terça-feira, 6 de outubro de 2009

NOVÍSSIMO CINEMA SÓ NO RIO DE JANEIRO?

Luiz Paulino dos Santos
Por Cid Nader. Jornalista, cozinheiro e editor do site de Cinema www.cinequanon.art.br

Uma empreitada bastante interessante – e que coaduna (diria que completa) demais com o jeito dos idealizadores pensarem na importância do cinema brasileiro – está para ganhar vida, a partir da próxima segunda-feira: é o projeto, Novíssimo Cinema Brasileiro , que passará a ganhar espaço no lendário Cine Glória (Rio de Janeiro), e que terá como meta principal a popularização (no sentido de possibilitar a visita de um público cerceado pelo domínio das grandes produções) de uma fatia “obscurecida” do melhor cinema realizado no país.

elas palavras de seus idealizadores/mentores/condutores… Eduardo Valente e Lis Kogan: “...a idéia principal do NOVÍSSIMO é não só passar filmes de que gostamos muito, mas passá-lo pra uma platéia que achamos que pode não só ver grandes filmes como formar uma comunidade em torno da idéia de poder pensar, discutir, ver, e criar a cada mês o tal do Novíssimo Cinema Brasileiro. por motivos óbvios essa platéia/comunidade será eminentemente carioca, mas queremos passar filmes do Brasil todo e estar em contato com o máximo de pessoas independente da localização. Por isso, pra nós, era muito importante deixar vocês conhecerem e saberem que o projeto existe e que estamos querendo ouvir de todos que quiserem falar conosco sobre ele”.


São duas pessoas bastante conhecidas do nosso meio crítico/cinematográfico, e a aposta óbvia é de que um grande canal está sendo aberto e renderá: principalmente por sua competência e conhecimento de causa.


Já existe um site, diria, um blog(http://novissimocinemabrasileiro.blogspot.com/), para ser conferido – em estado de construção ainda (sem cara totalmente definida).


Na primeira edição desta segunda, a programação promete média-metragem de André Sampaio, “Estafeta – Luiz Paulino dos Santos” e um curta inédito seu, “Netuno, Morada do Sol”; além de um trailer de seu primeiro longa ficcional, “Strovengah”.

Duas coisas pra terminar: sorte dos cariocas que terão esta tentativa na esquina de casa; e, vi no blog/site deles duas chamadas para duas críticas do “Estafeta”, e aproveito para colocar, abaixo minha crítica, feita, também, na “Mostra de Cinema de Ouro Preto”.

Boa sorte!


“Estafeta – Luiz Paulino dos Santos”, documentário de André Sampaio – digital – 52 min – 2008 (por Cid Nader)


A figura de Luiz Paulino dos Santos (foto 3) é meio messiânica nos dias de hoje, e o comportamento ainda é de cineasta – havia entrado na sala de imprensa com sua barba comprida e branca, estatura baixa, jeito de oriundo dos rincões do sertão, filmando com uma pequena câmera digital a tudo e a todos. É figura que habita os conhecimentos de quem está mais dentro do mundo do cinema – pouco conhecido pelos leigos -, principalmente por conta da conturbada história da realização do clássico “Barravento”, dirigido por Glauber Rocha. Acaba comparecendo nos letreiros do filme como produtor da obra – função que mais o marcou na história da confecção de filmes -, mas o que existe por trás parece ter determinado fortemente o que sucedeu em sua vida particular.


Resumindo: foi o autor da idéia do filme e o primeiro diretor contratado para realizá-lo; mas como é de conhecimento geral, “Barravento” acabou dirigido por Glauber. O documentário do carioca André Sampaio evidencia uma das versões para que a troca de diretores tivesse ocorrido. Narrada da própria boca de Paulino, bota força na versão que diz ter ele se preocupado demais com o tempo de preparação dos atores e com a sua não conivência, ou concordância, com os tempos de ação exigidos pelos produtores. Foi destituído e acabou indicando Glauber para a direção da obra. Essa é uma das versões, a particular, mas que o documentário evidencia como uma ação que não deixou mágoas ou ressentimentos, como algo que impedisse o porvir de relação entre os dois – há algumas, extra-oficiais, sendo que a mais forte fala de uma súbita paixão que ele teria sentido pela primeira atriz pensada para o trabalho, que o teria tirado do prumo, atrasado o trabalho, e feito com que ele gastasse parte do dinheiro na relação.


O trabalho documental de André é correto; um tanto “quadrado”, mas, talvez, acertado em tal opção mais comedida. Há figuras que falam por si. Há figuras desconhecidas e que ganham por parte dos documentários um veículo de divulgação. André Sampaio pretende apresentar um Paulino para quem não conhece – e aí é exato, deixando que ele conte suas mazelas -; pretende reapresentá-lo a quem já sabe dele e de sua mazela – e aí é exato, porque traz para primeiro plano a vida “desconhecida” dele, a subseqüente (aliás, bastante pitoresca, inventiva, com intromissão até na seita do Santo Daime). Se é um pouco “quadrado” em sua opção de apresentar com calma e sem sustos sua história, termina belo, com as imagens e as músicas do ritual do Daime.


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