sábado, 10 de janeiro de 2009

O CORNETEIRO LOPES

Diretor Lázaro Farias


Wladimir Cazé - Correio da Bahia

Curta-metragem mostra batalha baiana travada entre portugueses e brasileiros pelo domínio do país

Episódio pouco conhecido da Independência do Brasil, a Batalha de Pirajá vai ser reeencenada no curta-metragem O Corneteiro Lopes, primeira película de ficção do diretor baiano Lázaro Faria, que terminou de ser rodado na quarta-feira passada, com filmagens na Igreja da Conceição da Praia (Cidade Baixa). O roteiro - escrito por Faria com a colaboração de Paulo Caldas, Manuela Dias, Claudio Nigro Luis Wanderhausem - foi um dos ganhadores do Prêmio Coni Campos 2002 de Cinema da Secretaria da Cultura e Turismo da Bahia. "Foi uma luta insana, mas cumprimos o prazo e conseguimos momentos maravilhosos", diz o diretor, que recebe esta semana o copião e, na seqüência, começa a montagem. O lançamento está previsto para o próximo dia 2 de julho.

O filme (em 35mm e dolby digital) terá custo total de mais de R$150 mil, sendo que R$70 mil são provenientes do prêmio governamental. O projeto também prevê um DVD - com o curta, o making of e depoimentos de historiadores, militares e educadores -, que será distribuído em escolas e bibliotecas. Estão no elenco o ator português Nuno Lopes (da novela global Esperança) e os brasileiros Leandro Firmino da Hora (o Zé Pequeno de Cidade de Deus), Thalma de Freitas (da também global Laços de família), Gideon Rosa e Paolo Ferreira.
Ocorrida na madrugada de 7 para 8 de novembro de 1822, nos arredores de Salvador, a Batalha de Pirajá foi decisiva para a rendição das tropas portuguesas sitiadas na cidade. Embora a independência do Brasil tivesse sido decretada dois meses antes, a ordem de entrega do comando da Bahia ao imperador Pedro I não fora reconhecida pelo general português Madeira de Melo, que assumiu o controle de Salvador. O filme vai mostrar a batalha da artilharia com que os portugueses tentaram surpreender os brasileiros e furar o cerco montado pela resistência local, liderada pelo general francês Labatut.
Durante essa batalha, o corneteiro português Luiz Lopes, que integrava as tropas de Labatut, recebeu a ordem de tocar uma "retirada", mas - até hoje não se sabe por que - tocou a ordem de "avançar cavalaria degolando". O toque assustou o exército lusitano e mudou o desfecho do conflito. O palco de guerra foi reproduzido cenograficamente nas proximidades de Arembepe. "Reproduzimos com 35 figurantes uma situação que envolveu 12 mil pessoas", disse Faria ao Folha.
O Exército apoiou a produção, através da 6ª Região Militar, que ofereceu ajuda em logística, fardamento de época, armas e pessoal de figuração, além de peritos em explosões. O especialista em efeitos especiais Farjala, da TV Globo, foi convocado para as filmagens. A trilha sonora está a cargo de Bau Carvalho (guitarrista dos Lampirônicos), que vai gravar uma versão moderna do Hino ao 2 de julho.
Mistério histórico - O roteiro foi baseado numa entrevista que o historiador Cid Teixeira concedeu ao diretor, também autor do argumento. "Pesquisei em Portugal, na Torre do Tombo e no Museu Ultramarino e não encontrei muita informação sobre Lopes. Cid Teixeira foi a pessoa que deu mais subsídios para o roteiro, inclusive elementos imaginativos", diz Faria.
Como o motivo histórico para Lopes ter desobedecido a ordem de Labatut é desconhecido, o filme conta uma versão romanceada, que inclui uma escrava por quem ele estaria apaixonado. Segundo Faria, Luiz Lopes tinha cerca de 40 anos e há 20 morava no Brasil, onde veio tentar a sorte na carreira militar. "Ele não tinha interesse em voltar a Portugal e se os portugueses ganhassem a batalha, certamente seria enforcado como traidor. Isso era motivo suficiente para chutar o pau da barraca", interpreta o diretor. "O fato é que os toques de ''retirada'' e ''avançar cavalaria degolando'' são totalmente diferentes. Não há a possibilidade de ter sido engano", opina.
Faria já dirigiu vídeos publicitários e institucionais e estreou na ficção com O segredo do faraó (1998). Também cuidou da produção e da direção de fotografia do curta Lua violada, de José Umberto Dias, produzido com o prêmio da Secretaria de 2001.

PLAOMA ROCHA "GARIMPA" OBRA DO PAI!

JOEL PIZZINI, PALOMA ROCHA, HELENA IGNEZ, JULIO BRESSANE E DJIN SGANZERLA

Beto Magno

Paloma Rocha, filha do diretor brasileiro Glauber Rocha, revelou que pretende realizar uma série de projetos relacionados à obra cinematográfica de seu pai neste ano e em 2009, quando o cineasta completaria 70 anos.

Estreiou na TV Brasil o primeiro destes novos projetos, a série inédita "Sertão Glauber".
Dividida em oito episódios de 30 minutos, a série, com imagens feitas em 1968, mostra a história de "O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro", filme exibido no último Cine Ceará e vencedor do prêmio de melhor direção no Festival de Cannes em 1969.
"Sempre existe uma confusão, porque muita gente acha que ele ganhou a Palma de Ouro pelo filme, mas, na verdade, foi o prêmio de melhor diretor, no ano em que o festival foi presidido por Luchino Visconti", conta Paloma, produtora e diretora da série.

"O mais engraçado é que nós não temos este prêmio porque, na época, Zelito Vianna (produtor do filme e irmão do comediante Chico Anysio) o levou para o hotel onde estavam hospedados na França. Então, todos saíram para comemorar e, depois, acabaram perdendo o documento", afirma Paloma.

Cópia restaurada de "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro" estréia no Ceará
Paloma conta que o projeto de "Sertão Glauber" começou há três anos, quando ela e Joel Pizzini, co-diretor da série, começaram a trabalhar no relançamento dos filmes restaurados do cineasta, ícone do Cinema Novo.
"A idéia era ter um documentário para cada filme. Fizemos o "Anabazys - Anatomia do Sonho", que foi exibido no Festival de Veneza e ganhou prêmio no Festival de Brasília, e este material da série iria apenas acompanhar DVDs com filmes do Glauber", conta Paloma.
Porém, após uma conversa com a TV Brasil realizada em janeiro, a emissora se interessou pelo material e Paloma e Pizzini decidiram formatar o material para criar a série em parceria.
"Estamos fazendo praticamente 'arqueologia' da obra do Glauber", afirma Paloma.

Entre os momentos mais interessantes de "Sertão Glauber", ela destaca uma entrevista de Pizzini a Martin Scorsese para a Folha de S.Paulo, onde o cineasta afirma, entre outras coisas, que os filmes do brasileiro podem ajudar jovens atores a não se renderem à indústria hollywoodiana.
Paloma diz que, além de depoimentos como o de Scorsese e outras figuras relevantes da época como o diretor de teatro José Celso Martinez Corrêa, o crítico Ismail Xavier ou Jean-Pierre Gorin, braço-direito de Jean-Luc Godard, a série conta ainda com diversos trechos de obras da filmografia de Glauber.
"O trabalho ajuda os espectadores a entender e conhecer melhor sua obra, com trechos de filmes e imagens importantes, como quando Glauber foi entrevistado em Cuba, em 1968, para falar sobre o papel do intelectual na América Latina, que na época ia para rua, lutava", conta Paloma.
"É uma obra política, poética, com um ritmo 'épico didático', como diria Glauber", completa.
Desejo
Paloma afirma que a idéia de uma série televisiva sobre a obra de Glauber Rocha era um sonho antigo de seu pai.
"Estamos satisfeitos e muitos felizes com o resultado da série e com sua exibição pública. Fazer uma série nestes moldes era um sonho antigo dele (Glauber)", conta a diretora. "De repente, chegou a TV no momento certo e o programa estava pronto".

70 ANOS

Paloma Rocha diz ainda que pretende expandir os projetos relacionados a filmografia de seu pai, principalmente no ano que vem, pela comemoração dos 70 anos de seu nascimento.
"Este ano fizemos uma pequena exposição em Salvador, para comemorar seus 69 anos dele, em 14 de março. Mas gostaria de, em 2009, fazer uma grande mostra com todo este vasto material que estamos trabalhando e recuperando", afirma.

CAP COMUNICAÇÃO

INSTALAÇÕES DO CAP ESCOLA DE TV EM SALVADOR

BETO MAGNO


O CAP é uma empresa que atua nas áreas de comunicação e marketing, produção de videos e promoção de cursos livres na área de televisão. Os cursos do CAP são: CURSO DE INTERPRETAÇÃO PARA TV, PROPAGANDA E CINEMA para atores;TELEJORNALISMO para estudantes de jornalismo,apresentadores e todos os profissionais que utilizam a comunicação como instrumento de trabalho.Este curso possui em sua grade aulas de dicção, memorização, postura e respiração, leitura e interpretação de textose gravação de textos frente as cameras.CURSO DE LOCUÇÃO;CURSO DE PRODUÇÃO E DIREÇÃO DE AUDIOVISUAIS.Na assessoria de comunicação e marketing empresarial e politico o CAP trabalha em parceria com alguns bons profissionais do mercado baiano a exemplo da jornalista Evanice, 30 anos de profissão (10 anos de jornal A TARDE - coluna Lady Eva.O CAP também é uma produtora de videos. Grava, edita e finaliza comerciais para tv, documentários e programas de tv, etc.O último documentario produzido pelo CAP, em novembro de 2005, foi o Caballeros 45, em comemoração aos 45 anos da Sociedade Cultural Caballeros de Santiago. Em fase de produção está o documentário Maracangalha 95 anos que deverá ser lançado em 2008. A frente do CAP está Rada Rezedá.Atriz, Apresentadora de Tv, Locutora e Publicitária. Formada em Inglês. Graduanda em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo cursou dança no Studio de Dança da Bahia durante 10 anos e Artes Cênicas na UFBA. Fez diversos cursos com grandes nomes do Teatro Nacional como: Sérgio Brito, Augusto Boal, Bia Lessa,Paulo Autran,Fernananda Montenegro, etc. Possui, ainda, diversos cursos na área de marketing político e empresarial. Como locutora é a voz de grandes clientes: Shopping Barra, Shopping Itaigara, etc. Durante 3 anos foi a VOZ OFICIAL da TIM / MAXITEL, escolhida pelo grupo Vicunha/Itália em uma seleção de 100 locutoras em todo o Brasil. APRESENTADORA DO PROGRAMA DE VEREADORES DE PINHEIRO 13.Programas de Televisão: ABRAKABAM, com estreia para janeiro de 2009,Planeta Criança, piloto de programa infantil (2003),Programa Xodó Show (Band Bahia) Programa Bacana, revista de variedades na Band Bahia (2001); Campanha Política do PFL na Tv Cultura do Sertão (2000); Axé Tv, piloto de programa de auditório (1999); Bahia Viva, programa de entrevistas no Canal Executivo da Embratel (1998); Rada Vai às Compras na Band Bahia (1994); Tv Pelô, programa de entrevistas ao lado de Zezé Mota e Kátia Guzzo, (19931994). Teledramaturgia: O Caso da Menina Morta, na Rádio Cidade (novela de rádio 2001); Buzú Bacana, humorístico na Band Bahia (2001); Zulia, a Fada da Alegria, CD Infantil da NT Editora (1999); Renascer, novela da Rede Globo (1993); As Mocréias, humorístico de Sérgio Farias (1992), Mãe-de-Santo, mini-série da Rede Manchete (1991), dentre outros. Propaganda: Cesta do Povo, Jornal Correio da Bahia, Secretaria de Saúde do Governo do Estado da Bahia, Secretária de Educação do Estado da Bahia,Shopping Itaigara, A Provedora, Pacto Federal, Café Duas Estrelas, Distribuidora de Livros Salvador, etc. Teatro: Todas as Dúvidas de Elizabeth Bournier (2007),Crime Cracker, de Luis Sérgio Ramos (1999); Telma a Tonta, de Luis Sérgio Ramos (1998); Séquiço Frágil, direção Valdiki Moura (1996); Pode Ser Que Seja Só o Leiteiro Lá Fora de Caio Fernando de Abreu, direção Paulo Dourado (1993); As Mocréias, Fale-me de Amor, Em Cima da Terra Em Baixo do Céu, com direção de Sérgio Farias (1991-93); Dirigiu o espetáculo-recital O Desaparecimento de Luíza Porto, de Carlos Drummond de Andrade (1993), dentre outros.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

CURSO PARA TV

O quê: CURSO DE INTERPRETAÇÃO PARA TV E TELEJORNALISMO
Início: 31 DE JANEIRO DE 2009
Duração: 5 meses aulas SABADO DAS 9 AS 12.30 H
Público alvo: jornalistas, radialistas, atores, estudantes de comunicação
Local: Rio Vermelho, Rua Macaúbas, 130. Tel: (71) 9167-8274 / 8774.8870
Realização: CAP COMUNICAÇÃO
RESERVE SUA VAGA COM ANTECEDENCIA

Clube de Cinema da Bahia redivivo

Guido Araújo ri de contentamento com a ressurreição do Clube de Cinema da Bahia, que, desativado desde 1990, há, portanto, 18 anos, vai voltar a funcionar. Para quem não sabe, o Clube, fundado em 1950, à frente Walter da Silveira, foi responsável pela formação de muitos realizadores, críticos e amantes do cinema, entre os quais o internacional Glauber Rocha, que começou a entender Eisenstein pelas mãos de Walter da Silveira. Com a morte deste, em novembro de 1970, aos 55 anos, o Clube ficou sob a responsabilidade de Guido Araújo, que deslocou a sua programação para o extinto cinema Rio Vermelho e os jardins do Instituto Goethe, com a inauguração do Cinerante (cinema + restaurante), cuja denominação tem seus direitos autorais em nome do próprio Guido ou de Roland Schaffer (que era, na ocasião, início da década de 70, o diretor do Goethe/Icba). Espaço quase consular, o Goethe virou point dos universitários e dos amantes da arte (não somente o cinema tinha pouso neste instituto alemão, mas também todas as artes em geral), chegando, inclusive, a dar origem ao vocábulo icbano para denominar todo aquele que era um habituée de suas programações culturais.
Pouco depois de receber o importante Prêmio Roberto Rossellini, concedido pelo Festival de Cinema de Maiori (cidade da costa Amalfina, onde Rossellini realizou vários de seus filmes - L'amore, Paisà), na Itália, como organizador da Jornada Internacional de Cinema da Bahia, agora em outubro último, Guido Araújo é contemplado com o Troféu Paulo Emílio Salles Gomes concedido pelo Conselho Nacional de Cineclubes no momento em que, neste ano, o movimento cineclubista completa 80 anos de atividades no Brasil.
O fato é que o Clube de Cinema da Bahia vai voltar às suas atividades. Recebi de Guido Araújo uma mensagem na qual convoca todos os amigos cineclubistas baianos para uma assembléia na próxima sexta, dia 12. Eis um trecho dela: "estamos convidando os amigos e ex-sócios do Clube de Cinema da Bahia de outras épocas, para que, juntos, possamos em Assembléia, reerguer o CCB, já com estatutos adequados aos tempos atuais. A data agendada para o reencontro dos amigos do CCB, será no próximo dia 12 de dezembro, sexta feira, a partir das 17 horas, sala 05 do ICBA, no emblemático espaço do Instituto Goethe, que sempre esteve ao lado das promoções cinematográficas dos cineclubistas baianos e da Jornada de Cinema da Bahia."
Postado por André Setaro.

QUE TODA DOR SE TRANSFORME EM LUZ


Eu Me Lembro

por André Setaro

Evocação de um pretérito, que se consubstancia, na verdade, no próprio passado do autor, retrato de uma geração e do espírito de uma época, Eu me lembro, de Edgard Navarro, cujo roteiro venceu, por unanimidade, o Prêmio Carlos Vasconcelos Domingues, primeiro de uma série de editais patrocinados pela Secretaria de Turismo e Cultura do Estado da Bahia como incentivo à produção de filmes, obra de estréia desse realizador no longametragismo, é surpreendente pelo seu vigor poético, que se caracteriza pela atipicidade em relação à costumeira abordagem temática daqueles que fazem cinema nestas plagas.
A sua singularidade vem, em primeiro lugar, da maneira pela qual Navarro trata o seu tema, mas, também, pelo que diz. Retrato de sua geração, a mesma, aliás, que se angustia e se exaspera em Meteorango Kid, o herói intergalático (1970), de André Luiz de Oliveira, Eu me lembro, trinta e quatro anos depois deste filme, vem, por assim dizer, fazer um balanço da trajetória tumultuada de uma rebeldia anárquica que pontificou a partir de meados dos anos 60 com o chamado Cinema Marginal. E que tem, na Bahia, o seu apogeu na iconoclastia do boom superoitista do qual Edgard Navarro é, talvez, o seu mais emblemático representante, com as dilacerações fílmicas de O rei do cagaço, Lyn e Katazan, Exposed, entre outros, e, particularmente, O Superoutro (1980), este um média metragem já anunciador de um cineasta febril e extremamente agitado que, com o passar dos anos, adquiriria uma certa pacificação para o mergulho em seu amarcord que se cristaliza em Eu me lembro.
A verve satírica, o humor, sempre presente a cada fotograma, estão, no entanto, intactos, mas, paradoxalmente, ocultos por elipse no filme de longa metragem. Não mais o tumulto interior à flor da pele, a crueldade, imensa, de rir de si próprio – característica, aliás, somente dos grandes artistas, a escatologia jogada ao ventilador, a imperiosa necessidade de afirmar as suas idiossincrasias diante do estar-no-mundo, como podem ser verificados na sua filmografia de superoitista aparentemente perturbado pela angústia da existência, mas a assunção da maturidade, a disponibilidade de olhar o seu itinerário com a paciência dos sábios, a temperança dos que, passado o delírio, conquistam a paz para, assim conseguida, por em prática um revival de sua própria vida. Se o delírio se aquietou, encontra-se, no entanto, potencialmente sugerido nas imagens de Eu me lembro.
Nascido em meados do século passado, Navarro empreende neste filme uma busca de suas lembranças desde a primeira, quando esteve no cais do porto para receber um parente e viu um navio ancorado. O resgate memorialístico se faz por meio de sua percepção do homem e das coisas desde tenra idade. É, neste ponto de vista, um inventário, um recuerdo, mas um inventário, diga-se logo, de um artista sensível e exultante, que oscila entre o amargor e a alegria, entre o riso e a tristeza. Eu me lembro, em mãos de um outro cineasta que não as de Edgard Navarro, poderia resultar num amontoado de lembranças pueris, mas o autor soube resgata-las com halo poético não destituído, entretanto, de um olhar irônico muito acentuado e de uma consciência sempre presente da tragicidade da existência.
Estruturado através de fragmentos de memória, Eu me lembro não possui uma narrativa para aqueles que buscam a instalação do conflito clássico in progress ou páginas de viradas explosivas. Se há conflito, este se instaura no interior dos fragmentos e na obra como um todo como o conflito de um realizador com suas lembranças. O corpus, portanto, do filme de Edgard Navarro, é um corpus pleno de fragmentos, estilhaços do que se lembra de mais essencial na formação de uma personalidade. Mas o que se possa ver como individualismo se espraia numa perspectiva universalista, porque a obra navarriana é, na verdade, o inventário poético de toda uma geração. Nesse sentido, e, aqui, não vai nenhuma alusão a interferências estéticas, considerando ser o filme de Navarro muito singular e especial, Eu me lembro é filho de Meteorango, assim como, também, de toda uma saga underground que se estabeleceu quando o autor saiu da aborrecência para a consciência de uma juventude sem rumo. A formação do cineasta se deu na plenitude de uma época na qual poucas eram as saídas, asfixiadas que estavam por um regime de exceção rigoroso e pelas influências vindas do exterior: a eclosão do hipismo, com sua filosofia do flower power, Maio de 68, o cinema subterrâneo que se tinha notícia, a desconstrução operada por Jean-Luc Godard, et caterva. E Edgar, num happening acontecido em meados dos anos 70, durante uma das jornadas baianas, pôs em prática o dito sganzerliano de O bandido da luz vermelha: 'quando a gente não pode fazer nada, a gente se avacalha e se esculhamba'. No meio de um debate estéril, no cine-teatro do Icba, fez corar o crítico José Carlos Avellar e, constatando que palavras seriam inúteis para o rebate de uma arenga, tirou a roupa, e nu, com a mão no bolso, estarreceu os participantes.
Uma constante do cinema navarriano é o humor, conditio sine qua non para a existência de uma obra de arte, assim é se nos parece. O humor é essencial e pode ser aplicado mesmo nas situações mais trágicas (vide Shakespeare, Racine, Nelson Rodrigues, Luis Buñuel...). O humor e a consciência da tragicidade da existência, dois elementos fundamentais para a substancialização de uma visão de mundo. Edgard Navarro já mostrou, em seus filmes anteriores, que os possui às escâncaras. Assim, em Eu me lembro, cada fragmento do seu amarcord é pontuado com uma chave irônica, um acento humorístico, um olhar, ora sarcástico, ora cheio de piedade, sobre a pobre condição do homem na Terra. Filme exemplar nesse sentido, pleno de observações perspicazes sobre o comportamento humano, acerca das idiossincrasias do ser enquanto vivente e navegador e condutor de seu itinerário vivencial. A primeira visão do filme pode provocar omissões, pois Eu me lembro foi dado a conhecer em única e especialíssima sessão privé.
Impressionante como, contando com poucos recursos – o dinheiro do prêmio, insuficiente para a reconstituição de uma décadas ou, mesmo, para a feitura de um longa-metragem, Navarro conseguiu transmitir o espírito de sua época. A direção de arte é excelente e os intérpretes, todos atores baianos, constituem tipos extraordinários, a destacar a figura do pai, cuja força de convencimento e poder de verdade são inegáveis. Mas não se poderia, sob pena de violenta omissão, ressaltar a presença tocante de empregada negra, que comove pela sua expressão, pela sua autenticidade, principalmente no fragmento no qual, já decaída pela idade, pelo passar do tempo, entra triste num asilo de idosos. São pequenas coisas que o filme de Navarro possui que conseguem transmitir todo um sentimento de mundo, toda a angústia do fluxo temporário que aniquila, que destrói as esperanças de outrora e revelam a maldade do mundo para com os seus viventes. Mas e a louca que fala impropérios e dita suas diatribes? Crepuscular a seqüência quando o jovem Edgard, já entrado na juventude, passeia com um amigo por ruas noturnas e encontra uma maluca a dizer coisas aparentemente ensandecidas, mas que revelam verdade e dor. O close-up desta personagem enfurecida pela loucura lúcida é de força invulgar.
Nenhum filme brasileiro até agora apresentou tão bem o retrato da era ripesca como faz Navarro em Eu me lembro. Talvez porque, também, um personagem do período no qual viveu intensamente suas divagações, curtindo a letargia do estar e da inação, o fato é que transmite muito bem o que foi aquela época. Se em Meteorango Kid, o herói intergalático, na famosa seqüência do apartamento em que os três personagens fumam maconha, o tom é de desespero, dilaceramento, e explosão, no filme de Navarro reinam uma calmaria, uma letargia, capazes de estabelecer o clima do revival do próprio filme, com os fantasmas do passado a desfilar no gramado verde até que o personagem central, que é o próprio Edgard, decaídas as expectativas, desfeitas as desesperanças, diz que vai comprar uma câmera Super 8. É o embrião que se instaura, o embrião do cineasta.
Na estrutura do discurso cinematográfico navarriano, os fragmentos, que fazem parecer bolhas que se desmancham no ar da memória em flou, de repente, assumem uma combustão quando do sonho agitado do personagem principal. É o próprio filme que se sintetiza como um ensaio memoralístico, revelando a sua estruturação de estilhaços de lembranças e, com isso, fazendo lembrar também a necessidade que todos precisam da memória, a memória como estabelecimento presente, constituinte do próprio ser humano (vide Hiroshima, mon amour, O ano passado em Marienbad, Muriel, todos de Alain Resnais).
A herança felliniana é, porém, a que corre no sangue de Navarro no filme em questão. A influência não significa nenhum desmérito, pois como disse Harold Bloom, famoso crítico literário, toda a literatura ocidental descende de Hamlet, de William Shakespeare, chegando, mesmo, a identificar Bloom em qualquer livro uma decorrência do arquétipo emblemático do bardo. Fellinianas são as cenas dos fantasmas, a da mulher gorda que recebe xingamentos dos meninos – Sagharina de Oito e meio? e a belíssima seqüência do charlatão que se impõe como prestidigitador a fazer uma mulher adormecer sob hipnose.
Mas o que importa é que Eu me lembro, de Edgard Navarro, suavizando, aqui, suas diatribes anteriores, sem perder a ironia devastadora – e que bela e insólita aquele momento do enterro quando um maltrapilho joga caixões de defunto num amontoado deles, adquirindo atmosfera surrealista, é um dos melhores filmes já feitos pelo cinema baiano em todos os tempos. E um exemplo para a cinematografia brasileira.

OS TRINTA FILMES MAIS SIGNIFICATIVOS DO CINEMA BRASILEIRO

DIRETOR BETO MAGNO

A referência mais antiga ao cinema brasileiro data de 1898. Afonso Segreto, a bordo do navio Brésil, tirou algumas "vistas" da Baía da Guanabara com uma câmera de filmar Lumière que acabara de adquirir em Paris. A Cinemateca Brasileira adotou este evento como marco e, dentro de seu espírito de preservar e divulgar o cinema nacional, promoveu, em 1988, urna série de atividades para celebrar os 90 anos do cinema brasileiro.
Uma delas consistiu na escolha dos 30 filmes brasileiros mais significativos, realizada através de consulta a críticos de jornais, revistas e emissoras de televisao, além de pesquisadores ligados a universidades e órgãos culturais, visando a estabelecer uma videoteca básica, para divulgação internacional.
Diferentes fases e estilos encontram-se aqui representados – o filme mudo, o Cinema Novo, as produções da Vera Cruz, o cinema intimista e o "marginal" –, dando prova da vitalidade de um cinema que superou os obstáculos à sua própria existência, surgidos ao longo dos anos.
OS FILMES (por ordem alfabética):
O assalto ao trem pagador, de Roberto FariasO bandido da luz vermelha, de Rogérío Sganzerla Bang bang, de Andrea Tonacci Brasa dormida, de Humberto Mauro Bye bye Brasil, de Carlos Diegues Cabra marcado para morrer, de Eduardo Coutinho Os cafajestes, de Ruy Guerra O cangaceiro, de Lima Barreto Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber Rocha O dragão da maldade contra o santo guerreiro, de Glauber Rocha Eles não usam black-tie, de Leon Hirszman Os fuzis, de Ruy Guerra Ganga bruta, de Humberto Mauro O grande momento, de Roberto Santos A hora e a vez de Augusto Matraga, de Roberto Santos Limite, de Mário Peixoto Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade A margem, de Ozualdo Candeias Matou a família e foi ao cinema, de Júlio Bressane Memórias do Cárcere, de Nelson Pereira dos Santos Noite vazia, de Walter Hugo Khouri O pagador de promessas, de Anselmo Duarte Pixote - a lei do mais fraco, de Hector Babenco Rio quarenta graus, de Nelson Pereira dos Santos São Bernardo, de Leon Hirszman São Paulo Sociedade Anônima, de Luiz Sergio Person Terra em transe, de Glauber Rocha Toda nudez será castigada, de Arnaldo Jabor Tudo bem, de Arnaldo Jabor Vidas secas, de Nelson Pereira dos Santos.

BETO MAGNO

Documentário revela figura do poeta baiano Waly Salomão



SÃO PAULO - Grande vencedor do Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade de 2008, "Pan-Cinema Permanente", do diretor paulista Carlos Nader, revela algumas das muitas faces do poeta e compositor baiano Waly Salomão (1943-2003). O filme estréia em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Filho de pai sírio e mãe baiana, Salomão chegou a estudar Direito, mas desde a adolescência foi fisgado pela poesia. Seu primeiro livro foi publicado em 1971, "Me Segura que eu Vou Dar um Troço". Não parou mais na carreira literária, vencendo o prêmio Jabuti, em 1997. Em 2003, tornou-se Secretário do Livro e da Leitura do Ministério da Cultura, na gestão de seu amigo Gilberto Gil.
Amigo e biógrafo do artista plástico Hélio Oiticica, Salomão aproximou-se dos tropicalistas no final dos anos 60, tornando-se um dos compositores preferidos das cantoras Gal Costa e Maria Bethânia e parceiro de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Jards Macalé -- com quem escreveu as canções "Vapor Barato" e "Mal Secreto", que seu tornaram sucesso na voz de Gal.
Entre outras músicas famosas, estão "Mel" e "Talismã", com a co-autoria de Caetano e gravadas por Maria Bethânia, e "Luz do Sol", parceria com Carlos Pinto.
Fazendo justiça à personalidade inquieta de seu biografado, "Pan-Cinema Permanente" recolhe suas manifestações de várias fontes, como as dos filmes em que ele atuou, "Quilombo" (84), de Cacá Diegues, e "Gregório de Mattos" (03), de Ana Carolina.
A maioria das imagens inéditas, que registram saborosas conversas com Salomão em viagens, são fruto da ampla convivência do diretor Nader com o poeta e compositor, que o filmou ao longo de 15 anos.
Também são entrevistados amigos do poeta, como o próprio Caetano, Antônio Cícero -- com quem Salomão escreveu as letras do disco "Zona de Fronteira", de João Bosco --, Gilberto Gil e seus filhos, Omar e Khalid Salomão.
O documentário registra algumas seqüências especialmente engraçadas, como a participação de Salomão num programa de TV síria onde, entre inglês e português, o poeta confunde seu entrevistador, que procura manter as regras do jogo.
Salomão morreu vítima de câncer no fígado, aos 59 anos, no Rio de Janeiro, em maio de 2003.
Por Neusa Barbosa, do Cineweb

INDICAÇÃO DE FILMES

BETO MAGNO: GRAVANDO NO SERTÃO BAIANO


BETO MAGNO
( VM FILMES )





OS MELHORES FILMES



Dream,trono marcado de sangue, os 7 samurais de Akira Kurosawa,Cinema Paradiso, Guiseppe Tornatore. Brincando nos Campos do Senhor de Hector Babenco, Xica da Silva, Bye,Bye Brasil, Um Trem Para as Estrelas e Dias Melhores Virão, de Carlos Diegues, 2001 Uma Odisséia no Espaço de Stanley Kubrick, Mississipe em chamas, O Expresso da Meia Noite, de Alan Parker, O Selvagem da Motocicleta, Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola, O Desprezo, de Jean-Luc Godard, Luiza HOmem, Memórias do Cárcere, de Luis Carlos Barreto, GarotadeIpanema, Toda Nudez será Castigada, Tudo Bem, Eu sei Que Vou Te Amar, Eu Te Amo, Arnaldo Jabor. Noite Vazia, Corpo Ardente, O Cangaceiro, Palácio DosAnjos, Eros, o Deus do Amor, Amor Voraz, de Walter Hugo Khuri. O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman, Prima della Rivoluzione, O Último Tango Em Paris, de Bernardo Bertolucci. E todos de Fellini e Pedro Almodóvar, Casa de Areia, de Andrucha Waddington, Glauber Rocha e Walter sales, Joaquim Pedro de Andrade, O Quatrilho, de Fábio Barreto, O Super Outro, Eu me Lembro de Edgard Navarro, Olga, de Jaime Monjardim, O Cascalho de Tuna Espinheira, Orquestra de Meninos, de Paulo Thiago, Cidade Baixa, de Sergio Machado, Esses Moços, de José Araripe Jr, O corneteiro Lopes, A Cidade das Mulheres, de Lázaro Farias, A Lenda da Lagoa Vermelha, A lenda da Lagoa vermelha II ,de Eutímio Carvalho, Carrinho de Pau, de Som Araujo.

CAP-CENTRO DE ARTES E PROPAGANDA

Sala de Espera do CAP Escola de Tv em Salvador

BETO MAGNO

O CAP é uma empresa que atua nas áreas de comunicação e marketing, produção de videos e promoção de cursos livres na área de televisão. Os cursos do CAP são: CURSO DE INTERPRETAÇÃO PARA TV, PROPAGANDA E CINEMA para atores;TELEJORNALISMO para estudantes de jornalismo,apresentadores e todos os profissionais que utilizam a comunicação como instrumento de trabalho.Este curso possui em sua grade aulas de dicção, memorização, postura e respiração, leitura e interpretação de textose gravação de textos frente as cameras.CURSO DE LOCUÇÃO;CURSO DE PRODUÇÃO E DIREÇÃO DE AUDIOVISUAIS.Na assessoria de comunicação e marketing empresarial e politico o CAP trabalha em parceria com alguns bons profissionais do mercado baiano a exemplo da jornalista Evanice, 30 anos de profissão (10 anos de jornal A TARDE - coluna Lady Eva.O CAP também é uma produtora de videos. Grava, edita e finaliza comerciais para tv, documentários e programas de tv, etc.O último documentario produzido pelo CAP, em novembro de 2005, foi o Caballeros 45, em comemoração aos 45 anos da Sociedade Cultural Caballeros de Santiago.

GLAUBER ROCHA


Por Beto Magno

Baiano de Vitória da Conquista, Glauber Pedro de Andrade Rocha, morreu jovem. Nasceu em março de 1939 e faleceu em agosto de 1981. Viveu, no entanto 42 anos muito intensos. Polêmico e explosivo partiu da Bahia para o mundo. Morou no Rio de janeiro, Cuba e Portugal. Filmou em vários países da Europa e até na Àfrica. Cineasta consagrado, ganhou prêmios nos mais importantes festivais de cinema do planeta. Ao mesmo tempo que foi preso pelo regime ditatorial militar tinha boas relações com políticos ligados ao regime de 64, entre eles o ex-presidente José Sarney e o senador Antonio Carlos Magalhâes. Glauber nessa epóca já era a maior personalidade cinematográfica brasileira no exterior, bastante doente em Portugal, depois de muitos dias internado foi trasferido rapidamente para o Rio de Janeiro onde veio a falecer e foi enterrado como um grande artista nacional. "brasileiro ilustre", Na ocasião, o jornal francês Le Monde se referio a ele, em sua primeira página, como o "um poderoso inovador". Já o tablóide nova-iorquino Village Voice creditou-lhe "profunda influência no cinema internacional por seus ensinamentos, seus escritos e seus filmes", O diretor cinematográfico Francis Ford Coppola lastimou sua morte em nome "dos amantes do cinema, que tambêm sofreram um perda". Com a morte de Glauber Rocha, o Brasil perdeu um dos cineastas que mais lutaram por um cinema descolonizado e criativo, não só nacional, mas latino-americano. Discutindo e estudado em faculdades de todo mundo, Glauber até a presente data não foi biografado. O que existe são dezenas e dezenas de teses acadêmicas, monografias, livros e estudos sobre sua obra. Teses de mestrado e doutorado sobre seus trabalhos cinematográfico.A história de sua vida,no entanto, não foi contada por ninguém. A história desse que é um dos personagens mais interessantes desse século. A história de um homem visionário e polêmico, dono de uma personalidade que ultrapassava sua obra e despertava as mais violentas emoções. Se fosse possivel esquecer um pouco os filmes de Glauber e observarmos sua obra literaria iriamos perceber que ela é tão vasta e grandiosa quanto o seu trabalho cinematográfico. Mas ha tambêm um enorme numero de publicações de livros de memórias escrito por alguns de seus amigos, coletâneas de artigos, melhores roteiros e teses de mestrado. E ainda alguns clássicos da literatura cinematográfica brasileira escritos pelo próprio Glauber. Seria de grande importância para quem quer compreender algumas facetas do singular Conquistense Glauber Pedro de Andrade Rocha.