domingo, 18 de janeiro de 2009

SÉTIMA ARTE

Beto Magno gravando em Alagoinhas
por Francisco Russo

Só Evoluímos no Precipício


A crise de criatividade que impera em Hollywood faz com que dezenas de continuações e refilmagens cheguem aos cinemas ano após ano. Puro apelo comercial, já que quase sempre busca-se usar a fama do passado para faturar mais uns trocados. Com O Dia em que a Terra Parou, nova versão do clássico de 1951, não é diferente. Comparar os filmes é fácil, já que a nova versão é bem inferior à original. Mas isto não quer dizer que seja ruim. E muito disto deve-se à força de sua mensagem e o quão atual ela é nos dias de hoje.O filme original foi lançado em pleno pós-2ª Guerra Mundial, uma época em que a Guerra Fria tinha grande força e havia o temor mundial de que uma nova guerra, agora nuclear, destruísse o planeta. Pouco mais de meio século depois, o temor permanece mas as causas são diferentes. Há o aquecimento global, as guerras permanecem em pleno vigor - Israel que o diga -, o homem continua a destruir a si próprio. Ainda durante o filme, algumas perguntas vieram em mente: afinal de contas, o que mudou nestes últimos 50 anos? Por que este alerta continua tão real?A resposta pode estar no próprio filme: "eles são destrutivos". O ser humano, por natureza, é conquistador e, em sua ânsia, não se importa com o que está ao seu redor até que passe a incomodá-lo ao ponto de fazer com que se mexa para resolver o problema. Sua arrogância natural faz com que se coloque acima de tudo, que considere que possa resolver toda e qualquer questão. É uma tática que tem dado certo, ao menos por enquanto. Só que, muitas vezes, o homem se esquece que é apenas uma espécie de passagem em um planeta que já tem bilhões de anos. Ou seja, a Terra não depende do ser humano. Esta simples constatação, somada às notícias que vemos diariamente sobre os efeitos da civilização ao planeta, responde a pergunta sobre a atualidade do tema. Surge então a derradeira questão: estará o ser humano fadado ao desastre, pelas suas próprias características? A resposta é indefinida, mas há no filme uma boa dica: o título desta coluna. É algo a se pensar.Questões como estas são o que tornam o novo O Dia em que a Terra Parou um bom filme. O tom direto e ameaçador do original é diluído, em parte pela exibição gratuita de efeitos especiais e pelo drama água-com-açúcar entre madrasta e enteado. Há também algumas questões que revelam muito do porquê desta história ser refilmada agora. A reação agressiva diante do inusitado, que pode ser ameaçador mas não necessariamente o é, vem do filme original. Mas a paranóia pós-11 de setembro faz com que a situação apresentada seja bastante verossímil. Neste ponto há o dedo do diretor Scott Derrickson, pela inserção de breves notícias e imagens da atualidade, algumas até usando personalidades mundiais. A ficção científica muitas vezes é usada para retratar a realidade sob outro aspecto, e é o que ocorre aqui. Troca-se alienígena por imigrante, Gort por qualquer ameaça terrorista e o que se tem? O Dia em que a Terra Parou, ao menos em boa parte.Há, porém, alguns defeitos sérios na nova versão. O início na Índia existe apenas para explicar a origem do personagem principal, algo que atende à quase exigência do cinema norte-americano em minuciar a história. Não é preciso, por ser este um detalhe sem importância e porque deve-se considerar que há alguém com cérebro sentado na poltrona do cinema. Há, como acontece com boa parte dos blockbusters da atualidade, a inserção desnecessária de cenas de ação. O personagem Gort é mal aproveitado no desfecho, por desperdiçar seu impacto visual e o potencial do que poderia ser feito com os efeitos especiais de hoje. E, é claro, o filme não tem o impacto do original por ser esta uma história já contada.Não é um filme perfeito, longe disto. Nem chega perto do original. Quem for buscar um filme de ação pode se decepcionar. Mas, para quem deseja analisar o mundo à sua volta, vale a pena. Mesmo sendo esta uma refilmagem, é um dos casos em que pode-se notar que há cabeças pensantes em Hollywood.

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