros, previamente concebidos por um autor ou criados através de improvisações individuais ou coletivas, utiliza-se de recursos vocais, corporais e emocionais, apreendidos ou intuídos , com o objetivo de transmitir ao espectador o conjunto de idéias e ações dramáticas propostas, pode utilizar-se de recursos técnicos para manipular bonecos, títeres e congêneres, pode interpretar sobre a imagem a voz de outrem, ensaia buscando aliar a sua criatividade à de diretor, atua em locais onde apresentam espetáculos de diversões públicas e / ou nos demais veículos de comunicação.
Auxiliar de Iluminador – Presta auxílio direto ao iluminador na operação dos sistemas de luz , transporte e montagem dos equipamentos. Cuida da limpeza e conservação dos equipamentos, materiais e instrumentos indispensáveis ao desempenho da função.
Auxiliar de Tráfego – Encarrega-se do encaminhamento dos filmes ao seus devidos setores.
Carpinteiro – Prepara material em madeira para a cenografia e outras destinaçoes.
Cenarista de Animação – Executa os cenários necessários para cada plano, cena e seqüência da animação conforme os “lay-outs” de cena e orientação do chefe de arte e do diretor de animação.
Cenógrafo – cria , projeta e supervisiona, de acordo com o espírito da obra a realização e montagem de todas as ambientaçoes e espaços necessários, dirige a preparação, montagem e remontagem das diversas unidades de trabalho. Nos filmes de longa metragem exerce ainda, as funções de Diretor de arte.
Cenotécnico – Planeja, coordena, , constrói, adapta e executa todos os detalhes de material, serviços e montagem de cenários , segundo maquetes, croquis e plantas fornecidas pelo cenógrafo.
Chefe de Arte de Animação – Coordena o trabalho do colorista e da copiadora eletrostática.
Colador – Marcador de sincronismo – Tira as pontas de sincronismo, ao mesmo tempo que faz a marca do ponto sincrônico do anel anterior, colocando, por meio de emendas o rolo de filme e de magnético em seu estado original.
Colorista de Animação – Colore os desenhos impressos no acetato sob a supervisão do Chefe de arte.
Conferente de Animação – Confere o trabalho dos coloristas, auxilia na filmagem, cuida do mapa de animação e da ordem dos desenhos e cenários, separando-os por planos e cenas.
Continuista de Cinema – Assiste o Diretor cinematográfico no que se refere ao encadeamento e continuidade da narrativa, cenários, figurinos, adereços, maquilagens, penteados, luz, ambiente, profundidade de campo, altura e distancia da Câmera, elabora boletins de continuidade e controla os de som e de Câmera, anota diálogos, ações, minutagens, dados de Câmera e horário das tomadas , prepara a claquete, informa à produção dos gastos diários de negativo e fita magnética.
Contra-Regra de Cena – Encarrega-se da guarda, conservação e colocação dos objetos de cena sob orientação do Cenógrafo.
Cortador – colocador de anéis – Corta os trechos marcados do copião ou cópia do trabalho seguindo a numeração feita pelo Marcador de anéis.
Diretor de Animação – Cria o planejamento de animação do filme, os “lay-outs” de cena, guias de animação, movimentos de Câmera, supervisiona o processo de produção, inclusive trilha sonora, é o responsável pela qualidade do filme.
Diretor de Arte – Cria, conceitua, planeja e supervisiona a produção de todos os componentes visuais de um filme ou espetáculo, traduz em formas concretas as relações dramáticas imaginadas pelo diretor cinematográfico e sugeridas pelo roteiro, define a construção a plástico-emocional de cada cena e de cada personagem dentro do contexto geral do espetáculo, verifica elege as locações as texturas, a cor e os efeitos visuais desejados, junto ao diretor cinematográfico e ao diretor de fotografia, define e conceitua o espetáculo estabelecendo as bases sob as quais trabalharão o Cenógrafo, o figurinista, o maquiador, o técnico em efeitos especiais cênicos, os gráficos e os demais profissionais necessários supervisionando-os durante as diversas fases de desenvolvimento do projeto.
Diretor de Arte de Animação – Responsável pelo visual gráfico dos filmes de animação, cria os personagens e os cenários do filme.
Diretor Cinematográfico – Cria a obra cinematográfica, supervisionando e dirigindo sua execução, utilizando recursos humanos, técnicos e artísticos, dirige artisticamente e tecnicamente a equipe e o elenco, analisa e interpreta o roteiro do filme, adequando-o à realização cinematográfica sob o ponto de vista técnico e artístico, escolhe a equipe técnica e o elenco, supervisiona a preparação da produção, escolhe locações, cenários , figurinos, cenografias e equipamentos, dirige ou supervisiona montagem, dublagem, confecção da trilha musical e sonora, e de todo o processamento do filme até a cópia final, acompanha a confecção do “trailer”, e do “avant-trailer”.
Diretor de Dublagem – Assiste ao filme e sugere a escalação do elenco para a dublagem do filme, esquematiza a produção, programa nos horários de trabalho, orienta a interpretação e o sincronismo do ator sobre sua imagem ou de outrem.
Diretor de Fotografia – Interpreta com imagens o roteiro cinematográfico, sob a orientação do diretor cinematográfico, mantém o padrão técnico e artístico da imagem, durante a preparação do filme, seleciona e aprova o equipamento adequado ao trabalho, indicando e/ ou aprovando os técnicos sob sua orientação, o tipo de negativo a ser a adotado, os testes de equipamento, examina e aprova locações interiores e exteriores, cenários e vestuários, nas filmagens orienta o operador de Câmera, assistente de Câmera, eletricista, maquinista e supervisiona o trabalho do continuista e do maquiador, sob o ponto de vista fotográfico, no acabamento do filme, quando conveniente ou necessário, acompanha a cópia final, em laboratório, durante a marcação de luz.
Diretor de Produção Cinematográfica – Mobiliza e administra recursos humanos, técnicos, artísticos e materiais para realização do filme, racionaliza e viabiliza a execução do projeto, mediante análise técnica do roteiro, em conjunto com Diretor cinematográfico ou seu assistente, administra financeiramente a produção.
Editor de Áudio – Encarrega-se da guarda, manutenção e adequada instalação do equipamento elétrico e de iluminação do filme, distribuindo de acordo com as indicações do diretor de fotografia, determina as especificações dos geradores a serem utilizados.
Figurante – Participa, individual ou coletivamente, como complementação de cena.
Figurinista – Cria e projeta trajes e complementos usados pelo elenco e figuração, executando o projeto gráfico dos mesmos, indica os materiais a serem utilizados, acompanha, supervisiona e detalha a execução do projeto.
Fotógrafo de Cena – Fotografa, durante as filmagens, cenas do filme para efeito de divulgação e confecção de material publicitário, indica o material adequado ao seu trabalho, trabalhando em conjunto com o diretor cinematográfico e o diretor de fotografia.
Guarda Roupeiro – Encarrega-se da conservação das peças de vestuário utilizadas no espetáculo ou produção, auxilia o elenco e a figuração a vestir as indumentárias, organiza a guarda e embalagem dos figurinos, em caso de viagem.
Letrista de Animação – Executa os letreiros ou créditos para produções cinematográficas.
Maquiador de Cinema – Encarrega-se da maquilagem ou caracterização do elenco e figuração de um filme, sob orientação do diretor cinematográfico, em comum acordo com o diretor de fotografia, indica os produtos a serem utilizados em seu trabalho.
Maquinista de Cinema – Encarrega-se do apoio direto ao operador de
Câmera e eletricista no que se refere ao material maquinária, instala e opera equipamentos destinados à fixação e/ ou movimentação de Câmera.
Marcador de Anéis – Executa a marcação dos anéis de dublagem, no copião ou cópia de trabalho.
Microfonista – Assiste o técnico de som, monta e desmonta o equipamento, zelando, pelo seu bom estado, posiciona os microfones, confecciona os boletins de som.
Montador de Filme Cinematográfico – Monta e estrutura o filme em sua forma definitiva, sob a orientação do diretor cinematográfico, a partir do material de imagem e som, usando seus recursos artísticos, técnicos e equipamentos específicos, zelando pelo bom estado e conservação das pistas sonoras, faz o plano de mixagem, participando da mesma, orienta o assistente de montagem.
Montador de Negativo – Monta negativos de filmes cinematográficos e do diretor de fotografia, enquadra as cenas do filme, indica os focos e os movimentos de “zoom” e Câmera.
Operador de Câmera de Animação – Filma os desenhos em equipamentos especial responsabilizando-se pela qualidade fotográfica do filme.
Operador de Gerador – Encarrega-se da manipulação e operação do gerador e corrente elétrica durante as filmagens.
Operador de Vídeo – Responsável pela qualidade de imagem no vídeo, operando as controles aumentando ou diminuindo o vídeo e pedestal, alinhando as câmeras, colocando os filtros adequados e corrigindo as aberturas de diafragma.
Operador de Telecine – Opera projetores de telecine,
comunicando-os de acordo com as necessidades de utilização, efetua ajustes operacionais nos projetores ( foco, filamento e enquadramento ).
Operador de Áudio – Opera a mesa de áudio durante gravações, respondendo por sua qualidade.
Pesquisador Cinematográfico – Coleta e organiza dados e materiais, desenvolve pesquisas no sentido de preservação da memória cinematográfica, sob qualquer forma, quer fílmica, bibliográfica, fotográfica e outras.
Pintor Artístico – Executa o trabalho de pintura dos cenários, prepara cartazes para utilização nos cenários, amplia quadros e telas, zela pela guarda e conservação dos materiais e instrumentos de trabalho, indispensáveis à execução de sua tarefa.
Projecionista de Laboratório – Opera o projetor cinematográfico especialmente preparado para os trabalhos de estúdio de som.
Revisor de Filme – Executa a revisão e reparo das cópias de filmes, verificando as condições materiais das mesmas, sob coordenação dos arquivistas de filmes.
Roteirista de Animação – Cria, a partir de uma idéia texto ou obra literária, sob forma de argumento ou roteiro de animação, narrativa com seqüências de ação, com ou do qual se realiza o filme de animação.
Roteirista Cinematográfico – Cria a partir de uma idéia, texto ou obra literária, sob a forma de argumento ou roteiro cinematográfico, narrativa com seqüências de ação, com ou sem diálogos, a partir da qual se realiza o filme.
Técnicos em Efeitos Especiais Cênicos – Realiza e /ou opera, durante as filmagens, mecanismos que permitem a realização de cenas exigidas pelo roteiro cinematográfico, cujo efeito dá ao espectador convencimento da ação pretendida pelo diretor cinematográfico.
Técnicos em Efeitos Especiais Óticos – Realiza e elabora trucagens, durante as filmagens, com acessórios complementares à Câmera, sem a utilização de laboratório de imagens ou “truca”.
Técnico de Finalização Cinematográfica – Acompanha as trucagens e faz o tráfego de laboratórios, supervisionando a qualidade do material trabalhado, na área do filme publicitário.
Aderecista – Monta, transforma ou duplica, utilizando-se de técnicas artesanais, objetos cinematográficos e de indumentária, segundo orientação do cenógrafo e/ ou figurinista.
Animador – Executa a visualização do roteiro, modelos dos personagens e os “lay-outs “de cena, conforme orientação do Diretor de animação.
Arquivista de filmes – Organiza, controla e mantém sob sua guarda filmes e material publicitário em arquivos apropriados, avalia e relata o estado do material publicitário em arquivos apropriados, avalia e relata o estado do material, coordenando os trabalhos de revisão e reparos das cópias, quando possível ou necessário, com o auxílio do Revisor.
Assistente de animação – Transfere para o acetato, os “lay-outs” do Animador e do Assistente de Animador.
Assistente de animador – Completa o planejamento de animador intercalando os desenhos, faz pequenas animações.
Assistente de Câmera de Cinema – Assiste o Operador de Câmera e o Diretor de Fotografia, monta e desmonta a Câmera de cinema e seus acessórios, zela pelo bom estado deste equipamento, carrega e descarrega chassis, opera o foco, a “zoom” e o diafragma, redige os boletins de Câmera, prepara o material a ser encaminhado ao laboratório, realiza os testes de verificação de equipamento.
Assistente de Cenografia – Assiste o Cenógrafo em suas atribuições, coleta dados e realiza pesquisas relacionadas com o projeto cenográfico.
Assistente do Diretor Cinematográfico – Assiste o Diretor Cinematográfico em suas atividades, desde a preparação da produção até o término das filmagens, coordena as comunicações entre o Diretor de Produção Cinematográfico e o conjunto da equipe e do elenco, colabora na análise técnica do roteiro e do elenco, colabora na análise técnica do roteiro, do plano e da programação diária de filmagens ou ordem do dia , supervisiona o recebimento e distribuição dos elementos requisitados na ordem do dia, coordena e dinamiza as atividades, visando o cumprimento da programação estabelecida.
Assistente de Montador Cinematográfico – Encarrega-se da ordenação, classificação e sincronização do som e imagem do copião; executa os cortes indicados pelo Montador Cinematográfico, classifica e ordena as sobras de som e imagem, sincroniza as diversas pistas componentes da trilha sonora.
Assistente de Montador de Negativo – Assiste o Montador de Negativo em suas atribuições, prepara o material e equipamento a ser utilizado , acondiciona as sobras de material.
Assistente de Operador de Câmera de Animação – Assiste o operador de Câmera no processo de filmagens de animação.
Assistente de Produtor Cinematográfico – Assiste o Diretor de Produção Cinematográfica no desempenho de suas funções.
Assistente de Revisor e Limpador – Encarrega-se da revisão e limpeza de películas e fitas magnéticas.
Assistente de Trucador – Assiste o Trucador Cinematográfico em suas atribuições.
Animador – Executa a visualização do roteiro, modelos dos personagens e os “lay-outs “de cena, conforme orientação do Diretor de animação.
Arquivista de filmes – Organiza, controla e mantém sob sua guarda filmes e material publicitário em arquivos apropriados, avalia e relata o estado do material publicitário em arquivos apropriados, avalia e relata o estado do material, coordenando os trabalhos de revisão e reparos das cópias, quando possível ou necessário, com o auxílio do Revisor.
Assistente de animação – Transfere para o acetato, os “lay-outs” do Animador e do Assistente de Animador.
Assistente de animador – Completa o planejamento de animador intercalando os desenhos, faz pequenas animações.
Assistente de Câmera de Cinema – Assiste o Operador de Câmera e o Diretor de Fotografia, monta e desmonta a Câmera de cinema e seus acessórios, zela pelo bom estado deste equipamento, carrega e descarrega chassis, opera o foco, a “zoom” e o diafragma, redige os boletins de Câmera, prepara o material a ser encaminhado ao laboratório, realiza os testes de verificação de equipamento.
Assistente de Cenografia – Assiste o Cenógrafo em suas atribuições, coleta dados e realiza pesquisas relacionadas com o projeto cenográfico.
Assistente do Diretor Cinematográfico – Assiste o Diretor Cinematográfico em suas atividades, desde a preparação da produção até o término das filmagens, coordena as comunicações entre o Diretor de Produção Cinematográfico e o conjunto da equipe e do elenco, colabora na análise técnica do roteiro e do elenco, colabora na análise técnica do roteiro, do plano e da programação diária de filmagens ou ordem do dia , supervisiona o recebimento e distribuição dos elementos requisitados na ordem do dia, coordena e dinamiza as atividades, visando o cumprimento da programação estabelecida.
Assistente de Montador Cinematográfico – Encarrega-se da ordenação, classificação e sincronização do som e imagem do copião; executa os cortes indicados pelo Montador Cinematográfico, classifica e ordena as sobras de som e imagem, sincroniza as diversas pistas componentes da trilha sonora.
Assistente de Montador de Negativo – Assiste o Montador de Negativo em suas atribuições, prepara o material e equipamento a ser utilizado , acondiciona as sobras de material.
Assistente de Operador de Câmera de Animação – Assiste o operador de Câmera no processo de filmagens de animação.
Assistente de Produtor Cinematográfico – Assiste o Diretor de Produção Cinematográfica no desempenho de suas funções.
Assistente de Revisor e Limpador – Encarrega-se da revisão e limpeza de películas e fitas magnéticas.
Assistente de Trucador – Assiste o Trucador Cinematográfico em suas atribuições.
Ator - 2 – Cria , interpreta, e representa uma ação dramática baseando-se em textos, estímulos visuais, sonoros e outros, previamente concebidos por um autor ou criados através de improvisações individuais ou coletivas, utiliza-se de recursos vocais, corporais e emocionais, apreendidos ou intuídos , com o objetivo de transmitir ao espectador o conjunto de idéias e ações dramáticas propostas, pode utilizar-se de recursos técnicos para manipular bonecos, títeres e congêneres, pode interpretar sobre a imagem a voz de outrem, ensaia buscando aliar a sua criatividade à de diretor, atua em locais onde apresentam espetáculos de diversões públicas e / ou nos demais veículos de comunicação.
Auxiliar de Iluminador – Presta auxílio direto ao iluminador na operação dos sistemas de luz , transporte e montagem dos equipamentos. Cuida da limpeza e conservação dos equipamentos, materiais e instrumentos indispensáveis ao desempenho da função.
Auxiliar de Tráfego – Encarrega-se do encaminhamento dos filmes ao seus devidos setores.
Carpinteiro – Prepara material em madeira para a cenografia e outras destinaçoes.
Cenarista de Animação – Executa os cenários necessários para cada plano, cena e seqüência da animação conforme os “lay-outs” de cena e orientação do chefe de arte e do diretor de animação.
Cenógrafo – cria , projeta e supervisiona, de acordo com o espírito da obra a realização e montagem de todas as ambientaçoes e espaços necessários, dirige a preparação, montagem e remontagem das diversas unidades de trabalho. Nos filmes de longa metragem exerce ainda, as funções de Diretor de arte.
Cenotécnico – Planeja, coordena, , constrói, adapta e executa todos os detalhes de material, serviços e montagem de cenários , segundo maquetes, croquis e plantas fornecidas pelo cenógrafo.
Chefe de Arte de Animação – Coordena o trabalho do colorista e da copiadora eletrostática.
Colador – Marcador de sincronismo – Tira as pontas de sincronismo, ao mesmo tempo que faz a marca do ponto sincrônico do anel anterior, colocando, por meio de emendas o rolo de filme e de magnético em seu estado original.
Colorista de Animação – Colore os desenhos impressos no acetato sob a supervisão do Chefe de arte.
Conferente de Animação – Confere o trabalho dos coloristas, auxilia na filmagem, cuida do mapa de animação e da ordem dos desenhos e cenários, separando-os por planos e cenas.
Continuista de Cinema – Assiste o Diretor cinematográfico no que se refere ao encadeamento e continuidade da narrativa, cenários, figurinos, adereços, maquilagens, penteados, luz, ambiente, profundidade de campo, altura e distancia da Câmera, elabora boletins de continuidade e controla os de som e de Câmera, anota diálogos, ações, minutagens, dados de Câmera e horário das tomadas , prepara a claquete, informa à produção dos gastos diários de negativo e fita magnética.
Contra-Regra de Cena – Encarrega-se da guarda, conservação e colocação dos objetos de cena sob orientação do Cenógrafo.
Cortador – colocador de anéis – Corta os trechos marcados do copião ou cópia do trabalho seguindo a numeração feita pelo Marcador de anéis.
Diretor de Animação – Cria o planejamento de animação do filme, os “lay-outs” de cena, guias de animação, movimentos de Câmera, supervisiona o processo de produção, inclusive trilha sonora, é o responsável pela qualidade do filme.
Diretor de Arte – Cria, conceitua, planeja e supervisiona a produção de todos os componentes visuais de um filme ou espetáculo, traduz em formas concretas as relações dramáticas imaginadas pelo diretor cinematográfico e sugeridas pelo roteiro, define a construção a plástico-emocional de cada cena e de cada personagem dentro do contexto geral do espetáculo, verifica elege as locações as texturas, a cor e os efeitos visuais desejados, junto ao diretor cinematográfico e ao diretor de fotografia, define e conceitua o espetáculo estabelecendo as bases sob as quais trabalharão o Cenógrafo, o figurinista, o maquiador, o técnico em efeitos especiais cênicos, os gráficos e os demais profissionais necessários supervisionando-os durante as diversas fases de desenvolvimento do projeto.
Diretor de Arte de Animação – Responsável pelo visual gráfico dos filmes de animação, cria os personagens e os cenários do filme.
Diretor Cinematográfico – Cria a obra cinematográfica, supervisionando e dirigindo sua execução, utilizando recursos humanos, técnicos e artísticos, dirige artisticamente e tecnicamente a equipe e o elenco, analisa e interpreta o roteiro do filme, adequando-o à realização cinematográfica sob o ponto de vista técnico e artístico, escolhe a equipe técnica e o elenco, supervisiona a preparação da produção, escolhe locações, cenários , figurinos, cenografias e equipamentos, dirige ou supervisiona montagem, dublagem, confecção da trilha musical e sonora, e de todo o processamento do filme até a cópia final, acompanha a confecção do “trailer”, e do “avant-trailer”.
Diretor de Dublagem – Assiste ao filme e sugere a escalação do elenco para a dublagem do filme, esquematiza a produção, programa nos horários de trabalho, orienta a interpretação e o sincronismo do ator sobre sua imagem ou de outrem.
Diretor de Fotografia – Interpreta com imagens o roteiro cinematográfico, sob a orientação do diretor cinematográfico, mantém o padrão técnico e artístico da imagem, durante a preparação do filme, seleciona e aprova o equipamento adequado ao trabalho, indicando e/ ou aprovando os técnicos sob sua orientação, o tipo de negativo a ser a adotado, os testes de equipamento, examina e aprova locações interiores e exteriores, cenários e vestuários, nas filmagens orienta o operador de Câmera, assistente de Câmera, eletricista, maquinista e supervisiona o trabalho do continuista e do maquiador, sob o ponto de vista fotográfico, no acabamento do filme, quando conveniente ou necessário, acompanha a cópia final, em laboratório, durante a marcação de luz.
Diretor de Produção Cinematográfica – Mobiliza e administra recursos humanos, técnicos, artísticos e materiais para realização do filme, racionaliza e viabiliza a execução do projeto, mediante análise técnica do roteiro, em conjunto com Diretor cinematográfico ou seu assistente, administra financeiramente a produção.
Editor de Áudio – Encarrega-se da guarda, manutenção e adequada instalação do equipamento elétrico e de iluminação do filme, distribuindo de acordo com as indicações do diretor de fotografia, determina as especificações dos geradores a serem utilizados.
Figurante – Participa, individual ou coletivamente, como complementação de cena.
Figurinista – Cria e projeta trajes e complementos usados pelo elenco e figuração, executando o projeto gráfico dos mesmos, indica os materiais a serem utilizados, acompanha, supervisiona e detalha a execução do projeto.
Fotógrafo de Cena – Fotografa, durante as filmagens, cenas do filme para efeito de divulgação e confecção de material publicitário, indica o material adequado ao seu trabalho, trabalhando em conjunto com o diretor cinematográfico e o diretor de fotografia.
Guarda Roupeiro – Encarrega-se da conservação das peças de vestuário utilizadas no espetáculo ou produção, auxilia o elenco e a figuração a vestir as indumentárias, organiza a guarda e embalagem dos figurinos, em caso de viagem.
Letrista de Animação – Executa os letreiros ou créditos para produções cinematográficas.
Maquiador de Cinema – Encarrega-se da maquilagem ou caracterização do elenco e figuração de um filme, sob orientação do diretor cinematográfico, em comum acordo com o diretor de fotografia, indica os produtos a serem utilizados em seu trabalho.
Maquinista de Cinema – Encarrega-se do apoio direto ao operador de
Câmera e eletricista no que se refere ao material maquinária, instala e opera equipamentos destinados à fixação e/ ou movimentação de Câmera.
Marcador de Anéis – Executa a marcação dos anéis de dublagem, no copião ou cópia de trabalho.
Microfonista – Assiste o técnico de som, monta e desmonta o equipamento, zelando, pelo seu bom estado, posiciona os microfones, confecciona os boletins de som.
Montador de Filme Cinematográfico – Monta e estrutura o filme em sua forma definitiva, sob a orientação do diretor cinematográfico, a partir do material de imagem e som, usando seus recursos artísticos, técnicos e equipamentos específicos, zelando pelo bom estado e conservação das pistas sonoras, faz o plano de mixagem, participando da mesma, orienta o assistente de montagem.
Montador de Negativo – Monta negativos de filmes cinematográficos e do diretor de fotografia, enquadra as cenas do filme, indica os focos e os movimentos de “zoom” e Câmera.
Operador de Câmera de Animação – Filma os desenhos em equipamentos especial responsabilizando-se pela qualidade fotográfica do filme.
Operador de Gerador – Encarrega-se da manipulação e operação do gerador e corrente elétrica durante as filmagens.
Operador de Vídeo – Responsável pela qualidade de imagem no vídeo, operando as controles aumentando ou diminuindo o vídeo e pedestal, alinhando as câmeras, colocando os filtros adequados e corrigindo as aberturas de diafragma.
Operador de Telecine – Opera projetores de telecine,
comunicando-os de acordo com as necessidades de utilização, efetua ajustes operacionais nos projetores ( foco, filamento e enquadramento ).
Operador de Áudio – Opera a mesa de áudio durante gravações, respondendo por sua qualidade.
Pesquisador Cinematográfico – Coleta e organiza dados e materiais, desenvolve pesquisas no sentido de preservação da memória cinematográfica, sob qualquer forma, quer fílmica, bibliográfica, fotográfica e outras.
Pintor Artístico – Executa o trabalho de pintura dos cenários, prepara cartazes para utilização nos cenários, amplia quadros e telas, zela pela guarda e conservação dos materiais e instrumentos de trabalho, indispensáveis à execução de sua tarefa.
Projecionista de Laboratório – Opera o projetor cinematográfico especialmente preparado para os trabalhos de estúdio de som.
Revisor de Filme – Executa a revisão e reparo das cópias de filmes, verificando as condições materiais das mesmas, sob coordenação dos arquivistas de filmes.
Roteirista de Animação – Cria, a partir de uma idéia texto ou obra literária, sob forma de argumento ou roteiro de animação, narrativa com seqüências de ação, com ou do qual se realiza o filme de animação.
Roteirista Cinematográfico – Cria a partir de uma idéia, texto ou obra literária, sob a forma de argumento ou roteiro cinematográfico, narrativa com seqüências de ação, com ou sem diálogos, a partir da qual se realiza o filme.
Técnicos em Efeitos Especiais Cênicos – Realiza e /ou opera, durante as filmagens, mecanismos que permitem a realização de cenas exigidas pelo roteiro cinematográfico, cujo efeito dá ao espectador convencimento da ação pretendida pelo diretor cinematográfico.
Técnicos em Efeitos Especiais Óticos – Realiza e elabora trucagens, durante as filmagens, com acessórios complementares à Câmera, sem a utilização de laboratório de imagens ou “truca”.
Técnico de Finalização Cinematográfica – Acompanha as trucagens e faz o tráfego de laboratórios, supervisionando a qualidade do material trabalhado, na área do filme publicitário.
Técnico de Manutenção Eletrônica – Encarrega-se da conservação, manutenção e reparo do equipamento eletrônico de um estúdio de som.
Técnico de Manutenção de Equipamento Cinematográfico –e/ou eletrônica cinematográfica. Responsável pelo bom andamento das máquinas, com profundo conhecimento de mecânica
Técnico de Manutenção de Equipamento Cinematográfico –e/ou eletrônica cinematográfica. Responsável pelo bom andamento das máquinas, com profundo conhecimento de mecânica
Técnico Operador de Caracteres – Opera as caracteres nos programas gravados, filmes, vinhetas, chamadas, conforme roteiro da produção.
Técnico Operador de Mixagem – Encarrega-se de reunir, em uma única pista, todas as pistas sonoras de um filme, após submete-las a vários processos de equalização sonora.
Técnico de Som – Realiza a interpretação e registro durante as filmagens, dos sons requeridos pelo diretor cinematográfico, indica o material adequado ao seu trabalho e à equipe que o assiste, examina e aprova, do ponto de vista sonoro, as locações internas e externas, cenários e figurinos, orienta o microfonista, acompanha o acabamento do filme, a transcrição do material gravado para magnético perfurado, a mixagem e a transcrição ótica.
Técnico de Tomada de Som – Realiza a gravação de vozes, ruídos e musicas, em estúdios de som, opera a mesa de gravação, executa equalizações sonoras.
Técnico em Transferencia Sonora – Realiza a transferencia de sons gravados em discos, fitas magnéticas ou negativo ótico, realiza testes de ajuste do equipamento e da qualidade do negativo ótico revelado.
Trucador Cinematográfico – Executa trucagens óticas, realizando efeitos de imagem desejados pelo diretor cinematográfico, opera o equipamento denominado “truca”.
Texto Retirado do Guia dos Profissionais de Cinema e Vídeo – Sindicine SP – 1997 - 95 páginas. I. Cinema/ Vídeo. II. SINDCINE. III. Título.
Técnico Operador de Mixagem – Encarrega-se de reunir, em uma única pista, todas as pistas sonoras de um filme, após submete-las a vários processos de equalização sonora.
Técnico de Som – Realiza a interpretação e registro durante as filmagens, dos sons requeridos pelo diretor cinematográfico, indica o material adequado ao seu trabalho e à equipe que o assiste, examina e aprova, do ponto de vista sonoro, as locações internas e externas, cenários e figurinos, orienta o microfonista, acompanha o acabamento do filme, a transcrição do material gravado para magnético perfurado, a mixagem e a transcrição ótica.
Técnico de Tomada de Som – Realiza a gravação de vozes, ruídos e musicas, em estúdios de som, opera a mesa de gravação, executa equalizações sonoras.
Técnico em Transferencia Sonora – Realiza a transferencia de sons gravados em discos, fitas magnéticas ou negativo ótico, realiza testes de ajuste do equipamento e da qualidade do negativo ótico revelado.
Trucador Cinematográfico – Executa trucagens óticas, realizando efeitos de imagem desejados pelo diretor cinematográfico, opera o equipamento denominado “truca”.
Texto Retirado do Guia dos Profissionais de Cinema e Vídeo – Sindicine SP – 1997 - 95 páginas. I. Cinema/ Vídeo. II. SINDCINE. III. Título.
domingo, 21 de junho de 2009
sábado, 20 de junho de 2009
"O TEMPO E O LUGAR"
BETO MAGNO E JORGE MELLO (JM)
Por EDILSON SAÇASHJMA.
Genivaldo Vieira da Silva é o protagonista do documentário "O Tempo e o Lugar". Esse nome poderia passar despercebido em meio à população que sobrevive no semi-árido nordestino. Porém, a sensibilidade do cineasta Eduardo Escorel conseguiu captar naquele homem uma história que levanta questões sobre a realidade agrária do país.O primeiro contato entre Genivaldo e Escorel aconteceu em 1996, quando o cineasta realizou com ele uma peça publicitária chamada "Gente que Faz", parte de uma série institucional de um banco apresentada nos intervalos do Jornal Nacional. O anúncio mostrava Genivaldo como um agricultor familiar, mas o cineasta notou que aquele morador de Inhapi, no interior de Alagoas, possuía outras histórias.
Estava certo.Genivaldo também era um militante da causa agrária e líder do Movimento Sem-Terra. Participou de invasões, foi preso e, anos depois, tentou a carreira políticao registro do depoimento de Genivaldo relatando esta parte de sua biografia aconteceu em 2005. Em 2007, Escorel voltou a Alagoas e captou novos relatos do protagonista, desta vez com os comentários dele em relação aos depoimentos de 2005. Com isso, o ex-líder do MST passa em revista a sua trajetória e avalia sua própria história."O Tempo e o Lugar" é um filme sobre a memória e também uma revisão crítica da história recente do Brasil.Carismático e com boa retórica, Genivaldo apresenta críticas ao MST, demonstra frustração com o PT e com o presidente Lula.
Talvez se possa esperar reações acaloradas de uma parte da platéia, como ocorreu durante o festival É Tudo Verdade deste ano. O tema incendiário, porém, é tratado com sutileza e leveza por Escorel. O diretor, colaborador de cineastas como Joaquim Pedro de Andrade, Glauber Rocha e Eduardo Coutinho, consegue fugir da crítica fácil e inflamada sem perder de vista a refinada análise do contexto histórico brasileiro em que se enquadra o personagem.Cineasta, montador, roteirista e ensaísta, Escorel transforma o quase monólogo de Genivaldo em diálogo com a realidade brasileira.
Mas o diálogo é possível também em outros níveis. A estrutura e o tema de "O Tempo e o Lugar" podem ser vistos à luz de "Cabra Marcado para Morrer", de Eduardo Coutinho e do qual Escorel foi montador.Os dois filmes tratam da questão agrária do país, retratam um período histórico preciso e falam de memória.Porém, como lembrou Escorel em entrevista ao UOL, João Teixeira, protagonista de "Cabra", é um herói trágico. Genivaldo, um herói realizado. Mas ele teria atingido seus objetivos políticos e sociais? Está aí mais um ponto para se refletir.
VM FILMES
quarta-feira, 17 de junho de 2009
CINE MARACANGALHA
ELENCO DO CURTA (CINE MARACANGALHA)
Alunos do CAP Escola de TV gravam documentario em Maracangalha (cantada por Dorival Caymmi) sobre a vida do jornalista Berbert de Castro. Um dos "sete Samurais de Maracangalha" que teve tambêm uma de suas cronicas (O Pum no Cinema) adaptada para a teledramaturgia, o lançamento do documentario e do curta Cine Maracangalha será em julho de 2009.
VM FILMES
quinta-feira, 11 de junho de 2009
A NÃO RETOMADA DO CINEMA BAIANO
VERDADEIROS HEROIS DA RESISTENÊNCIA
Por Patrick Brock
overblog.
Pra quem não conhece a história do cinema baiano, pode parecer que a produção local está vivendo tempos de gloriosa retomada tardia, com o sucesso de Cidade Baixa e Eu me lembro.
Mas se a questão for bem analisada, percebe-se que é parte de um processo contínuo de evolução, de ciclos que se abrem e fecham."Retomada é um termo que sugere continuação de algo que foi interrompido. Em relação ao cinema nacional cabe, mas em relação à produção baiana não", explica Sandro Santana, mestrando em Comunicação e Sociedade pela UFBA.
Convoquei o cara que sabia tudo dos filmes de John Ford, atento para a história coletiva dos esforços cinematográficos destas paradas. Sem mitificação."Na Bahia tivemos um período, entre os anos de 1958 e 1962, onde floresceu a atividade cinematográfica.
No entanto, foi fruto da inventividade de Roberto Pires, da capacidade de Glauber Rocha enquanto agente catalisador, da agitação cultural que vivia a Bahia naqueles anos e dos terrenos e propriedades que Rex Schindler vendeu para bancar as produções sem nunca ter retorno financeiro.
Com o fracasso financeiro dos filmes e a ida de Glauber e Roberto Pires para o Rio o 'Ciclo' baiano acabou", explica. Depois da esparsa produção nos anos 70 e 80, o cinema baiano só voltou ao cartaz com 3 histórias da Bahia, na década de 90.Sandro acredita que a Bahia ainda está tentando formar cineastas, e que a emergência de um cinema baiano segue distante.
Concordo com ele nesse ponto, mas penso que precisamos ser mais condescendentes com a parada, vamos jogar fermento, não precisa o bolo solar todo mas se com sabor."O caso de um Edgard Navarro é bastante elucidativo.
Após uma carreira de décadas, para fazer o seu primeiro filme teve que vencer um edital do governo do Estado, conseguir mais verbas para a finalização junto ao Ministério da Cultura e ainda que o filme tenha recebido os principais prêmios no Festival de Brasília, dificilmente irá se pagar e, o pior, ainda enfrentará grandes dificuldades para chegar às telas, como qualquer outro filme brasileiro que não esteja atrelado à Globo Filmes e produtoras que estão vinculadas as distribuidoras americanas".
O produtor cultural tem um olhar crítico sobre a política cultural de fomento ao cinema, considerando que é preciso a formação de uma economia de mercado nacional voltada para a produção de cinema que envolva o sucesso comercial de tais empreitadas - o famoso "fazer um filme que se pague com bilheteira". Quem impulsiona a retomada atual em nível nacional, considera, são produtoras publicitárias competitivas que trabalham com isenção fiscal e apoio de grandes empresas. "Para se falar em um cinema baiano precisamos pensar em estratégias dedistribuição e exibição que não se restrinjam a um dia de sonho". Ok. No final, me lembra que apenas 8% dos baianos têm condições financeiras de ir ao cinema.
Então temos uma pilha encruada de falta de público pagante, mercado publicitário incipiente, quase derruba o vivente que tenta escalar a parada e chegar lá no alto, pra divisar o horizonte. Decidimos pelo assalto a banco ou a produção inteiramente independente, e vamos ruminar com uma cerveja a vontade de produzir um longa metragem no estilo de No tempo das diligências.
overblog.
Pra quem não conhece a história do cinema baiano, pode parecer que a produção local está vivendo tempos de gloriosa retomada tardia, com o sucesso de Cidade Baixa e Eu me lembro.
Mas se a questão for bem analisada, percebe-se que é parte de um processo contínuo de evolução, de ciclos que se abrem e fecham."Retomada é um termo que sugere continuação de algo que foi interrompido. Em relação ao cinema nacional cabe, mas em relação à produção baiana não", explica Sandro Santana, mestrando em Comunicação e Sociedade pela UFBA.
Convoquei o cara que sabia tudo dos filmes de John Ford, atento para a história coletiva dos esforços cinematográficos destas paradas. Sem mitificação."Na Bahia tivemos um período, entre os anos de 1958 e 1962, onde floresceu a atividade cinematográfica.
No entanto, foi fruto da inventividade de Roberto Pires, da capacidade de Glauber Rocha enquanto agente catalisador, da agitação cultural que vivia a Bahia naqueles anos e dos terrenos e propriedades que Rex Schindler vendeu para bancar as produções sem nunca ter retorno financeiro.
Com o fracasso financeiro dos filmes e a ida de Glauber e Roberto Pires para o Rio o 'Ciclo' baiano acabou", explica. Depois da esparsa produção nos anos 70 e 80, o cinema baiano só voltou ao cartaz com 3 histórias da Bahia, na década de 90.Sandro acredita que a Bahia ainda está tentando formar cineastas, e que a emergência de um cinema baiano segue distante.
Concordo com ele nesse ponto, mas penso que precisamos ser mais condescendentes com a parada, vamos jogar fermento, não precisa o bolo solar todo mas se com sabor."O caso de um Edgard Navarro é bastante elucidativo.
Após uma carreira de décadas, para fazer o seu primeiro filme teve que vencer um edital do governo do Estado, conseguir mais verbas para a finalização junto ao Ministério da Cultura e ainda que o filme tenha recebido os principais prêmios no Festival de Brasília, dificilmente irá se pagar e, o pior, ainda enfrentará grandes dificuldades para chegar às telas, como qualquer outro filme brasileiro que não esteja atrelado à Globo Filmes e produtoras que estão vinculadas as distribuidoras americanas".
O produtor cultural tem um olhar crítico sobre a política cultural de fomento ao cinema, considerando que é preciso a formação de uma economia de mercado nacional voltada para a produção de cinema que envolva o sucesso comercial de tais empreitadas - o famoso "fazer um filme que se pague com bilheteira". Quem impulsiona a retomada atual em nível nacional, considera, são produtoras publicitárias competitivas que trabalham com isenção fiscal e apoio de grandes empresas. "Para se falar em um cinema baiano precisamos pensar em estratégias dedistribuição e exibição que não se restrinjam a um dia de sonho". Ok. No final, me lembra que apenas 8% dos baianos têm condições financeiras de ir ao cinema.
Então temos uma pilha encruada de falta de público pagante, mercado publicitário incipiente, quase derruba o vivente que tenta escalar a parada e chegar lá no alto, pra divisar o horizonte. Decidimos pelo assalto a banco ou a produção inteiramente independente, e vamos ruminar com uma cerveja a vontade de produzir um longa metragem no estilo de No tempo das diligências.
sábado, 6 de junho de 2009
TUNA ESPINHEIRA: UM BRAVO GUERREIRO DO CINEMA BAIANO
André Setaro
O problema do cinema brasileiro, entre outros, encontra-se no tripé produção/distribuição/exibição. Se os realizadores sulinos encontram guarida nas salas dos complexos, porque formam, na produção, parceria com as multinacionais, os filmes baianos vivem, é preciso dizer, da caridade dos exibidores. Basta ressaltar que o premiado Eu me lembro, de Edgard Navarro, ainda que exibido em várias capitais, teve lançamento meio de escanteio. O exemplo de Cascalho, de Tuna Espinheira, é bem claro nesse sentido. Seu autor esteve recentemente em Feira de Santana a fim de apresentá-lo na universidade feirense e debatê-lo com um grupo de professores e intelectuais.
Noutros tempos, existia a Embrafilme que distribuia bem os filmes brasileiros, ainda que houvesse uma lei de obrigatoriedade. Collor, de uma canetada, fè-la desmorronar-se, a exemplo do Concine e da Fundação Cinema Brasileiro. Lembro-me que ia todas as semanas, quando tinha uma coluna diária no jornal baiano Tribuna da Bahia, ao escritório da Embrafilme comandado, aqui, por Nivaldo Mello Lima. Quase todos os lançamentos eram divulgados e muitos dos diretores e atrizes dos filmes vinham à Bahia prestigiá-los. Mas não quero me alongar muito neste post para dar lugar ao relato de bravo Tuna Espinheira, um lutador na aventura que é se fazer cinema na Bahia. Abrindo as necessárias e devidas aspas:
"Estive, neste 28 de maio, a convite dos professores da UEFS, Aleilton Fonseca e Francisco Lima, no Seminário de Literatura e Diversidade Cultural, para exibir e debater meu filme, CASCALHO, com professores e alunos da Pós-Graduação. As conversações, num ambiente descontraído, reforçaram a importância do dialogo franco entre o Diretor da obra e o público assistente, mesmo tendo sido com um grupo selecionado e de nível elevado. Só ter observado o interesse pelo cinema tupiniquim e os porquês dos motivos que trafegam de forma clandestina no mercado. ( Estou me referindo aqui aos filmes de baixo orçamento que não adotam o besterol, o voyerismo, a violência gratuita, e outros condimentos eleitos por aquelas fitas dirigidas a macacas(os) de auditórios).
Sou contra qualquer tipo de censura e intrépido defensor da diversidade. Os espetáculos tipo Trio Elétrico que arrasta todo mundo, sempre existiram e sempre existirão, o que preocupa é a proibição, mesmo velada, de filmes culturais que respeitam e tratam o público com seres de sensibilidade, vidas inteligentes.
Com todos os prós e contras, posso dizer, parafraseando Darcy Ribeiro, em licença poética, a EMBRAFILME caiu mais pelos seus acertos do que pelos seus erros. Um dos seus acertos que pode ser lembrado muito justamente como uma época de ouro do cinema brasileiro, foi a atuação da sua distribuidora, cujos benditos tentáculos atingiam o maior pedaço do continente brasileiro. Nesta época, a maioria dos filmes tinha acesso a uma finalização condigna, cartazes, traileres e, principalmente, oportunidade de adentrar no escurinho do cinema, seu habitat natural, através da rede de distribuição de filmes, (da EMBRAFILME) com a ajuda das suas subsidiarias, situadas em pontos estratégicos país afora.
O cinema brasileiro podia ter alguma respiração no tempo da Distribuidora da Embrafilme. É claro, cada macaco no seu galho, não estou falando de conquista de público, não se pode pegar espectadores a dente de cachorro, na vida, como no mercado, o filme vale quanto pesa. Mas a chance de baixar na luminosidade da tela grande, seja para qualquer número de pessoas que fossem frequentadoras dos cinemas já era uma glória. Filme sem público, na prateleira, por falta de uma política cultural que permanece omissa, é no mínimo um cadáver insepulto. É de arrepiar quando se sabe que as próprias associações de classe fazem ouvidos de mercador para este problema. Mais uma vez temos de fazer a diferença entre o cinema Daslú e o outro Daspú, este o de baixo orçamento. O chamado “Cinemão”, (DASLÚ), cujo jogo de cintura é grilar a parte do leão das famigeradas “Lei de Incentivo”, não está nem aí para o assunto distribuição, contam naturalmente com as distribuidoras estrangeiras. E assim caminha a humanidade.
Para não perder o mote deste texto que foi minha estada gratificante na UEFS, devo dizer que participar deste tipo de encontro é contribuir para que o filme (CASCALHO) permaneça vivo como merece. Adorei ter ido a Feira de Santana, terra do meu saudoso amigo/irmão, Olney São Paulo"
O problema do cinema brasileiro, entre outros, encontra-se no tripé produção/distribuição/exibição. Se os realizadores sulinos encontram guarida nas salas dos complexos, porque formam, na produção, parceria com as multinacionais, os filmes baianos vivem, é preciso dizer, da caridade dos exibidores. Basta ressaltar que o premiado Eu me lembro, de Edgard Navarro, ainda que exibido em várias capitais, teve lançamento meio de escanteio. O exemplo de Cascalho, de Tuna Espinheira, é bem claro nesse sentido. Seu autor esteve recentemente em Feira de Santana a fim de apresentá-lo na universidade feirense e debatê-lo com um grupo de professores e intelectuais.
Noutros tempos, existia a Embrafilme que distribuia bem os filmes brasileiros, ainda que houvesse uma lei de obrigatoriedade. Collor, de uma canetada, fè-la desmorronar-se, a exemplo do Concine e da Fundação Cinema Brasileiro. Lembro-me que ia todas as semanas, quando tinha uma coluna diária no jornal baiano Tribuna da Bahia, ao escritório da Embrafilme comandado, aqui, por Nivaldo Mello Lima. Quase todos os lançamentos eram divulgados e muitos dos diretores e atrizes dos filmes vinham à Bahia prestigiá-los. Mas não quero me alongar muito neste post para dar lugar ao relato de bravo Tuna Espinheira, um lutador na aventura que é se fazer cinema na Bahia. Abrindo as necessárias e devidas aspas:
"Estive, neste 28 de maio, a convite dos professores da UEFS, Aleilton Fonseca e Francisco Lima, no Seminário de Literatura e Diversidade Cultural, para exibir e debater meu filme, CASCALHO, com professores e alunos da Pós-Graduação. As conversações, num ambiente descontraído, reforçaram a importância do dialogo franco entre o Diretor da obra e o público assistente, mesmo tendo sido com um grupo selecionado e de nível elevado. Só ter observado o interesse pelo cinema tupiniquim e os porquês dos motivos que trafegam de forma clandestina no mercado. ( Estou me referindo aqui aos filmes de baixo orçamento que não adotam o besterol, o voyerismo, a violência gratuita, e outros condimentos eleitos por aquelas fitas dirigidas a macacas(os) de auditórios).
Sou contra qualquer tipo de censura e intrépido defensor da diversidade. Os espetáculos tipo Trio Elétrico que arrasta todo mundo, sempre existiram e sempre existirão, o que preocupa é a proibição, mesmo velada, de filmes culturais que respeitam e tratam o público com seres de sensibilidade, vidas inteligentes.
Com todos os prós e contras, posso dizer, parafraseando Darcy Ribeiro, em licença poética, a EMBRAFILME caiu mais pelos seus acertos do que pelos seus erros. Um dos seus acertos que pode ser lembrado muito justamente como uma época de ouro do cinema brasileiro, foi a atuação da sua distribuidora, cujos benditos tentáculos atingiam o maior pedaço do continente brasileiro. Nesta época, a maioria dos filmes tinha acesso a uma finalização condigna, cartazes, traileres e, principalmente, oportunidade de adentrar no escurinho do cinema, seu habitat natural, através da rede de distribuição de filmes, (da EMBRAFILME) com a ajuda das suas subsidiarias, situadas em pontos estratégicos país afora.
O cinema brasileiro podia ter alguma respiração no tempo da Distribuidora da Embrafilme. É claro, cada macaco no seu galho, não estou falando de conquista de público, não se pode pegar espectadores a dente de cachorro, na vida, como no mercado, o filme vale quanto pesa. Mas a chance de baixar na luminosidade da tela grande, seja para qualquer número de pessoas que fossem frequentadoras dos cinemas já era uma glória. Filme sem público, na prateleira, por falta de uma política cultural que permanece omissa, é no mínimo um cadáver insepulto. É de arrepiar quando se sabe que as próprias associações de classe fazem ouvidos de mercador para este problema. Mais uma vez temos de fazer a diferença entre o cinema Daslú e o outro Daspú, este o de baixo orçamento. O chamado “Cinemão”, (DASLÚ), cujo jogo de cintura é grilar a parte do leão das famigeradas “Lei de Incentivo”, não está nem aí para o assunto distribuição, contam naturalmente com as distribuidoras estrangeiras. E assim caminha a humanidade.
Para não perder o mote deste texto que foi minha estada gratificante na UEFS, devo dizer que participar deste tipo de encontro é contribuir para que o filme (CASCALHO) permaneça vivo como merece. Adorei ter ido a Feira de Santana, terra do meu saudoso amigo/irmão, Olney São Paulo"
quinta-feira, 30 de abril de 2009
O CRÍTICO E GUERREIRO PROFETA DO INCONFORMISMO
Beto Magno
Relançado há três anos pela Cosacnaify em edição primorosa, mas que ainda se encontra para comprar nas boas livrarias do ramo, O século do cinema reúne os principais escritos de Glauber Rocha desde os seus primórdios no Jornal da Bahia e Diário de Notícias até as derradeiras criticas, quando ressuscita as letras mortas K, Y e W numa tentativa de provocação, e é o terceiro volume da Coleção Glauberiana lançada pela editora (os outros: A revolução do cinema novo, e Revisão crítica do cinema brasileiro). A primeira edição do livro se deu em 1983, editada pela Embrafilme/Alhambra, com introdução de Orlando Senna, mas destituída do material iconográfico, das notas de rodapé, que fazem parte da publicação da Cosacnaify, além do prefácio do ensaísta Ismaiel Xavier. Na fortuna crítica, textos de Orlando Senna [ Notas de apresentação da edição de 1983], José Carlos Avellar [Nem de deus nem do diabo], Pedro Karp Vasquez (Glauber vê o cinema), Rogério Sganzerla (O século do cinema em discussão), e Paulo Leminski (Câmera e idéias). O livro se encontra dividido em três grandes blocos: Hollywood, Neo-Realismo e Nouvelle Vague. É o pensamento glauberiano sobre o que deve ser o cinema que se encontra exposto nas suas páginas, partindo de uma contemplação mais amena dos filmes em seu período inicial para as diatribes de seu ocaso. Sempre, porém, procurando buscar nos filmes o rompimento com as estruturas mentais tradicionais e a renovação na sua forma de narrar, sem, contudo, desprezar os clássicos da indústria cinematográfica de Hollywood, apesar de lhe reconhecer um caráter imperialista e colonizador.
Os escritos de cinema dos grandes críticos do pretérito estão, desde a década passada, sendo reunidos em livros, porque, dada a efemeridade da crítica publicada em jornais, muitos textos importantes estavam desaparecidos nas poeira dos arquivos. Francisco Luiz de Almeida Salles, Paulo Emílio Salles Gomes, José Lino Grunewald, Antonio Moniz Vianna, entre outros, podem ser lidos nas antologias de suas críticas. Mas, surpreendentemente, os ensaios de Walter da Silveira, o único verdadeiro ensaísta de cinema surgido na Bahia, apesar de reunidos para publicação, em pesquisa exaustiva, sofrem sistemáticos boicotes para vir à luz, e Walter da Silveira, vale ressaltar, foi o mestre confesso de Glauber Rocha, conforme ele mesmo declarou em vários artigos e em um, especialmente, quando da sua morte ocorrida em novembro de 1970.
As críticas de Glauber Rocha estão atreladas, em sua maioria, à constituição de um cinema engajado, que registre a problemática do homem contemporâneo, que desmistifique os falsos mitos e o maniqueísmo, instaurando a ambiguidade do ser numa relação dialética com a História. A preocupação essencial de seus textos é refletir sobre aqueles grandes cineastas que, além de radiografar o seu tempo, também proporcionaram um avanço nas estruturas da linguagem cinematográfica, como Serguei Eisenstein, Jean-Luc Godard, Luchino Visconti, Orson Welles, Jean Renoir, entre tantos outros. Em alguns casos, era capaz de elogiar um filme por questão política, como a crítica benevolente que fez a Bahia de Todos os Santos, de Trigueirinho Neto, porque via, neste filme, um impulso importante como semente para o estabelecimento de um cinema genuinamente baiano, ainda que a obra de Trigueirinho esteja eivada em graves desequilibrios estruturais.
Por outro lado, não vendo em Federico Fellini um cineasta empenhado em renovar o mundo, condena o seu escapismo, o seu circo, como fez em artigo sobre A doce vida (La dolce vita), chegando, inclusive, a dizer que não conseguiu vê-lo até o seu final. Um radicalismo - que não se concorda aqui, pois A doce vida é um monumento da arte do filme - que se propõe como necessario não somente para mudar a mentalidade retrógrada, mas, e principalmente, rearranjar o cinema. Seu projeto de um Cinema Novo justificava os excessos de julgamento, e um novo cinema não somente para o Brasil, mas em função de um imaginário criativo através das imagens em movimento nas nações subdesenvolvidas e principalmente latinoamericanas (o texto de A estética da fome é singular nesse sentido). Conteúdo revolucionário exigia também uma forma revolucionária.
A crítica praticada nos anos 50, exceção se faça a Walter da Silveira, e alguns luminares do eixo Rio-São Paulo, era uma crítica que se restringia ao cinema hollywoodiano. O advento de Glauber Rocha nas páginas do Jornal da Bahia mudou o panorama crítico da província, com um enfoque mais centrado no cinema brasileiro (e no baiano que surgia) e nas obras dos grandes mestres, que eram mostradas pelo Clube de Cinema da Bahia. Glauber, no entanto, não desdenhava dos nomes do cinema americano, principalmente John Ford e o gênero western, o cinema americano por excelência na sábia definição de André Bazin. A bem da verdade, alguns cineastas dos Estados Unidos, como Robert Aldrich, Nicholas Ray, Robert Wise, Samuel Fuller, Richard Brooks etc, foram responsáveis pela renovação da linguagem cinematográfica que iria se radicalizar com a emergência de Jean-Luc Godard e Alain Resnais.
Mas Glauber, como se pode ler em O século do cinema, não estava indiferente ao que acontecia na indústria de Hollywood, acompanhando todos os lançamentos, verificando a evolução de certos realizadores (o artigo sobre William Wyler é exemplar). Para revolucionar o cinema, como Glauber Rocha o revolucionou em Deus e o diabo na terra do sol e Terra em transe, era preciso conhecer em profundidade a estrutura narrativa clássica. O bloco dedicado a Hollywood é uma prova do conhecimento do crítico de seus nomes significativos, desde David Wark Griffith, o pai da narrativa fílmica, até mesmo um Vincente Minnelli.
Sobre este estilista, Glauber foi um dos poucos críticos de sua época que lhe soube ver os inegáveis atributos. Minnelli, o cineasta que revolucionou o filmusical (A roda da fortuna, O pirata...), também se notabilizou por ser um realizador de dramas ásperos e imensos (Deus sabe quanto amei, Assim estava escrito, A cidade dos desiludidos...), além de comédias perfuratrizes do american way of life. Assim Glauber vê uma delas, Chá e simpatia: (...) "Chá e simpatia por isso é um filme de triunfos: vitória da ternura e elevação da mulher sobre os homens de musculatura e fala grossa; a seqüência na qual Deborah Kerr se entrega ao jovem Tom Lee é o selo dessa dignificação feminina: é a revelação de uma potencialidade de amor inato na mulher sem respeito geográfico, político ou moral; por isso, Chá e simpatia não é apenas um filme bonito, sensibilizante, mas um filme de imensas profundezas: a revelação sobretudo de um poeta agudamente participante como Robert Anderson."
O século do cinema ajuda a compreender o fenômeno estético glauberiano a partir de suas preferências. Brando a princípio, seu nível de exigência cresce com o livro e não é difícil verificar, em suas obras cinematográficas, as influências contagiantes de seus diretores mais aclamados. Em Deus e o diabo na terra do sol, para muitos sua obra-prima, mas esta se encontra também em Terra em transe(o maior filme brasileiro de todos os tempos, ultrapassando, inclusive, Limite, de Mário Peixoto), há, nítidas, as marcas de um John Ford (no enquadramento dos grandes espaços ou em seqüências como a da morte do fazendeiro na feira e o consequente massacre da casa de Manuel, o vaqueiro), Eisenstein (a matança dos beatos em Monte Santo calcada na Escadaria de Odessa de O encouraçado Potemkin), Akira Kurosawa (os rodopios do cangaceiro Corisco), a tragédia grega (o cego Júlio como fio condutor da narrativa) e, em Terra em transe, Orson Welles (a biografia de um aventureiro), Alain Resnais (a memória pulsante na agonia final de Paulo Martins/Jardel Filho). Um amálgama que não diversifica mas une um estilo, o estilo glauberiano.
Na crítica de Rastros de ódio (The seachers), de John Ford, nota, no prefácio, Ismail Xavier: "A fórmula aí é curiosa, e nos lembra a pergunta de Godard - "imperialismo ou mise-en-scène? " - diante da cena decisiva de Rastros de ódio em que se dá a inversão na postura do Tio Etham (John Wayne). Perto do final do filme, ele ergue de modo paternal a jovem sobrinha, repetindo o gesto de reencontro feito quando ela era criança; o lance é dramático porque ele parece estar na iminência de matá-la por não aceitar de volta a moça que procurou durante anos para encontrá-la transformada em "índia". Neste e em outros momentos, Rastros de ódio faz, da tensão e da violência, um caminhopara a poesia. Não é difícil ver na composição do personagem de Ethan uma consciência trágica muito cara a Glauber, pois estão lá nos seus próprios filmes estas figuras de não-reconciliação que entendem estar elas mesmas contaminadas por aquilo que combatem, vivendo como sombras amarguradas sem futuro, condenadas a não ter lugar no mundo melhor que julgam preparar (como no caso de Antônio das Mortes)."
Num momento em que a crítica cinematográfica impressa se encontra cada vez mais rarefeita, quase desaparecida, com exceção de poucos, pouquíssimos nomes (Inácio Araújo, Luiz Carlos Merten...), e o cinema se tornou um objeto nos papers acadêmicos, que colocam a emoção excludente de qualquer tentativa de análise, ler os escritos glauberianos traz de volta o prazer da leitura de textos inflamantes nos quais a teoria se aliava à praxis, uma exortação para uma tomada de consciência do poder da arte cinematográfica no sentido de mudar as mentalidades e mudar o mundo, que, viu-se depois, com a derrocada do status político do cinema, não passava, na verdade, de uma grande utopia. Mas, sem a utopia, não vive a arte, não vive o cinema. O século do cinema representa um momento de efervescência criadora da crítica cinematográfia, que refletia o seu tempo, o seu aqui e agora.
Relançado há três anos pela Cosacnaify em edição primorosa, mas que ainda se encontra para comprar nas boas livrarias do ramo, O século do cinema reúne os principais escritos de Glauber Rocha desde os seus primórdios no Jornal da Bahia e Diário de Notícias até as derradeiras criticas, quando ressuscita as letras mortas K, Y e W numa tentativa de provocação, e é o terceiro volume da Coleção Glauberiana lançada pela editora (os outros: A revolução do cinema novo, e Revisão crítica do cinema brasileiro). A primeira edição do livro se deu em 1983, editada pela Embrafilme/Alhambra, com introdução de Orlando Senna, mas destituída do material iconográfico, das notas de rodapé, que fazem parte da publicação da Cosacnaify, além do prefácio do ensaísta Ismaiel Xavier. Na fortuna crítica, textos de Orlando Senna [ Notas de apresentação da edição de 1983], José Carlos Avellar [Nem de deus nem do diabo], Pedro Karp Vasquez (Glauber vê o cinema), Rogério Sganzerla (O século do cinema em discussão), e Paulo Leminski (Câmera e idéias). O livro se encontra dividido em três grandes blocos: Hollywood, Neo-Realismo e Nouvelle Vague. É o pensamento glauberiano sobre o que deve ser o cinema que se encontra exposto nas suas páginas, partindo de uma contemplação mais amena dos filmes em seu período inicial para as diatribes de seu ocaso. Sempre, porém, procurando buscar nos filmes o rompimento com as estruturas mentais tradicionais e a renovação na sua forma de narrar, sem, contudo, desprezar os clássicos da indústria cinematográfica de Hollywood, apesar de lhe reconhecer um caráter imperialista e colonizador.
Os escritos de cinema dos grandes críticos do pretérito estão, desde a década passada, sendo reunidos em livros, porque, dada a efemeridade da crítica publicada em jornais, muitos textos importantes estavam desaparecidos nas poeira dos arquivos. Francisco Luiz de Almeida Salles, Paulo Emílio Salles Gomes, José Lino Grunewald, Antonio Moniz Vianna, entre outros, podem ser lidos nas antologias de suas críticas. Mas, surpreendentemente, os ensaios de Walter da Silveira, o único verdadeiro ensaísta de cinema surgido na Bahia, apesar de reunidos para publicação, em pesquisa exaustiva, sofrem sistemáticos boicotes para vir à luz, e Walter da Silveira, vale ressaltar, foi o mestre confesso de Glauber Rocha, conforme ele mesmo declarou em vários artigos e em um, especialmente, quando da sua morte ocorrida em novembro de 1970.
As críticas de Glauber Rocha estão atreladas, em sua maioria, à constituição de um cinema engajado, que registre a problemática do homem contemporâneo, que desmistifique os falsos mitos e o maniqueísmo, instaurando a ambiguidade do ser numa relação dialética com a História. A preocupação essencial de seus textos é refletir sobre aqueles grandes cineastas que, além de radiografar o seu tempo, também proporcionaram um avanço nas estruturas da linguagem cinematográfica, como Serguei Eisenstein, Jean-Luc Godard, Luchino Visconti, Orson Welles, Jean Renoir, entre tantos outros. Em alguns casos, era capaz de elogiar um filme por questão política, como a crítica benevolente que fez a Bahia de Todos os Santos, de Trigueirinho Neto, porque via, neste filme, um impulso importante como semente para o estabelecimento de um cinema genuinamente baiano, ainda que a obra de Trigueirinho esteja eivada em graves desequilibrios estruturais.
Por outro lado, não vendo em Federico Fellini um cineasta empenhado em renovar o mundo, condena o seu escapismo, o seu circo, como fez em artigo sobre A doce vida (La dolce vita), chegando, inclusive, a dizer que não conseguiu vê-lo até o seu final. Um radicalismo - que não se concorda aqui, pois A doce vida é um monumento da arte do filme - que se propõe como necessario não somente para mudar a mentalidade retrógrada, mas, e principalmente, rearranjar o cinema. Seu projeto de um Cinema Novo justificava os excessos de julgamento, e um novo cinema não somente para o Brasil, mas em função de um imaginário criativo através das imagens em movimento nas nações subdesenvolvidas e principalmente latinoamericanas (o texto de A estética da fome é singular nesse sentido). Conteúdo revolucionário exigia também uma forma revolucionária.
A crítica praticada nos anos 50, exceção se faça a Walter da Silveira, e alguns luminares do eixo Rio-São Paulo, era uma crítica que se restringia ao cinema hollywoodiano. O advento de Glauber Rocha nas páginas do Jornal da Bahia mudou o panorama crítico da província, com um enfoque mais centrado no cinema brasileiro (e no baiano que surgia) e nas obras dos grandes mestres, que eram mostradas pelo Clube de Cinema da Bahia. Glauber, no entanto, não desdenhava dos nomes do cinema americano, principalmente John Ford e o gênero western, o cinema americano por excelência na sábia definição de André Bazin. A bem da verdade, alguns cineastas dos Estados Unidos, como Robert Aldrich, Nicholas Ray, Robert Wise, Samuel Fuller, Richard Brooks etc, foram responsáveis pela renovação da linguagem cinematográfica que iria se radicalizar com a emergência de Jean-Luc Godard e Alain Resnais.
Mas Glauber, como se pode ler em O século do cinema, não estava indiferente ao que acontecia na indústria de Hollywood, acompanhando todos os lançamentos, verificando a evolução de certos realizadores (o artigo sobre William Wyler é exemplar). Para revolucionar o cinema, como Glauber Rocha o revolucionou em Deus e o diabo na terra do sol e Terra em transe, era preciso conhecer em profundidade a estrutura narrativa clássica. O bloco dedicado a Hollywood é uma prova do conhecimento do crítico de seus nomes significativos, desde David Wark Griffith, o pai da narrativa fílmica, até mesmo um Vincente Minnelli.
Sobre este estilista, Glauber foi um dos poucos críticos de sua época que lhe soube ver os inegáveis atributos. Minnelli, o cineasta que revolucionou o filmusical (A roda da fortuna, O pirata...), também se notabilizou por ser um realizador de dramas ásperos e imensos (Deus sabe quanto amei, Assim estava escrito, A cidade dos desiludidos...), além de comédias perfuratrizes do american way of life. Assim Glauber vê uma delas, Chá e simpatia: (...) "Chá e simpatia por isso é um filme de triunfos: vitória da ternura e elevação da mulher sobre os homens de musculatura e fala grossa; a seqüência na qual Deborah Kerr se entrega ao jovem Tom Lee é o selo dessa dignificação feminina: é a revelação de uma potencialidade de amor inato na mulher sem respeito geográfico, político ou moral; por isso, Chá e simpatia não é apenas um filme bonito, sensibilizante, mas um filme de imensas profundezas: a revelação sobretudo de um poeta agudamente participante como Robert Anderson."
O século do cinema ajuda a compreender o fenômeno estético glauberiano a partir de suas preferências. Brando a princípio, seu nível de exigência cresce com o livro e não é difícil verificar, em suas obras cinematográficas, as influências contagiantes de seus diretores mais aclamados. Em Deus e o diabo na terra do sol, para muitos sua obra-prima, mas esta se encontra também em Terra em transe(o maior filme brasileiro de todos os tempos, ultrapassando, inclusive, Limite, de Mário Peixoto), há, nítidas, as marcas de um John Ford (no enquadramento dos grandes espaços ou em seqüências como a da morte do fazendeiro na feira e o consequente massacre da casa de Manuel, o vaqueiro), Eisenstein (a matança dos beatos em Monte Santo calcada na Escadaria de Odessa de O encouraçado Potemkin), Akira Kurosawa (os rodopios do cangaceiro Corisco), a tragédia grega (o cego Júlio como fio condutor da narrativa) e, em Terra em transe, Orson Welles (a biografia de um aventureiro), Alain Resnais (a memória pulsante na agonia final de Paulo Martins/Jardel Filho). Um amálgama que não diversifica mas une um estilo, o estilo glauberiano.
Na crítica de Rastros de ódio (The seachers), de John Ford, nota, no prefácio, Ismail Xavier: "A fórmula aí é curiosa, e nos lembra a pergunta de Godard - "imperialismo ou mise-en-scène? " - diante da cena decisiva de Rastros de ódio em que se dá a inversão na postura do Tio Etham (John Wayne). Perto do final do filme, ele ergue de modo paternal a jovem sobrinha, repetindo o gesto de reencontro feito quando ela era criança; o lance é dramático porque ele parece estar na iminência de matá-la por não aceitar de volta a moça que procurou durante anos para encontrá-la transformada em "índia". Neste e em outros momentos, Rastros de ódio faz, da tensão e da violência, um caminhopara a poesia. Não é difícil ver na composição do personagem de Ethan uma consciência trágica muito cara a Glauber, pois estão lá nos seus próprios filmes estas figuras de não-reconciliação que entendem estar elas mesmas contaminadas por aquilo que combatem, vivendo como sombras amarguradas sem futuro, condenadas a não ter lugar no mundo melhor que julgam preparar (como no caso de Antônio das Mortes)."
Num momento em que a crítica cinematográfica impressa se encontra cada vez mais rarefeita, quase desaparecida, com exceção de poucos, pouquíssimos nomes (Inácio Araújo, Luiz Carlos Merten...), e o cinema se tornou um objeto nos papers acadêmicos, que colocam a emoção excludente de qualquer tentativa de análise, ler os escritos glauberianos traz de volta o prazer da leitura de textos inflamantes nos quais a teoria se aliava à praxis, uma exortação para uma tomada de consciência do poder da arte cinematográfica no sentido de mudar as mentalidades e mudar o mundo, que, viu-se depois, com a derrocada do status político do cinema, não passava, na verdade, de uma grande utopia. Mas, sem a utopia, não vive a arte, não vive o cinema. O século do cinema representa um momento de efervescência criadora da crítica cinematográfia, que refletia o seu tempo, o seu aqui e agora.
sábado, 25 de abril de 2009
O NOVO LONGA DE EDGAR NAVARRO
EDGARD NAVARRO E JORGE MELLO (JM)
Por: Carlos Helí de Almeida
Edgar Navarro já estava quase desistindo de procurar pelo ator ideal para fazer um personagem-chave da trama de O homem que não dormia, que o diretor está rodando na Chapada Diamantina, em Minas Gerais, quando topou com Luiz Paulino durante a Jornada de Cinema da Bahia do ano passado. Figura mítica do cinema nacional, Paulino foi substituído por Glauber Rocha (1939-1981) na direção de Barravento (1962), dirigiu curtas e médias seminais do cinema novo antes de abandonar o cinema e virar líder místico de uma comunidade no Sul de Minas. Navarro encontrara o peregrino sem nome que mexe com os destinos dos moradores do vilarejo fictício de sua história.
– Foi um achado. O peregrino era uma peça superimportante do quebra-cabeças e o Luiz Paulino surge diante de mim com aquela barba longa e um passado cheio de mistério. Ele não poderia ter aparecido em momento mais oportuno – conta Navarro, durante um dos intervalos das filmagens, na cidade de Igatu, no interior da Bahia. – No início da vida, o Luiz Paulino foi entregador de cartas, um andarilho. É uma das muitas coincidências com o personagem.
Os bastidores de O homem que não dormia é ilustrado por outros reencontros memoráveis. Bertrand Duarte, que interpretou o louco de rua de impulsos quixotescos de SuperOutro (1988), premiado média-metragem que projetou o nome de Navarro no fim daquela década, interpreta padre Lucas, o protagonista, um dos cinco moradores do povoado assombrado pelo mesmo pesadelo. A ficha técnica do novo filme também ostenta o nome do diretor de fotografia Hamilton Oliveira, que trabalhou com Navarro no também premiado Eu me lembro (2005), o primeiro (e tardio) longa-metragem do diretor de 59 anos.
– Estamos filmando tudo em película 16mm, em tela larga. O visual do filme é inspirado na pintura de Caravaggio (1571-1610), que buscava o equilíbrio entre o claro e o escuro – avisa o diretor.
Ligação íntima
Nostálgico e irreverente, Eu me lembro foi a grande surpresa do Festival de Brasília de 2005, de onde saiu com os principais prêmios, inclusive os de Direção e Filme. O enredo cruza as memórias afetivas de um jovem que adolesceu entre o fim dos anos 60 e o início dos 70 e a história do país naquele período. O protagonista é uma espécie de alter ego do diretor. O homem que não dormia toma caminhos narrativos e estéticos "completamente diferentes", embora esteja mantenha uma ligação íntima com o filme anterior.
– Eu me lembro fala de uma memória coletiva, a partir de uma particular, a minha. Já O homem que não dormia é sobre a memória de vidas passadas, que é uma espécie de memória cármica. Inventei um barão que viveu no século 19 para a história e me projeto nele. Tenho a impressão de que estou sempre falando de mim mesmo – admite Navarro, que deixou a barba crescer para viver um personagem menor na história.
O enredo do novo filme combina elementos folclóricos e religiosos. O sonho que tira o sossego dos personagens é inspirado na lenda, que ganha variações dependendo do estado brasileiro, do homem que enterrou um tesouro e, ao morrer, seu espírito passa a visitar o sono de outros para inspirá-los a encontrar a fortuna e assim libertá-lo do pecado. Além do padre Lucas, sofrem com as visões o louco da cidade, uma vítima da repressão militar, que ainda apresenta sequelas, e a mulher do coronel que controla o vilarejo.
– Quero falar de um tesouro que não é material. Essas cinco pessoas estão vivendo uma crise muito grande, estão no limite da suas existências, quando não são totalmente surtadas, são neuróticas demais– explica Navarro. – A ideia de desenterrar o tesouro vai determinar uma virada na vida delas. Representará uma espécie de luz na vida, uma mudança de rumo, uma revelação O tesouro é uma metáfora da libertação dos medos, da hipocrisia que vivemos.
Edgar Navarro já estava quase desistindo de procurar pelo ator ideal para fazer um personagem-chave da trama de O homem que não dormia, que o diretor está rodando na Chapada Diamantina, em Minas Gerais, quando topou com Luiz Paulino durante a Jornada de Cinema da Bahia do ano passado. Figura mítica do cinema nacional, Paulino foi substituído por Glauber Rocha (1939-1981) na direção de Barravento (1962), dirigiu curtas e médias seminais do cinema novo antes de abandonar o cinema e virar líder místico de uma comunidade no Sul de Minas. Navarro encontrara o peregrino sem nome que mexe com os destinos dos moradores do vilarejo fictício de sua história.
– Foi um achado. O peregrino era uma peça superimportante do quebra-cabeças e o Luiz Paulino surge diante de mim com aquela barba longa e um passado cheio de mistério. Ele não poderia ter aparecido em momento mais oportuno – conta Navarro, durante um dos intervalos das filmagens, na cidade de Igatu, no interior da Bahia. – No início da vida, o Luiz Paulino foi entregador de cartas, um andarilho. É uma das muitas coincidências com o personagem.
Os bastidores de O homem que não dormia é ilustrado por outros reencontros memoráveis. Bertrand Duarte, que interpretou o louco de rua de impulsos quixotescos de SuperOutro (1988), premiado média-metragem que projetou o nome de Navarro no fim daquela década, interpreta padre Lucas, o protagonista, um dos cinco moradores do povoado assombrado pelo mesmo pesadelo. A ficha técnica do novo filme também ostenta o nome do diretor de fotografia Hamilton Oliveira, que trabalhou com Navarro no também premiado Eu me lembro (2005), o primeiro (e tardio) longa-metragem do diretor de 59 anos.
– Estamos filmando tudo em película 16mm, em tela larga. O visual do filme é inspirado na pintura de Caravaggio (1571-1610), que buscava o equilíbrio entre o claro e o escuro – avisa o diretor.
Ligação íntima
Nostálgico e irreverente, Eu me lembro foi a grande surpresa do Festival de Brasília de 2005, de onde saiu com os principais prêmios, inclusive os de Direção e Filme. O enredo cruza as memórias afetivas de um jovem que adolesceu entre o fim dos anos 60 e o início dos 70 e a história do país naquele período. O protagonista é uma espécie de alter ego do diretor. O homem que não dormia toma caminhos narrativos e estéticos "completamente diferentes", embora esteja mantenha uma ligação íntima com o filme anterior.
– Eu me lembro fala de uma memória coletiva, a partir de uma particular, a minha. Já O homem que não dormia é sobre a memória de vidas passadas, que é uma espécie de memória cármica. Inventei um barão que viveu no século 19 para a história e me projeto nele. Tenho a impressão de que estou sempre falando de mim mesmo – admite Navarro, que deixou a barba crescer para viver um personagem menor na história.
O enredo do novo filme combina elementos folclóricos e religiosos. O sonho que tira o sossego dos personagens é inspirado na lenda, que ganha variações dependendo do estado brasileiro, do homem que enterrou um tesouro e, ao morrer, seu espírito passa a visitar o sono de outros para inspirá-los a encontrar a fortuna e assim libertá-lo do pecado. Além do padre Lucas, sofrem com as visões o louco da cidade, uma vítima da repressão militar, que ainda apresenta sequelas, e a mulher do coronel que controla o vilarejo.
– Quero falar de um tesouro que não é material. Essas cinco pessoas estão vivendo uma crise muito grande, estão no limite da suas existências, quando não são totalmente surtadas, são neuróticas demais– explica Navarro. – A ideia de desenterrar o tesouro vai determinar uma virada na vida delas. Representará uma espécie de luz na vida, uma mudança de rumo, uma revelação O tesouro é uma metáfora da libertação dos medos, da hipocrisia que vivemos.
quarta-feira, 25 de março de 2009
O CINEMA COMO ESPETÁCULO DE UMA ELITE
RADA REZEDÁ, VITÓRIA MAGNO, BETO MAGNO E TÁBITA CHANANDA
Por André Setaro
Sim, uma ida ao cinema atualmente significa um gasto considerável, que fura o orçamento do classe média, que está pagando a conta das bolsas familiares A verdade é que, depois do Plano Real, a economia se dolarizou, os preços subiram muito e os salários, congelados em freezer potente. Um casal para ir ao Multiplex gasta, de saída, 34 reais, considerando que o ingresso custa 17. Se quiser se empipocar, como é de praxe, mais uma grana – e os complexos de cinema cobram muito mais nas guloseimas compradas dentro deles. Mas, uma ida a seco, e de ônibus, adicione-se aos 34 dos ingressos, os 9,20 das passagens (2,40 reais por cabeça). O resultado assinala que um filme custa 43,20 reais. Muito caro. E o povo, e o povo, como é que pode ir ao cinema? Já que não mais existem os chamados cinemas de rua nem os de bairros?
Se formos fazer uma comparação entre o número de salas exibidoras que Salvador tinha em 1958 e o que tem atualmente, a conclusão é uma só: os cinemas estão fechando suas portas. Com uma população de, mais ou menos, quinhentos mil habitantes, em 1958, a província possuía em torno de quase trinta salas, considerando, no cômputo final, as de primeira linha, os poeiras da Baixa dos Sapateiros, e os cinemas de bairro. Para arredondar o raciocino, que se coloque trinta salas em 1958 para quinhentos mil habitantes, sendo que cada uma delas tinha, em média, mil poltronas, variando entre as salas maiores, de quase duas mil cadeiras, como o Guarany e o Jandaia, e as menores, que beiravam a mil lugares. Para não haver crescimento das salas exibidoras, e considerando, sempre, a densidade demográfica, nos dias que correm – e como correm!, com uma população de dois milhões e quinhentos mil habitantes – e, aqui, nivelando por baixo, Salvador deveria ter, no mínimo, cento e cinqüenta salas, pois a sua população, entre 1958 e 2009, aumentou cinco vezes. O cálculo é simples. Multiplicam-se as trinta salas do passado por 5 e se tem o número de cinemas que a cidade deveria ter e, repetindo-se, sem haver crescimento
Mas atualmente o que se tem é um máximo de trinta e cinco salas e cada uma com um máximo de 400 lugares, a maior parte se localizando nos complexos chamados Multiplex.
Então que se faça uma nova contagem, considerando que cada cinema, em 1958, tinha em média mil lugares e, hoje, trezentos. Trinta vezes mil, em 1958, é igual a trinta mil. Que se coloque, para ficar bem claro, em números inteiros: tinha-se, na província, nesta época, 30.000 lugares e, se o número for multiplicado por cinco, porque a população cresceu cinco vezes, tem-se o número redondo de 150.000. Este, o número que, para não se constatar crescimento, mas, apenas, manutenção, deveria a cidade possuir em número de lugares. Mas o que se tem atualmente? Com a média de 400 lugares e 35 salas, fazendo-se a multiplicação, o resultado é de 14.000 lugares. Que diferença brutal!
Se antigamente o povo ia muito ao cinema, hoje, como disse Gustavo Dahl no seminário internacional de cinema e audiovisual, não tem acesso a ele. O cinema, que era um meio de comunicação de massa, atualmente é um veículo cujo acesso somente é possível à elite. Antes, existiam os cinemas de primeira linha, lançadores, que ficavam concentrados no centro histórico, os poeiras da Baixa dos Sapateiros e os de bairro.
Luiz Carlos Barreto, que conhece muito bem a mercadologia cinematográfica, afirmou, em entrevista no Canal Brasil, que o ingresso custava em torno de um dólar e, nos cinemas de segunda, cinqüenta centavos. É como se hoje o ingresso para entrar numa das salas do Multiplex custasse dois reais e cinqüenta centavos, a inteira, a inteira! Mas quanto custa realmente? Em torno de 17 reais. Como uma pessoa que ganha a miséria do salário mínimo pode freqüentar as salas de exibição? Ir com a família ao cinema? Nem pensar.
O Plano Real dolarizou a economia de uma forma perversa. O povo está excluído do cinema, assim como a chamada classe média baixa. A conclusão é estarrecedora e reveladora: apenas dez por cento da população baiana pode ir ao cinema, sendo que dois milhões e tanto de pessoas estão completamente fora da rota cinematográfica. Constatou-se, em pesquisa recente, que a maioria dos baianos nunca foi ao cinema. Um grupo organizou uma sessão cinematográfica num bairro periférico e o que se viu foi espantoso. As pessoas ficaram maravilhadas pelas imagens em movimento, pois estavam a contempla-las pela primeira vez. E isto aconteceu na região metropolitana de Salvador!
Na década de 50, o Brasil tinha perto de dez mil salas exibidoras. Em 1975, já se contavam apenas cinco mil. No ano passado, chegou a mil e novecentos. Os cinemas interioranos fecharam suas portas. Assim como aqueles de rua, como os antigos e inesquecíveis da Baixa dos Sapateiros e os de bairro. O que se constata é que os cinemas estão sendo construídos para o usufruto de uma elite que pode pagar os 17 reais de ingresso, ainda a se refestelar com as guloseimas caríssimas que lhe são oferecidas no fast food. O público se infantilizou e se idiotizou.
Ir ao cinema, antes um ritual, uma solenidade, uma função, atualmente é comparável a uma ida ao fast food.E ainda se tem que aguentar o comportamento selvagem da platéia, verdadeiros vândalos que podem ser comparados a débeis mentais.
Triste país!
Sim, uma ida ao cinema atualmente significa um gasto considerável, que fura o orçamento do classe média, que está pagando a conta das bolsas familiares A verdade é que, depois do Plano Real, a economia se dolarizou, os preços subiram muito e os salários, congelados em freezer potente. Um casal para ir ao Multiplex gasta, de saída, 34 reais, considerando que o ingresso custa 17. Se quiser se empipocar, como é de praxe, mais uma grana – e os complexos de cinema cobram muito mais nas guloseimas compradas dentro deles. Mas, uma ida a seco, e de ônibus, adicione-se aos 34 dos ingressos, os 9,20 das passagens (2,40 reais por cabeça). O resultado assinala que um filme custa 43,20 reais. Muito caro. E o povo, e o povo, como é que pode ir ao cinema? Já que não mais existem os chamados cinemas de rua nem os de bairros?
Se formos fazer uma comparação entre o número de salas exibidoras que Salvador tinha em 1958 e o que tem atualmente, a conclusão é uma só: os cinemas estão fechando suas portas. Com uma população de, mais ou menos, quinhentos mil habitantes, em 1958, a província possuía em torno de quase trinta salas, considerando, no cômputo final, as de primeira linha, os poeiras da Baixa dos Sapateiros, e os cinemas de bairro. Para arredondar o raciocino, que se coloque trinta salas em 1958 para quinhentos mil habitantes, sendo que cada uma delas tinha, em média, mil poltronas, variando entre as salas maiores, de quase duas mil cadeiras, como o Guarany e o Jandaia, e as menores, que beiravam a mil lugares. Para não haver crescimento das salas exibidoras, e considerando, sempre, a densidade demográfica, nos dias que correm – e como correm!, com uma população de dois milhões e quinhentos mil habitantes – e, aqui, nivelando por baixo, Salvador deveria ter, no mínimo, cento e cinqüenta salas, pois a sua população, entre 1958 e 2009, aumentou cinco vezes. O cálculo é simples. Multiplicam-se as trinta salas do passado por 5 e se tem o número de cinemas que a cidade deveria ter e, repetindo-se, sem haver crescimento
Mas atualmente o que se tem é um máximo de trinta e cinco salas e cada uma com um máximo de 400 lugares, a maior parte se localizando nos complexos chamados Multiplex.
Então que se faça uma nova contagem, considerando que cada cinema, em 1958, tinha em média mil lugares e, hoje, trezentos. Trinta vezes mil, em 1958, é igual a trinta mil. Que se coloque, para ficar bem claro, em números inteiros: tinha-se, na província, nesta época, 30.000 lugares e, se o número for multiplicado por cinco, porque a população cresceu cinco vezes, tem-se o número redondo de 150.000. Este, o número que, para não se constatar crescimento, mas, apenas, manutenção, deveria a cidade possuir em número de lugares. Mas o que se tem atualmente? Com a média de 400 lugares e 35 salas, fazendo-se a multiplicação, o resultado é de 14.000 lugares. Que diferença brutal!
Se antigamente o povo ia muito ao cinema, hoje, como disse Gustavo Dahl no seminário internacional de cinema e audiovisual, não tem acesso a ele. O cinema, que era um meio de comunicação de massa, atualmente é um veículo cujo acesso somente é possível à elite. Antes, existiam os cinemas de primeira linha, lançadores, que ficavam concentrados no centro histórico, os poeiras da Baixa dos Sapateiros e os de bairro.
Luiz Carlos Barreto, que conhece muito bem a mercadologia cinematográfica, afirmou, em entrevista no Canal Brasil, que o ingresso custava em torno de um dólar e, nos cinemas de segunda, cinqüenta centavos. É como se hoje o ingresso para entrar numa das salas do Multiplex custasse dois reais e cinqüenta centavos, a inteira, a inteira! Mas quanto custa realmente? Em torno de 17 reais. Como uma pessoa que ganha a miséria do salário mínimo pode freqüentar as salas de exibição? Ir com a família ao cinema? Nem pensar.
O Plano Real dolarizou a economia de uma forma perversa. O povo está excluído do cinema, assim como a chamada classe média baixa. A conclusão é estarrecedora e reveladora: apenas dez por cento da população baiana pode ir ao cinema, sendo que dois milhões e tanto de pessoas estão completamente fora da rota cinematográfica. Constatou-se, em pesquisa recente, que a maioria dos baianos nunca foi ao cinema. Um grupo organizou uma sessão cinematográfica num bairro periférico e o que se viu foi espantoso. As pessoas ficaram maravilhadas pelas imagens em movimento, pois estavam a contempla-las pela primeira vez. E isto aconteceu na região metropolitana de Salvador!
Na década de 50, o Brasil tinha perto de dez mil salas exibidoras. Em 1975, já se contavam apenas cinco mil. No ano passado, chegou a mil e novecentos. Os cinemas interioranos fecharam suas portas. Assim como aqueles de rua, como os antigos e inesquecíveis da Baixa dos Sapateiros e os de bairro. O que se constata é que os cinemas estão sendo construídos para o usufruto de uma elite que pode pagar os 17 reais de ingresso, ainda a se refestelar com as guloseimas caríssimas que lhe são oferecidas no fast food. O público se infantilizou e se idiotizou.
Ir ao cinema, antes um ritual, uma solenidade, uma função, atualmente é comparável a uma ida ao fast food.E ainda se tem que aguentar o comportamento selvagem da platéia, verdadeiros vândalos que podem ser comparados a débeis mentais.
Triste país!
segunda-feira, 16 de março de 2009
NECESSIDADE DE BERGMAN
INGMAR BERGMAN
Por André Setaro
Ingmar Bergman, quando, em 1982, realizou Fanny e Alexander (Fanny och Alexander) tinha em mente ser este o seu último filme, pretendendo, após o seu término, aposentar-se ou, no máximo, escrever alguns roteiros ou dirigir peças no proscênio de Estocolmo. Apesar de ainda forte e com disposição, com 64 anos, não cumpriu o prometido, ainda que um filme que lhe é posterior, Depois do ensaio, tenha sido exibido nos cinemas do mundo inteiro, mas, na verdade, foi feito apenas para a televisão. Mas, há poucos anos, já velho, dirigiu um outro filme.
O fato é que o que seria o derradeiro opus bergmaniano, a considerar Fanny och Alexander, é uma obra-prima, uma síntese perfeita de sua obra, uma película deslumbrante, valendo, aqui, a adjetivação. Visto no Art 2, em 1984, Fanny e Alexander desapareceu das salas exibidoras e foi se esconder numa fita magnética distribuída pela Breno Rossi, que é um verdadeiro atentado à integridade da obra bergmaniana, pois pessimamente telecinada. Mas, agora, com o DVD distribuído pela Europa (distribuidora não muito confiável, pois matou Menina de ouro com a abominável tela cheia, mas que, aqui, respeita Bergman e sua luz pontecostal), os admiradores de Bergman têm a oportunidade de, vinte e sete anos depois, rever o filme na sua inteireza original em cópia luminosa. A fotografia é de um artista: Sven Nykvist. Um fecho de ouro para um dos maiores cineastas-pensadores do século passado.
Originariamente feito como minissérie para a televisão sueca, Fanny e Alexander, devido ao grande êxito, despertou em Bergman a vontade de montar uma versão para cinema e, com isso, declarou que este seria a sua despedida do cinema. Na telinha, o filme tem mais de cinco horas, dividido em episódios. Olhando aqui a capa do DVD, vejo que o disco tem 175 minutos, quase, portanto, três horas.
A montagem foi feita pelo próprio Bergman tendo em vista uma continuidade dramática eficaz e a preocupação de tapar os buracos por causa da duração televisiva. Nada a comparar com o estilhaçamento feito por Guel Arraes em Auto da Compadecida, que, na versão para o cinema, não deixou espaço, nos cortes, para o espectador contemplar, pois rápidos, movidos por uma compulsão de videoclip, no embalo da estética da tesourinha.
É impressionante a reconstituição da época – a ação se passa em 1907, como também a perfeição dos intérpretes, todos afinados, todos perfeitos, todos dotados daquele necessário – e sem o qual o filme não funcionaria – poder da verdade. Bergman se utiliza do enquadramento como fonte de reflexão, não se importando com o corte em movimento. O que importa é, por assim dizer, uma substancialização do que está sendo dito e do que está sendo mostrado e nunca uma adjetivação da obra como sintaxe, ainda que esta exista nas transições.
A grande casa aonde se festeja o Natal, sequência primorosa e que leva uma hora, como fizera Visconti com a seqüência do baile em O leopardo, faz lembrar, talvez pela acentuação da cor vermelha, Gritos e sussurros.Esta desvinculação do discurso cinematográfico no qual a sintaxe adquire um status mais nobre – Persona, A hora do lobo, etc – em função de uma narrativa dentro de uma linha dramática mais convencional – o que não quer dizer nada nem diminui o mérito dessa obra de arte – revela o Bergman da maturidade, do ocaso, da despedida, fazendo de Fanny e Alexander o seu canto de cisne. Cineasta que encantou o século XX, introduzindo, inclusive, em Morangos silvestres, o monólogo interior, Bergman é um mestre supremo cuja falta nestes bicudos tempos e nesta fajuta contemporaneidade é imensa. Falta, no cinema, um homem de seu gênio, atualmente, para pensar o homem contemporâneo.
Ingmar Bergman, quando, em 1982, realizou Fanny e Alexander (Fanny och Alexander) tinha em mente ser este o seu último filme, pretendendo, após o seu término, aposentar-se ou, no máximo, escrever alguns roteiros ou dirigir peças no proscênio de Estocolmo. Apesar de ainda forte e com disposição, com 64 anos, não cumpriu o prometido, ainda que um filme que lhe é posterior, Depois do ensaio, tenha sido exibido nos cinemas do mundo inteiro, mas, na verdade, foi feito apenas para a televisão. Mas, há poucos anos, já velho, dirigiu um outro filme.
O fato é que o que seria o derradeiro opus bergmaniano, a considerar Fanny och Alexander, é uma obra-prima, uma síntese perfeita de sua obra, uma película deslumbrante, valendo, aqui, a adjetivação. Visto no Art 2, em 1984, Fanny e Alexander desapareceu das salas exibidoras e foi se esconder numa fita magnética distribuída pela Breno Rossi, que é um verdadeiro atentado à integridade da obra bergmaniana, pois pessimamente telecinada. Mas, agora, com o DVD distribuído pela Europa (distribuidora não muito confiável, pois matou Menina de ouro com a abominável tela cheia, mas que, aqui, respeita Bergman e sua luz pontecostal), os admiradores de Bergman têm a oportunidade de, vinte e sete anos depois, rever o filme na sua inteireza original em cópia luminosa. A fotografia é de um artista: Sven Nykvist. Um fecho de ouro para um dos maiores cineastas-pensadores do século passado.
Originariamente feito como minissérie para a televisão sueca, Fanny e Alexander, devido ao grande êxito, despertou em Bergman a vontade de montar uma versão para cinema e, com isso, declarou que este seria a sua despedida do cinema. Na telinha, o filme tem mais de cinco horas, dividido em episódios. Olhando aqui a capa do DVD, vejo que o disco tem 175 minutos, quase, portanto, três horas.
A montagem foi feita pelo próprio Bergman tendo em vista uma continuidade dramática eficaz e a preocupação de tapar os buracos por causa da duração televisiva. Nada a comparar com o estilhaçamento feito por Guel Arraes em Auto da Compadecida, que, na versão para o cinema, não deixou espaço, nos cortes, para o espectador contemplar, pois rápidos, movidos por uma compulsão de videoclip, no embalo da estética da tesourinha.
É impressionante a reconstituição da época – a ação se passa em 1907, como também a perfeição dos intérpretes, todos afinados, todos perfeitos, todos dotados daquele necessário – e sem o qual o filme não funcionaria – poder da verdade. Bergman se utiliza do enquadramento como fonte de reflexão, não se importando com o corte em movimento. O que importa é, por assim dizer, uma substancialização do que está sendo dito e do que está sendo mostrado e nunca uma adjetivação da obra como sintaxe, ainda que esta exista nas transições.
A grande casa aonde se festeja o Natal, sequência primorosa e que leva uma hora, como fizera Visconti com a seqüência do baile em O leopardo, faz lembrar, talvez pela acentuação da cor vermelha, Gritos e sussurros.Esta desvinculação do discurso cinematográfico no qual a sintaxe adquire um status mais nobre – Persona, A hora do lobo, etc – em função de uma narrativa dentro de uma linha dramática mais convencional – o que não quer dizer nada nem diminui o mérito dessa obra de arte – revela o Bergman da maturidade, do ocaso, da despedida, fazendo de Fanny e Alexander o seu canto de cisne. Cineasta que encantou o século XX, introduzindo, inclusive, em Morangos silvestres, o monólogo interior, Bergman é um mestre supremo cuja falta nestes bicudos tempos e nesta fajuta contemporaneidade é imensa. Falta, no cinema, um homem de seu gênio, atualmente, para pensar o homem contemporâneo.
terça-feira, 10 de março de 2009
BREVE HISTÓRICO DO CINEMA BRASILEIRO
por Beto Magno
VM FILMES
Caso alguém pergunte, num futuro distante, qual terá sido o meio de expressão de maior impacto da era moderna, a resposta será quase unânime: o cinematógrafo. Inventado em 1895 pelos irmãos Lumière para fins científicos, o cinema revelou-se peça fundamental do imaginário coletivo do século XX, seja como fonte de entretenimento ou de divulgação cultural de todos os povos do globo. Desde cedo, o cinematógrafo aporta no Brasil com Affonso Segretto. Segretto, imigrante italiano que filmou cenas do porto do Rio de Janeiro, torna-se nosso primeiro cineasta em 1898.
Um imenso mercado de entretenimento é montado em torno da capital federal no início do século XX, quando centenas de pequenos filmes são produzidos e exibidos para platéias urbanas que, em franco crescimento, demandam lazer e diversão. Nos anos 30, inicia-se a era do cinema falado. Já então, o pioneiro cinema nacional concorre com o forte esquema de distribuição norte-americano, numa disputa que se estende até os nossos dias. Dessa época, destacam-se o mineiro Humberto Mauro, autor de “Ganga Bruta” (1933) - filme que mostra uma crescente sofisticação da linguagem cinematográfica – e as “chanchadas” (comédias musicais com populares cantores do rádio e atrizes do teatro de revista) do estúdio Cinédia. Filmes como “Alô, Alô Brasil” (1935) e “Alô, Alô Carnaval” (1936) caem no gosto popular e revelam mitos do cinema brasileiro, como a cantora Carmen Miranda (símbolo da brejeirice brasileira que, curiosamente, nasceu em Portugal).
A criação do estúdio Vera Cruz, no final da década de 40, representa o desejo de diretores que, influenciados pelo requinte das produções estrangeiras, procuravam realizar um tipo de cinema mais sofisticado. Mesmo que o estúdio tenha falido já em 1954, conhece momentos de glória, quando o filme “O Cangaceiro” (1953), de Lima Barreto, ganha o prêmio de “melhor filme de aventura” no Festival de Cannes. A reação ao cinema da Vera Cruz representa o movimento que divulga o cinema nacional conhecido para o mundo inteiro: o Cinema Novo. No início da década de 60, um grupo de jovens cineastas começa a realizar uma série de filmes imbuídos de forte temática social.
Entre eles está Gláuber Rocha, cineasta baiano e símbolo do Cinema Novo.
Diretor de filmes como “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964) e “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro” (1968), Rocha torna-se uma figura conhecida no meio cultural brasileiro, redigindo manifestos e artigos na imprensa, rejeitando o cinema popular das chanchadas e defendendo uma arte revolucionária que promovesse verdadeira transformação social e política.
Inspirados por Nelson Pereira dos Santos (que, já em 1955, dirigira “Rio, 40 Graus” sob influência do movimento neo-realista, e que realizaria o clássico “Vidas Secas” em 1964) e pela Nouvelle Vague francesa, diretores como Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade e Ruy Guerra participam dos mais prestigiados festivais de cinema do mundo, ganhando notoriedade e admiração. As décadas seguintes revelam-se a época de ouro do cinema brasileiro. Mesmo após o golpe militar de 1964, que instala o regime autoritário no Brasil, os realizadores do Cinema Novo e uma nova geração de cineastas – conhecida como o “údigrudi”, termo irônico derivado do “underground” norte-americano – continuam a fazer obras críticas da realidade, ainda que usando metáforas para burlar a censura dos governos militares. Dessa época, destacam-se o próprio Gláuber Rocha, com “Terra em Transe” (1968), Rogério Sganzerla, diretor de “O Bandido da Luz Vermelha” (1968) e Júlio Bressane, este dono de um estilo personalíssimo. Ao mesmo tempo, o público reencontra-se com o cinema, com o sucesso das comédias leves conhecidas como “pornochanchadas”.
A fim de organizar o mercado cinematográfico e angariar simpatia para o regime, o governo Geisel cria, em 1974, a estatal Embrafilme, que teria papel preponderante no cinema brasileiro até sua extinção em 1990. Dessa época datam alguns dos maiores sucessos de público e crítica da produção nacional, como “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1976), de Bruno Barreto e “Pixote, a Lei do Mais Fraco” (1980), de Hector Babenco, levando milhões de brasileiros ao cinema com comédias leves ou filmes de temática política. O fim do regime militar e da censura, em 1985, aumenta a liberdade de expressão e indica novos caminhos para o cinema brasileiro. Essa perspectiva, no entanto, é interrompida com o fim da Embrafilme, em 1990. O governo Collor segue políticas neoliberais de extinção de empresas estatais e abre o mercado de forma descontrolada aos filmes estrangeiros, norte-americanos em quase sua totalidade.
A produção nacional, dependente da Embrafilme, entra em colapso, e pouquíssimos longas-metragens nacionais são realizados e exibidos nos anos seguintes.
Após o cataclisma do início dos anos 90, o sistema se reergue gradualmente. A criação de novos mecanismos financiamento da produção por meio de renúncia fiscal (Leis de Incentivo), juntamente com o surgimento de novas instâncias governamentais de apoio ao cinema, auxilia a reorganizar a produção e proporciona instrumentos para que realizadores possam competir, mesmo de modo desigual, com as produções milionárias das majors norte-americanas. Esse período é conhecida como a “Retomada” do cinema brasileiro. Em pouco tempo, três filmes são indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro: “O Quatrilho” (1995), “O Que é Isso, Companheiro” (1997) e “Central do Brasil” (1998), também vencedor do Urso de Ouro do Festival de Berlim. Nomes como Walter Salles, diretor de “Terra Estrangeira” (1993) e “Central do Brasil” e Carla Camuratti, diretora de “Carlota Joaquina, Princesa do Brazil” (1995) tornam-se nomes conhecidos do grande público, atraindo milhões de espectadores para as salas de exibição. Cem anos após os irmãos Lumière, o cinema brasileiro reivindica seu papel na história da maior arte do século XX para apresentar sua contribuição para o futuro.
Caso alguém pergunte, num futuro distante, qual terá sido o meio de expressão de maior impacto da era moderna, a resposta será quase unânime: o cinematógrafo. Inventado em 1895 pelos irmãos Lumière para fins científicos, o cinema revelou-se peça fundamental do imaginário coletivo do século XX, seja como fonte de entretenimento ou de divulgação cultural de todos os povos do globo. Desde cedo, o cinematógrafo aporta no Brasil com Affonso Segretto. Segretto, imigrante italiano que filmou cenas do porto do Rio de Janeiro, torna-se nosso primeiro cineasta em 1898.
Um imenso mercado de entretenimento é montado em torno da capital federal no início do século XX, quando centenas de pequenos filmes são produzidos e exibidos para platéias urbanas que, em franco crescimento, demandam lazer e diversão. Nos anos 30, inicia-se a era do cinema falado. Já então, o pioneiro cinema nacional concorre com o forte esquema de distribuição norte-americano, numa disputa que se estende até os nossos dias. Dessa época, destacam-se o mineiro Humberto Mauro, autor de “Ganga Bruta” (1933) - filme que mostra uma crescente sofisticação da linguagem cinematográfica – e as “chanchadas” (comédias musicais com populares cantores do rádio e atrizes do teatro de revista) do estúdio Cinédia. Filmes como “Alô, Alô Brasil” (1935) e “Alô, Alô Carnaval” (1936) caem no gosto popular e revelam mitos do cinema brasileiro, como a cantora Carmen Miranda (símbolo da brejeirice brasileira que, curiosamente, nasceu em Portugal).
A criação do estúdio Vera Cruz, no final da década de 40, representa o desejo de diretores que, influenciados pelo requinte das produções estrangeiras, procuravam realizar um tipo de cinema mais sofisticado. Mesmo que o estúdio tenha falido já em 1954, conhece momentos de glória, quando o filme “O Cangaceiro” (1953), de Lima Barreto, ganha o prêmio de “melhor filme de aventura” no Festival de Cannes. A reação ao cinema da Vera Cruz representa o movimento que divulga o cinema nacional conhecido para o mundo inteiro: o Cinema Novo. No início da década de 60, um grupo de jovens cineastas começa a realizar uma série de filmes imbuídos de forte temática social.
Entre eles está Gláuber Rocha, cineasta baiano e símbolo do Cinema Novo.
Diretor de filmes como “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964) e “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro” (1968), Rocha torna-se uma figura conhecida no meio cultural brasileiro, redigindo manifestos e artigos na imprensa, rejeitando o cinema popular das chanchadas e defendendo uma arte revolucionária que promovesse verdadeira transformação social e política.
Inspirados por Nelson Pereira dos Santos (que, já em 1955, dirigira “Rio, 40 Graus” sob influência do movimento neo-realista, e que realizaria o clássico “Vidas Secas” em 1964) e pela Nouvelle Vague francesa, diretores como Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade e Ruy Guerra participam dos mais prestigiados festivais de cinema do mundo, ganhando notoriedade e admiração. As décadas seguintes revelam-se a época de ouro do cinema brasileiro. Mesmo após o golpe militar de 1964, que instala o regime autoritário no Brasil, os realizadores do Cinema Novo e uma nova geração de cineastas – conhecida como o “údigrudi”, termo irônico derivado do “underground” norte-americano – continuam a fazer obras críticas da realidade, ainda que usando metáforas para burlar a censura dos governos militares. Dessa época, destacam-se o próprio Gláuber Rocha, com “Terra em Transe” (1968), Rogério Sganzerla, diretor de “O Bandido da Luz Vermelha” (1968) e Júlio Bressane, este dono de um estilo personalíssimo. Ao mesmo tempo, o público reencontra-se com o cinema, com o sucesso das comédias leves conhecidas como “pornochanchadas”.
A fim de organizar o mercado cinematográfico e angariar simpatia para o regime, o governo Geisel cria, em 1974, a estatal Embrafilme, que teria papel preponderante no cinema brasileiro até sua extinção em 1990. Dessa época datam alguns dos maiores sucessos de público e crítica da produção nacional, como “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1976), de Bruno Barreto e “Pixote, a Lei do Mais Fraco” (1980), de Hector Babenco, levando milhões de brasileiros ao cinema com comédias leves ou filmes de temática política. O fim do regime militar e da censura, em 1985, aumenta a liberdade de expressão e indica novos caminhos para o cinema brasileiro. Essa perspectiva, no entanto, é interrompida com o fim da Embrafilme, em 1990. O governo Collor segue políticas neoliberais de extinção de empresas estatais e abre o mercado de forma descontrolada aos filmes estrangeiros, norte-americanos em quase sua totalidade.
A produção nacional, dependente da Embrafilme, entra em colapso, e pouquíssimos longas-metragens nacionais são realizados e exibidos nos anos seguintes.
Após o cataclisma do início dos anos 90, o sistema se reergue gradualmente. A criação de novos mecanismos financiamento da produção por meio de renúncia fiscal (Leis de Incentivo), juntamente com o surgimento de novas instâncias governamentais de apoio ao cinema, auxilia a reorganizar a produção e proporciona instrumentos para que realizadores possam competir, mesmo de modo desigual, com as produções milionárias das majors norte-americanas. Esse período é conhecida como a “Retomada” do cinema brasileiro. Em pouco tempo, três filmes são indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro: “O Quatrilho” (1995), “O Que é Isso, Companheiro” (1997) e “Central do Brasil” (1998), também vencedor do Urso de Ouro do Festival de Berlim. Nomes como Walter Salles, diretor de “Terra Estrangeira” (1993) e “Central do Brasil” e Carla Camuratti, diretora de “Carlota Joaquina, Princesa do Brazil” (1995) tornam-se nomes conhecidos do grande público, atraindo milhões de espectadores para as salas de exibição. Cem anos após os irmãos Lumière, o cinema brasileiro reivindica seu papel na história da maior arte do século XX para apresentar sua contribuição para o futuro.
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
" O TEMPO E O LUGAR" RESGATA HISTÓRIA DE LUTA NO CAMPO NO BRASIL.
Por EDILSON SAÇASHJMA.
Genivaldo Vieira da Silva é o protagonista do documentário "O Tempo e o Lugar". Esse nome poderia passar despercebido em meio à população que sobrevive no semi-árido nordestino. Porém, a sensibilidade do cineasta Eduardo Escorel conseguiu captar naquele homem uma história que levanta questões sobre a realidade agrária do país.O primeiro contato entre Genivaldo e Escorel aconteceu em 1996, quando o cineasta realizou com ele uma peça publicitária chamada "Gente que Faz", parte de uma série institucional de um banco apresentada nos intervalos do Jornal Nacional. O anúncio mostrava Genivaldo como um agricultor familiar, mas o cineasta notou que aquele morador de Inhapi, no interior de Alagoas, possuía outras histórias. Estava certo.
Genivaldo também era um militante da causa agrária e líder do Movimento Sem-Terra. Participou de invasões, foi preso e, anos depois, tentou a carreira política
o registro do depoimento de Genivaldo relatando esta parte de sua biografia aconteceu em 2005. Em 2007, Escorel voltou a Alagoas e captou novos relatos do protagonista, desta vez com os comentários dele em relação aos depoimentos de 2005. Com isso, o ex-líder do MST passa em revista a sua trajetória e avalia sua própria história."O Tempo e o Lugar" é um filme sobre a memória e também uma revisão crítica da história recente do Brasil.
Carismático e com boa retórica, Genivaldo apresenta críticas ao MST, demonstra frustração com o PT e com o presidente Lula.Talvez se possa esperar reações acaloradas de uma parte da platéia, como ocorreu durante o festival É Tudo Verdade deste ano. O tema incendiário, porém, é tratado com sutileza e leveza por Escorel. O diretor, colaborador de cineastas como Joaquim Pedro de Andrade, Glauber Rocha e Eduardo Coutinho, consegue fugir da crítica fácil e inflamada sem perder de vista a refinada análise do contexto histórico brasileiro em que se enquadra o personagem.Cineasta, montador, roteirista e ensaísta, Escorel transforma o quase monólogo de Genivaldo em diálogo com a realidade brasileira. Mas o diálogo é possível também em outros níveis. A estrutura e o tema de "O Tempo e o Lugar" podem ser vistos à luz de "Cabra Marcado para Morrer", de Eduardo Coutinho e do qual Escorel foi montador.
Os dois filmes tratam da questão agrária do país, retratam um período histórico preciso e falam de memória.
Porém, como lembrou Escorel em entrevista ao UOL, João Teixeira, protagonista de "Cabra", é um herói trágico. Genivaldo, um herói realizado. Mas ele teria atingido seus objetivos políticos e sociais? Está aí mais um ponto para se refletir.
Genivaldo Vieira da Silva é o protagonista do documentário "O Tempo e o Lugar". Esse nome poderia passar despercebido em meio à população que sobrevive no semi-árido nordestino. Porém, a sensibilidade do cineasta Eduardo Escorel conseguiu captar naquele homem uma história que levanta questões sobre a realidade agrária do país.O primeiro contato entre Genivaldo e Escorel aconteceu em 1996, quando o cineasta realizou com ele uma peça publicitária chamada "Gente que Faz", parte de uma série institucional de um banco apresentada nos intervalos do Jornal Nacional. O anúncio mostrava Genivaldo como um agricultor familiar, mas o cineasta notou que aquele morador de Inhapi, no interior de Alagoas, possuía outras histórias. Estava certo.
Genivaldo também era um militante da causa agrária e líder do Movimento Sem-Terra. Participou de invasões, foi preso e, anos depois, tentou a carreira política
o registro do depoimento de Genivaldo relatando esta parte de sua biografia aconteceu em 2005. Em 2007, Escorel voltou a Alagoas e captou novos relatos do protagonista, desta vez com os comentários dele em relação aos depoimentos de 2005. Com isso, o ex-líder do MST passa em revista a sua trajetória e avalia sua própria história."O Tempo e o Lugar" é um filme sobre a memória e também uma revisão crítica da história recente do Brasil.
Carismático e com boa retórica, Genivaldo apresenta críticas ao MST, demonstra frustração com o PT e com o presidente Lula.Talvez se possa esperar reações acaloradas de uma parte da platéia, como ocorreu durante o festival É Tudo Verdade deste ano. O tema incendiário, porém, é tratado com sutileza e leveza por Escorel. O diretor, colaborador de cineastas como Joaquim Pedro de Andrade, Glauber Rocha e Eduardo Coutinho, consegue fugir da crítica fácil e inflamada sem perder de vista a refinada análise do contexto histórico brasileiro em que se enquadra o personagem.Cineasta, montador, roteirista e ensaísta, Escorel transforma o quase monólogo de Genivaldo em diálogo com a realidade brasileira. Mas o diálogo é possível também em outros níveis. A estrutura e o tema de "O Tempo e o Lugar" podem ser vistos à luz de "Cabra Marcado para Morrer", de Eduardo Coutinho e do qual Escorel foi montador.
Os dois filmes tratam da questão agrária do país, retratam um período histórico preciso e falam de memória.
Porém, como lembrou Escorel em entrevista ao UOL, João Teixeira, protagonista de "Cabra", é um herói trágico. Genivaldo, um herói realizado. Mas ele teria atingido seus objetivos políticos e sociais? Está aí mais um ponto para se refletir.
sábado, 24 de janeiro de 2009
"GLAUBER, UM A REVOLUÇÃO BAIANA" ANTECIPA AS COMEMORAÇÕES DOS 70 ANOS DE NASCIMENTO DO CINEASTA, EM 2009
QUADRO DE ROMEU FERREIRA (UESB)
Em 14 de março de 2009, o cineasta baiano Glauber Rocha completaria 70 anos. Para comemorar a data, um ano antes, a Associação dos Amigos do Tempo Glauber, em parceria com a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, promove a exposição multimídia “Glauber, Uma Revolução Baiana”, de 12 a 24 de março no Teatro Castro Alves. Através dela, o público terá oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a vida e a obra de um de seus filhos mais diletos.
No foyer do teatro será montada uma exposição com cerca de 100 metros quadrados em painéis, contendo fotografias, cartazes, manuscritos e textos que recriam a trajetória do artista desde o seu nascimento. Cinco TVs de plasmas exibirão curtas-metragens, documentários especialmente produzidos, a partir de trechos de entrevistas de Glauber e depoimentos das equipes e do elenco de seus filmes, além do lendário programa Abertura, exibido na extinta TV Tupi. Totens darão acesso ao conteúdo “off-line” do portal http://www.tempoglauber.com.br/ e do banco de dados do acervo do Tempo Glauber com cerca de 10 mil documentos. Além disso, haverá debates e a mostra “Cinema da Terra” com exibição de oito filmes em tela grande – sendo cinco do cineasta - na SALA DE ARTE/MAM. Dentre os destaques serão exibidos pela primeira vez no Brasil os filmes restaurados “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro” (1968) e “Barravento” (1960) e, em Salvador, os documentários “Anabazys” de Paloma Rocha e Joel Pizzini e “Diário de Sintra”, de Paula Gaitán.
Na abertura do evento, dia 12, para convidados, haverá ainda o lançamento de um catálogo com cerca de 70 páginas, contando a vida de Glauber e criação de seus principais trabalhos, contextualizando-os com momentos importantes da vida cultural, política e cinematográfica do país. Ainda neste dia, será assinado um protocolo de intenções entre a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia e a Associação Amigos do Tempo Glauber para a implementação do Tempo Glauber Digital em Salvador. O Tempo Glauber e a restauração da obra do cineasta são patrocinados pela Petrobras.
Segundo Paloma Rocha, filha de Glauber, o objetivo da mostra é fazer com que o público de todos os segmentos interaja com a obra do artista baiano. Sobre a oportunidade do encontro, ela diz: “Com o lançamento dos filmes restaurados em DVD e a duplicação do acervo do Tempo Glauber poderemos criar diversos pontos digitais de acesso à obra. Graças à iniciativa de Márcio Meirelles, da Secretaria de Cultura da Bahia, realizamos um antigo desejo, que é a implementação de uma filial do Tempo Glauber em Salvador, permitindo uma maior convivência de Glauber com a Bahia.”
Para o secretário Márcio Meirelles, que conta ter procurado a família do cineasta, no início do ano passado, para “propor uma volta de Glauber à Bahia”, a presença desse acervo em Salvador é fundamental para reposicionar a importância que a Bahia tem na história do cinema brasileiro. “Sempre achei uma incoerência a Bahia não contar com uma referência à Glauber. Até pouco tempo, tínhamos apenas um cinema fechado com o seu nome, que agora está sendo reformado. Ele foi um dos mais importantes cineastas do país, sua obra é conhecida internacionalmente e é uma grande inspiração”, afirmou, ressaltando que o Templo Glauber Digital em Salvador deve se transformar num espaço de reflexão, discussão e dinamização da memória audiovisual do Estado.
A implementação do projeto, que deve ser finalizado até o próximo ano, em tempo para as comemorações do aniversário de 70 anos de Glauber Rocha, será conduzida pelo Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (Irdeb), através da Diretoria de Audiovisual (Dimas) – unidade atualmente vinculada à Fundação Cultural do Estado da Bahia. O cineasta e diretor do Irdeb, Pola Ribeiro, defende que a aposta no desenvolvimento da produção audiovisual na Bahia não poderia acontecer sem o resgate desse acervo. “A presença desses arquivos aqui deve fazer parte da construção de um desejo de se fazer cinema na Bahia, e a retomada desse contato com a família do cineasta tem sido feita com confiança e compromisso”, ressalta.
A mostra – Teatro Castro Alves
Aberta ao público de 13 a 24 de março no Teatro Castro Alves (Praça Dois de Julho, s/n° - Campo Grande/ Salvador – Bahia) – Entrada franca.
No foyer do teatro será montada uma exposição com cerca de 100 metros quadrados em painéis de , contendo fotografias, cartazes, manuscritos, e textos que recriam a trajetória do cineasta desde o seu nascimento. Computadores “totens” darão acesso ao conteúdo “off-line” do portal http://www.tempoglauber.com.br/ e do banco de dados do acervo do Tempo Glauber com cerca de 10 mil documentos. Cinco TVs de plasma exibem documentários e curtas-metragens programados em DVD e exibidos ininterruptamente, em looping. São eles:
TV1 – documentários sobre o processo de restauração dos filmes: “Barravento”, “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro”, “Idade da Terra” e “Terra em Transe”;
TV2 – curtas-metragens: “Maranhão 66”, “Pátio” e “Di Cavalcanti”;
TV3 – documentários: “Depois do Transe” e “Primeyridade”;
TV4 – documentários : “Milagres” e “Retrato da Terra”;
TV5 – entrevistas sobre o filme “Barravento” e “Programa Abertura”.
* os documentários são dirigidos por Paloma Rocha e Joel Pizzini , e foram especialmente produzidos para o relançamento dos filmes restaurados.
Sinopses dos filmes
TV2 - curtas-metragens: “Maranhão 66”, “Pátio” e “Di Cavalcanti”
Maranhão 66
O filme é uma encomenda de José Sarney, que acabava de ser eleito governador do Estado do Maranhão (e seria Presidente da República 19 anos depois), e desejava que seu amigo Glauber Rocha produzisse um documentário sobre a cerimônia de sua posse. Isso se dá dois anos depois da tomada de poder dos militares. A franqueza do filme é total e anuncia o tom de “Terra em Transe”. Não se encontra no curta-metragem o mínimo de complacência para com o político que encomendou a obra. Ao contrário, o filme é construído como um verdadeiro desafio às promessas eleitorais demagógicas: enquanto o político se compromete solenemente a acabar com as misérias da região, elas são simplesmente mostradas, com uma terrível crueza, em imagens documentais (casas miseráveis, hospitais infectos, vítimas da fome, tuberculose...), alternando com as imagens do discurso em terrível oposição entre a retórica e a realidade, mas igualmente apontando a necessidade urgente de transformar as palavras em ações para promover o progresso social.
Pátio
Primeiro filme de Glauber, curta metragem experimental com 11 minutos de duração, rodado na Bahia. Num terraço de azulejos em forma de xadrez, um rapaz e uma moça. Esses dois personagens evoluem lentamente: se tocam, rolam no chão, se distanciam, se olham. Belos planos de mãos e rostos são montados em alternância com planos de vegetação tropical e do mar. Já nesse primeiro filme podemos discernir alguns traços específicos do cineasta: forte presença da natureza, tratamento do espaço e enquadramento.
Di Cavalcanti
Pouco depois de retornar ao Brasil após longo exílio, Glauber Rocha é surpreendido pela notícia da morte do pintor Di Cavalcanti. Amigo e admirador do artista, Glauber resolve filmar o velório que se realizava no Museu de Arte Moderna, e o enterro realizado no cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. A estas imagens foram depois acrescidas outras, que resultaram num dos mais criativos e originais filmes do cineasta. Em tom irreverente, porém nunca desrespeitoso, Glauber mescla imagens de obras de Di com a leitura do poema de Vinícius Mourão “Balada de Di Cavalcanti”, e com o depoimento pessoal em tom de narrativa esportiva radiofônica.. Trata-se de um marco na obra de Glauber, sinalizando o caminho cinematográfico subseqüente: a ruptura radical dos gêneros, diluindo agressivamente a distancia entre o documentário e a ficção.
TV3 – documentários: “Depois do Transe” e “Primeyridade”
“Depois do Transe” é dividido em 13 blocos com os temas: “América Nuestra”, “Roteyroz”, “Em Busca do Ouro”, “Atuação”, “A Luz de Eldorado”, “Montagem”, “O Som da Terra”, “Terra em Debate MIS RJ/1968”, “Filme em Transe”, “Cinema Novo”, “Polytika e Poetyka”, “3 Historyaz” e “Restauração”.
Através das “vozes” de Glauber Rocha, depoimentos da equipe e do elenco, além da participação de críticos de cinema e jornalistas foram recriados o ambiente político e método de criação utilizado para a realização do filme. Foram utilizados diversos materiais do acervo do Tempo Glauber como sobras de montagem, roteiros e anotações manuscritas e fotos de cena e bastidores.
O bloco “Terra em Debate” traz trechos do debate no MIS, mediado pelo jornalista Sérgio Augusto, com a participação de Alex Viany, Luiz Carlos Barreto, Fernando Gabeira, Hélio Pellegrino e Joaquim Pedro de Andrade.
Em "3 Historyaz", depoimentos bem-humorados de Luiz Carlos Barreto, Walter Lima Jr. e José Carlos Avellar revelam curiosidades do filme e do cenário político da época, a censura e artifícios utilizados para a liberação
TV4 – documentários: “Milagres” e “Retrato da Terra”
TV5 - entrevistas sobre o filme “Barravento” e “Programa Abertura”
O Programa "ABERTURA" teve sua estréia em 4 de fevereiro de 1979, na extinta TV Tupi, dos Diários Associados, com criação e direção de Fernando Barbosa Lima. Considerado um dos mais importantes inovadores da TV brasileira, foi também o criador do famoso "Jornal da Vanguarda" (1962 - 1969). O Programa Abertura foi ao ar de fevereiro de 1979 até julho de 1980, quando a Tupi fechou suas portas. Fernando Barbosa colocou no ar uma equipe de intelectuais, jornalistas, artistas e personalidades de primeira linha, como Antônio Callado, Fausto Wolff, Fernando Sabino, Sérgio Cabral, Oswaldo Sargentelli , entre outros, e representando o cinema brasileiro, Glauber Rocha, que aceitou o convite sem ponderar.
A participação de Glauber ocorreu de fevereiro a outubro de 1979. Em 8 meses, com 4 inserções (quadros) semanais, a estimativa é que Glauber tenha aparecido mais de 32 vezes no programa, que teve ao todo, 60 edições.
A mostra “Cinema da Terra” – no Solar do Unhão
Entre os dias 14 e 20 de março haverá também a exibição de filmes dentro da mostra “Cinema da Terra”, com títulos recém-restaurados na SALA DE ARTE – MAM (Av. do Contorno, s/n° - Solar do Unhão). Os ingressos custam R$ 6,00.
Programação por filme
O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, direção de Glauber Rocha
Dia 14/03, às 21h30m
"O Dragão é inicialmente Antonio das Mortes, assim como São Jorge é o cangaceiro. Depois, o verdadeiro dragão é o latifundiário, enquanto o Santo Guerreiro passa a ser o professor quando pega as armas do cangaceiro e de Antonio das Mortes. Em suma, queria dizer que tais papéis sociais não são eternos e imóveis, e que tais componentes de agrupamentos sociais solidamente conservadores, ou reacionários, ou cúmplices do poder, podem mudar e contribuir para mudar. Basta que entendam onde está o verdadeiro dragão."
SinopseNuma cidadezinha chamada Jardim das Piranhas aparece um cangaceiro que se apresenta como a reencarnação de Lampião. Seu nome é Coirana. Anos depois de ter matado Corisco, Antônio das Mortes (personagem de Deus e o Diabo na Terra do Sol) vai à cidade para ver o cangaceiro. É o encontro dos mitos, o início do duelo entre o dragão da maldade contra o santo guerreiro. Outros personagens vão povoar o mundo de Antônio das Mortes. Entre eles, um professor desiludido e sem esperanças; um coronel com delírios de grandeza, um delegado com ambições políticas; e uma linda mulher, Laura, vivendo uma trágica solidão.
Anabazys (documentário), direção de Paloma Rocha e Joel Pizzini
Dia 15/03, às 18h30m e dia 19/03, às 20h30m
O documentário Anabazys (“ascensão” em grego) é um inventário sobre a gênese, a erupção e a ressonância de “A Idade da Terra” o filme de Glauber Rocha que anunciou em 1980 a revolução audiovisual contemporânea. O título faz alusão ao nome dado pelo autor a uma das primeiras versões de seu roteiro original. Composto de 13 blocos autônomos que abordam desde a concepção, interpretação, figurinos, a trilha sonora (executada ao vivo), até a polêmica provocada pelo filme no Festival de Veneza; o documentário busca recriar a memória em torno da produção como forma de amplificar a percepção do “cinema espacial” proposto por Glauber. Neste ensaio, há cenas inéditas extraídas das 60 horas encontradas do material bruto não aproveitado na montagem final de "A Idade" e que flagram a dicção delirante de Glauber nas filmagens. Mais do que um tributo ou registro de época, Anabazys procura investigar as motivações estéticas e políticas que levaram o artista a compor o seu “testamento do futuro”, conforme definição do cineasta argentino Fernando Birri. Com a participação do elenco, equipe técnica, amigos e colaboradores de Glauber, que revisitam o imaginário de “A Idade da Terra” o documentário procura examinar ainda as raízes dos pré-conceitos forjados historicamente para excluir o filme do circuito cinematográfico. Narrado em primeira pessoa pelas “vozes” de Glauber, “Anabazys” é como um prolongamento de “A Idade”, propondo experimentar as lições visionárias de um artista no auge do processo de ruptura da linguagem cinematográfica do final dos anos setenta. Um filme “sob” um filme onde o autor assume também o papel de ator de sua verdade históryka. Em “Anabazys”, Glauber se expõe por inteiro: antevê e se arrisca pela Abertura política do país e, anos-luz à frente de seu tempo, inventa uma ousada narrativa, três décadas após, assimilada enfim pelas novas gerações.
A Idade da Terra, direção de Glauber Rocha
Dia 15/03, às 20h30m e dia 18/03, às 20h20m
“O filme mostra um Cristo-Pescador, o Cristo interpretado pelo Jece Valadão; um Cristo-Nengro, interpretado por Antônio Pitanga; mostra o Cristo que é o conquistador português, Dom Sebastião, interpretado por Tarcísio Meira; e mostra o Cristo Guerreiro-Ogum de Lampião, interpretado pelo Geraldo Del Rey. Quer dizer, os quatro Cavaleiros do Apocalipse que ressuscitam o Cristo no Terceiro Mundo, recontando o mito através dos quatro Evangelistas: Mateus, Marcos, Lucas e João, cuja identidade é revelada no filme quase como se fosse um Terceiro Testamento. E o filme assume um tom profético, realmente bíblico e religioso.”
Deus e o Diabo na Terra do Sol, direção de Glauber Rocha
Dia 16/03, às 18h30m e dia 20/03, às 20h30m
"Eu parti do texto poético. A origem de "Deus e o Diabo..." é uma língua metafórica, a literatura de cordel. No Nordeste, os cegos, nos circos, nas feiras, nos teatros populares, começam uma história cantando: eu vou lhes contar uma história que é de verdade e de imaginação, ou então que é imaginação verdadeira. Toda minha formação foi feita nesse clima. A idéia do filme me veio espontaneamente." - Glauber Rocha
Terra em Transe, direção de Glauber Rocha
Dia 17/03, às 20h30m e dia 20/03, às 18h30m
Senador Porfírio Diaz odeia o seu povo, e pretende se coroar imperador de um país fictício chamado Eldorado, para impor ao povo todas as suas vontades. Mas existem outros homens que querem esse poder e lutar contra este poder.
Rocha que voa, de Eryk Rocha
Dia 17/03, às 18h30m
O exílio em Cuba de 1971 a 1972, um dos períodos menos conhecidos da vida do diretor Glauber Rocha, coincide com um período de grande euforia e discussão em torno do papel das artes na revolução social e política dos países da América Latina e do Terceiro Mundo. Glauber, com sua fala barroca e poética, propõe o cinema como o principal instrumento cultural e político para a promoção da unidade latino-americana, servindo como fio condutor para a reconstituição do Cinema Novo brasileiro e do Cinema Revolucionário cubano.
O diretor Eryk Rocha apresenta um filme-ensaio sobre o papel dos intelectuais na América Latina, em especial os que fizeram a ligação entre o Cinema Novo brasileiro e o Cinema Revolucionário cubano.
Diários de Sintra, de Paula Gaitán, última esposa de Glauber
Dia 18/03, às 18h30m
A partir dos registros pessoais do cotidiano do cineasta Glauber Rocha na cidade de Sintra, em Portugal, onde morou com a esposa Paula Gaitán e os dois filhos Eryk e Ava no ano de 1981, vemos as últimas imagens, ainda inéditas, de Glauber Rocha vivo. O filme revela com poética delicada os últimos meses de Glauber. Refaz percursos, reinventa caminhos, reencontra amigos da cidade e analisa o momento em contraponto à história de sua geração. A atualidade está no discurso do cineasta, que confirma a contemporaneidade do seu pensamento.
Barravento, direção de Glauber Rocha
Dia 19/03, às 18h30m
Numa aldeia de pescadores de xaréu, cujos antepassados vieram da África como escravos, permanecem antigos cultos místicos ligados ao candomblé. A chegada de Firmino, antigo morador que se mudou para Salvador fugindo da pobreza, altera o panorama pacato do local, polarizando tensões. Firmino tem uma atração por Cota, mas não consegue esquecer Naína que, por sua vez, gosta de Aruã. Firmino encomenda um despacho contra Aruã, que não é atingido, ao contrário da aldeia que vê a rede arrebentada, impedindo o trabalho da pesca. Firmino incita os pescadores à revolta contra o dono da rede, chegando a destruí-la. Policiais chegam à aldeia para controlar o equipamento. Na sua luta contra a exploração, Firmino se indispõe contra o Mestre, intermediário dos pescadores e do dono da rede. Um pescador convence Aruã de pescar sem a rede, já que a sua castidade o faria um protegido de Iemanjá. Os pescadores são bem-sucedidos na empreitada, destacando-se a liderança de Aruã. Naína revela para uma preta velha o seu amor impossível por Aruã. Diante da sua derrota contra o misticismo, Firmino convence Cota a tirar a virgindade de Aruã, quebrando assim o encantamento religioso de que ele estaria investido por Iemanjá. Aruã sucumbe à tentação. Uma tempestade anuncia o "barravento", o momento de violência. Os pescadores saem para o mar, com a morte de dois deles, Vicente e Chico. Firmino denuncia a perda de castidade de Aruã. O Mestre o renega. Os mortos são velados, e Naína aceita fazer o santo, para que possa casar com Aruã. Ele promete casamento, mas antes decide partir para a cidade de forma a trabalhar e conseguir dinheiro para a compra de uma rede nova. No mesmo lugar em que Firmino chegou à aldeia, Aruã parte em direção à cidade.
“Cinema que pensa” – mesas de debate
Nos dias 14 e 15 de março acontecem duas mesas de debate em torno da obra de Glauber Rocha e do cinema latino-americano. O “Cinema que pensa”, concebido e dirigido pela cineasta Paula Gaitán, pelo filósofo Juan David Posada e pelo cineasta Eryk Rocha, abre um espaço de discussão em que intelectuais, cineastas e artistas, de várias matizes de pensamento, projetam um cinema futuro a partir das provocações do presente e das experiências transmitidas pelo passado.
Os debates acontecem na Sala Walter da Silveira (Rua General Labatut, 27/ Barris - prédio da Biblioteca Pública Estadual), às 10h. A entrada é franca.
Dia 14/03
Mesa I: “A idéia de um cinema latino-americano nos anos 60 do século passado e o cinema de Glauber Rocha”.
Participantes: Orlando Senna, Márcio Meireles, Geraldo Sarno, Sofia Federico, Pedro Paulo Rocha e Eryk Rocha (Mediador).
Dia 15/03
Mesa II: “A Idade da Terra, o cinema político e uma nova idéia de ‘polis’”.
Participantes: Póla Ribeiro, Paloma Rocha, Edgar Navarro, Joel Pizzini, Cláudio Marques e
Juan David Posada (Mediador).
O cineasta
Glauber Rocha nasceu em Vitória da Conquista, Bahia, em 14 de março de 1939. Estreou no cinema com o curta experimental “O Pátio”, em 1959. No ano seguinte, rodou o seu primeiro longa-metragem:“Barravento”. O filme que chamou a atenção da crítica e já evidenciava o talento do diretor.
Em 1963, Glauber realiza aquele que seria considerado o divisor de águas do cinema nacional: “Deus e o Diabo na Terra do Sol”. Desde então, a polêmica se tornou uma rotina a cada um de seus filmes. Ao todo, o cineasta fez 11 longas e seis curtas, tendo a luta pela liberdade como tema recorrente.
Glauber, que também ficou consagrado por obras como “Terra em Transe”, “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”, “O Leão de Sete Cabeças” e “Câncer”, entre outras, acumulou prêmios ao longo de sua carreira. O diretor morreu de septicemia, no Rio de Janeiro, no dia 22 de agosto de 1981.
Associação dos Amigos do Tempo Glauber
Instituição que preserva e divulga a obra do cineasta Glauber Rocha, tem como objetivo principal nessa mostra multimídia, proporcionar acesso mais abrangente e detalhado ao conteúdo do acervo Tempo Glauber, que atualmente se encontra em processo de catalogação e digitalização. A mostra “Glauber, Uma Revolução Baiana” visa alcançar de forma simples, objetiva e interessante, o público, que atualmente pouco conhece a obra desse importante pensador baiano. Os organizadores pretendem transformar o espaço disponível em um ambiente cinematográfico, com informações relevantes e um forte diálogo visual, transitando pela obra cinematográfica e intelectual do artista. O foco é simplificar e dialogar, através de um contato direto com a história, a obra do artista. O conteúdo do acervo e a maioria da produção intelectual de Glauber Rocha, que permaneceu inédita por quase 20 anos, devido às condições de preservação do material original, e no presente, com o processo de restauração e catalogação de todo o inventário, torna-se possível disponibilizar uma parcela ao público de forma responsável, educativa e atual através de mostras, exposições e dos sites hoje disponíveis: http://www.tempoglauber.com.br/ e http://www.janelaparaonovo.inf.br/.
O Tempo Glauber
O Tempo Glauber foi criado em 1983, mas só abriu suas portas ao público seis anos mais tarde. Foi uma longa batalha travada pela mãe do cineasta, Lúcia Rocha. Avanços e recuos ao longo de quase duas décadas. Em 2004, é fundada a Associação de Amigos do Tempo Glauber, sociedade sem fins lucrativos composta por Paloma, Sara, Eryk Rocha e Dario Correa, cuja proposta é captar e gerir verbas para a instituição. A associação recebe sua manutenção do Ministério da Cultura e contrata equipe de profissionais para compor o quadro de funcionários.
O Tempo Glauber foi declarado pelo Conselho Nacional de Arquivos (Conarq), em 2006, como Arquivo Privado de Interesse Público e Social e assim reconhecido por decreto de lei pela Casa Civil da Presidência da República por conter documentos relevantes para o estudo e pesquisa da expressão artística brasileira.
No foyer do teatro será montada uma exposição com cerca de 100 metros quadrados em painéis, contendo fotografias, cartazes, manuscritos e textos que recriam a trajetória do artista desde o seu nascimento. Cinco TVs de plasmas exibirão curtas-metragens, documentários especialmente produzidos, a partir de trechos de entrevistas de Glauber e depoimentos das equipes e do elenco de seus filmes, além do lendário programa Abertura, exibido na extinta TV Tupi. Totens darão acesso ao conteúdo “off-line” do portal http://www.tempoglauber.com.br/ e do banco de dados do acervo do Tempo Glauber com cerca de 10 mil documentos. Além disso, haverá debates e a mostra “Cinema da Terra” com exibição de oito filmes em tela grande – sendo cinco do cineasta - na SALA DE ARTE/MAM. Dentre os destaques serão exibidos pela primeira vez no Brasil os filmes restaurados “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro” (1968) e “Barravento” (1960) e, em Salvador, os documentários “Anabazys” de Paloma Rocha e Joel Pizzini e “Diário de Sintra”, de Paula Gaitán.
Na abertura do evento, dia 12, para convidados, haverá ainda o lançamento de um catálogo com cerca de 70 páginas, contando a vida de Glauber e criação de seus principais trabalhos, contextualizando-os com momentos importantes da vida cultural, política e cinematográfica do país. Ainda neste dia, será assinado um protocolo de intenções entre a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia e a Associação Amigos do Tempo Glauber para a implementação do Tempo Glauber Digital em Salvador. O Tempo Glauber e a restauração da obra do cineasta são patrocinados pela Petrobras.
Segundo Paloma Rocha, filha de Glauber, o objetivo da mostra é fazer com que o público de todos os segmentos interaja com a obra do artista baiano. Sobre a oportunidade do encontro, ela diz: “Com o lançamento dos filmes restaurados em DVD e a duplicação do acervo do Tempo Glauber poderemos criar diversos pontos digitais de acesso à obra. Graças à iniciativa de Márcio Meirelles, da Secretaria de Cultura da Bahia, realizamos um antigo desejo, que é a implementação de uma filial do Tempo Glauber em Salvador, permitindo uma maior convivência de Glauber com a Bahia.”
Para o secretário Márcio Meirelles, que conta ter procurado a família do cineasta, no início do ano passado, para “propor uma volta de Glauber à Bahia”, a presença desse acervo em Salvador é fundamental para reposicionar a importância que a Bahia tem na história do cinema brasileiro. “Sempre achei uma incoerência a Bahia não contar com uma referência à Glauber. Até pouco tempo, tínhamos apenas um cinema fechado com o seu nome, que agora está sendo reformado. Ele foi um dos mais importantes cineastas do país, sua obra é conhecida internacionalmente e é uma grande inspiração”, afirmou, ressaltando que o Templo Glauber Digital em Salvador deve se transformar num espaço de reflexão, discussão e dinamização da memória audiovisual do Estado.
A implementação do projeto, que deve ser finalizado até o próximo ano, em tempo para as comemorações do aniversário de 70 anos de Glauber Rocha, será conduzida pelo Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (Irdeb), através da Diretoria de Audiovisual (Dimas) – unidade atualmente vinculada à Fundação Cultural do Estado da Bahia. O cineasta e diretor do Irdeb, Pola Ribeiro, defende que a aposta no desenvolvimento da produção audiovisual na Bahia não poderia acontecer sem o resgate desse acervo. “A presença desses arquivos aqui deve fazer parte da construção de um desejo de se fazer cinema na Bahia, e a retomada desse contato com a família do cineasta tem sido feita com confiança e compromisso”, ressalta.
A mostra – Teatro Castro Alves
Aberta ao público de 13 a 24 de março no Teatro Castro Alves (Praça Dois de Julho, s/n° - Campo Grande/ Salvador – Bahia) – Entrada franca.
No foyer do teatro será montada uma exposição com cerca de 100 metros quadrados em painéis de , contendo fotografias, cartazes, manuscritos, e textos que recriam a trajetória do cineasta desde o seu nascimento. Computadores “totens” darão acesso ao conteúdo “off-line” do portal http://www.tempoglauber.com.br/ e do banco de dados do acervo do Tempo Glauber com cerca de 10 mil documentos. Cinco TVs de plasma exibem documentários e curtas-metragens programados em DVD e exibidos ininterruptamente, em looping. São eles:
TV1 – documentários sobre o processo de restauração dos filmes: “Barravento”, “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro”, “Idade da Terra” e “Terra em Transe”;
TV2 – curtas-metragens: “Maranhão 66”, “Pátio” e “Di Cavalcanti”;
TV3 – documentários: “Depois do Transe” e “Primeyridade”;
TV4 – documentários : “Milagres” e “Retrato da Terra”;
TV5 – entrevistas sobre o filme “Barravento” e “Programa Abertura”.
* os documentários são dirigidos por Paloma Rocha e Joel Pizzini , e foram especialmente produzidos para o relançamento dos filmes restaurados.
Sinopses dos filmes
TV2 - curtas-metragens: “Maranhão 66”, “Pátio” e “Di Cavalcanti”
Maranhão 66
O filme é uma encomenda de José Sarney, que acabava de ser eleito governador do Estado do Maranhão (e seria Presidente da República 19 anos depois), e desejava que seu amigo Glauber Rocha produzisse um documentário sobre a cerimônia de sua posse. Isso se dá dois anos depois da tomada de poder dos militares. A franqueza do filme é total e anuncia o tom de “Terra em Transe”. Não se encontra no curta-metragem o mínimo de complacência para com o político que encomendou a obra. Ao contrário, o filme é construído como um verdadeiro desafio às promessas eleitorais demagógicas: enquanto o político se compromete solenemente a acabar com as misérias da região, elas são simplesmente mostradas, com uma terrível crueza, em imagens documentais (casas miseráveis, hospitais infectos, vítimas da fome, tuberculose...), alternando com as imagens do discurso em terrível oposição entre a retórica e a realidade, mas igualmente apontando a necessidade urgente de transformar as palavras em ações para promover o progresso social.
Pátio
Primeiro filme de Glauber, curta metragem experimental com 11 minutos de duração, rodado na Bahia. Num terraço de azulejos em forma de xadrez, um rapaz e uma moça. Esses dois personagens evoluem lentamente: se tocam, rolam no chão, se distanciam, se olham. Belos planos de mãos e rostos são montados em alternância com planos de vegetação tropical e do mar. Já nesse primeiro filme podemos discernir alguns traços específicos do cineasta: forte presença da natureza, tratamento do espaço e enquadramento.
Di Cavalcanti
Pouco depois de retornar ao Brasil após longo exílio, Glauber Rocha é surpreendido pela notícia da morte do pintor Di Cavalcanti. Amigo e admirador do artista, Glauber resolve filmar o velório que se realizava no Museu de Arte Moderna, e o enterro realizado no cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. A estas imagens foram depois acrescidas outras, que resultaram num dos mais criativos e originais filmes do cineasta. Em tom irreverente, porém nunca desrespeitoso, Glauber mescla imagens de obras de Di com a leitura do poema de Vinícius Mourão “Balada de Di Cavalcanti”, e com o depoimento pessoal em tom de narrativa esportiva radiofônica.. Trata-se de um marco na obra de Glauber, sinalizando o caminho cinematográfico subseqüente: a ruptura radical dos gêneros, diluindo agressivamente a distancia entre o documentário e a ficção.
TV3 – documentários: “Depois do Transe” e “Primeyridade”
“Depois do Transe” é dividido em 13 blocos com os temas: “América Nuestra”, “Roteyroz”, “Em Busca do Ouro”, “Atuação”, “A Luz de Eldorado”, “Montagem”, “O Som da Terra”, “Terra em Debate MIS RJ/1968”, “Filme em Transe”, “Cinema Novo”, “Polytika e Poetyka”, “3 Historyaz” e “Restauração”.
Através das “vozes” de Glauber Rocha, depoimentos da equipe e do elenco, além da participação de críticos de cinema e jornalistas foram recriados o ambiente político e método de criação utilizado para a realização do filme. Foram utilizados diversos materiais do acervo do Tempo Glauber como sobras de montagem, roteiros e anotações manuscritas e fotos de cena e bastidores.
O bloco “Terra em Debate” traz trechos do debate no MIS, mediado pelo jornalista Sérgio Augusto, com a participação de Alex Viany, Luiz Carlos Barreto, Fernando Gabeira, Hélio Pellegrino e Joaquim Pedro de Andrade.
Em "3 Historyaz", depoimentos bem-humorados de Luiz Carlos Barreto, Walter Lima Jr. e José Carlos Avellar revelam curiosidades do filme e do cenário político da época, a censura e artifícios utilizados para a liberação
TV4 – documentários: “Milagres” e “Retrato da Terra”
TV5 - entrevistas sobre o filme “Barravento” e “Programa Abertura”
O Programa "ABERTURA" teve sua estréia em 4 de fevereiro de 1979, na extinta TV Tupi, dos Diários Associados, com criação e direção de Fernando Barbosa Lima. Considerado um dos mais importantes inovadores da TV brasileira, foi também o criador do famoso "Jornal da Vanguarda" (1962 - 1969). O Programa Abertura foi ao ar de fevereiro de 1979 até julho de 1980, quando a Tupi fechou suas portas. Fernando Barbosa colocou no ar uma equipe de intelectuais, jornalistas, artistas e personalidades de primeira linha, como Antônio Callado, Fausto Wolff, Fernando Sabino, Sérgio Cabral, Oswaldo Sargentelli , entre outros, e representando o cinema brasileiro, Glauber Rocha, que aceitou o convite sem ponderar.
A participação de Glauber ocorreu de fevereiro a outubro de 1979. Em 8 meses, com 4 inserções (quadros) semanais, a estimativa é que Glauber tenha aparecido mais de 32 vezes no programa, que teve ao todo, 60 edições.
A mostra “Cinema da Terra” – no Solar do Unhão
Entre os dias 14 e 20 de março haverá também a exibição de filmes dentro da mostra “Cinema da Terra”, com títulos recém-restaurados na SALA DE ARTE – MAM (Av. do Contorno, s/n° - Solar do Unhão). Os ingressos custam R$ 6,00.
Programação por filme
O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, direção de Glauber Rocha
Dia 14/03, às 21h30m
"O Dragão é inicialmente Antonio das Mortes, assim como São Jorge é o cangaceiro. Depois, o verdadeiro dragão é o latifundiário, enquanto o Santo Guerreiro passa a ser o professor quando pega as armas do cangaceiro e de Antonio das Mortes. Em suma, queria dizer que tais papéis sociais não são eternos e imóveis, e que tais componentes de agrupamentos sociais solidamente conservadores, ou reacionários, ou cúmplices do poder, podem mudar e contribuir para mudar. Basta que entendam onde está o verdadeiro dragão."
SinopseNuma cidadezinha chamada Jardim das Piranhas aparece um cangaceiro que se apresenta como a reencarnação de Lampião. Seu nome é Coirana. Anos depois de ter matado Corisco, Antônio das Mortes (personagem de Deus e o Diabo na Terra do Sol) vai à cidade para ver o cangaceiro. É o encontro dos mitos, o início do duelo entre o dragão da maldade contra o santo guerreiro. Outros personagens vão povoar o mundo de Antônio das Mortes. Entre eles, um professor desiludido e sem esperanças; um coronel com delírios de grandeza, um delegado com ambições políticas; e uma linda mulher, Laura, vivendo uma trágica solidão.
Anabazys (documentário), direção de Paloma Rocha e Joel Pizzini
Dia 15/03, às 18h30m e dia 19/03, às 20h30m
O documentário Anabazys (“ascensão” em grego) é um inventário sobre a gênese, a erupção e a ressonância de “A Idade da Terra” o filme de Glauber Rocha que anunciou em 1980 a revolução audiovisual contemporânea. O título faz alusão ao nome dado pelo autor a uma das primeiras versões de seu roteiro original. Composto de 13 blocos autônomos que abordam desde a concepção, interpretação, figurinos, a trilha sonora (executada ao vivo), até a polêmica provocada pelo filme no Festival de Veneza; o documentário busca recriar a memória em torno da produção como forma de amplificar a percepção do “cinema espacial” proposto por Glauber. Neste ensaio, há cenas inéditas extraídas das 60 horas encontradas do material bruto não aproveitado na montagem final de "A Idade" e que flagram a dicção delirante de Glauber nas filmagens. Mais do que um tributo ou registro de época, Anabazys procura investigar as motivações estéticas e políticas que levaram o artista a compor o seu “testamento do futuro”, conforme definição do cineasta argentino Fernando Birri. Com a participação do elenco, equipe técnica, amigos e colaboradores de Glauber, que revisitam o imaginário de “A Idade da Terra” o documentário procura examinar ainda as raízes dos pré-conceitos forjados historicamente para excluir o filme do circuito cinematográfico. Narrado em primeira pessoa pelas “vozes” de Glauber, “Anabazys” é como um prolongamento de “A Idade”, propondo experimentar as lições visionárias de um artista no auge do processo de ruptura da linguagem cinematográfica do final dos anos setenta. Um filme “sob” um filme onde o autor assume também o papel de ator de sua verdade históryka. Em “Anabazys”, Glauber se expõe por inteiro: antevê e se arrisca pela Abertura política do país e, anos-luz à frente de seu tempo, inventa uma ousada narrativa, três décadas após, assimilada enfim pelas novas gerações.
A Idade da Terra, direção de Glauber Rocha
Dia 15/03, às 20h30m e dia 18/03, às 20h20m
“O filme mostra um Cristo-Pescador, o Cristo interpretado pelo Jece Valadão; um Cristo-Nengro, interpretado por Antônio Pitanga; mostra o Cristo que é o conquistador português, Dom Sebastião, interpretado por Tarcísio Meira; e mostra o Cristo Guerreiro-Ogum de Lampião, interpretado pelo Geraldo Del Rey. Quer dizer, os quatro Cavaleiros do Apocalipse que ressuscitam o Cristo no Terceiro Mundo, recontando o mito através dos quatro Evangelistas: Mateus, Marcos, Lucas e João, cuja identidade é revelada no filme quase como se fosse um Terceiro Testamento. E o filme assume um tom profético, realmente bíblico e religioso.”
Deus e o Diabo na Terra do Sol, direção de Glauber Rocha
Dia 16/03, às 18h30m e dia 20/03, às 20h30m
"Eu parti do texto poético. A origem de "Deus e o Diabo..." é uma língua metafórica, a literatura de cordel. No Nordeste, os cegos, nos circos, nas feiras, nos teatros populares, começam uma história cantando: eu vou lhes contar uma história que é de verdade e de imaginação, ou então que é imaginação verdadeira. Toda minha formação foi feita nesse clima. A idéia do filme me veio espontaneamente." - Glauber Rocha
Terra em Transe, direção de Glauber Rocha
Dia 17/03, às 20h30m e dia 20/03, às 18h30m
Senador Porfírio Diaz odeia o seu povo, e pretende se coroar imperador de um país fictício chamado Eldorado, para impor ao povo todas as suas vontades. Mas existem outros homens que querem esse poder e lutar contra este poder.
Rocha que voa, de Eryk Rocha
Dia 17/03, às 18h30m
O exílio em Cuba de 1971 a 1972, um dos períodos menos conhecidos da vida do diretor Glauber Rocha, coincide com um período de grande euforia e discussão em torno do papel das artes na revolução social e política dos países da América Latina e do Terceiro Mundo. Glauber, com sua fala barroca e poética, propõe o cinema como o principal instrumento cultural e político para a promoção da unidade latino-americana, servindo como fio condutor para a reconstituição do Cinema Novo brasileiro e do Cinema Revolucionário cubano.
O diretor Eryk Rocha apresenta um filme-ensaio sobre o papel dos intelectuais na América Latina, em especial os que fizeram a ligação entre o Cinema Novo brasileiro e o Cinema Revolucionário cubano.
Diários de Sintra, de Paula Gaitán, última esposa de Glauber
Dia 18/03, às 18h30m
A partir dos registros pessoais do cotidiano do cineasta Glauber Rocha na cidade de Sintra, em Portugal, onde morou com a esposa Paula Gaitán e os dois filhos Eryk e Ava no ano de 1981, vemos as últimas imagens, ainda inéditas, de Glauber Rocha vivo. O filme revela com poética delicada os últimos meses de Glauber. Refaz percursos, reinventa caminhos, reencontra amigos da cidade e analisa o momento em contraponto à história de sua geração. A atualidade está no discurso do cineasta, que confirma a contemporaneidade do seu pensamento.
Barravento, direção de Glauber Rocha
Dia 19/03, às 18h30m
Numa aldeia de pescadores de xaréu, cujos antepassados vieram da África como escravos, permanecem antigos cultos místicos ligados ao candomblé. A chegada de Firmino, antigo morador que se mudou para Salvador fugindo da pobreza, altera o panorama pacato do local, polarizando tensões. Firmino tem uma atração por Cota, mas não consegue esquecer Naína que, por sua vez, gosta de Aruã. Firmino encomenda um despacho contra Aruã, que não é atingido, ao contrário da aldeia que vê a rede arrebentada, impedindo o trabalho da pesca. Firmino incita os pescadores à revolta contra o dono da rede, chegando a destruí-la. Policiais chegam à aldeia para controlar o equipamento. Na sua luta contra a exploração, Firmino se indispõe contra o Mestre, intermediário dos pescadores e do dono da rede. Um pescador convence Aruã de pescar sem a rede, já que a sua castidade o faria um protegido de Iemanjá. Os pescadores são bem-sucedidos na empreitada, destacando-se a liderança de Aruã. Naína revela para uma preta velha o seu amor impossível por Aruã. Diante da sua derrota contra o misticismo, Firmino convence Cota a tirar a virgindade de Aruã, quebrando assim o encantamento religioso de que ele estaria investido por Iemanjá. Aruã sucumbe à tentação. Uma tempestade anuncia o "barravento", o momento de violência. Os pescadores saem para o mar, com a morte de dois deles, Vicente e Chico. Firmino denuncia a perda de castidade de Aruã. O Mestre o renega. Os mortos são velados, e Naína aceita fazer o santo, para que possa casar com Aruã. Ele promete casamento, mas antes decide partir para a cidade de forma a trabalhar e conseguir dinheiro para a compra de uma rede nova. No mesmo lugar em que Firmino chegou à aldeia, Aruã parte em direção à cidade.
“Cinema que pensa” – mesas de debate
Nos dias 14 e 15 de março acontecem duas mesas de debate em torno da obra de Glauber Rocha e do cinema latino-americano. O “Cinema que pensa”, concebido e dirigido pela cineasta Paula Gaitán, pelo filósofo Juan David Posada e pelo cineasta Eryk Rocha, abre um espaço de discussão em que intelectuais, cineastas e artistas, de várias matizes de pensamento, projetam um cinema futuro a partir das provocações do presente e das experiências transmitidas pelo passado.
Os debates acontecem na Sala Walter da Silveira (Rua General Labatut, 27/ Barris - prédio da Biblioteca Pública Estadual), às 10h. A entrada é franca.
Dia 14/03
Mesa I: “A idéia de um cinema latino-americano nos anos 60 do século passado e o cinema de Glauber Rocha”.
Participantes: Orlando Senna, Márcio Meireles, Geraldo Sarno, Sofia Federico, Pedro Paulo Rocha e Eryk Rocha (Mediador).
Dia 15/03
Mesa II: “A Idade da Terra, o cinema político e uma nova idéia de ‘polis’”.
Participantes: Póla Ribeiro, Paloma Rocha, Edgar Navarro, Joel Pizzini, Cláudio Marques e
Juan David Posada (Mediador).
O cineasta
Glauber Rocha nasceu em Vitória da Conquista, Bahia, em 14 de março de 1939. Estreou no cinema com o curta experimental “O Pátio”, em 1959. No ano seguinte, rodou o seu primeiro longa-metragem:“Barravento”. O filme que chamou a atenção da crítica e já evidenciava o talento do diretor.
Em 1963, Glauber realiza aquele que seria considerado o divisor de águas do cinema nacional: “Deus e o Diabo na Terra do Sol”. Desde então, a polêmica se tornou uma rotina a cada um de seus filmes. Ao todo, o cineasta fez 11 longas e seis curtas, tendo a luta pela liberdade como tema recorrente.
Glauber, que também ficou consagrado por obras como “Terra em Transe”, “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”, “O Leão de Sete Cabeças” e “Câncer”, entre outras, acumulou prêmios ao longo de sua carreira. O diretor morreu de septicemia, no Rio de Janeiro, no dia 22 de agosto de 1981.
Associação dos Amigos do Tempo Glauber
Instituição que preserva e divulga a obra do cineasta Glauber Rocha, tem como objetivo principal nessa mostra multimídia, proporcionar acesso mais abrangente e detalhado ao conteúdo do acervo Tempo Glauber, que atualmente se encontra em processo de catalogação e digitalização. A mostra “Glauber, Uma Revolução Baiana” visa alcançar de forma simples, objetiva e interessante, o público, que atualmente pouco conhece a obra desse importante pensador baiano. Os organizadores pretendem transformar o espaço disponível em um ambiente cinematográfico, com informações relevantes e um forte diálogo visual, transitando pela obra cinematográfica e intelectual do artista. O foco é simplificar e dialogar, através de um contato direto com a história, a obra do artista. O conteúdo do acervo e a maioria da produção intelectual de Glauber Rocha, que permaneceu inédita por quase 20 anos, devido às condições de preservação do material original, e no presente, com o processo de restauração e catalogação de todo o inventário, torna-se possível disponibilizar uma parcela ao público de forma responsável, educativa e atual através de mostras, exposições e dos sites hoje disponíveis: http://www.tempoglauber.com.br/ e http://www.janelaparaonovo.inf.br/.
O Tempo Glauber
O Tempo Glauber foi criado em 1983, mas só abriu suas portas ao público seis anos mais tarde. Foi uma longa batalha travada pela mãe do cineasta, Lúcia Rocha. Avanços e recuos ao longo de quase duas décadas. Em 2004, é fundada a Associação de Amigos do Tempo Glauber, sociedade sem fins lucrativos composta por Paloma, Sara, Eryk Rocha e Dario Correa, cuja proposta é captar e gerir verbas para a instituição. A associação recebe sua manutenção do Ministério da Cultura e contrata equipe de profissionais para compor o quadro de funcionários.
O Tempo Glauber foi declarado pelo Conselho Nacional de Arquivos (Conarq), em 2006, como Arquivo Privado de Interesse Público e Social e assim reconhecido por decreto de lei pela Casa Civil da Presidência da República por conter documentos relevantes para o estudo e pesquisa da expressão artística brasileira.
VM FILMES
Fonte: Tempo Glauber
Fonte: Tempo Glauber
domingo, 18 de janeiro de 2009
O CASCALHO (PRECISAMOS RECONHECER NOSSOS TALENTOS)
Artigo de Lúcia Mesquita:
"Uma força telúrica invade a tela com a sucessão de imagens de escarpas, grutas, montanhas, cascatas e vales por uma câmera ansiosa em registrar a exuberância da paisagem de uma beleza estonteante na região da Chapada Diamantina. Em seguida, surge a grande música de Aderbal Duarte e Walter Queiroz Jr.acompanhando os planos com o um contraponto indispensável à expressão cinematográfica, até que os letreiros apresentam Cascalho, livre transposição do cineasta Tuna Espinheira para o romance homônimo de Herberto Sales.
Verdadeiro diálogo de sensibilidades entre romancista e cineasta, Cascalho é o exemplo de como a literatura pode ser recriada por outras fontes narrativas sem perder sua essência. Em outras palavras, quando o texto é sumarento, permite que diferentes linguagens se apropriem da idéia original e recriem outras formas de narração sem perder força e identidade.
Manejando técnicas diversas, escritor e cineasta souberam usar com maestria as armas de seu ofício. Herberto preocupou-se com a exploração e a sobrevivência do homem duplamente fragilizado quando subjugado pelas forças da natureza e do poder político do coronelismo predominante na Bahia.
Com essas tintas, retratou sua Andaraí natal na década de 30 com um realismo tal que as forças da intolerância e da opressão obrigaram-no a emigrar para o sul do País, onde reafirmou sua vocação de escritor regionalista e ocupa até hoje um lugar de destaque na literatura brasileira.
A leitura do magistral romance não passou despercebida ao cineasta também de origem interiorana, que se debruçou sobre o texto para recriar com imagens o universo herbertiano. Em contrapartida, a ação é a matéria-prima da criação cinematográfica, basta lembrar que é o grito enérgico do diretor o passe de mágica capaz de imprimir no celulóide a imagem, e ela está aqui valorizada e manejada com talento invulgar pelo cineasta.
Utilizando-se da construção linear, o filme de Tuna não recorre a efeitos especiais nem a recursos narrativos banalizados. Nele, a estrutura do enredo e da linguagem foi de tal forma alicerçada num trabalho artesanal consistente e vigoroso, de forma que uma cena brota da outra, pontuadas todas por uma tensão entre as personagens e as situações interpretadas, prendendo naturalmente a atenção do espectador do princípio ao fim.
Pedra e água são os elementos que delimitam o cenário físico e político dos habitantes da mineração e pontuam o relacionamento entre os donos da terra e os que nela garimpam seus sonhos e sustento. Em conluio com a natureza agreste, a brutalidade ali presente permeia o cotidiano da luta pela sobrevivência em condições adversas, não se apresentando como mero artifício para impressionar o público. Dedicado ao seu labor criativo de transformar texto em imagem, escolheu distanciar o seu cinema da violência urbana decalcada de uma matriz hollywoodiana que ultimamente vem se tornando um tema recorrente no cinema nacional.
Inclusive, há de ser dito que Cascalho mostra com lucidez e coragem uma realidade social do século passado, que de forma surpreendente continua se reproduzindo apesar do avanço democrático, em nossos dias atuais. A disputa travada na tela entre o poder do coronel e as demais autoridades locais, representadas pelo prefeito, promotor e o juiz, permanece tão atual que a ação parece ter-se transportado para a contemporaneidade.
Há uma passagem premonitória no filme, quando o coronel e seu preposto tramam desviar, para uso particular, verba pública armazenada e transportada em moeda corrente numa mala de couro. Esse artifício concebido pelo roteirista/cineasta para ilustrar a corrupção e o desvio de dinheiro público em proveito de dirigentes políticos, por coincidência, precedeu em alguns meses ao escândalo do “mensalão”, amplamente divulgado na imprensa.
Diante do registro, perfeitamente cabível o comentário: a vida imita a arte ou é a arte que imita a vida? Há, sobretudo, uma riqueza narrativa no filme que enfoca em seus vários aspectos a saga do garimpo, com o conflito entre o proprietário da terra e os que nela laboram, a dominação do dinheiro, de um lado e a necessidade de sobrevivência, na outra extremidade, a exploração do homem pelo homem e a crueldade da relação entre poder versus subser viência.
E como cenário, transborda a natureza na profusão da água que brota incessante da pedra como seu elemento primordial.Sendo fonte de utilidade para todos, o precioso líquido pode se transformar em humilhação para o negro cujo corpo empurrado pelo patrão chafurda na lama, ou de redenção para o garimpeiro que encontra a morte no alagamento da gruna. Esta comovente cena final consagra o lírico e o onírico como vitória do homem sobre o inexorável, num desfecho apoteótico.
Louve-se, ainda a escolha dos atores para caracterização das diversas personagens, merecendo menção especial às interpretações impecáveis do renomado Othon Bastos, como coronel Ramiro, Harildo Deda, Wilson Mello, Jorge Coutinho, famoso por seu trabalho em Ganza-Zumba e que desempenha o papel de Zé de Peixoto, Lúcio Tranchesi, inesquecível como o garimpeiro Filó, da expressiva e talentosa Maria Rosa Espinheira, de Ângelo Roberto, em breve e marcante aparição, do saudoso Irving São Paulo em seu último trabalho como o memorável promotor público, e afinal do próprio cineasta dublê de ator, numa evocação direta a Orson Welles e Hitchcock.
Neste filme emblemático, de forte conotação política e regional, uma página da história deste país é revivida, sob a competente direção de Tuna Espinheira que com ele consolida seus múltiplos talentos de roteirista, ator e diretor.Deve ser dito que a película foi garimpada como um diamante bruto até atingir a cintilação de uma gema lapidada. Por vários e vários anos o projeto esteve nos sonhos do cineasta, até que recebeu o premio de melhor roteiro no concurso Fernando Coni Campos, em 2002, e foi graças a este laurel que as filmagens foram iniciadas. Em seguida, foi escolhido o melhor filme no 1º Festival de Cinema de Macapá.Este é o primeiro longa-metragem de Tuna, que vem sendo elogiado em todas as partes onde é exibido e, inclusive, recebeu convite para, no primeiro trimestre de 2009, participar de uma mostra na Alemanha para onde seguirá tão logo sejam colocadas legendas em inglês.Desejo sucesso ao filme no exterior e torço para que ele volte a confirmar o prestígio de nossa tradição cinematográfica inaugurada com o cinema novo.
LÚCIA LEÃO JACOBINA MESQUITA Advogada, ensaísta e autora de Aventura da palavra
"Uma força telúrica invade a tela com a sucessão de imagens de escarpas, grutas, montanhas, cascatas e vales por uma câmera ansiosa em registrar a exuberância da paisagem de uma beleza estonteante na região da Chapada Diamantina. Em seguida, surge a grande música de Aderbal Duarte e Walter Queiroz Jr.acompanhando os planos com o um contraponto indispensável à expressão cinematográfica, até que os letreiros apresentam Cascalho, livre transposição do cineasta Tuna Espinheira para o romance homônimo de Herberto Sales.
Verdadeiro diálogo de sensibilidades entre romancista e cineasta, Cascalho é o exemplo de como a literatura pode ser recriada por outras fontes narrativas sem perder sua essência. Em outras palavras, quando o texto é sumarento, permite que diferentes linguagens se apropriem da idéia original e recriem outras formas de narração sem perder força e identidade.
Manejando técnicas diversas, escritor e cineasta souberam usar com maestria as armas de seu ofício. Herberto preocupou-se com a exploração e a sobrevivência do homem duplamente fragilizado quando subjugado pelas forças da natureza e do poder político do coronelismo predominante na Bahia.
Com essas tintas, retratou sua Andaraí natal na década de 30 com um realismo tal que as forças da intolerância e da opressão obrigaram-no a emigrar para o sul do País, onde reafirmou sua vocação de escritor regionalista e ocupa até hoje um lugar de destaque na literatura brasileira.
A leitura do magistral romance não passou despercebida ao cineasta também de origem interiorana, que se debruçou sobre o texto para recriar com imagens o universo herbertiano. Em contrapartida, a ação é a matéria-prima da criação cinematográfica, basta lembrar que é o grito enérgico do diretor o passe de mágica capaz de imprimir no celulóide a imagem, e ela está aqui valorizada e manejada com talento invulgar pelo cineasta.
Utilizando-se da construção linear, o filme de Tuna não recorre a efeitos especiais nem a recursos narrativos banalizados. Nele, a estrutura do enredo e da linguagem foi de tal forma alicerçada num trabalho artesanal consistente e vigoroso, de forma que uma cena brota da outra, pontuadas todas por uma tensão entre as personagens e as situações interpretadas, prendendo naturalmente a atenção do espectador do princípio ao fim.
Pedra e água são os elementos que delimitam o cenário físico e político dos habitantes da mineração e pontuam o relacionamento entre os donos da terra e os que nela garimpam seus sonhos e sustento. Em conluio com a natureza agreste, a brutalidade ali presente permeia o cotidiano da luta pela sobrevivência em condições adversas, não se apresentando como mero artifício para impressionar o público. Dedicado ao seu labor criativo de transformar texto em imagem, escolheu distanciar o seu cinema da violência urbana decalcada de uma matriz hollywoodiana que ultimamente vem se tornando um tema recorrente no cinema nacional.
Inclusive, há de ser dito que Cascalho mostra com lucidez e coragem uma realidade social do século passado, que de forma surpreendente continua se reproduzindo apesar do avanço democrático, em nossos dias atuais. A disputa travada na tela entre o poder do coronel e as demais autoridades locais, representadas pelo prefeito, promotor e o juiz, permanece tão atual que a ação parece ter-se transportado para a contemporaneidade.
Há uma passagem premonitória no filme, quando o coronel e seu preposto tramam desviar, para uso particular, verba pública armazenada e transportada em moeda corrente numa mala de couro. Esse artifício concebido pelo roteirista/cineasta para ilustrar a corrupção e o desvio de dinheiro público em proveito de dirigentes políticos, por coincidência, precedeu em alguns meses ao escândalo do “mensalão”, amplamente divulgado na imprensa.
Diante do registro, perfeitamente cabível o comentário: a vida imita a arte ou é a arte que imita a vida? Há, sobretudo, uma riqueza narrativa no filme que enfoca em seus vários aspectos a saga do garimpo, com o conflito entre o proprietário da terra e os que nela laboram, a dominação do dinheiro, de um lado e a necessidade de sobrevivência, na outra extremidade, a exploração do homem pelo homem e a crueldade da relação entre poder versus subser viência.
E como cenário, transborda a natureza na profusão da água que brota incessante da pedra como seu elemento primordial.Sendo fonte de utilidade para todos, o precioso líquido pode se transformar em humilhação para o negro cujo corpo empurrado pelo patrão chafurda na lama, ou de redenção para o garimpeiro que encontra a morte no alagamento da gruna. Esta comovente cena final consagra o lírico e o onírico como vitória do homem sobre o inexorável, num desfecho apoteótico.
Louve-se, ainda a escolha dos atores para caracterização das diversas personagens, merecendo menção especial às interpretações impecáveis do renomado Othon Bastos, como coronel Ramiro, Harildo Deda, Wilson Mello, Jorge Coutinho, famoso por seu trabalho em Ganza-Zumba e que desempenha o papel de Zé de Peixoto, Lúcio Tranchesi, inesquecível como o garimpeiro Filó, da expressiva e talentosa Maria Rosa Espinheira, de Ângelo Roberto, em breve e marcante aparição, do saudoso Irving São Paulo em seu último trabalho como o memorável promotor público, e afinal do próprio cineasta dublê de ator, numa evocação direta a Orson Welles e Hitchcock.
Neste filme emblemático, de forte conotação política e regional, uma página da história deste país é revivida, sob a competente direção de Tuna Espinheira que com ele consolida seus múltiplos talentos de roteirista, ator e diretor.Deve ser dito que a película foi garimpada como um diamante bruto até atingir a cintilação de uma gema lapidada. Por vários e vários anos o projeto esteve nos sonhos do cineasta, até que recebeu o premio de melhor roteiro no concurso Fernando Coni Campos, em 2002, e foi graças a este laurel que as filmagens foram iniciadas. Em seguida, foi escolhido o melhor filme no 1º Festival de Cinema de Macapá.Este é o primeiro longa-metragem de Tuna, que vem sendo elogiado em todas as partes onde é exibido e, inclusive, recebeu convite para, no primeiro trimestre de 2009, participar de uma mostra na Alemanha para onde seguirá tão logo sejam colocadas legendas em inglês.Desejo sucesso ao filme no exterior e torço para que ele volte a confirmar o prestígio de nossa tradição cinematográfica inaugurada com o cinema novo.
LÚCIA LEÃO JACOBINA MESQUITA Advogada, ensaísta e autora de Aventura da palavra
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