BELCHIOR, um poeta esquecido
Por: Gil Vieira
Para seus fãs um artista
“inesquecível”, sua presença continua viva, sua obra reconhecida e reverenciada.
Um grande poeta, um gênio, que tinha uma tremenda capacidade de expressar a
condição humana através de uma lírica profunda e melancólica. Antônio Carlos
Gomes Belchior Fontenelle Fernandes — Belchior — se vivo fosse, hoje dia 26 de
outubro, completaria 79 anos. Nascido em Sobral, Ceará, foi um artista
multifacetado e um verdadeiro intelectual. Poliglota, dominava seis idiomas:
português, inglês, francês, espanhol, italiano e latim. Aprendeu as duas últimas
línguas durante o período em que esteve internado por três anos no Mosteiro dos
Frades Capuchinhos, em Guaramiranga (CE). Aos 19 anos, ingressou na Faculdade de
Medicina da Universidade Federal do Ceará, sendo aprovado em primeiro lugar.
Entretanto, no quarto ano do curso, tomou uma decisão que mudaria sua vida —
abandonou a medicina para se dedicar inteiramente à música. Belchior foi, sem
dúvida, um dos maiores poetas da Música Popular Brasileira (MPB). Sua força
poética inovou a forma de fazer poesia cantada, combinando lirismo e contestação
social. Suas letras abordam o amor, a paixão, o sexo, a arte, a liberdade, a
política, a solidão, a violência nas grandes cidades, a opressão do sistema e o
sentido da existência. Infelizmente, nos últimos anos de vida, Belchior foi
marginalizado pela mídia, esquecido. Somente após sua morte as atenções se
voltaram novamente para ele — um triste reflexo da nossa sociedade, que muitas
vezes reconhece o valor dos artistas apenas depois da partida. A história de
Belchior guarda semelhanças com a de outros grandes nomes da arte mundial, como
Johnny Depp, Mário Quintana e Van Gogh. Cada um, à sua maneira, foi injustiçado
pela crítica e pela mídia. Depp, mesmo com atuações marcantes, jamais recebeu um
Oscar. Quintana, um dos maiores poetas brasileiros, viveu amargurado com a
rejeição da Academia Brasileira de Letras. Van Gogh, hoje celebrado como gênio,
vendeu apenas um quadro em vida — e ainda assim, a um parente, movido por
compaixão. Belchior é o meu maior ídolo. Sou fã e profundo admirador da sua
obra. Sua poesia vive, resiste e continua a inspirar quem compreende a grandeza
de um artista que jamais se curvou aos modismos.
*Gil Vieira é Advogado, Escritor e membra da A.C.B - Academia de Cultura da Bahia.
