quinta-feira, 11 de junho de 2009

A NOVÍSSIMA ONDA BAIANA

Xeno Veloso, Beto Magno, Chico Argueiro, que juntamente com Jorge Mello (JM) formam o "EXPRESSO BAIANO"


Por Jorge Alfredo Guimarães

No verão de 1993 aconteceu um fato muito significativo para o cinema baiano; mesmo sentindo as fortes conseqüências da interrupção da atividade cinematográfica com o fechamento da Embrafilme, seis realizadores decidiram se reunir na Ilha de Mar Grande para, juntos, criarem um roteiro de uma longa metragem; Moisés Augusto, Fernando Bélens, Edgard Navarro, Pola Ribeiro, José Araripe Jr. e Jorge Alfredo.
Foram dias intensos e de muita interatividade entre cabeças de diferentes formações em torno de um ideal comum; levar para a tela grande as nuances e matizes, trejeitos e esquisitices dessa gente de ginga inconfundível dos becos e ruas de pedras seculares do Pelourinho; ícone da tradição cultural soteropolitana. Desse encontro surgiu o ainda inédito “Via Pelô”, que no meu entender, desencadeou o movimento de retomada do cinema baiano.

Infelizmente, nossos super egos e a falta de recursos não permitiram que o filme fosse produzido, mas creio que a partir desse encontro, todos nós, individualmente, mas sempre com a colaboração afetiva e/ou profissional dos outros cinco, intensificamos esse desejo com muita obstinação e conseguimos juntamente com outros cineastas (Agnaldo Siri Azevedo, José Umberto, Joel de Almeida, Tuna Espinheira, Sérgio Machado, Umbelino Brasil, Lázaro Faria, Sofia Federico, Edyala Yglesias, Lula Oliveira, Fábio Rocha, Bernard Attal, Joselito Crispim, Caó Cruz Alves e Conceição Senna) realizar nesses últimos anos 26 títulos em 35mm, fazendo com que a Bahia experimentasse um novo ciclo de produção cinematográfica.

Foi também nesse período que surgiu e se fortaleceu na Bahia a ABCV (Associação Baiana de Cinema e Vídeo), filiada a ABD (Associação Brasileira de Documentaristas) primeira entidade associativa do cinema brasileiro que hoje agrega associados de todas as regiões do país.

Ainda nesse ano de 1993 Fernando Belens rodou “Heteros, a comédia”, estrelado por Patrício Bisso, ator transformista argentino, com direção de fotografia de Hélio Silva, um nome consagrado do cinema novo. Foram meses de intensa excitação e muito trabalho. Logo depois estávamos a caminho do sertão de Canudos para rodar o episódio “Confirmação”, uma produção da ZDF com roteiro meu dirigido por Pola Ribeiro, tendo Vito Diniz na direção de fotografia. E Joel de Almeida rodava “Penitência”, outro episódio de “Os 7 Sacramentos de Canudos”. Também fiz a direção de fotografia de “Troca De Cabeça”, de Sérgio Machado, uma produção com a participação de Grande Otelo, Mário Gusmão, Léa Garcia, Diogo Lopes e Harildo Deda
Patricio Bisso em Heteros - A Comédia,filme de Fernando Bélens
Jofre Soares é o Mr. Abrakadabra!filme de José Araripe Jr.

Em julho de 94, José Araripe Jr. ganha o Prêmio Resgate do Cinema Nacional do MinC com o roteiro “Mr.Abrakadabra!”. Rodado em Cachoeira, esse filme foi um marco na produção baiana em muitos sentidos; Trouxemos o mestre René Persin para fotografar o filme em P&B, pela primeira vez utilizamos o recurso do videoassist e efeitos especiais no set, tendo como protagonista do filme o saudoso Jofre Soares. Moisés Augusto (Truq), até então, produziu todos esses projetos.

A Bahia novamente respirava cinema. A coisa engrenou e a gente não parou mais de produzir filmes. Em 2001, conseguimos romper um jejum de 18 anos sem produzir uma longa metragem e lançamos “3 Histórias da Bahia”, um filme de episódios dirigido por José Araripe Jr., Edyala Yglesias e Sérgio Machado. Nesse mesmo ano, Sérgio Machado realiza o documentário sobre Mário Peixoto “Onde A Terra Acaba”, e eu lanço no Festival de Brasília o documentário sobre o samba da Bahia ”Samba Riachão”.

De lá pra cá, o nosso cinema mantém uma produção sempre crescente. Em 2002, são produzidos os curtas “Catálogo de Meninas”, de Caó Cruz Alves, “Lua Violada”, de José Umberto e “No Coração de Shirley”, de Edyala Yglesias.Em 2003, “Hansen Bahia”, de Joel de Almeida, “Cega Seca”, de Sofia Federico e “Corneteiro Lopes” (Lázaro Faria).Em, 2004, mais dois longa metragens; “Esses Moços” , de José Araripe Jr., e “Cascalho”, de Tuna Espinheira.

Até que em 2005 o cinema baiano chega a uma produção surpreendente; quatro curtas e quatro longas. Solange Lima (Araçá Azul) se firma como uma grande produtora, “Cidade Baixa”, de Sérgio Machado, ganha o prêmio de melhor filme do Festival do Rio, e no Festival de Brasília, “Eu me Lembro”, de Edgard Navarro, ganha sete candangos e confirma definitivamente que a terra de Walter da Silveira tem vocação para o cinema!Urge, agora, uma revisão crítica dessa produção; Para 2006, estão sendo produzidos os longas “Pau Brasil”, de Fernando Bélens, “Jardim das Folhas Sagradas”, de Pola Ribeiro, “Estranhos”, de Paulo Alcântara e “Revoada” de Zé Umberto.

O Prêmio Braskem de Cinema que já havia premiado em 2004 “O Anjo Daltônico”, de Fábio Rocha, em 2005 dá continuidade com “E Aí, Irmão”, de Pedro Léo Martins; Joel de Almeida vai rodar “Isto é Bom”; Nivalda Silva Costa “A Incrível História de Seu Mané”; Bernard Attal já começou a rodar um filme sobre Santa Luzia e eu continuo na captação para rodar “Avant Garde”. Chico Argueiro, Beto Magno, Xeno Veloso e o veterano Jorge Mello (JM), que formam o Expresso Baiano, e estão produzindo um Documentário sobre os 25 anos da UNEB.

Convoco todos os críticos, produtores culturais e amantes da sétima arte para avaliarem essa novíssima onda baiana - a retomada do povo de cinema da Bahia.

“Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor.”
VM FILMES

A NÃO RETOMADA DO CINEMA BAIANO

VERDADEIROS HEROIS DA RESISTENÊNCIA


Por Patrick Brock
overblog.

Pra quem não conhece a história do cinema baiano, pode parecer que a produção local está vivendo tempos de gloriosa retomada tardia, com o sucesso de Cidade Baixa e Eu me lembro.

Mas se a questão for bem analisada, percebe-se que é parte de um processo contínuo de evolução, de ciclos que se abrem e fecham."Retomada é um termo que sugere continuação de algo que foi interrompido. Em relação ao cinema nacional cabe, mas em relação à produção baiana não", explica Sandro Santana, mestrando em Comunicação e Sociedade pela UFBA.

Convoquei o cara que sabia tudo dos filmes de John Ford, atento para a história coletiva dos esforços cinematográficos destas paradas. Sem mitificação."Na Bahia tivemos um período, entre os anos de 1958 e 1962, onde floresceu a atividade cinematográfica.

No entanto, foi fruto da inventividade de Roberto Pires, da capacidade de Glauber Rocha enquanto agente catalisador, da agitação cultural que vivia a Bahia naqueles anos e dos terrenos e propriedades que Rex Schindler vendeu para bancar as produções sem nunca ter retorno financeiro.

Com o fracasso financeiro dos filmes e a ida de Glauber e Roberto Pires para o Rio o 'Ciclo' baiano acabou", explica. Depois da esparsa produção nos anos 70 e 80, o cinema baiano só voltou ao cartaz com 3 histórias da Bahia, na década de 90.Sandro acredita que a Bahia ainda está tentando formar cineastas, e que a emergência de um cinema baiano segue distante.

Concordo com ele nesse ponto, mas penso que precisamos ser mais condescendentes com a parada, vamos jogar fermento, não precisa o bolo solar todo mas se com sabor."O caso de um Edgard Navarro é bastante elucidativo.

Após uma carreira de décadas, para fazer o seu primeiro filme teve que vencer um edital do governo do Estado, conseguir mais verbas para a finalização junto ao Ministério da Cultura e ainda que o filme tenha recebido os principais prêmios no Festival de Brasília, dificilmente irá se pagar e, o pior, ainda enfrentará grandes dificuldades para chegar às telas, como qualquer outro filme brasileiro que não esteja atrelado à Globo Filmes e produtoras que estão vinculadas as distribuidoras americanas".
O produtor cultural tem um olhar crítico sobre a política cultural de fomento ao cinema, considerando que é preciso a formação de uma economia de mercado nacional voltada para a produção de cinema que envolva o sucesso comercial de tais empreitadas - o famoso "fazer um filme que se pague com bilheteira". Quem impulsiona a retomada atual em nível nacional, considera, são produtoras publicitárias competitivas que trabalham com isenção fiscal e apoio de grandes empresas. "Para se falar em um cinema baiano precisamos pensar em estratégias dedistribuição e exibição que não se restrinjam a um dia de sonho". Ok. No final, me lembra que apenas 8% dos baianos têm condições financeiras de ir ao cinema.

Então temos uma pilha encruada de falta de público pagante, mercado publicitário incipiente, quase derruba o vivente que tenta escalar a parada e chegar lá no alto, pra divisar o horizonte. Decidimos pelo assalto a banco ou a produção inteiramente independente, e vamos ruminar com uma cerveja a vontade de produzir um longa metragem no estilo de No tempo das diligências.
Anunciados os vencedores da maior premiação do cinema brasileiro em 2008, o Grande Prêmio Vivo do Cinema Brasileiro, a cerimônia de entrega ocorreu na noite de terça-feira (dia 14 de abril), no Rio de Janeiro. O longa-metragem Estômago, de Marcos Jorge, foi considerado o Melhor Filme de 2008, o filme recebeu ao todo cinco premiações.

A atriz Marília Pêra e o diretor Daniel Filho foram os mestres de cerimônia do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, que escolheu vencedores em 25 categorias, em uma disputa que reuniu mais de cem filmes.

Meu Nome Não é Johnny, o filme nacional mais assistino ano passado, levou para casa seis estatuetas. Os ganhadores levaram o troféu Grande Otelo e prêmios especiais, oferecidos pela Academia Brasileira de Cinema.

O homenageado desta edição do prêmio foi o cineasta Nelson Pereira dos Santos, um dos precursores do Cinema Novo, e reconhecido internacionalmente pelo clássico Vidas Secas, de 1963. Veja lista completa de vencedores e em breve na página especial no site Meu Cinema Brasileiro.

Os Vencedores do Grande Prêmio Cinema Brasil - 2009

Melhor Filme:
O Banheiro do Papa
Ensaio Sobre a Cegueira
Estômago
Linha de Passe
Meu Nome Não é Johnny
Melhor Documentário:
Café dos Maestros
Condor
Juízo
O Mistério do Samba
Panair do Brasil
Melhor Filme Infantil:
O Guerreiro Didi e a Ninja Lili
Garoto Cósmico
Pequenas Histórias
Melhor Filme de Animação - Menção Honrosa:
Garoto Cósmico
Melhor Diretor:
Daniela Thomas e Walter Salles (Linha de Passe)
Fernando Meirelles (Ensaio Sobre a Cegueira)
Laís Bodanzky (Chega de Saudade)
Marcos Jorge (Estômago)
Mauro Lima (Meu Nome Não é Johnny)
Melhor Ator:
César Trancoso (O Banheiro do Papa)
João Miguel (Estômago)
Ary Fontoura (A Guerra dos Rocha)
Selton Mello (Meu Nome Não é Johnny)
Stepan Nercessian (Chega de Saudade)
Wagner Moura (Romance
Melhor Atriz:
Cássia Kiss (Chega de Saudade)
Cláudia Abreu (Os Desafinados)
Darlene Glória (Feliz Natal)
Sandra Corveloni (Linha de Passe)
Leandra Leal (Nome Próprio)
Melhor Ator Coadjuvante:
Ângelo Paes Leme (Meu Nome Não é Johnny)
Babu Santana (Estômago)
Gael García Bernal (Ensaio Sobre a Cegueira)
Lúcio Mauro (Feliz Natal)
Paulo Miklos (Estômago)
Melhor Atriz Coadjuvante:
Andréa Beltrão (Romance)
Alice Braga (Ensaio Sobre a Cegueira)
Clarisse Abujamra (Chega de Saudade)
Zezé Motta (Deserto Feliz)
Júlia Lemmertz (Meu Nome Não é Johnny)
Melhor Roteiro Original:
Bráulio Mantovani (Última Parada - 174)
César Charlone e Enrique Fernández (O Banheiro do Papa)
Daniela Thomas e George Moura (Linha de Passe)
Cláudia da Natividade, Fabrízio Donvito, Lusa Silvestre e Marcos Jorge (Estômago)
Luiz Bolognesi (Chega de Saudade)
Melhor Roteiro Adaptado:
Di Moretti (Nossa Vida Não Cabe num Opala)
Don McKellar (Ensaio Sobre a Cegueira)
Elena Soarez, Murilo Salles e Melanie Dimantas (Nome Próprio)
Guilherme de Almeida Prado (Onde Andará Dulce Veiga?)
Mariza Leão e Mauro Lima (Meu Nome Não é Johnny)
Melhor Figurino:
Chega de Saudade
Última Parada - 174
Romance
Estômago
Meu Nome Não é Johnny
Ensaio Sobre a Cegueira
Melhor Maquiagem:
Linha de Passe
Romance
Meu Nome Não é Johnny
Estômago
Ensaio Sobre a Cegueira
Melhor Trilha Sonora:
Café dos Maestros
Chega de Saudade
O Mistério do Samba
Orquestra dos Meninos
Os Desafinados
Melhor Trilha Sonora Original:
5 Frações de uma Quase História
Meu Nome Não é Johnny
Estômago
Linha de Passe
Ensaio Sobre a Cegueira
Melhor Filme Estrangeiro:
4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias
Desejo e Reparação
Onde os Fracos Não Têm Vez
O Escafandro e a Borboleta
Vicky Cristina Barcelona
Melhor Direção de Arte:
Encarnação do Demônio
Meu Nome Não é Johnny
Última Parada - 174
Estômago
Chega de Saudade
Ensaio Sobre a Cegueira
Melhor Edição - Ficção:
Ensaio Sobre a Cegueira
Linha de Passe
Corpo
Estômago
Meu Nome Não é Johnny
Chega de Saudade
Melhor Edição - Documentário:
Café dos Maestros
Andarilho
Condor
O Mistério do Samba
O Romance do Vaqueiro Voador
Melhor Fotografia:
O Banheiro do Papa
Ensaio Sobre a Cegueira
Linha de Passe
Estômago
Meu Nome Não é Johnny
Chega de Saudade
Melhor Som:
Ensaio Sobre a Cegueira
Chega de Saudade
Meu Nome Não é Johnny
Feliz Natal
Estômago
Última Parada - 174
Melhores Efeitos Especiais:
Ensaio Sobre a Cegueira
Encarnação do Demônio
Meu Nome Não é Johnny
Última Parada - 174
Estômago
Melhor Curta-Metragem - Animação:
Animadores
Dossiê Rê Bordosa
Moradores do 304
Passo
Melhor Curta-Metragem - Documentário:
Dreznica
O Homem da Árvore
Ismar
Ocidente
Rapsódia do Absurdo
Melhor Curta-Metragem - Ficção:
Café com Leite
Os Filmes que Não Fiz
Muro
Os Sapatos de Aristeu
Trópico das Cabras.