UM ALERTA AOS NEUROCIENTISTAS
Neurocientistas falam-nos sobre um tal de “viés negativo”. Por causa do suposto “viés negativo”, o homem, tendo evoluido nos últimos 150.000 ou 200.000 anos _período em que era vital aprender com as experiências difíceis para ampliar a possibilidade de sobrevivência_ passou a registrar na memória mais rapidamente as experiências negativas e tal registro é muito mais forte do que o das experiências positivas. Dessa “herança” _dizem neurocientistas_ advém nossa tendência a fixarmo-nos mais facilmente às críticas do que aos elogios, a entristecermo-nos e cair em depressão, permanecendo longo tempo nela. As experiências positivas, por sua vez, não se fixam rapidamente nem permanecem por tanto tempo na memória, com tanta força. Mas, tais observações de neurocientistas estão mesmo corretas? Não inteiramente… Na realidade, não temos, neurológicamente falando, a propensão ao negativo. Os pesquisadores que dizem tal coisa subjetivam demasiadamente os aspectos neurofisiológicos de inibição (ou bloqueio) e estimulação, ou de estímulo/resposta, como se costuma chamar em psicologia. Tais neurociêntistas confundem esses estados fisiológicos com os de “alegria” e “tristeza”, de “prazer” e “dor”, por exenplo. Observem que, se o homem primitivo fosse “negativo”, não estaríamos aqui, conversando sobre o referido tema e nenhum outro. Era necessário, naquele período _ao contrário do que dizem tais neurocientistas_ uma postura profundamente positiva, para que fosse possível a sobrevivência. “Positivo” não deve ser confundido com “empolgado”, “animado”, “otimista” etc. No homem primitivo havia uma postura de “cautela”, de “cuidado”, muito mais exercida pelos instintos do que pela razão, inclusive.
Somos mais propensos a se manter na dor do que no prazer, na tristeza ou mesmo na depressão do que na alegria, mas tal coisa não tem a ver com “estados primitivos de autopreservação”, e sim, com a baixa do tônus (do Latim TONUS, que derivou do Grego antigo “tónos”, cuja tradução é “modo de fazer”, do Grego τόν, “tón”, isto é, “músculo”, de τείνειν, “teínein”, que se traduz, “esticar”, “estender”) em praticamente todo o organismo, a queda nos hormônios que possibilitam o prazer, o bem-estar. Obviamente que, uma pessoa com déficit nos hormônios relacionados ao bem-estar, terá muita dificuldade para voltar ao bom humor, à alegria. É apenas por isso que é difícil sair de um estado de depressão, bem como é fácil cair, da intensa alegria, a tal estado _e neste ponto, sim, encontramos relação com o “período primitivo” e mesmo com toda a funcionalidade biológica: o organismo tende a gerar mais rapidamente a percepção da dor, do que do prazer, pois a percepção da dor atende melhor a autopreservação. Além disso, o cérebro se desenvolve muito mais sob desafios, adversidades, pois naturalmente busca resolução de problemas. Eis o porque de experiências agradáveis, que não apresentam dificuldades, não serem intensamente apreendidas pela consciência e pelo que chamo de “consciência orgânica”, e de não se instalarem firmemente em nossa memória, ou mais própriamente, se fixam apenas quando perdemos, abruptamente, tais experiências, pois a “perda do bem” gera a dor, a tristeza… Toda memória é triste, dolorosa, ou “agradávelmente dolorosa”, visto que “é impossível ter memória de uma boa experiência”. Toda boa experiência só é, assim, boa, enquanto experimentada; ao virar memória adquire, “pela perda da experiência boa”, certa medida de “dor”, e se faz, assim, um “mix de prazer e dor”, em todas as nossas lembranças. É natural que assim seja e sem isso não havería evolução, nenhum tipo de aprendizado para além do puramente instintivo. Porém, que não se cunfunda tal coisa com “herança de uma tal ancestralidade primitiva”. Em neurociências há, ainda, infelizmente, muita subjetivação dos resultados observados do comportamento de cobaias em laboratórios, e da análise anatomfisiológica. A deficiência não é da Neurociêcia, mas da postura de pesquisadores diante do observado. Falta uma melhor utilização da recente disciplina Neurofilosofia, para o exercício da εποχή (epoché), isto é, “suspensão do juízo”, que possibilita uma posterior análise do fenômeno observado. Entre constatar a propensão humana à apreenssão mais rapida da dor do que do prazer, da tristeza do que da alegria, e sua fixação na memória, e a dedução de que tal resulta de uma tal “herança de períodos primitivos” vai uma distância gigantesca, que em toda prática científica devería ser respeitada. A diferênça entre fazer suposição e chegar à conclusão lógica é enorme! Já estudo Neurociência há decadas, de maneira autodidata, e agora, cursando Pós em Neurociência Clínica, essa deficiência por parte da maioria dos pesquisadores em neurociências _que observo há tempos_ tem se tornado mais clara para mim.
Recomendo, a todo autodidata, o máximo de cuidado ao cursar qualquer tipo de Graduação e Pós, para que não seja contaminado com as formalidades, com o “senso comum acadêmico”, vindo, com isso, a perder grande medida de sua cognição, de seu raciocínio crítico.
Autor:
J. Cesar Tólmi – Psicanalista, filósofo, pós-graduando em Neurociência Clínica, artista plástico autodidata, jornalista, escritor e idealizador da Neuropsiquiatria Analítica, com integração dos campos clínico, forense, jurídico e social.
Fonte:
Email:cesartolmi.contato@gmail.com