Wilson Mello e Nilda Spencer
*O mais irreverente dos atores baianos, Wilson Mello volta à cena em documentário de Júlio Góes*
*_Albenísio Fonseca_*
Como um brinde à memória da dramaturgia na Bahia, o mais irreverente dos atores baianos, Wilson Mello está sendo homenageado com documentário - imperdível - sobre sua trajetória existencial e profissional. A estreia nas telonas de cinemas, em Salvador, está programada para este 20 de novembro, às 19h, no Cinema do Museu (Corredor da Vitória).
Famoso, também, por sua vida boêmia nas noites da capital baiana, o título do filme - "Minha Cuba, Minha Máxima Cuba" - revela Júlio Góes, criador e diretor do documentário - vem da expressão com que ele se dirigia aos garçons a solicitar ("cantando ou aos brados") sua bebida predileta, a Cuba Libre - um coquetel clássico, drink que mistura rum com coca-cola e limão - mas em chiste com a sagrada profissão de fé confessional da igreja católica, _mea culpa, mea maxima culpa_. frase latina que significa "por minha culpa, minha mais grave culpa".
Ou seja, a expressão de arrependimento muito forte, popularizada na oração católica do Confiteor, usada para admitir um erro ou pecado com a maior ênfase possível, vira um sarcasmo, uma ironia sem direito ao perdão, mas ao prazer, na boca do artista enebriado.
QUASE 5 DÉCADAS EM CENA
O renomado ator brasileiro, particularmente proeminente na Bahia, teve uma carreira de quase cinco décadas, com notável atuação tanto no teatro quanto no cinema. Ele faleceu em 2010, aos 77 anos, devido a complicações de hipertensão e trombose.
Mello - ou Melão, como era carinhosamente tratado pelos amigos e colegas de profissão - sempre foi celebrado por suas contribuições ao teatro, tendo atuado em mais de 100 peças, incluindo atuações marcantes como em "Quincas Berro d'Água" e "Lábios que Beijei", contracenando com a excelente atriz Nilda Spencer (1923-2008), sob direção do então desconhecido Paulo Henrique Alcântara. Bem recebido por público e crítica, o espetáculo foi marcado, sobretudo, pelo encontro e desempenho desses dois extraordinários atores.
Vale citar, ainda, entre outros inúmeros trabalhos de palco onde se destacou, "Horário de Visitas", de Ewald Hacler; Eles não usam Black Tie, de Gianfrancesco Guarnieri; "A vida de Eduardo II", dirigida por Eduardo Cabús.
Do mesmo modo que protagoniza, agora, o 'gran finale' da série "Longas Bahia", da distribuidora Abará Filmes e Vídeos, seu último espetáculo teatral foi "O Terceiro Sinal", dirigido por Deolindo Checcucci, em 2008.
O ator tem entre seus trabalhos mais marcantes duas montagens da peça "Quincas Berro d‘Água". A primeira encenada em 1972, em adaptação de João Augusto e a segunda em 1996, com direção de Paulo Dourado, que inaugurou a Sala do Coro do Teatro Castro Alves, em Salvador. Em 2001, fez "Ensina-me a Viver", sob direção de José Possi Neto.
Wilson Mello foi, além do mais, uma influência significativa e mentor de muitos jovens atores baianos.
FILMOGRAFIA EXUBERANTE
Sua exuberante filmografia - com vários trechos exibidos, agora, no documentário - inclui títulos como "Dona Flor e Seus Dois Maridos", de Bruno Barreto, 1975; "Diamante Bruto", de Orlando Senna, 1977; "Antônio Conselheiro", de José Walter Lima, e "A Guerra dos Pelados", de Guga de Oliveira, 1977; "J. S. Brown, o Último Herói", de José Frazão, 1980; Jubiabá", de Nelson Pereira dos Santos, 1987.
E tem mais: "Tieta do Agreste", de Cacá Diegues, 1996; "Cascalho", de Tuna Espinheira, 2004; "Cidade Baixa", de Sérgio Machado, 2005; "Eu Me Lembro", de Edgar Navarro, 2005; "Jardim das Folhas Sagradas", de Pola Ribeiro, 2009. Destaque-se, ainda, "Fronteira das Almas",1986, de Hermano Penna; "Tenda dos Milagres", 1977 e "Jubiabá", 1987, dos livros homônimos de Jorge Amado (10.08.1912 - 05.08.2001), sob direção de Nelson Pereira dos Santos, entre várias outras películas.
Wilson Mello é lembrado não apenas por seu talento artístico, mas por seu estilo de vida descontraída, dedicação ao ofício, humildade e amizade com a comunidade cultural.
O documentário demonstra seu reconhecimento nas ruas, por populares, e depoimentos sobre a trajetória marcante do ator por personalidades artísticas como o cineasta e pintor José Walter Lima, o diretor teatral Paulo Dourado, a professora e dramaturga Cleise Mendes e outras tantas a saudá-lo reconhecida e festivamente, além de trechos de suas performances.
Vale lembrar que a estréia de Wilson Mello como ator profissional foi na inauguração do Teatro Vila Velha em 1964, no espetáculo "Eles não usam Black Tie", de Gianfransceco Guarnieri, com a Companhia de Teatro dos Novos.
A montagem de João Augusto Azevedo foi dedicada aos habitantes dos Alagados. A versão apresentou 40 personagens e contou com a participação da Batucada da Escola de Samba Juventude do Garcia.
*Diretor dedicou cinco anos*
*à pesquisa sobre o ator*
O diretor Júlio Góes tem atuação nas artes cênicas e audiovisuais, com experiência profissional em São Paulo e Salvador.
Já atuou como diretor, autor, ator e colaborador em diversos projetos teatrais e cinematográficos e se destaca, ainda, por sua participação como corroteirista e colaborador na adaptação da peça teatral "Brazyl: Poema Anarco-Tropicalista", de José Walter Lima.
A propósito, segundo Walter Lima, "o Brasil precisa conhecer o trabalho desse fabuloso ator, originado na mesma geração de Othon Bastos no Teatro Vila Velha, quando ambos foram dirigidos pelo genial encenador João Augusto de Azevedo".
-- Wilson Mello, embora tenha permanecido na Bahia - como estipula Walter Lima - desenvolveu uma carreira com grandes diretores, sem nenhuma barreira entre o cômico e o dramático. Surgiu como uma figura de destaque na vida artística baiana nos anos 60, em um paraíso urbano perdido, repositório de memórias e sensações a serem transmitidas, onde muitos ainda guardam histórias para recontar sobre o desempenho dele como ator.
Para o cineasta, "com sua simpatia tonitruante, seu humor à flor da pele, sem impor o pensamento ou sua presença, ele fazia melhor, seduzia com afeto e gentileza, o que é algo de muito importante para a evolução do artista brasileiro e do povo em geral enquanto referência de si mesmo. Ou, vale considerar como uma forma de salvamento da história do Teatro Baiano, da memória antropológica, estética e cultural do povo baiano, contribuindo para a definição de sua singularidade identitária".
Para o filme "Minha Cuba, minha Máxima Cuba", sobre o ator Wilson Mello, Júlio Góes dedicou-se em extensa pesquisa ao longo de cinco anos. Mello morreu tranquilamente em 29 de maio de 2010, em sua residência, no bairro do Rio Vermelho, em Salvador, mas, pelo visto, frente a sua saga e força dramática, permanece vivo e em cena.
*FICHA TÉCNICA*
Direção: Júlio Góes
Brasil | Ano 2025 | Longa-Metragem | Documentário | Português,
*Produção:*
VPC CinemaVideo,
Abará Filmes e Og CINELAB são co-produtoras do filme.
*SERVIÇO*
Estreia do documentário, longa-metragem, "Minha Cuba, Minha Máxima Cuba"
Quando: 20 de novembro
Horário: 19h
Onde: Sala de Arte do Museu (Corredor da Vitória - Salvador).
*DISTRIBUIÇÃO:*
Minha Cuba, Minha Máxima Cuba, de Júlio Góes é o quinto de cinco longas-metragem distribuídos pela Abará Filmes, dentro da Série Longas Bahia que inclui "1798 Revolta dos Búzios", de Antonio Olavo; "Revoada", de José Umberto Dias; "Brazyl, uma Ópera Tragicrônica", de José Walter Lima e "Aprender a Sonhar", de Vítor Rocha.
A distribuição é financiada pela Lei Paulo Gustavo - Bahia, da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia e do Ministério da Cultura (MinC), e a produção tem financiamento do MinC e da Ancine/BRDE/FSA, Governo Federal.
Fonte: Oginho Cerqueira

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