Por Eduardo Araújo
Personalidade da Bahia.
Walter Spinelli e seu amigo de trabalho, Irênio.
Falar e escrever de Spinelli é recordar de uma Salvador glamorosa onde a sua alfaiataria trazia charme a uma das ruas mais garbosa da saudosa capital da Bahia, a Rua Chile.
Descendente de Italiano, personalidade forte, membro da Igreja Batista 2 de Julho, maçom da Grande Loja Maçônica Filhos de Salomão, que ficava no Dois de Julho, casado com Helena Margarida, pai de duas filhas, esportista, pai disciplinador, amigo fiel, humor inigualável, perfeccionista em sua profissão.
Spinelli foi o criador de um slogan que permanece na memória dos baianos que conhece a sua história: Adão não se véstia porque Spinelli não existia.
Alfaiate talentoso que vestiu de elegância as pessoas mais renomadas da boa terra. Foram políticos, intelectuais, artistas, etc.
Achou proposta para trabalhar em São Paulo e Brasília, mais sua âncora estava firmada na Bahia.
Frequentador dos cafés e restaurantes finos da Rua Chile. Sempre alinhado com terno impecável. Galanteador.
Adorava cinema e era um frequentador contumaz dos Cines Glória, Guarany e Liceu. Adorava o bom sorvete da Sorveteria Cubana.
Era um carnavalesco e participava dos bailes memoráveis dos Clubes Fantoche e da Casa d'Italia.
A vida de Spinelli se confunde com os tempo fecundos de uma Salvador elegante em que a sua tesoura pode contribuir para aumentar o magnetismo e encanto.
Homem honesto e trabalhador que viveu para mulher e a família. Conheceu vários países, mas o que ele amava era passar os finais de semana em sua casa de veraneio em Jauá.
Foi um dos criadores do jogo de peteca no Porto na Barra.
Amigo dos seu funcionários que almoçavam em sua residência. Muitos foram ajudados por ele.
Gozador inveterado foi convidado por Mário Cravo a sair de sua exposição por fazer críticas ferinas a sua obra.
Criador de apelidos. Humor imbatível.
Nos 400 anos de Salvador foi convidado pelo então Governador Octávio Mangabeira para produzir as roupas do IV Centenário da Cidade de Salvador, em 29 de março de 1949. Foi um encanto ver passar o desfile que saia do Corredor da Vitória rumo à Praça da Sé, que expunha a história do nosso povo.
No período da Segunda Guerra foi instalada a Base Baker pelos americanos e precisava de uniformes para os seus soldados, foi Spinelli que fez juntamente com uma equipe formada por ele e que confeccionou os 5 mil uniformes.
Spinelli tinha problemas de saúde como diabretes e problemas cardíacos.
Foi acusado de assassinato de Argeu Costa, dono da Livraria Científica, pelo Diário de Notícias e teve que depor na delegacia de Jogos e Costumes, na Rua da Misericórdia. Esse fato abalou sua saúde causando grande infortúnio. Nada foi provado, mas marcou a vida de Spinelli para sempre.
Outro fato foi o incêndio da sua alfaiataria, que causou muito sofrimento.
Com a chegada do pret-a-porter, ou seja, pronto para vestir, a profissão de alfaiate foi perdendo sua importância numa sociedade de consumo onde se produzia em série. Mesmo assim ele tinha uma clientela fiel ao bom gosto e a elegância.
Sua esposa sugeriu aluguel de roupas. A princípio negado, mas depois de muita conversa aceitou. Novos tempos.
Ele instalou sua alfaiataria na Galeria Santo Amaro, em que ficava o edifício com o mesmo nome, na Avenida Sete de Setembro, número 750, próximo à Praça da Piedade.
Spinelli teve a alegria como companheira, espirituoso, inteligente, disposto ao trabalho, somou infinitos amigos, amava a família, era de um esmero e competência na sua profissão.
Quando o amigo Irênio morreu foi outro baque na sua saúde.
Coração já não era o mesmo do desportista que nadava, que era o primeiro a abrir a praia. Frequentador do clube de remo de Itapagipe.
Spinelli veio a morrer de infarto nas proximidades do IAPSEB, no dia 5 de junho de1991.
Spinelli foi um ícone do bom gosto e fez da sua tesoura, agulhas e linhas arte.
Spinelli sempre foi sinônimo de garbo. Adão e Eva se conhecessem Spinelli o paraíso seria mais perfeito”.
(Eduardo Araújo).