domingo, 19 de abril de 2020

DA SÉRIE: ENSAIOS QUE NOS LEVAM A PENSAR – TEORIA GERAL DE UM CAOS PLANETÁRIO


Edimilson Santos Silva Movér

Vitória da Conquista-Ba. 
77-99197-9768
 Subsérie:  Estudos escatológicos da raça pensante que habita Gaia. Nada mais que singelas análises sobre um possível caos social, sendo este o segundo prolegômenos ao ensaio: A Sociedade Sempro.
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TEORIA GERAL DE UM CAOS PLANETÁRIO

Este ensaio na forma de um prolegômenos  
é dedicado à memória do demógrafo inglês
Thomas Robert Malthus 1766-1834

INTRODUÇÃO
O que chamamos de lucro vai destruir a sociedade humana, sendo que a grande maioria não tem como perceber essa verdade. Os homens gostam de viver enganados a respeito da realidade da existência, tornei-me apologista de Schopenhauer por que ele repetia, até com um certo exagero, que a maioria dos homens eram idiotas, ele estava certíssimo, da mesma forma o fez Leonardo da Vinci, nominando-os de enchedores de latrinas. Leon Tolstói pensava da mesma forma, pois, também se declarava apologista das ideias de Schopenhauer, quanto, a burrice dos homens. Dos postulados destes três gênios advém a classificação dos humanos a que chamo de “manadas”, e que receberam o direito a classe de número 3 no ensaio, Antitratado da Vida Inteligente.  Por mais que tentemos fugir da realidade, dando diversas desculpas às previsões de pessoas especiais, de que não estamos indo no caminho certo! Não o conseguimos! Principalmente, por ser impossível fugir da refulgente verdade, de que a humanidade trilha um caminho tortuoso desde alguns milênios, quando adotou o lucro como alicerce e fundamento de sua existência! As previsões a que me referi não são as previsões baratas dos manadas idiotas, estas previsões baratas, recebem nomes aplicados pela crítica, como: Visão pessimista, futurismo descabido, burrice, invenção, catastrofismo barato, invencionice, etc., denominações exatamente as esperadas e apoiadas pelos financiadores da publicação dessas matérias. Que são as empresas geradoras de poluição, com subprodutos dos combustíveis fósseis. Estas previsões insensatas distorcem o senso comum e a visão do povão, levando-o a não distinguir uma previsão tola, de uma previsão fundamentada em estatística inferencial matemática, que possui um alto intervalo de confiança. Esta não distinção, leva o povão a desdenhar uma fatalidade, prevista por uma previsão séria, fato que pode nos levar a um desastre evitável, pelo menos em parte! Explico adiante, porque as previsões probabilísticas matemáticas estão completamente desacreditadas pela classe chamada de manada. O problema todo é o lucro, que virou um costume, que virou um vício, que virou a base que dá sustentação a economia planetária que atende satisfatoriamente a toda humanidade. No ensaio A Sociedade Sempro, para evitar o colapso da economia e, da sociedade como um todo, neste ensaio vai ser proposto uma modificação na sociedade atual, para que sem dores, sem traumatismo, e sem sofrimento de qualquer espécie, ela fosse modificada, e pudesse com um quinto da população atual, adotar e conviver com uma economia sem lucro, sem donos da economia, uma sociedade sem propriedade, mas, sem ser estatal, pode numa primeira vista! Parecer uma maluquice, e absolutamente inviável! Mas é absolutamente exequível, e então! A sociedade se transformaria num modelo que poderia permanecer para sempre no planeta. Com várias vantagens! Não haveria mais fronteiras alfandegárias, nem valores monetários, não haveria mais guerras, nem banditismo, nem o mal! A humanidade atual passaria realmente a ser uma humanidade. Empreguei a expressão “Teoria Geral” para nominar este ensaio na forma de um prolegômenos, por este ensaio ser realmente, tão somente uma teoria, e ser o mais abrangente possível dentro do escopo ora abordado. O nominei assim, por ser impossível conhecer o futuro! Sem que ele se transforme no presente.    

OS DEZ CRESCIMENTOS
1* Através dos milênios, desde quando os homens começaram a praticar o “escambo”, escambo, que evoluiu para o que hoje conhecemos como comércio globalizado, com sua representação atual máxima, na OMC Organização Mundial do Comércio, com sede em Genebra na Suíça. Este organismo controla e possibilita a existência de um intenso comércio global, sempre crescente, numa escala que atenda o crescimento dos fatores 1 ao 3 abaixo. De forma que a sociedade humana está montando para si, um futuro catastrófico através de um crescimento populacional, podemos dizer exponencial, mas, com certeza descontrolado, tudo por culpa do que chamo de fator (1), provocando o
crescimento de todos os outros fatores! Aqui citaremos somente a explosão demográfica, que é o fator (1), e os outros nove resultantes e inevitáveis fatores ou crescimentos, que se tornam descontrolados, em função dessa maldita explosão demográfica, que os governos insanos do planeta tratam como inexistente!

(1) Crescimento sem controle da população.
(2) Crescimento necessário da produção.
(3) Crescimento do comércio.
(4) Crescimento do consumismo.
(5) Crescimento da poluição.
(6) Crescimento da riqueza de poucos.
(7) Crescimento da pobreza de muitos.
(8) Crescimento da insensatez e da vaidade do homem.
(9) Crescimento geral e exponencial da burrice humana.
(10) Crescimento da crença no sucesso da sociedade futura.

Desses dez crescimentos, destaca-se dois fatores, o fator (1), gerador do descontrole dos demais, e o fator (9), que representa os antolhos do burro da carroça, (E. cabalus x E. asinus).

Eis a curva do crescimento exponencial demográfico da população do planeta desde o ano 0 (zero).

Ano 0000 – Trezentos milhões de habitantes.
Ano 1500 – Seiscentos milhões de habitantes.
Ano 1800 – Um bilhão e duzentos milhões de habitantes.
Ano 1900 – Um bilhão e seiscentos milhões de habitantes.
Ano 1950 – Dois bilhões e quinhentos milhões de habitantes.
Ano 1987 – Cinco bilhões de habitantes.
Ano 2000 – Seis bilhões de habitantes.
Ano 2012 – Sete bilhões de habitantes.
Ano 2019 – Sete bilhões e setecentos milhões de habitantes.

A população do ano de 1900 representa o limite que o planeta suporta sem grandes alterações na biodiversidade. Desde quando no ano de 1900, ainda não tinha desenvolvido e utilizado em larga escala os motores a explosão! Obviamente não existiam: Caminhões, automóveis, aviões, tanques de guerra, motocicletas, tratores, motosserras, navios mercantes movidos a diesel, grandes navios pesqueiros, também movidos a diesel. Portanto as florestas estavam intactas, o poder de recuperação das florestas era maior que a ação do machado bronco, ainda não existiam os plásticos, os cardumes nos oceanos ainda estavam intocados. Portanto! O limite de suporte natural da biodiversidade do planeta é de uma população de 1.600.000.000 (um bilhão e seiscentos milhões de seres humanos). Ainda sem a parafernália de máquinas utilizando os combustíveis fósseis, que só apareceram depois do ano 1900.

Schopenhauer em sua genialidade observava os homens, e classificava a maioria como idiotas! Estes mesmos homens de Schopenhauer dizem hoje, que o crescimento da população está sob controle. Chegam mesmo a dizer que está diminuindo! Focados em um ou outro pequeno país, que está com seu índice de crescimento populacional em declínio, uma autoridade em demografia, há uns dez anos, argumentou  que o Japão corria o risco de desaparecer em 100 anos, se não recuperasse seu crescimento populacional, aí entendi, que os três gênios estavam certos.

UM DESVIO DA FUNÇÃO MORAL DOS POLÍTICOS
2* A inteligência do homem atual está cem por cento voltada para o desenvolvimento de um exacerbado crescimento do empreendedorismo da juventude, dirigido principalmente para o setor econômico, na área de prestações de serviços, comércio e vendas! Naturalmente voltadas para o consumismo! Da produção industrial nem se fala! Talvez! Por absoluta carência de capital. Ninguém consegue ver que este modelo de empreendedorismo, puxa a produção de bugigangas para o alto? Cada novo empreendedor que alcançar um relativo sucesso para criar uma família contribuirá com dois novos humanos. Este é exatamente, o setor da atividade humana que nos levará a uma superpopulação, que, por sua vez, nos levará aos dez crescimentos citados acima. Superpopulação esta, que inevitavelmente nos levará ao caos. A humanidade nos últimos tempos tem afunilado o número de pessoas especiais e inteligentes que guiam o desenvolvimento da humanidade para o bem! O que se pode ver e notar é o crescimento do número de doutores “Silvanas da vida”, que vem aumentando de forma exacerbada. O mal está crescendo de forma assustadora! Observem a banalidade com que os grupos terroristas tratam a vida! Inclusive a deles! No mundo tornou-se comum ser voltado para o mal, observem os novos grandes bilionários das nações subdesenvolvidas, juntam imensas fortunas em detrimento do bem-estar das populações pobres de seus países! Observem os casos recentes ocorridos no Brasil onde grande parte dos políticos roubam escancaradamente, e ainda apoiam os bandidos comuns, e pregam que eles são vítimas da riqueza gerada pelo trabalho natural no capitalismo! Qual seria a opinião dos dirigentes da China? Maior Nação do planeta, comunista, e futura maior Nação capitalista do planeta a este respeito? Esta postura, de apoiar bandido de 3ª categoria deve ser para justificar seus assaltos ao erário! Isto está a ocorrer em alguns países da América Latina! Mas, o mal campeia por todo o planeta! Mas, para todo mal há um antídoto.  Observem o que ocorre com a Europa, simplesmente invadida por outros povos! Antes! Virem vossas atenções para as relações da velha Europa com esses povos no passado. Observem o que ocorre nos países do oriente próximo, com seus movimentos, ditos, de primavera! Em referência à Primavera de Praga e de  Dubček. Também, voltem vossas atenções para, como os dirigentes das Nações do Oriente Próximo tratavam suas populações no passado. Fiquem de olho nas grandes populações da Ásia! Quem planta chuva colhe tempestade, e às vezes, muita tempestade! O planeta é um só! Não há como transformá-lo em dois ou mais! Estamos partindo para o caos! A capacidade de consumo de “bugigangas” do planeta possui um limite, assim como, existe um limite de suporte da poluição dos oceanos, existe limite também na capacidade de produzir commodities pelos países subdesenvolvidos e não industrializados! Riquezas não caem dos céus! Tem sempre alguém tomando alguma coisa de outro alguém, tem sempre um povo sendo espoliado por outro povo, ou por seus próprios dirigentes. Tudo possui um limite! O grande e principal problema é o fator (1), chamado de explosão demográfica! Nenhuma Nação do planeta quer ver seu PIB diminuído! Isto é geral. No entanto! Isto tudo pode ser resolvido de uma só tacada, como veremos no ensaio que estou elaborando, e a ser publicado com o nome de: A SOCIEDADE SEMPRO.
PARA ONDE NOS LEVARÃO ESTES DEZ CRESCIMENTOS, E OUTROS NÃO LISTADOS
3* Crescimentos estes, que inescapavelmente nos levarão ao Caos! Caos este, que um dia teremos que enfrentar. A sociedade humana procede como se fosse um imenso organismo sem inteligência, sem razão, sem lógica, sem nenhum controle sobre os seus nefastos procederes, o que a faz viver atualmente sob uma imensa espada de Dâmocles! Nossas ações não podem ultrapassar o “limit sensibiliter”, pois, então, o cordão se romperá! Aqui não me refiro às 17 mil ogivas atômicas, mas sim, ao caos futuro, fruto da burrice humana, que provocará a falência na organização da sociedade, que levou dez mil anos ou mais, para ser estruturada, as guerras foram em vão! Foram milhões de mortes inúteis nas guerras por uma sociedade mais justa! Tudo inútil! A relativa paz conseguida após as duas últimas grandes guerras, terá sido inútil diante da catástrofe que se avizinha e que virá do caos.

O MEDO OU A FUGA DA REALIDADE, NOS LEVARÁ AO DESASTRE PUBLICAMENTE PREVISTO, PELA GENIALIDADE DO PROFESSOR LUCASIANO STEPHEN WALKING.
4* Ele deixou claro, que a humanidade tinha pouco tempo no planeta! Taxativamente recomendou que abandonássemos o planeta, e não estamos levando essa recomendação a sério! Não lhes demos atenção, ele recomendou em vão! Nunca entendi como o mestre, teve o insight do movimento resultante da absorção de massa no centro dos buracos negros, em alta velocidade provocando a altíssima rotação nos centros dos buracos negros, com a natural emissão de radiação térmica nos dois polos criados pela alta rotação do núcleo! Uma tacada de mestre! Tive oportunidade de discutir com um físico, a natural e esperada alta rotação numa singularidade como fator da expansão inicial do nosso universo, podendo assim, desprezar o que o pacote nos mostra como uma explosão, que chamam de Big-Bang. Uma expansão crescentemente acelerada, não possuiria a dinâmica de uma explosão radial! Somente nesse modelo de expansão seria possível um universo ordenado, homogêneo e isotrópico como o nosso! Detesto burrice! Voltemos, ao velho terceiro planeta. Quase disse “nosso”! Criou-se no planeta através da imprensa, uma descrença generalizada sobre as questões referentes aos danosos efeitos do clima sobre a biosfera. Esta descrença foi criada propositadamente pelo sistema de “inteligência e defesa” dos grandes aglomerados econômicos interessados na exploração do restante das reservas dos combustíveis fosseis ainda existentes debaixo do solo do planeta. Esta descrença foi criada financiando a divulgação das ideias de alguns malucos e idiotas de Schopenhauer, e por toda a imprensa do planeta. Alguns malucos e catastrofistas idiotas, para variar, receberam apoio em dinheiro, e tiveram a publicação e divulgação de suas ideias pela grande mídia, pagas pelos grandes aglomerados econômicos para divulgar suas previsões malucas e descabidas de (Fins de Mundo!) desde há algumas décadas que tem havido uma febre de (Fim de Mundo!)  Todas elas financiadas com a finalidade única de levar a descrença a todas as previsões sérias do IPCC sigla em inglês de (Intergovernmental Panel on Climate Change) da ONU, a grande mídia burra, atrás dos dólares abundantes dos donos do petróleo, insensatamente, abraçou a causa dos grandes e pequenos aglomerados econômicos, que na realidade são uma única organização, pois, todos são farinha do mesmo saco!  Todos que exploram os depósitos dos combustíveis fósseis, estão se lixando para o que aconteça com o planeta. O peso da espada de Dâmocles crescerá assustadoramente até o cordão não suportar mais, e então o caos tornar-se-á irreversível, aqueles que viverem para ver o caos, descobrirão assombrados que nada mais se poderá fazer, a não ser sofrer e orar, depois de instalado o caos, mudos e impotentes, verão o caos a tudo desestruturar! Municípios, Condados, Estados, Nações, grupos de Nações, sistemas bancários, grandes aglomerados financeiros, grupos econômicos, toda a indústria do planeta, o sistema de saúde e o de ensino entrarão em colapso, com a falência dos Estados e das Nações, o desemprego atingirá o píncaro e será total, a falência dos povos, levarão as indústrias farmacêuticas à falência generalizada até chegar a paralização total, as epidemias percorrerão as Nações, as populações ao fugir das epidemias levarão as doenças epidêmicas a todos os rincões do planeta, transformando-as em pandemias. Local nenhum estará a salvo. Os povos e seus sistemas de produção de grãos em pouco tempo entrarão em colapso, então! A fome generalizada se espalhará entre os povos, haverá milhões de mortos insepultos provocando sucessivas pandemias devastadoras, encontrar humanos praticando a antropofagia será rotineiro, o caos tomará conta do planeta, provocando o desaparecimento da sociedade humana organizada da face para sempre. Simplesmente, não ouvimos o Mestre Stephen Walking, ele, bem que nos alertou em alto e bom som, de que em breve haveria necessidade de nos mudar do planeta, ou desapareceríamos como humanidade. O real problema é que nossa astronáutica e a própria ciência ainda é um bebê! O mais próximo exoplaneta habitável é do sistema “próxima centauri”, ele está a 41 trilhões de quilômetros de distância! Voltemos agora ao pacote! Observem atentamente, que só estamos no começo da ciência, e os gênios estão rareando! Os aceleradores de partículas nada resolveram em termos dos vazios do Modelo Padrão!  Modelo que tanto facilitou o entendimento da estranha realidade observada na física de partículas! O Modelo Padrão está parado há quase 50 anos! Ao longo dos últimos 350 anos, os humanos tiveram muitos e variados insights no campo da ciência, mas, absolutamente, nada supera estes três: Newton, Maxwell e Einstein, O Insight do trabalho publicado em 1687 por Newton, marca o início da física na história da humanidade com a ideia de que a força gravitacional se estendia, em proporção inversa ao quadrado da distância entre os corpos, e as outras três leis de Newton. na época isto não era compreendido pela maioria, por ser uma abstração, na realidade tudo na matemática é abstração, com uma de suas inúmeras exceções ser: Um tapa levado na cara, principalmente se for dado por uma pessoa com o dobro do seu peso! Então, compreendemos imediatamente o que seja! Inércia, força, ação e reação, movimento, massa, e outras lagartixas, uma dessas lagartixas é uma abstração, portanto, um “noúmena”, que chamamos de dor! Um amigo muito inteligente, me pediu para descrever como eu via ou fazia a imagem de um caos! Montei a seguinte imagem para ele: Imagine! Um Estádio de futebol num dia de jogos! Onde estaria disputando a partida principal os dois mais famosos times da associação de nudismo da cidade. Nesse dia memorável, a presença de homens estava terminantemente proibida, o policiamento seria feito exclusivamente por mulheres, os dois times seriam femininos, jogariam nus como nasceram as atletas, as torcedoras estavam autorizadas a assistir nuas ou vestidas, conforme o gosto,  então um bêbado maluco, dono de um criatório de ratos para laboratórios, por pura vingança, por ter sido impedido de assistir à partida! Num de seus helicópteros sobrevoou o estádio e soltou dez mil e treze ratos, sobre as arquibancadas e sobre o campo onde se desenrolava a partida das “nudes”! Ai, instalou-se um caos levemente parecido com o caos planetário esperado!

A DESCRENÇA NAS PREVISÕES DE FATOS INDESEJADOS, NOS PEGARÃO DE PÉS DESCALÇOS
5* Descrer é da natureza humana, quando encontramos um leão no meio da clareira, rezamos para que seja uma miragem, ou que estejamos sonhando. O que aumentará o peso da espada de Dâmocles será a descrença na possibilidade de um caos existir e estar próximo. O termo catastrofismo está tão arraigado como coisa, mentirosa e improvável de existir, que o entendimento do povão xucro é de que é falso, passando a ser sinônimo de: Falácia, criatividade burra, invencionice, e outras patranhas, que, mesmo no caso de uma imensa catástrofe global sendo prevista, mesmo se anunciada por todos os governos do mundo, poucos darão o crédito devido. E a mortandade será em um número extremamente maior! Por pura falta de obediência às medidas de segurança recomendadas pelos governos. Em cada década temos inúmeras previsões de catástrofes que nunca acontecem! Em cada década inúmeros fins de mundo são anunciados! São várias as notícias de choques de imensos meteoros, que nunca acontecem! E o mundo continua aí! Disto, vem a descrença para as previsões de que a humanidade caminha para o caos, e de que previsões deste tipo, não devam receber um mínimo de crédito. E assim caminha a “manada” que chamamos eufemisticamente de humanidade! Na realidade, os responsáveis por essa descrença estão dentro dos grandes escritórios das grandes companhias de exploração de petróleo, e dos grandes Bancos internacionais, seus sócios!

NOSSOS INSTINTOS SÃO MAIS VELHOS, DO QUE IMAGINA A NOSSA VÂ FILOSOFIA
6* Todo o mal se deve ao instinto de reprodução e conservação profundamente arraigado e existente no cérebro límbico da espécie humana. Advindo daí a explosão demográfica. Temos no entanto, antes tentar compreender como conseguimos passar pelos dois grandes gargalos existenciais,  um há 250 mil anos atrás, com a erupção de todos os vulcões das bordas das placas tectônicas do planeta, foi quando a população de humanos quase desaparece, daí, talvez, aparecendo o DNA mitocondrial, e o outro há 74 mil anos atrás, quando o vulcão “Toba” onde atualmente é o lago Toba, localizado na ilha de Sumatra na Indonésia, este vulcão entrou em uma erupção tão violenta que perdurou por vários anos, escurecendo o planeta com cinzas, por anos seguidos, impedindo a fotossíntese da flora, quando a população de humanos se viu reduzida,  talvez, a poucas famílias. Esta questão do DNA mitocondrial da Eva ancestral! Tem outra versão, até mais lógica! Se somente um pithecus tornou-se bípede no início, este espécime devia ser uma fêmea! Benditas mulheres! Dai, o porquê, de todos os humanos atuais, seus descendentes, trazerem até hoje o DNA mitocondrial. Mais uma vez! Benditas Mulheres. Sei que vão questionar! Mas, se fosse um macho, o primeiro! Como transferir um DNA mitocondrial feminino? Mesmo suas descendentes fêmeas seriam numerosas, e assim, haveria diversos DNAs mitocondriais!

NOSSOS MAIS ANTIGOS ANCESTRAIS HOMINÍDEOS
7* Este forte instinto de reprodução, somado a sua inteligência, é a única explicação para termos sobrevivido após os dois gargalos, e depois termos explodido no planeta, é explosão mesmo! No texto do marcador de leitura 1* está a relação dos números da demografia em várias épocas na história do planeta! Sei que todos sabem, como se deu a multiplicação dos seres humanos no planeta desde o surgimento dos bípedes há 4,5 milhões de anos! Quando digo “todos sabem”, refiro-me aos seres que pensam que tudo sabem. O que significa que o fato não é conhecido pela paleoantropologia. Segundo o que nos diz esta última, eles, os bípedes surgiram de um primeiro casal que transferiu aos seus descendentes o bipedalismo. Sendo extremamente difícil uma espécie se tornar pensante, sem o auxílio de mãos livres e preênseis para primeiro criar ferramentas e armas que garantissem sua defesa e sobrevivência, diante da realidade de que os primatas não possuíam dentes ou chifres, ou outras protuberâncias para usar como armas de defesa, principalmente, para garantir a sobrevivência de suas crias, no meio adverso em que viviam! Senão, não se perpetuariam, como o fizeram! O bipedalismo foi o único caminho utilizado pelos nossos antepassados primatas para que viessem a sobressair entre os outros animais, seus concorrentes pela vida! Esqueçam o osso esfenoide daqueles pseudoantropólogos que andam a procura da fama e de dólares!  Nunca vi tanta burrice reunida numa só teoria! Ora! Se a evolução a cada passo alterava a morfologia do esqueleto como um todo, lógico que o crânio também seria alterado. Cada mudança de forma, alterava a posição do osso esfenoide, que está localizado na base desse crânio! O primeiro primata que passou de tetrápode ou quadrúpede para bípede foi o “Pithecantropus Anamensis”, isto em torno de 4,5 milhões de anos atrás, a data exata não é importante, esta primeira curiosa, que ficou de pé, evoluiu para outras espécies levando consigo o DNA mitocondrial, lógico, para as espécies que se seguiram ao longo dos milênios! Estes primatas, mesmo que, ainda sem a aquisição da inteligência deixaram de ser caça para se tornarem caçadores, embora de vez em quando fossem caçados! Fizeram isso, unicamente com o auxílio das mãos livres e preênseis. Esta história que segue é conhecida por todos: Os fósseis comprovam que há 2,4 milhões de anos, já existia o hominídeo “homo erectus” descendente do primitivo “Pithecantropus Anamensis”, no entanto, este, já possuía algum tipo de pensar, pois, o “homo erectus” dessa época já conseguia fabricar o seu mais antigo instrumento de caça e defesa! O machado biface acheulense. De posse dessa ferramenta conseguiu chegar aos 700 mil anos atrás, quando se bifurcou, se transformando em duas espécies, embora bastantes parecidas, mas distintas quanto ao uso do cérebro, hoje conhecidos como o Neanderthal com até 1750 cm³ de caixa craniana, e o Cro-Magnon, nosso ancestral com 1400 cm³ de caixa craniana. Este último, há 300 mil anos, não se sabe como! Iniciou a pensar, sendo classificado como “homo sapiens, transformando-se depois em falante, recebendo a classificação de “homo sapiens sapiens”, isto é, o homem que sabia que sabia! O nosso primo e meio-avô Neanderthal desapareceu há 30 mil anos atrás. No entanto também é nosso ancestral, possuímos 3 % de DNA Neandertjhal e 97 % de DNA Cro-Magnon. Se fôssemos nos classificar taxonomicamente e acertadamente hoje, seria “homo cro-neander sapiens stultus”.

A DEMORA PARA ABANDONAR AS CAVERNAS.
8* Os humanos, depois de desenvolver a consciência, começando a aprender a pensar e a falar! Demoraram 285 mil anos para inventar a lavoura! E abandonar as Cavernas. Neste tempo todo, não conseguiram plantar nem uma horta de cebola! Eita, “povinho” preguiçoso, fica parecendo que no mundo das cavernas só existia baianos! O “sapiens” chegou aos 15 mil anos atrás sem inventar e conhecer a lavoura, e com pouquíssima cultura! Somente aos 11 ou 12 mil anos uma fêmea da espécie, laboriosa, esperta e curiosa como são as mulheres, conseguiu inventar a lavoura, plantando os primeiros caroços de feijão fradinho, ou talvez de feijão catador, ou carioquinha! Abrindo a primeira oportunidade para se abandonar a vida nômade, que a espécie sempre possuiu, tornando-se uma espécie tipicamente sedentário, dentro de poucos milênios, de posse do produto da lavoura conseguiu domesticar os primeiros animais, pois já possuía alimentos para o manter vivo, e preso, até que fosse comido! Então, num insight brilhante inventou as cidades, descobriu como fazer uso dos metais de forma rudimentar, inventou os governos organizados de forma rudimentar, mas, inventou, inventou a escrita primeiramente para controlar a produção e escambos da lavoura e o nascente comércio, inventou as leis escritas,  aperfeiçoou, finalmente a metalurgia, criou as nações, começou a pensar de forma abstrata, inventou as guerras, mas sempre cuidando de se multiplicar para supri-las, conseguiu criar o primeiro Império!, conseguiu criar a astronomia dando seguidas espiadas no céu noturno, aprendeu a somar, no começo com os dedos! Aperfeiçoou a forma de pensar, a que chamou de filosofia, o homem moderno viveu por  10 mil anos sem desenvolver uma ciência consolidada, somente a partir da descoberta dos novos continente em 1500, é que conseguiu iniciar a moderna ciência, qualquer ciência existente antes de 1500 era rudimentar, a partir do início do século XVI foi que se deu o real desenvolvimento das ciências como: Matemática avançada, Química, Biologia, Física, Astronomia, Eletromagnetismo, e outras esquisitices eventuais ou seja! Outros ramos mais específicos da ciência. O mais incrível, é que quem deu partida e sustentação ao pacote conhecido como ciência, e que no início era chamado de filosofia natural, foi exatamente os filósofos, astrólogos, alquimistas e metafísicos, alguns na época eram mais conhecidos como feiticeiros, que como filósofos naturais! Foram estes homens de profissões estranhas que inventaram a ciência. Todos tratam esse assunto como tabu, ou irrelevante! Pura vaidade! A ciência é filha da feitiçaria e acabou-se! Somente no início do século XX passamos a conhecer a física quântica e a física relativista. Embora já tenhamos um avançado conhecimento sobre o universo, muitos de seus segredos, e “são inumeráveis”, continuam intocados pelos homens, estes, orgulhosos e vaidosos homens de Da Vinci! Que pensam que tudo sabem.

ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE   
9* O modelo de sociedade adotada ao longo dos últimos 10 milênios, tem como principal base e fundamento para permitir sua existência e crescimento o que chama de “economia”, isto, como uma sociedade moderna e evoluída, possuidora de uma pretensa ciência chamada de “economia”, mas o problema que nos levará ao caos, seria o modelo de economia dos modernos humanos, que está fundamentada no “lucro”, que a tudo devora! Pois, quem move a máquina da existência da humanidade de 7,7 bilhões de enchedores de latrinas é o capitalismo e o seu indefectível lucro! O planeta pode ir para o inferno! Que nenhum humano abandona o “lucro”!

UM PEQUENO NÚMERO DE HUMANOS RESPONSÁVEIS PELO FUNCIONAMENTO DA ECONOMIA DO PLANETA
10* Para começo de conversa, lembrem-se que a economia do planeta tem funcionado satisfatoriamente, devido a uma série de ideias dessa “super-plêiades” de gênios! Vou repetir! Com as suas benditas e brilhantes ideias “ou leis econômicas”, a economia do mundo funciona bem! Mesmo com tanto antagonismo ideológico, mesmo com 7,7 bilhões de seres, manadas! Portanto, temos que reconhecer e agradecer a estes gênios, eles foram e são os responsáveis pela paz no mundo atual, pois somente devido a suas ideias é que a economia do planeta vem funcionando satisfatoriamente: O mundo do pós-guerra! descobriu assustado que a economia capitalista tem unido mais que dividido as Nações! Eis os nomes dos gênios: Adam Smith (1723-1790), David Ricardo (1772-1823), Karl Marx 1818-1883), John Maynard Keynes (1883-1946), Milton Friedman (1912-2006), John Kenneth Galbraith (1908-2006), Gary Stanley Becker (1830-2014), Robert Merlon Solow (1924-  ), John Forbes Nash Jr. (1928-2015), Paul Robin Krugman (1953-   ) Nicholas Gregory Mankiw (1958-  ) e Steven David Levitt (1967-  ).

A OUTRA FACE DA MOEDA, (O LUCRO), TORNOU-SE UM INSTINTO DESTRUIDOR
11* Vamos analisar como surgiu no homem o instinto do lucro! Pois, isso traduz-se num instinto! Amar o lucro, não é outra coisa a não ser, simplesmente instinto! Não é, nem nunca foi ensinado pelos pais ou em escolas, todos os humanos o possuem! Ninguém nunca prestou atenção a isso? Não acredito! O instinto do lucro é um instinto relativamente moderno, não tem nem 15 mil anos de idade! Mas seu pai é um ancião de 2,4 milhões de anos. Como um instinto não se adquire em poucos séculos! Creio que o instinto do lucro seja uma forma aprimorada racional e inteligente filha do velho instinto de “territorialidade e posse” já existente no “homo erectus” desde 2,4 milhões de anos. Continuo não acreditando que ninguém saiba disso! Em economia, quem leva a culpa por ter inventado o lucro, são os judeus que inventaram o mercantilismo, para enriquecerem e escaparem da feroz perseguição que os povos malucos do planeta moviam contra eles!  pobres de meus irmãos judeus, acusados injustamente! Quem inventou o lucro foram os povos mais antigos, antes da invenção dos valores de troca, que hoje chamamos de dinheiro! Foram os povos “escambistas”, aqueles que inventaram o escambo! Imaginem, e entendam! As trocas ou escambos, no princípio eram realizadas onde se conseguia a coisa a ser “escambada”, no local onde se produzia, se criava, ou estavam as “escambagens”! Lógico que era! Ainda não tinham inventado as feiras de trocas ou escambos! Depois de um certo tempo, (falar em cronologia aqui é pura burrice). Mais por conveniências, que por outras coisas quaisquer, vários locais foram escolhidos como feiras de escambos, normalmente locais centrais e equidistantes a várias comunidades que dispunham das mercadorias para troca! Quem conhece a (Teoria dos Lugares Centrais) do grande geógrafo alemão Walter Christaller (1893-1969), entende logo do que esta minha proposição está a tratar. No princípio os próprios donos, ainda jovens, mas, ainda empobrecidos, levavam os seus trecos e tesouros para os locais de escambos, que depois foram chamados de feiras. Com o passar dos anos, os varões já envelhecidos e já enriquecidos, “nas suas medidas”, e naturalmente com muitas mulheres, para tomar e dar conta! Passaram a mandar terceiros mais jovens para fazer as trocas ou escambos! Foi nesse momento que nasceu o famoso instinto do “lucro”. Foi quando um desses jovens mais inteligente que a maioria, conseguiu um lucrativo acordo comercial com um Senhor conhecido como Zé da Moita Seca, dono da “coisa” a ser “escambada”! Com o qual fez um acordo, nos seguintes termos, e com a seguinte “redação imaginária”:

REDAÇÃO DO PRIMEIRO CONTRATO GERADOR DE LUCRO E DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO QUE ENTRE SI, FAZEM:
12* Eu, Zé da Moita Seca, morador debaixo da Pedra Furada, casado com 12 mulheres novas, trabalhadoras e boas parideiras, doravante denominado simplesmente de Dono do Escambo, e o respeitável Senhor Beiço de Sola, solteiro, mas, no momento, vivendo em concumbinato consentido, puro e desimpedido, com duas viúvas de mordida de cobra, e três viúvas da guerra da Lavoura do Pé da Ladeira, sendo, meu conhecido e amigo, doravante denominado de “Escambeiro”, faço o seguinte acordo com o mesmo Senhor: Acordo que será honrado e assinado com um fio de bigode de cada parte! Termos do Acordo: Fica o “Escambeiro”, Senhor Beiço de Sola, meu conhecido e amigo, encarregado de levar para o “Escambo-Center” localizado na Beira do Brejo, “Escambo” mais conhecido como, “Escambo-Center do Brejo do Morto Vivo”, para fazer o devido escambo e boa troca, as seguintes mercadorias, um Porco Gordo, para “escambar” por duas porcas novas e já enxertadas! Na condição, de que se ele conseguir três porcas, uma passa para suas mãos ou propriedade. Trinta mãos de milho verde, para “escambar” por cinco fêmeas novas de Cabra, também já enxertadas! Na condição de que, se ele conseguir mais fêmeas de cabra que as cinco estipuladas, fica acertado que as fêmeas de Cabra a mais, que conseguir, este “mais” conseguido, passam para suas mãos ou propriedade, resultado de seu bom “escambar” que aqui pela primeira vez será chamado de “lucro”, que passa para as mãos ou propriedade de meu conhecido e amigo Beiço de Sola. Pensado e repensado, no segundo milênio, e mais alguns verões depois da invenção da lavoura.
O Fio de Bigode nº 1 de Zé da Moita Seca, e o Fio de Bigode nº 2 de Beiço de Sola. Foram colados aqui nessa pedra, colados com boa cola de folha de quiabento da cerca de meu amigo Orelha de Lebre. Dado e reconhecido com boa fé! E colado os fios de bigode, contrato feito na Pedra de Assento, por Zé da Moita Seca, bem debaixo da Moita Seca do campo da Pedra Furada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O LUCRO CRIADO E AUFERIDO PELA PRIMEIRA VEZ EM UM CONTRATO
13* Claro que quem inventou o “lucro” foi um velho rico “nas suas medidas”, ciumento e cheio de mulheres novas e parideiras, “conforme suas posses”. Conhecido como Zé da Moita Seca. Eu é que não fui, nem você! E uns “economistazinhos” desinformados, acusando uns pobres judeus dessa praga do planeta! Pois, eles mesmos, os “economistazinhos” estão ensinando como se mata o planeta para conseguir esta coisa, e terrível praga chamada de “lucro”. Espero que os “economistazinhos”, não se sintam ofendidos, imaginei uns economistas bem baixinhos”, pois assim, bem pequenininhos, eles não poderiam ou conseguiriam me dar uns tapas!

PALAVRAS FINAIS DIRIGIDAS À JOVEM E GENTIL HUMANIDADE
14* A humanidade possui 300 mil anos, se comparada com a idade do planeta, planeta que hoje está aniversariando e fazendo 4,6 bilhões de anos, realmente é um bebê! Somente um “manada” contesta esta afirmativa. Portanto! Minha jovem e gentil sociedade humana moderna, que adotou o sistema “COMPRO”! como “modus vivendi et operandi”, a partir de pouco mais de dez milênios! Preste bastante atenção, nas proposições contidas no ensaio, onde proponho que a sociedade atual passe sem sofrimento a adotar seu antigo sistema de existência que nomino de: SOCIEDADE SEMPRO!!!…
O caminho que a humanidade iniciou a percorrer quando abandonou as cavernas, adotando novos estilos e modos mais facilitadores, para que se conseguisse viver em grandes grupos. Naturalmente, fora de seu controle e querer! E sob diversas condicionantes, estes novos estilos e modos tomaram rumos diferentes do esperado e nada alentadores para que a humanidade conseguisse alcançar um futuro promissor e de paz, nesse planeta que chamam de azul! Mas, se prosseguir nessa marcha em busca de mais e mais lucro, passará e ser conhecido no futuro como planeta vermelho.

CONTINUANDO…
15* Na condição, do mais insignificante e desprezível animal pensante e falante, e o pior! Que pensa que sabe alguma coisa! Tomei a decisão de analisar as condições que esta jovem e gentil humanidade adotou como estilo de vida! Quando no permeio de meus estudos, vislumbrei e me vi pasmo diante de uma triste e assustadora possibilidade! Me vi diante da causa maior de tanto sofrimento e insegurança na existência dessa jovem e gentil humanidade! Eis o que encontrei! Quando a humanidade no início de seus primeiros passos, há 2,4 milhões de anos, ainda como o hominídeo “homo erectus”. Estes hominídeos adquiriram mais um instinto, que se desenvolveu junto ao velho instinto animal de território! Um novo instinto, de “propriedade e posse”. Sendo desse hoje, já (antigo instinto) de “propriedade e posse”, donde dimana o crescimento demográfico descontrolado da humanidade. Causa primeira das disputas e das guerras! Portanto, encontrei a causa que provoca todo o mal no planeta, o instinto de “propriedade e posse”, que tem marcado, guiado e orientado negativamente o longo caminhar da história da humanidade nos últimos doze mil anos, que foi a aquisição do instinto de “propriedade e posse”. Aquisição que hoje de forma danosa, se reflete no comportamento dessa jovem e gentil humanidade. A primeira evidencia dessa verdade, encontra-se no fato de que nenhum governo no planeta aceita adotar o controle de natalidade. A segunda e mais visível evidência dessa verdade, foi as duas maiores Nações comunistas e socialistas, China e Rússia terem por conta própria adotado o modelo econômico de seus adversários, modelo conhecido como “capitalismo”! Todos os humanos possuem arraigado dentro de si, o hoje, já (antigo instinto de “propriedade e posse”. A terceira evidência da verdade de que o homem possui o instinto de “propriedade e posse”, isso, nós observamos nos bebês, tome a chupeta de um bebê, a reclamação vem logo a seguir, é instintivo! A quarta evidência da verdade de que o homem possui o instinto de “propriedade e posse”, eu encontrei estudando o comportamento dos loucos! Um louco ou esquizofrênico, pode perder completamente sua personalidade, desconhecendo completamente a si próprio, e a seus familiares, como a personalidade é formada em sua juventude, ele pode perde-la!  Mas ele não perde seu instinto de “propriedade e posse”, porque este instinto de “propriedade e posse”, faz seu habitat no cérebro límbico, cérebro zoo do louco, ou esquizofrênico, sendo separado de sua personalidade. E naturalmente no cérebro límbico de todos os humanos! Podem observar, a maioria dos loucos podem até não saber onde mora! Mas disputa e continua proprietário de suas posses, pode até ser um monte de coisas imprestáveis! Mas, ele não as larga! Pois representam suas posses.

A manada não compreende as coisas mais simples, por inépcia, inércia e por vontade própria.

A sociedade humana necessita urgentemente ser modificada para que não entre em colapso e desapareça do planeta! Sendo esta, a proposição que levarei ao conhecimento da humanidade no ensaio:  A SOCIEDADE SEMPRO. Movér

Fonte: www.agentediz.com.br
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sábado, 18 de abril de 2020

INGRA LYBERATO


Ingra Lyberato


Autoconhecimento é uma palavra que se explica por si só, mas cujo processo exige uma reflexão bastante profunda.
Se alguém perguntar a você o quanto se conhece, qual seria a resposta?
A maioria das pessoas pode achar o questionamento até estranho, mas a verdade é que a prática do autoconhecimento ainda é pouco exercitada.
É quando a dificuldade e os obstáculos surgem que conseguimos ter a real noção de quem somos, a partir de nossas respostas e ações.

VALÉRIA VIDIGAL

Valéria Vidigal

Valéria Vidigal da Cruz Brito

Artista plástica, Cafeicultora e Empresária
Artista renomada, recebeu o convite do Instituto Biográfico do Brasil  para fazer parte  do livro  “Brasil de A a Z”, a história de vida da artista plástica e empresária Valéria Vidigal da Cruz Brito  está retratada nas páginas 126, 127 e 128.
Os Vidigal são naturais da região de Viçosa – MG, cidade onde também nasceu nossa biografada. Valéria Vidigal nasceu aos 15 de fevereiro de 1968, filha de João da Cruz Filho e Maria Auxiliadora Vidigal da Cruz.
Casada desde 1992 com Gianno de Oliveira Brito, o casal tem três filhos: Rafaela com 21 anos, estudante de medicina, Isabela com 17 anos, estudante de direito  e Renato com 11 anos cursando o  fundamental II.
Valéria Vidigal tem três irmãos: José Ulisses Vidigal da Cruz, Ana Maria Vidigal da Cruz e Adriano Vidigal da Cruz.
Valéria principiou seus estudos na Escola Normal Nossa Senhora do Carmo, fez o segundo grau no Colégio de Viçosa e Colégio Equipe, todos em Viçosa – Minas Gerais.
Tem formação superior em Economia Doméstica pela Universidade Federal de Viçosa – UFV, e fez vários cursos de pintura, começando aos 11 anos de idade. Valéria Vidigal iniciou sua carreira de artista plástica ainda estudante, quando as suas obras de arte começaram a ser comercializadas. Durante a vida escolar também foi manequim. A partir de 1992 depois de formada e casada, passou a residir em Vitória da Conquista – BA. Nesse mesmo ano fundou um atelier de pintura onde começou a ministrar cursos de pintura em tela, atividade que exerce até hoje, em 2017 comemora 25 anos de vida e atividades na Bahia. Em 1993 teve o prazer de ser convidada para trabalhar na rádio, onde comandou o programa “Arte e Cultura” na rádio FM 100,1 (hoje Transamérica). Em 1994 foi convidada para trabalhar na televisão, trabalhando na TV Cabrália, afiliada da TV Record, onde foi apresentadora de telejornal e, de 1995 até final de 1998 foi colunista social do Jornal Diário do Sudoeste. A partir de 2007 idealizou e realizou o Encontro Nacional do Café, um evento nacional, que este ano realizou a sua décima edição.
Mesmo  dedicando tanto ao trabalho com a imprensa, Valéria Vidigal não abre mão de suas atribuições como mãe, esposa, dona de casa, cafeicultora, empresária, professora de pintura e, como artista plástica, nunca deixando de produzir e de fazer exposições. Sua pintura em tela é dedicada exclusivamente à temática do café.
 TRABALHOS REALIZADOS
 Valéria participou durante três anos do projeto   Viver com Arte, realizado pela Unimed ministrando aulas de pintura em tela, de 2005 a 2007. Valéria Vidigal recebeu várias honrarias por suas diversas atividades: 1995 – Troféu Cidade – Vitória da Conquista – BA (95/96/97);  Persona Impacto – Vitória da Conquista – BA (1999/2004); 2000 – Empresária Destaque – 4º Seminário “A mulher empresária e seu desempenho gerencial” – Associação Comercial e Industrial de Vitória da Conquista – BA; 2002 – Premio Empresarial – Vitória da Conquista – BA; – Homenagem Especial do Colégio Nossa Senhora de Fátima – Vitória da Conquista – BA; 2003 – 8.ª Semana de Arte e Cultura – “Criança e Cultura: Espetáculo e Vida” – Barra do Choça – BA; 2008 – Destaque Nacional – Artes Plásticas 9.º Agrocafé – Salvador – BA; 2009 – Reconhecimento da Universidade Federal de Viçosa como ex-aluna, pela perpetuação da história da cafeicultura brasileira em suas telas. – Viçosa – MG; Homenagem do Colégio Nossa Senhora de Fátima com o projeto “Café e Cultura” – Vitória da Conquista – BA; 2011 –  Homenagem da Assocafé pelo trabalho desenvolvido no Agronegócio do Café – Salvador – BA; Monção de Aplauso da Câmara Municipal de Vereadores de Vitória da Conquista pelos relevantes serviços prestados ao Município e pela contribuição para o fortalecimento da Cafeicultura da nossa região – Vitória da Conquista – BA; 2013 – Título de Cidadã Conquistense – Vitória da Conquista – BA; 2014 – Medalha de Prata no Brazilian Art Exhibition – Dubai – United Arab Emirates; Medalha de Ouro – Rio International Exhibition – FIFA World Cup 2014 – Rio de Janeiro – RJ; 2015 – Foi homenageada pelo corpo de balett da escola Ballet Lorena Albuquerque , onde a sua obra foi retratado no cenário e nas coreografias – Vitória da Conquista – BA; 2015 – Medalha de Bronze – Dubai World Trade Centre – Medalha de Prata – Dubai International Art Centre – Gallery 76; 2016 – Vencedora do Troféu Prime 2016, na categoria Cultura & Arte.
Valéria Vidigal é sempre convidada para ilustrar livros, anais e anuários na cadeia do café, tanto livros científicos quanto de história. Além desses citados, suas obras estão catalogadas em vários livros de arte, no Brasil e na Itália.
Entre os trabalhos realizados por ela consta: 1993 – Abertura do Programa “Somos Nós”, produzido pela TV Sudoeste afiliada da Rede Globo – Vitória da Conquista – BA; 1997 –  Decoração do Cafezal Palace Hotel – 49 quadros – Vitória da Conquista – BA; Mural da Express – Praça Orlando Leite – Vitória da Conquista – BA (97/98); 1998 – Oficina de Artes Nova Escola – Vitória da Conquista – BA;  2002 – Ilustração do Projeto Gráfico do 1.º Semanário Temático – Prospecção de Demandas e Pesquisas e Transferência de Tecnologia para os Cafés da Bahia – Vitória da Conquista – BA; 2002 – Ministrou Oficina de Arte no Colégio Nossa Senhora de Fátima para 333 alunos – Vitória da Conquista – BA; Cenário da Agenda Cultural do BA TV veiculado pela TV Sudoeste afiliada da Rede Globo – Vitória da Conquista – BA; 2003 – Ilustração do Projeto Gráfico do 29.º Congresso Brasileiro de Pesquisas – Araxá – MG; Ministrou a II Oficina de Arte no Colégio Nossa Senhora de Fátima para 209 alunos – Vitória da Conquista – BA; Ilustração da capa do Anuário Brasileiro do Café – Santa Cruz do Sul – RS; 2004 – Criação e Execução do Souvenir para a 7.ª Semana do Café – Barra do Choça – BA; – III Oficina de Arte no Colégio Nossa Senhora de Fátima para 166 alunos – Vitória da Conquista – BA; Ilustração gráfica da capa do livro “Arborização de Cafezais no Brasil” – UESB – Vitória da Conquista – BA; 2005 – Ilustração do Projeto Gráfico do 4.º Seminário sobre Cafeicultura – Tecnologias Produtivas – Ibicoara – BA; Ilustração do Projeto Gráfico da I Jornada Internacional de Diagnostico por Imagem do Sudoeste – Vitória da Conquista – BA; Projeto Viver com Arte – UNIMED do Sudoeste da Bahia – Vitória da Conquista – BA; 2006 – Ilustração da Capa da Revista Brasileira de Tecnologia Cafeeira Coffea – Ano 3 – N.º 9 – Janeiro/Abril – Varginha – MG;  Projeto Viver com Arte – UNIMED do Sudoeste da Bahia – Vitória da Conquista – BA; 2007 – Coordenação, produção e ilustração do Projeto Gráfico do 1.º Encontro do Dia Nacional do Café – Vitória da Conquista – BA; Ilustração do Projeto Gráfico do 33.º Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras – Lavras – MG; Projeto Viver com Arte – UNIMED do Sudoeste da Bahia – Vitória da Conquista – BA; 2008 – Projeto gráfico do 2.º Encontro Nacional do café – Vitória da Conquista – BA; Ilustração do livro “História do Café no Brasil” – Capítulos IX e X  – São Paulo – SP; Ilustração do Anuário Brasileiro do Café – Santa Cruz do Sul – RS; 2009 – Ilustração da capa do livro “Melhorando A Colheita do Café – Fundação PROCAFÉ – Varginha – MG; Projeto gráfico do 3.º Encontro Nacional do Café – Vitória da Conquista – BA; Ilustração do Anuário Brasileiro do Café – Santa Cruz do Sul – RS; 2010 – Idealização e execução do projeto, diagramação e ilustração do Livro: “Café, a Saga de um Herói. Arte e Café! Do Planalto de Vitória da Conquista para o Mundo” – Vitória da Conquista -BA; Projeto do 4.º Encontro Nacional do Café – Vitória da Conquista – BA; Ilustração do Anuário Brasileiro do Café – Santa Cruz Do Sul – RS; Ilustração da Capa e Capítulos do Livro: “Café & Saúde” , tendo como autor o Dr. Prof. Darcy Roberto Lima – Porto Alegre – RS; Ilustração da Camisa do projeto da APAS, com o quadro “Ciranda do Café”; Ilustração da capa do caderno da Associação dos Cafeicultores do Oeste da Bahia – Abacafé – Luis Eduardo Magalhães – BA; Ilustração do calendário da Acrilex  2011 – São Bernardo do Campo – SP; 2011 – Ilustração da Capa da Revista – IRRIGAZINE,  – Riolândia – SP; Ilustração da Capa do Anuário Brasileiro do Café – RS; – Ilustração da capa e páginas internas do livro: Café, A Saga de um Herói – Salvador – BA; Ilustração do material publicitário e científico do 37.° Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras – Fundação PROCAFÉ; Ilustração e coordenação do 5.° Encontro Nacional do Café – Vitória da Conquista – BA; Ilustração da capa do Anuário do Café; Ilustração e criação do material gráfico do 6.° Encontro Nacional do Café – Vitória da Conquista – BA; 2012 – Ilustração da capa do Anuário do Café 2012 – Editora Campo & Negócios – Uberlândia – MG; Ilustração e criação do material gráfico do 6° Encontro Nacional do Café – Vitória da Conquista – BA; 2013 – Ilustração da capa do Anuário do Café – Editora Campo & Negócios; Coordenação, produção e ilustração do projeto do 7.° Encontro Nacional do Café 2013 – Vitória da Conquista – BA; Ilustração da capa do Anuário Brasileiro do Café – Editora Gazeta Santa Cruz – Santa Cruz do Sul – RS; Ilustração do material publicitário e científico do 39.° Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras – Fundação PROCAFÉ -Poços de Caldas – MG; Ilustração do material publicitário e científico do VIII Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil – EMBRAPA CAFÉ – Fiesta Bahia Hotel – Salvador – BA; 2013 Ilustração do calendário da Fertipar Sudeste ano 2014 – Varginha – MG; Ilustração da capa do Anuário do Café 2014 – Uberlândia – MG; Projeto do 8.° Encontro Nacional do Café – Barra do Choça – BA; Ilustração do material publicitário e científico do 40º Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras – Serra Negra – SP; Ilustração do Anuário Brasileiro do Café 2014 – Santa Cruz do Sul – RS; Ilustração do Calendário 2015 da empresa Moinho Paquetá – Jequié – BA; 2015- Ilustração da capa e páginas internas do Anuário do Café 2015 – Uberlândia – MG; Ilustração do projeto gráfico – material publicitário e científico  do  9.º Simpósio de Pesquisas dos Cafés do Brasil – Embrapa Café – Centro de Convenções de Curitiba – Curitiba – PR; Coordenação, produção e ilustração do Projeto Gráfico do 9.º Encontro Nacional do Café – Barra do Choça – BA;  Ilustração do material publicitário e científico do 41.º Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras – Poços de Caldas – MG; 2016 – Ilustração da capa e páginas internas do Anuário do Café 2016 – Uberlândia – MG; Coordenação, produção e ilustração do Projeto Gráfico do 10.º Encontro Nacional do Café – Barra do Choça – BA; – Ilustração do material publicitário e científico do 42º Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras – Serra Negra –SP; 2017-Ilustração da capa e páginas internas do Anuário do Café 2017 – Uberlândia – MG.
Encerramos esta biografia com as palavras da própria Valéria Vidigal que com amor e orgulho fala de seu pai, do café que é sua paixão e inspiração e de seus planos futuros:
“Nasci, morando dentro da Universidade Federal de Viçosa, depois morei em Portugal, e voltei a morar na universidade até os meus 10 anos de idade. Sou filha de engenheiro agrônomo e professor universitário ( falecido em 1990), o meu pai foi o inventor da Calda Viçosa, um dos maiores inventos na história da UFV até os dias de hoje, e minha mãe também pintou durante muitos anos, uma artista. A minha vida sempre foi Café com Arte, aos 24 anos casei com um engenheiro agrônomo filho de cafeicultor, e a minha vida continuou sendo Café com Arte. Café é a minha temática desde o ano de 2003, e isso fez com que a minha temática se tornasse nada mais do que um reflexo da minha vida no dia a dia. Quando sou homenageada por uma escola, onde os alunos fazem  releitura dos meus quadros e estudam a minha biografia, é um orgulho muito grande, pois sinto que a minha arte com a temática do café, uma das culturas mais antigas do Brasil, vem enriquecendo a cada dia a cultura dos nossos alunos.
Projetos para o futuro continuar realizando o Encontro Nacional do Café, que é um evento voltado para a cafeicultura, que envolve: tecnologia, pesquisa, ensino e extensão, e ao mesmo tempo com a arte. Este evento acontece na minha fazenda, Fazenda Vidigal, local de visitação internacional. E sem falar na pintura que é o combustível da minha alma. Eu não consigo viver sem pintar, já são mais de 500 obras pintadas com a temática do café, e sem falar que o jornalista e escritor, Antonio Carlos Moreira, quando estava escrevendo o livro História do Café no Brasil, que eu também fui convidada a ilustrar dois capítulos, ele disse que até onde ele pesquisou eu sou a única artista no mundo que pinta exclusivamente a temática do café. Isso pra mim foi muito bom, pois o café é a minha vida,  fui educada e educo os meus três filhos com essa cultura.
Já realizei mais de 100 exposições entre elas nacionais e internacionais, todas com a temática do café! Tenho obras espalhadas por esse mundo, a exemplo dos países como: Angola, Estados Unidos, Itália, Japão, México, Portugal, Suíça, etc. Sou conhecida pelo meu trabalho no agronegócio do café e por ter na pintura essa temática!”

Fonte: www.valeriavidigal.com.br

sexta-feira, 17 de abril de 2020

48° FESTIVAL DE CINEMA DE GRAMADO - RIO GRANDE DO SUL - BRAZIL



O 48º Festival de Cinema de Gramado comunica que as inscrições para as mostras competitivas de longas-metragens brasileiro e estrangeiro e curta-metragem brasileiro foram prorrogadas até o dia 02 de maio. A comissão organizadora entende que muitas produções tiveram seu cronograma de finalização alterado em função da pandemia da Covid-19 e decide estender por 20 dias o prazo para que as obras sejam inscritas.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

O CINEMA EM SI


MUSEU DE KARD - VITÓRIA DA CONQUISTA - BAHIA - BRAZIL.


O cineasta, quando realiza um filme, traduz o real, e, no cinema, há, basicamente, quatro modos de representação da realidade: (1) o realismo e suas variadas vertentes (neo-realismo, realismo poético, realismo socialista...); (2) o idealismo (também conhecido como intimismo cujo apogeu se dá com a idade de ouro do cinema americano - anos 30 e 40); (3) o expressionismo (Alemanha nos anos 10 e 20); e (4) o surrealismo, que tem em Luis Buñuel a sua maior expressão. O grande público está mais acostumado com o realismo e o intimismo. Um filme surrealista sempre deixa nele uma impressão de confusão, pois habituado a ver tudo mastigado, com uma explicação racional e lógica para as artimanhas do enredo. Vamos ver aqui em rápidas pinceladas o que vem a ser o surrealismo no cinema.O surrealismo parte de uma atitude revolucionária em filosofia, cujo verdadeiro objetivo não consistiria em interpretar o mundo, mas, sim, em transformá-lo. Na forma exposta por seu principal animador, André Breton, o surrealismo revela forte influência do materialismo dialético, dele retirando sua "lógica da totalidade". Assim como o sistema social constitui um todo e nenhuma de suas partes pode ser compreendida separadamente, a arte não deve ser o reflexo de uma parcela de nossa experiência mental (a parcela consciente), mas uma síntese de todos os aspectos de nossa existência, especialmente daqueles que são mais contraditórios.
O surrealismo tenciona apresentar a realidade interior e a realidade exterior como dois elementos em processo de unificação, e nisto está sua capacidade de passar do estático para o dinâmico, de um sistema de lógica a um modo de ação, o que é uma característica da dialética marxista. O cinema se revelou como o instrumento ideal para a conquista da supra-realidade, pois a câmera é capaz de fundir vida e sonho, o presente e o passado se unificam e deixam de ser contraditórios, as trucagens podem abolir as leis físicas, etc.
Quando Buñuel apresentou, em Paris, O Anjo Exterminador (1961), o exibidor lhe solicitou que escrevesse alguma coisa para colocar na porta da sala de exibição. Buñuel rabiscou o seguinte: "A única explicação racional e lógica que tem este filme é que ele não tem nenhuma". Noutra ocasião, ao ganhar o Leão de Ouro de Veneza por A Bela da Tarde (Belle de Jour, 1966), lhe perguntaram o significado da caixinha de música que um japonês carrega quando no quarto com Catherine Deneuve. O cineasta respondeu que não sabia. Assim, o espectador não pode racionalizar dentro de determinada lógica nos filmes surrealistas. É claro que os significados existem, amplos, dissonantes e insólitos. E por que os convidados aristocráticos de O Anjo Exterminador, ainda que não haja nenhum obstáculo que lhes impeçam de sair, não conseguem evadir-se da mansão? Um recurso surreal para a análise da condição humana, um laboratório criado para se investigar pessoas numa situação-limite.
Excetuando-se alguns ensaios vanguardistas e sua fugidia presença em comédias de Buster Keaton, Jerry Lewis, Jim Carrey, em filmes de Carlos Saura (Mamãe Faz Cem Anos, etc), Jean Cocteau (O Sangue de um Poeta/Le sang d'un poete), entre poucos outros, o surrealismo cinematográfico está inteiramente contido em Un Chien Andalou(1928) e L'Age D'Or (1930), ambos do espanhol Luis Buñuel, com colaboração de Salvador Dali. A cena inicial do primeiro é famosíssima: o próprio Buñuel, após contemplar uma enorme lua prateada no céu, afia uma navalha e corta pelo meio o globo ocular de uma mulher que está sentada. No segundo, vemos um cão ser arremessado pelos ares, uma vaca deitada sobre a cama, um bispo e uma árvore em chamas sendo despejados por uma janela, situações de delírio erótico, baratas numa mão que toca pianola, etc.
A ambigüidade do termo surrealismo pode sugerir transcendência, predomínio da imaginação sobre a realidade. Seria pura imaginação de Séverine sua ida ao bordel todas as tardes? A rigor, isso não importa, A significação é mais ampla, conecta-se mais ao discurso do modo de tradução do real. O surrealismo pretendia um automatismo psíquico que expressasse o funcionamento real do pensamento. Você, caro leitor, às vezes não tem pensamentos indesejáveis? É o inconsciente. Assim, e isto é muito importante, o domínio do surrealismo é o que acontece na mente humana antes que o raciocínio possa exercer qualquer controle. O papa surreal André Breton dormia com um caderno em cima do criado mudo para anotar os seus sonhos, chamando, tal comportamento, de escrita automática.
O automatismo provocado pelo surrealismo implica numa transfiguração anárquica do mundo objetivo, cujo efeito imediato é o riso. Mas o humor, aqui, é uma nova ética destinada a sacudir o jugo da hipocrisia. E o sonho é encarado como uma revelação do espírito, sendo afirmada a sua riqueza sob o duplo ângulo da psicologia e da metafísica. Para chegar à consciência integral de si próprio, o homem tem de decifrar o mundo do sonho, pois deixá-lo na obscuridade representa uma mutilação do nosso ser.
Un Chien Andalou e L'Âge d'Or procuravam, pois, o homem integral, "buscando a recuperação total de nossa força psíquica por um meio que representa a vertiginosa descida para dentro de nós mesmos, a sistemática iluminação de zonas ocultas", como consta do manifesto de Breton. Neles têm um papel saliente o grotesco, o cruel, o absurdo, tudo com um sentido de revolta e solapamento.
Segundo Breton, qualquer divisão arbitrária da personalidade humana é uma preferência idealista. Se o propósito é o conhecimento da realidade, devemos incluir nela todos os aspectos de nossa experiência, mesmo os elementos da vida subconsciente. Essa é a pretensão do surrealismo, movimento artístico que abrangeu além da pintura, escultura e cinema, também a prosa, a poesia, e até a política e a filosofia.

Texto: Prof. André Setaro. Outubro de 2010

domingo, 12 de abril de 2020

13ª MOSTRA CINEMA E DIREITOS HUMANOS MUDA DATA E ESTENDE BUSCA DE LOCAIS PARA EXIBIÇÃO

Beto Magno

Diante da pandemia da Covid-19 e da recomendação do Ministério da Saúde de isolamento social, os organizadores da 13ª Mostra Cinema e Direitos Humanos reestruturaram a execução do evento e transferiram sua realização no segundo semestre de 2020.
A Mostra - realizada pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, com produção da Fundação Rádio e Televisão Educativa de Uberlândia (RTU) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) - recebe até o dia 15 de junho as inscrições de quaisquer instituições e espaços culturais de todo o Brasil que se habilitem a exibir os filmes da Mostra à pessoas que têm pouco ou nenhum acesso à cultura ou conhecimento de seus direitos.
Existem duas possibilidades de participar como Ponto de Exibição da 13ª edição. São elas: por meio do acesso a uma plataforma on demand, ou mediante a reprodução de DVDs.
Modalidade plataforma on demand 
Nessa modalidade a instituição poderá acessar o conteúdo a qualquer momento por meio de um canal digital e on-line. Em tradução livre, o termo significa “sob demanda”, o que significa que as sessões são organizadas de acordo com a realidade de cada ponto de exibição, dentro de um calendário nacional.
Para acessar a plataforma on demand, contudo, é essencialmente necessário ter acesso à internet de alta velocidade. Dessa forma, a distribuição digital através do streaming irá ocorrer de forma fluida e funcional. Por meio da plataforma, será possível ter acesso a 20 obras audiovisuais — já em fase de seleção e curadoria — em diferentes programações. São 600 vagas para instituições de todo o país, que poderão exibir dois programas da plataforma. Para mais detalhes, acesse a Convocatória de Pontos de Exibição.
Modalidade reprodução de DVD
Com o acesso aos dispositivos físicos, o ponto de exibição estará apto a participar do Circuito Difusão. Nesta alternativa, a instituição terá acesso a oito obras audiovisuais e poderá manter os arquivos como recurso didático para a circulação em suas respectivas cidades e regiões. São 2 mil vagas para instituições de todo o país! Para conhecer mais detalhes, leia a Convocatória de Pontos de Difusão.
Além dos suportes de exibição, as duas convocatórias possuem outras diferenças no prazo de promoção da Mostra Cinema e Direitos Humanos. As instituições com acesso à plataforma on demand deverão realizar as exibições entre os meses de novembro e dezembro de 2020. Já os locais candidatos ao Circuito Difusão devem se disponibilizar a efetivar as exibições em janeiro e fevereiro de 2021.
Caso tenha interesse, a instituição poderá participar dos dois processos convocatórios. Desta forma, terá acesso integral, em um primeiro momento, às 20 obras audiovisuais e, posteriormente, poderá contar com parte das obras para o seu acervo cultural. A inscrição, contudo, não garante a imediata seleção das instituições nas duas opções. Daremos prioridade ao maior alcance possível de parcerias em todo o território nacional.
As inscrições estão abertas até o dia 15 de junho e podem ser feitas  gratuitamente através do site.
Fonte: leadcomunicacao

sexta-feira, 10 de abril de 2020

JORGE DE LIMA

Beto Magno

Jorge de Lima poeta em movimento (Do “menino impossível” ao Livro de sonetos) 

ALFREDO BOSI 

Esse movimento na direção do passado real, vivo, concreto, e não de um passado construído pela cultura hegemônica, se fez mediante a evocação por imagens. O ritmo destas já não será marcado pela isocronia parnasiana, de que o metro alexandrino dos sonetos dera exemplo. Trata-se agora do ritmo processional (a certa altura, o poeta invocará a presença de Whitman), que se desdobra à medida que as imagens se seguem na memória. Uma sensível dose de realismo entra na composição deste e de outros poemas enraizados na biografia alagoana de Jorge de Lima. Daí em diante, a sua poesia seria um afloramento de figuras reais ou imaginárias que o perseguirão até a criação de Invenção de Orfeu. Reais ou imaginárias: os brinquedos da infância, posto que inventados, foram absolutamente reais, mas do mundo do menino também se diz que foi tirado “do nada”, como parece acontecer às vezes durante a vivência do sonho: “O menino poisa a testa – e sonha dentro da noite quieta – da lâmpada apagada – com o mundo maravilhoso – que ele tirou do nada”. É um momento fecundo a sintonia deste Jorge de Lima com a eclosão do romance nordestino do período que vai do aparecimento de A bagaceira (1928) de José Américo de Almeida aos primeiros anos da década seguinte. Os nomes formam constelação: Raquel de Queiroz, com O quinze; José Lins do Rego, com o Menino de engenho, primeiro lance feliz seguido de todo um ciclo de aprofundamento da experiência de uma infância vivida em clima de patriarcalismo decadente; Jorge Amado, estreando com O país do carnaval, igualmente passo inicial de uma visão entre romântica e naturalista da sua Bahia... As obras- -primas não tardariam a chegar: São Bernardo, em 1934, e Vidas secas, em 1938, de Graciliano Ramos. O conjunto das obras, apesar da diferença de qualidade estética e dos desníveis de alcance ideológico, chama a atenção pelo que significava de reconhecimento de uma identidade física e social marginalizada: o Nordeste em face da crescente hegemonia do capitalismo industrial paulista. Não cabe aqui fazer o mapeamento das vertentes ideológicas em presença. A grande síntese de Gilberto Freyre, Casa grande & senzala, de 1933, deu substância a um pensamento entre realista (pela riqueza ímpar de observação) e conservador, pela apologia do estilo tradicional de vida no engenho. Do lado oposto, a exposição da pobreza em toda a região, ferida pela sobrevivência de uma semiescravidão, serviu para denunciar as iniquidades do sistema econômico e político, o que alentou uma posição de esquerda em alguns núcleos de intelectuais da província. Nessa rede de contrastes, a poesia regional de Jorge de Lima oscilou entre o saudosismo da paisagem natural e social vivida na infância e a denúncia da opressão que pesava sobre o negro, o cambembe e o proletário. Denúncia que se mostraria lancinante no seu romance Calunga, publicado em 1935, quadro sem retoques da miséria e da violência dominante no interior de Alagoas. Daí vem o duplo registro da escrita poética feita ora de evocação, ora de invocação. 

 Evocação e invocação A evocação dos lugares é aberta a referências que cumprem a função de ladrilhos de um mosaico entre pitoresco e sentimental: a estrada de ferro, então gerida pela GBWR, título de um poema tipicamente processional; os rios, “caminhos de minha terra”, as enchentes, as lagoas, a casa paterna fronteando a Serra da Barriga e os seus quilombos, os bairros de Salvador, o circo, as igrejinhas, tudo permeado de nostalgia e afeto. Predomina a sintaxe linear, parataxe que dá continuidade ao que seria, para o leitor, pura enumeração aparentemente aleatória, mas na verdade penetrada de um calor difuso que tudo unifica. Uma questão epistemológica talvez não fosse aqui de todo impertinente: seria esse painel de imagens construído na base de associações já feitas entre “conteúdos” estocados na memória do adulto, ou estamos diante de uma ativa intencionalidade da consciência, para usar da linguagem da fenomenologia de Husserl e Sartre, quando recusam a hipótese de uma imaginação passiva, que se alimentaria tão só, e necessariamente, de estímulos externos já prontos? (Sartre, 1965, p.139-59). Pela teoria da intencionalidade da consciência imagística, o mosaico é uma escolha poética deliberada, uma vontade-de-estilo, e não uma reação automática a determinados estímulos. A ser verdadeira, essa compreensão da imagem dá ao memorialismo dos poemas nordestinos de Jorge de Lima uma objetividade complexa, entranhada de subjetividade. Ao lado da evocação, em terceira pessoa, há a invocação, que pode ser definida como lembrança com uso da segunda pessoa. São situações e figuras extraídas empenhadamente da memória para entrarem em regime de presentificação. O exemplo forte é o admirável “Essa negra Fulô”, que abre os Novos poemas. Não por acaso, nesse texto, que virou antológico, Jorge de Lima trabalha motivos que seriam explorados nos Poemas negros, publicados anos depois. Tudo é belo e intenso na escrita e na dicção oral do poema. Fulô é flor negra, como trigueira será a rosa da “Ancila negra”. E é a força da sua presença ubíqua na vida da Sinhá e do Sinhô que move o apelo reiterado: “Ó Fulô! Ó Fulô!”. O vocativo ao mesmo tempo chama e potencia a imagem da escrava, que servia “no banguê dum meu avô”, e dá lugar à fala narrativa, outra conquista do poema. Cada chamamento, sempre vazado em redondilhos maiores, familiares à poesia popular luso-nordestina, remete a uma relação estreita da mucama com a intimidade corporal da senhora. Fulô faz a cama da Sinhá, penteia-lhe os cabelos, ajuda-a a despir-se, abana seu corpo suado, coça a sua coceira, cata cafuné, balança a rede e, para fazê-la dormir, conta-lhe histórias. Nessa altura o poema incorpora a recitação de antigos versos folclóricos. Primeiro, duas trovas encadeadas contando a lenda da princesa que possuía um vestido com os peixinhos do mar trazendo, na coda, a quadrinha que dá fecho e abre a porta para uma nova narrativa (“Entrou na perna de um pato – saiu na perna de um pinto – o Rei-Sinhô me mandou – que vos contasse mais cinco”). Depois, a quadra de embalo para fazer dormir os meninos: “Minha mãe me penteou – minha madrasta me enterrou – pelos figos da figueira – que o Sabiá beliscou”. Prenúncio dos castigos que a Sinhá vai infligir à mucama? O último movimento do poema é o reverso cruel da intimidade. Os objetos de adorno e luxo da sinhá somem, a culpa recai sobre Fulô. A proximidade dos corpos parece ter excitado o sadismo com que a senhora exercerá o poder sobre a escrava. A punição vai em crescendo, passa do açoite do feitor ao açoite do próprio Sinhô, que sucumbirá ao desejo de possuir a escrava, enfim acusada pela Sinhá de ter-lhe roubado o marido... Assim, a invocação da figura da mucama, acorde lírico inicial, se desdobrou em narrativa feita de situações de intimidade (cama, rede, sono, cafuné...), deteve-se na (re)citação da trova popular, para, enfim, reverter em acusação de roubo, com toda a carga perversa trazida pela iniquidade da assimetria social. Em suma, o que nos deu o poeta? Imagens intencionais da memória com função mimética, expressão de vivências sensuais ou agressivas e escrita configurada pelo metro popular em simetrias rítmicas e melódicas. Se “O mundo do menino impossível” significou a mudança consciente da poética de Jorge de Lima para o espírito e a letra do modernismo, “Essa negra Fulô” pode ser considerado a pedra angular de uma construção do que viria ser a chamada poesia negra, produzida ao longo dos anos 1930 e 1940, em consonância com um movimento poético afro-hispânico, que se consolidava nessas décadas. Remeto o leitor ao estudo abrangente de Vagner Camilo (2012-2013), que reconstrói o contexto (literário e ideológico) afro-americano e, em particular, afro-cubano em que se inserem parcialmente os Poemas negros. Creio que o procedimento de invocação, pela sua tendência individualizante, tenha sido um dos recursos mais fecundos da poesia negra de Jorge de Lima, na medida em que dele emergem seres humanos na sua complexa fisionomia de escravos e homens e mulheres portadores de uma tradição ao mesmo tempo vigorosa e recalcada. Chamá-los a ter presença no corpo da poesia culta é, apesar dos riscos ideológicos que essa operação comporta, um projeto ético e estético de sobrevivência, quando não de resistência. Os exemplos não são poucos. Ainda em Novos poemas: “Serra da Barriga” (“Te vejo na casa em que nasci. Que medo danado de negro fujão!”), “Comidas” (“Iaiá me coma/Sou quimbombô; Bahia, estas comidas têm mandinga”); “Inverno” (“Zefa, chegou o inverno!”); “Diabo brasileiro” (“Diabo brasileiro, quero saber quanto dá/ a dezena do carneiro”); “Joaquina Maluca” (“Joaquina maluca, você ficou lesa”); “Meus olhos” (“Nossa Senhora, minha madrinha/tu vês as coisas verdes, não é?”). Nordeste, terra de São Sol!: “Poema de Natal” (“Ó meu Jesus”); “Ave Maria” (“Boa tarde, ó meu caminho estreito”); “Poema relativo” (“Vem, ó bem amada”), “Mulher proletária” (“Mulher proletária/única fábrica/que o operário tem (fábrica de filhos)/tu...”); “Poema à irmã” (“Ó irmã/agora que as noites vêm cedo”); “Poema à bem-amada” (“Amada, não penses”); “Poema a Marcel Proust” (“Ó meu petit Proust”); “Poema à Pátria” (“Ó grande país”). Enfim, nos Poemas negros: “Banguê” (“Cadê você, meu país do Nordeste”); “Democracia” (“Ó Whitman”); “Ancila negra” (“Há ainda muita coisa a recalcar/Celidônia, ó linda moleca ioruba”); “Orambá é batizado” (“Pela fé de Zumbi te digo”); “Poema de encantação” (“Arraial d’Angola de Paracatu”); “Janaína” (“... Janaína, dá licença”); “Xangô” [invocação indireta]; “Olá! Negro” (“Os netos de teus mulatos e de teus cafuzos”). Mediante o vocativo, ou apóstrofe, a linguagem move-se no regime exclamativo, que aproxima o sujeito do objeto, já então subjetivado enquanto interlocutor trazido pela voz lírica. Se a evocação conserva sempre alguma distância entre o memorialista e a figura lembrada, a invocação convoca a presença do outro, enlaçando-o, o que pode ser um primeiro passo para a identificação, virtual passagem para o estado de transe. Essa profunda sensação de empatia do poeta com figuras de ex-escravos que povoaram os seus verdes anos parece-me ter entrado na gênese da sua poesia religiosa, surreal ou hermética. O processo semântico abrangente chama-se, aqui, presentificação. Que pode envolver explicitamente o eu lírico, como em “Ancila negra”, “Poema da encantação”, “Rei é Oxalá, Rainha é Iemanjá” e na cadência final de “Janaína”, ou objetivar-se na ação da entidade sagrada, como em “Benedito Calunga”, “Quando ele vem”, “Xangô”, e na própria invocação do negro, que se dá em “Olá, Negro!”. Vejo em “Ancila negra”, a obra-prima dos Poemas negros, uma sutil combinação de imagem evocada e imagem invocada. A terceira pessoa em regime impessoal do verbo haver (“Há”) abre o poema com um acorde reflexivo que ressoará, quase bordão, em mais de uma estrofe: “Há ainda muita coisa a recalcar”, seguido do nome-vocativo e de seu aposto, “Celidônia, ó linda moleca ioruba”. A alternância (ela/tu) prossegue. A terceira pessoa enunciada pela desinência verbal do passado (embalou, acompanhou, contou) ao mesmo tempo se conserva e resvala para a esfera da memória até ceder à marcação da primeira pessoa: “que embalou minha rede”, “me acompanhou para a escola, – me contou histórias de bichos – quando eu era pequeno, – muito pequeno mesmo”. A partir da segunda estrofe, feita a apresentação evocativa, o poeta trabalha empenhadamente as formas da presença da moleca ioruba nas entranhas da sua vida de menino nordestino neto de senhores de engenho. A condição psicológica do recalque é explícita no refrão, mas não oblitera, antes provoca, a pulsão da memória afetiva, que lateja em todo o poema. O desejo da presença é força motriz que nada consegue reprimir. Daí a continuidade, tão bem marcada pelo gerúndio, das carícias de Celidônia, “as tuas mãos negras me alisando – os teus lábios roxos me bubuiando, quando eu era pequeno, – muito pequeno mesmo”. Celidônia, nome que traz em si a promessa de um dom do céu. Da profundidade do afeto nasce a palavra de encantamento: “ó linda mucama negra”, beleza que as metáforas exprimem em versos de amor e dor: “carne perdida, – noite estancada, – rosa trigueira, – maga primeira”. Por que perdida, por que estancada? O canto da beleza descanta sinais de morte. É o que a quarta estrofe dá em cadência narrativa: Há muita coisa a recalcar e esquecer: / o dia em que te afogaste / sem me avisar que ias morrer, / negra fugida na morte, / contadeira de histórias do teu reino, / anjo degredado para sempre, / Celidônia, Celidônia, Celidônia! De novo, a ingrata obsessão de reprimir, até o limite do esquecimento, o que no entanto está doridamente presente na alma do adulto que tudo lembra. A morte de Celidônia no fundo das águas revela, num átimo, a sua condição de negra fugida e para sempre exilada do seu reino – de onde ela trouxera histórias para contá-las ao menino pequeno, muito pequeno mesmo. O fecho do poema leva o pensamento à suspensão do tempo. “Nunca mais” e “para sempre” são expressões incisivas de um presente pleno de sentido: som e, mais que som, ressoo de um sino ouvido pelo memorialista parado na infância, imerso no encantamento do sono, para sempre. Nem sempre a presentificação da imagem conjurada se faz em primeira pessoa. A objetivação da figura de Benedito Calunga, no poema homônimo, anuncia o quase-transe que é o banzo do fiel tomado por Xangô. O nome já diz bastante do sincretismo que preside a religiosidade afro-nordestina: Benedito, homem bendito e bento como o santo lendário, padrinho celeste de batismo de tantos e tantos cativos e seus descendentes; Calunga, palavra de várias denotações, aqui provavelmente designando o negro pobre, o fiel sem eira nem beira, mas, em geral, pertencente à falange de Iemanjá (calunga também significa “mar”...). De todo modo, quando o nome “calunga” se reporta a alguma entidade secundária, só excepcionalmente recebe culto particular. Essa carência de força própria leva a entender o estado de derrelicção que marca no poema a figura de Benedito Calunga. Fraco, ele é avesso ao mal exorcizado nas figuras tenebrosas do papa-fumo, do pé de garrafa, do minhocão. Cativo sem amparo, foi seviciado pelo senhor branco que o ferrou como gado e o atou ao lumbambo. Significativamente, o calunga Benedito não se entregou à sedutora Iemanjá, mas tão somente a Xangô, rei potente de raios e tempestades, cujo banzo (mais que tristeza, paixão) o alforriou para sempre e o amuxilou, isto é, dele fez portador da vara listrada de preto e branco, o ixã, que afugenta os espíritos impertinentes. Quer-me parecer que tanto na história da moleca ioruba como na do calunga há sugestão de uma volta dos cativos ao seu reino de origem, mundo de entidades protetoras, às quais eles pertencem ou pela entrega à morte ou pela paixão da saudade, o banzo. No breve poema Maria Diamba, a escrava “só diante da ventania/ que ainda vem do Sudão;/falou que queria fugir/dos senhores e das judiarias deste mundo/para o sumidouro”.  A expressão veemente dos poderes sobrenaturais que levam ao transe ou à possessão se reconhece nos versos arroubados do poema “Quando ele vem”. O ritmo beira a alucinação em movimento. Quem vem no vento será um orixá, cuja presença irrompe no meio dos homens e os toma de assalto ensandecendo-os. Uma análise rítmica e fonética revelaria toda a riqueza dessa verdadeira tempestade sonora, provavelmente uma das mais expressivas da dicção afro-nordestina brasileira. A entidade ao mesmo tempo zune como o vento, devora quanto pode das iguarias baianas, alagoanas, pernambucanas... (caruru de peixe, efó de inhame, ogudé de banana, olubó de macaxeira, pimenta malagueta...), mas sobretudo apodera-se das almas dos seus crentes de tal modo que “Quando ele chega, tudo fica banzando à toa”. De novo, como na história de Benedito Calunga, o banzo conota um estado de corpo e de alma que arrasta ao delírio, à autodestruição, à luxúria desenfreada. Tristeza turva que se assemelha à perda da graça, tentação de pecado mortal, em termos de devoção cristã, pela cega violência que desencadeia nos sentimentos e atos dos que a experimentam. A intuição do caráter metafisicamente negativo do Mal como privação do bem e do ser (definição que lhe deu a teologia, de Agostinho a Tomás de Aquino) reponta na imagem do “oco do mundo”, o vazio abissal de onde “ele” vem: “Donde é que ele vem?/Vem de Oxalá, vem de Oxalá/vem do oco do mundo/ vem do assopro de Oxalá/ vem do oco do mundo”. Mas é um vazio esse oco do mundo que não implica a ausência da divindade, antes professa abertamente a sua presença originária atribuindo-lhe o nome sagrado de Oxalá, o criador e procriador. Que o sopro de Oxalá arranque do oco do mundo ventos destruidores, e seja, ao mesmo tempo, o orixá da criação, dá o que pensar, no caso, faz pensar no caráter dramaticamente contraditório de todas as forças naturais e sobrenaturais. Poemas negros tem por fecho “Olá, Negro!”: invoca as gerações descendentes de escravos e exalta a força de alma de um povo capaz de redimir generosamente a opressão a que o branco o submeteu durante séculos. Aqui não se trata de glosar o discurso neutro e conciliante da “contribuição” do negro à formação do homem brasileiro. Aqui a imagem da iniquidade irrompe com todas as letras: “a raça que te enforca, enforca-se de tédio, negro”. O escravo aparece em suas múltiplas figuras: “Pai-João, Mãe-negra, Fulô, Zumbi, negro-fujão, negro cativo, negro rebelde, negro cabinda, negro congo, negro ioruba”, e em seus múltiplos lugares de eito: “negro que foste para o algodão dos U.S.A., – para os canaviais do Brasil”. Mas a nota original do poema incide no poder transformador que exerce sobre “a alma branca cansada de todas as ferocidades” a alegria que emana dos jazzes e a gama de sentimentos expressos nos blues, songs, lundus. O riso franco, “a tua gargalhada que vem vindo”, junto com a música, vem iluminar as noites dos brancos. Essa é a figura que remata o poema, que poderá ser lido e contestado como ideologia ou aceito como esperançosa contraideologia, opções contrastantes que comprovariam a riqueza de significações da linguagem poética.  Poesia bíblica e cristã A biografia de Jorge de Lima e do seu dileto amigo e poeta Murilo Mendes atribui a conversão ao catolicismo de ambos à influência que neles exerceram a pessoa, a arte e o pensamento religioso de Ismael Nery. A morte deste original pintor surrealista, em 1934, teria sido decisiva para a criação do lema. “Restaurar a poesia em Cristo”, que presidiu a composição de Tempo e eternidade. O livro traz poemas de Jorge de Lima e de Murilo Mendes centrados em princípios de um fervoroso catolicismo e vazados em imagens do Antigo e do Novo Testamento. Mas, ao passo que são numerosos e reveladores os depoimentos que Murilo Mendes (1996) deixou encarecendo a presença de Ismael Nery na sua concepção de vida e de poesia, o testemunho de Jorge de Lima é escasso, embora expressivo.1 Lembro a dedicatória de Tempo e eternidade e a criação de Pintura em pânico, livro de fotomontagens certamente inspirado nos procedimentos artísticos de Nery. E esta referência, colhida em entrevista a Homero Sena: Pois num simples verso de Ismael Nery, que você pode ler aqui neste outro livro – “Meu Deus, para que puseste tantas almas num só corpo?” – sente-se a influência do escritor italiano [Pirandello]: após a fragmentação da personalidade, a tragédia de reconstituição da unidade, quando no mesmo poema exclama: Ó Deus estranho e misterioso, que só agora compreendo! Dai-me, como Vós tendes, o poder de criar corpos para as minhas almas. (Lima, 1985b, p.85) Como pensador, Ismael Nery concebeu um sistema que Murilo Mendes (1996, p.47-54) batizou de “essencialismo”. Não cabe aqui sequer tentar resumi-lo, o que em parte já foi feito pelo próprio Murilo de modo exemplarmente didático. Ao menos dois de seus princípios centrais parece-me que estão presentes, sob as espécies de imagens, na poesia religiosa de Jorge de Lima encetada pelos poemas de Tempo e eternidade e desdobrada em A túnica inconsútil e em Anunciação e encontro de Mira-Celi. O primeiro e mais fecundo princípio é o da “abstração do tempo e do espaço”. A matriz dessa suspensão de ambas as categorias é mística e encontra-se numa reflexão de Mestre Eckhart: Não há maior obstáculo para a alma, quando ela quer conhecer a Deus, do que o tempo e o espaço. O tempo e o espaço, com efeito, não passam de partes, enquanto Deus é a unidade. Para que a alma possa conhecer a Deus, é preciso que ela o conheça além do tempo e do espaço, porque Deus não é nem isto nem aquilo, como estas coisas diversas. Deus é Unidade. (apud Mendes, 1996, p.139) Nas palavras de Jorge de Lima: “Não me conformo nem com o espaço nem com o tempo. Nem com o limite de coisa alguma”. E adiante: “Ismael explicava- -nos sua vocação divina, sua inconformidade com o tempo e o espaço, a irreprimível necessidade que sentia de estar em todos os lugares ao mesmo tempo”. O segundo princípio, que Jorge de Lima já reconhecera no teatro de Pirandello, é o da multiplicidade inerente no interior de cada pessoa: as muitas ESTUDOS AVANÇADOS 30 (86), 2016 191 almas em um só corpo, e seu constante movimento, o que dá origem a combinações e metamorfoses surpreendentes. Processos surrealistas como deslocamentos, condensações e colagens constelam a expressão poética desse motivo recorrente no pensamento de Ismael Nery. É claro que não se deve reduzir a princípios abstratos a obra de Jorge de Lima escrita com o fim explícito de restaurar a poesia em Cristo. Entre o conceito e a forma poética, quantas mediações de imagem e de som! Mediações que são parte da força da imaginação e da música difusa nesse extraordinário poeta lírico. De todo modo, há convergência no trabalho de significação que envolve a intencionalidade dos motivos e temas. Na escrita singular de Jorge de Lima a suspensão do tempo em face da intuição da eternidade não decai à recusa maniqueísta do momento concretamente vivido pela natureza e pelo homem. Há sublimação, mas não há a tentativa inglória de supressão radical do espaço-tempo, a qual, de resto, teria inibido o afloramento de toda e qualquer imagem... A propósito, convém ler as agudas observações de Roger Bastide (1997, p.119- 41) a respeito da conservação das fontes populares e, especialmente, negras na poesia religiosa e metafísica de Jorge de Lima. O cosmos, criado por um Deus generoso, esplende nos versos de “Distribuição da Poesia”, sem que a beleza que dele emana, e que o poeta oferece ao Senhor, deixe de resistir no tempo e no espaço. Pelo contrário, a criação se dá ao poeta de forma sincrônica: a simultaneidade das imagens evocadas mimetiza o sentimento do perene que transcende a fugacidade dos momentos sucessivos no tempo do relógio. Em outras palavras: a eternidade supera – conservando dialeticamente – o tempo. Glosando a sentença tomista, se a alma supõe a existência material do corpo, a eternidade supõe a vigência do tempo: “Mel silvestre tirei das plantas/ sal tirei das águas, / luz tirei do céu./ Escutai, meus irmãos: poesia tirei de tudo para oferecer ao Senhor”. De todo modo sempre subsiste, depois da Queda, o “mundo”, na acepção joanina de locus originário do mal e da morte, da iniquidade e do medo, e, como tal, também pesa em alguns poemas como noturno caos, o outro lado do cosmos luminoso: “Capitão-mor, que noite escura/ desabou neste cais/ desabou neste caos!”. Cosmos de luz e caos trevoso convivem ora no regime do tempo, que de repente passa e muda de figura, ora ansiando pela irrupção do eterno, de onde procede a salvação bíblica e cristã. Os símbolos do tempo voraz são diversos: o vento, motivo recorrente de toda a poesia de Jorge de Lima, e que anima o mais belo dos poemas de Tempo e eternidade, “Na carreira do vento”; a tormenta, que tudo arrasa e a todos apavora; a tarde oculta em um “tempo” sem tempo, infinitamente vasto, onde os horizontes são as nuvens que fogem...; as estrelas já mortas, mas ainda cintilantes na noite escura, espaço negro e vazio, contíguo e contrário ao “sono iluminado 192 ESTUDOS AVANÇADOS 30 (86), 2016 que Deus me deu antes de me criar”. Coexistem tensamente esses fenômenos mutáveis do Tempo e o mistério do homem destinado ao infinito. “Obrigado, ó mortos. Da noite que vim/ pra noite que vou/ relâmpago de Deus - sou.” Ou: “Carne não me satisfaz./Não conheço coisas necessárias. / Tudo é casual neste charco. / Quero ser ensinado por Deus”. E há poemas em que é a oposição que avulta e torna-se agônica: “O poeta vence o tempo”, “O poeta diante de Deus”, “Os voos eram fora do tempo”, “Adeus, poesia”. Era de esperar que essa tensão entrasse também no reino deste mundo na forma de profecias apocalípticas. A História nos últimos dias será julgada para dar lugar à Parusia: “Eu vos anuncio a consolação” e “Sicut erat”: “Não precisarás de ponteiros para marcar o tempo”. Quanto ao segundo princípio, inspirado, por hipótese, no essencialismo de Ismael Nery (a multiplicação das almas no corpo e a respectiva metamorfose na percepção dos seres) realiza-se em A túnica inconsútil e no poema de Mira-Celi. A túnica de Cristo é una, sem emendas, ao passo que as roupagens do mundo são, como o tempo, inúmeras, fragmentadas, díspares. Não será fácil, talvez nem sequer necessário, separar abstratamente os dois princípios assinalados, quando se lê um poema de A túnica inconsútil, “Poema do Cristão”, que abre o livro. O descarte, que nele se opera, de toda ordem cronológica e de toda espacialização pontual combina-se com as transformações que sofrem os objetos da percepção. “A minha visão é universal/e tem dimensões que ninguém sabe./ Os milênios passados e os futuros/não me aturdem, porque nasço e nascerei,/porque sou uno com todas as criaturas,/com todos os seres, com todas as coisas/que eu decomponho e absorvo com os sentidos,/e compreendo com a inteligência/ configurada em Cristo.” A linguagem é assertiva, o tom é o de quem professa abertamente a sua crença e a subjetiva ao extremo: “estou molhado de limos primitivos/e ao mesmo tempo ressoo as trombetas finais (salto do Gênesis ao Apocalipse); opero transfusões de luz nos seres opacos”. Há poemas construídos em torno das mutações do cosmos: “Onde está o mar?”, “O novo poema do mar”, “A multiplicação das criaturas”, “O monumento votivo”, já plenamente surrealista apesar do imaginário católico tradicional que o constitui, do mesmo modo que se vale extensamente de figuras do Velho Testamento o poema “Sabereis que corri atrás da estrela”. O livro, em virtude do forte veio programático que o permeia, tem altos e baixos. Talvez o ponto mais alto tenha sido alcançado na criação de um poema de estrutura narrativa saliente, “A ave”, que, aliás, tem merecido a preferência da maioria dos seus leitores. Diversamente de boa parte dos poemas longos de A túnica inconsútil, “A Ave” mantém cerrada unidade temática não se dispersando em figuras aleatórias que, às vezes, interrompem o fluxo semântico do texto. Aqui há uma imagem ESTUDOS AVANÇADOS 30 (86), 2016 193 condutora, cuja presença lhe empresta o papel de verdadeira protagonista de uma narrativa bem articulada. Passo à glosa do texto. Os atributos da ave são bem delineados. Ela é estranha, desconhecida de todos, até mesmo dos homens do mar e dos andarilhos. A sua descrição, porém, foge a qualquer denotação realista, pois “era antropomorfa como um anjo e silenciosa como qualquer poeta”. A partir do décimo verso, “Primeiro pairou na grande cúpula do templo”, a ave, embora habitante de outros climas, deseja entrar em contacto com o mundo dos homens. Pousa no lugar sagrado, de onde é tangida pelo sacerdote, assim como seria enxotada do farol, sem que ninguém quisesse alimentá-la ou sequer acolhê-la com benevolência. O poema avança pela dramatização da recusa: a ave é demonizada pelas mães que temem algum malefício que sobrevenha aos filhos, caso se abriguem à sombra das suas asas. Todos os males lhe são imputados: a enchente, a seca, a morte dos cordeiros. Negam-lhe até a água, e ela tomba em terra “como um Sansão sem vida”. Nos versos finais, a ave morta é descoberta por um pescador e santificada pela evocação dos benefícios que prestara em vida: levara ovos aos anacoretas, cedera as penas para o gibão do mendigo... Enfim, o chefe do povo reconhece-a como o rei das aves, “que desconhecemos”. O final surpreende e comove pelo acento afetuoso das palavras ditas pelo filho mais moço do chefe: “Dai-me as penas para eu escrever a minha vida/ tão igual à da ave em que me vejo/ mais do que me vejo em ti, meu pai”. Consuma-se a identificação que se segue à lembrança viva da ave morta. O jovem que assim fala era “sozinho e manso” como a ave rediviva no seu coração. No contexto religioso de A túnica inconsútil, teríamos aqui uma alegoria da vida, paixão, morte de Cristo? É uma leitura possível, senão provável. Não faltam sinais de afinidade com a narrativa do Novo Testamento. A ave procede de uma “outra atmosfera”, de um “outro mistério” e vem a este mundo. E “o mundo”, como está dito na abertura do evangelho de João a respeito de Jesus, “não o conheceu”. A rejeição é violenta por parte dos sumos sacerdotes que não toleram vê-lo pregando no templo, o expulsam e tentam lapidá-lo (João, 10, 31). A ave tem forma humana como antropomorfa é a divindade que, pela encarnação, “se fez homem e habitou entre nós” (João, 1, 14). Em ambas as narrativas, há o momento em que acusam o estranho de ter poderes demoníacos. Solitários e desamparados, ninguém lhes oferece abrigo, não tendo, como diz o Filho do Homem , onde repousar a cabeça (Mateus, 8, 9). E à ave... “ninguém lhe ofereceu um pedaço de pão, ou um gesto suave onde se dependurasse”. A ave morreu de sede: uma das últimas palavras de Cristo na cruz foi “Tenho sede” (João, 19, 28). A ambos negaram água. Na Escritura a ressurreição segue-se à morte. No poema, a ave morta ressurge na memória dos que receberam suas graças. Tardiamente, o chefe a reconhece como rei das aves, mas cabe a seu filho, “sozinho e manso”, reconhecer-se a si mesmo na ave, mais do que na imagem do próprio pai: “Dá-me as penas 194 ESTUDOS AVANÇADOS 30 (86), 2016 para eu escrever a minha vida/ tão igual à da ave em que me vejo/ mais do que me vejo a ti, meu pai”. Um ato de identificação gerado pelo amor e não pelo sangue. O risco do pensamento alegórico é conhecido: trata-se de um procedimento comparativo que tende a fechar o universo da significação na medida em que remete a um “outro discurso”, como ensina a etimologia mesma da palavra. O símbolo, em compensação, embora tenda igualmente a aproximar duas expressões diferentes mediante o escavamento de suas semelhanças, teria a faculdade de abrir-se a várias conotações. O pensamento simbolizador admite mais de uma significação possível, ao passo que a alegoria aperta os laços que, por hipótese, atam a imagem a um determinado conceito. Talvez não seja forçar os termos de uma definição dizer que a alegoria é uma variante concentrada e unidimensional do pensamento simbólico. Essas considerações têm por objetivo sugerir que pode haver outras interpretações de A Ave, que dariam ênfase a outros perfis do poema e a outras afinidades latentes. A questão se torna particularmente viva quando temos pela frente uma das obras mais enigmáticas de Jorge de Lima, Anunciação e encontro de Mira-Celi. Mira-Celi A decifração desse livro singular é tarefa difícil, mas o intérprete desnorteado consola-se de seu embaraço ao ler o artigo que Jorge de Lima escreveu para a revista Vamos Ler, em 16 de março de 1943, sob o título “Explicação de Mira-Celi”. Começa dizendo: “Acho dificuldade de explicar à professora americana a vida de Mira-Celi. A vida, a origem, os jogos, o conhecimento dela, tudo inexplicável”. O texto continua, dando a entender que se trata de uma entidade fugidia, vinda provavelmente da eternidade, e que aparece a seu bel-prazer, mas de preferência nos momentos de solidão e febre do poeta. A sua esquivança deixa o leitor perplexo e o convida a percorrer os 59 poemas que compõem o livro, e que dão a impressão de serem partes de um conjunto coeso, e não textos independentes. No encalço de um motivo condutor, o que sugere aparência de unidade é a recorrente pergunta sobre a natureza mesma de Mira-Celi, questão afim à do significado que assume para o poeta. O poema de número 2 abre-se com uma definição assertiva: Tu és, ó Mira-Celi, a repercutida e o laitmotivo / que aparece ao longo do meu poema. Cabe a interrogação: essa presença constante, que remete a um ser (um espírito, uma força natural ou sobrenatural) viveria, de algum modo, fora ou dentro do sujeito lírico? Ambas as condições de existência estão configuradas no poema: Dentro: “Nele [no meu poema] estás construída à semelhança de um imenso órgão/ movimentado pelo meu espírito”.  Fora: “Ora és sacerdotisa, musa, louca ou apenas ave”, Dentro e fora: Pouca gente encontrará a chave deste mistério./ E os olhos que perpassarem através de tantos poemas que não/ findam e que se transformam de momento a momento,/ não compreenderão o movimento perpétuo/ em que nos perseguimos e nos superpomos./ Outras vezes as minhas mãos são um disfarce de ti,/ escrevendo a tua história ou me sustentando a face. Reversibilidade que, dependendo do contexto, aponta o eu como condição da existência de Mira-Celi, ou faz desta uma força transcendente que o toma de assalto e o inspira. Tangenciamos aqui uma das matrizes românticas e simbolistas da crença na inspiração como fonte inconsciente do poema. Se esta é uma das missões inegáveis de Mira-Celi, convém, sempre no clima da reversibilidade, distinguir dois vetores complementares da inspiração: Mira-Celi é inspiração do poeta. Trata-se do procedimento sintático classificado como genitivo subjetivo: a inspiração provém do eu lírico, sua fonte e gênese nele demoram. Na outra ponta, Mira-Celi é inspiração para o poeta, genitivo objetivo: o que transcende a pessoa do artista é força que a preenche e inspira. O transcendente vai ao encontro da imanência, o objeto norteia e guia o sujeito. Nas palavras de Jorge de Lima, sempre mais fecundas do que a prosa que tenta interpretá-las: “Quase sempre te transformo para te distribuir / e quando me resta uma única migalha, reconstruo-te como uma catedral e alimento-te como uma criancinha”. Não creio que haja nesta multifacetada invocação de Mira-Celi margem para reduzi-la à figura da Musa ou a alguma outra alegoria unidimensional. Mesmo quando o poeta a chama abertamente de “cristocêntrica”, como o faz no quinto poema, a polivalência simbólica rege o apelo a essa figura, que reaparecerá em mais de uma passagem de Invenção de Orfeu. De certo modo, o sentido do transcendente calado na História lembra a síntese de Teilhard de Chardin, pela qual o cosmos se move na direção do ponto ômega da consciência em Cristo: Quando te aproximas do mundo, Mira-Celi, /sinto a sarça de Deus arder em círculo, sobre mim. (poema 6) Há quantos milênios bate no meu barro o vosso diapasão de luz? / Adonai, vejo presenças nas ventanias. / são vossas mãos por acaso ou vossa túnica multiplicada,/ ou apenas Mira-Celi, a de fogo e música, a reclusa e onipresente? (poema 50) Livro de sonetos Dois caminhos concorrem para desvendar os significados expressos ao longo do Livro dos sonetos. Pode-se começar pelo mais viável: a procura dos motivos recorrentes que formam, às vezes, breves ciclos temáticos. Um exemplo feliz desse procedimento é o estudo de Ana Maria Paulino (1995), que se detém no exame de núcleos semânticos, de resto disseminados em quase todas as obras de Jorge de Lima: sono e sonho, memória da infância, mar, morte, musa, candeeiro... O elenco poderia enriquecer-se com outros apoios referenciais que constelam o amplo imaginário do poeta: a noite, as ilhas, as aves, o galo, cavalos encantados, a lâmpada marinha, a rosa, a bem-amada, a eterna infanta... Os riscos eventuais desse caminho (o que não impede de percorrê-lo) são os desvios de rota que nos fazem cair na dispersão analítica ou na exegese do todo a partir do fragmento. O outro modo de ler o Livro de sonetos é aprofundar a análise da forma viva interna que anima cada motivo e lhe concede o estatuto de criação poética. Trata-se aqui do conhecimento da imagem. No seu ensaio denso e arguto, O engenheiro noturno, Fábio de Souza Andrade (1997) elegeu essa estrada real que o conduziu a uma interpretação original do Livro de Sonetos e Invenção de Orfeu. Considerando os vetores de cada um dos métodos, pode-se concluir que ambos acabam construindo um todo indivisível. Imaginário e imagem, o universo figural do poema e o seu procedimento estruturante remetem um ao outro na hora da interpretação do texto. A sua estreita afinidade tem por matriz “a rainha das faculdades da alma”, expressão com que Baudelaire define a imaginação. Sigo de perto algumas passagens do poeta-crítico extraídas de suas “Curiosidades estéticas”: Misteriosa faculdade esta rainha das faculdades! Ela afeta todas as outras; ela as excita, leva-as ao combate. [...] Ela é a análise, ela é a síntese; e no entanto homens peritos na análise e suficientemente aptos para fazer um resumo podem ser desprovidos de imaginação. Ela é isso, mas não é completamente isso. É a sensibilidade e contudo há pessoas muito sensíveis, demasiado sensíveis talvez, que dela carecem. Foi a imaginação que ensinou ao homem o sentido moral da cor, do contorno, do som e do perfume. Ela criou, no começo do mundo, a analogia e a metáfora. Ela decompõe toda a criação, e, com os materiais acumulados e dispostos segundo regras cuja origem só se pode encontrar no mais fundo da alma, ela cria um mundo novo, produz a sensação do novo. Como ela criou o mundo (pode-se decerto dizê-lo, até mesmo em um sentido religioso), é justo que ela o governe. [...] A imaginação é a rainha do verdadeiro, e o possível é uma das províncias do verdadeiro. Ela é positivamente aparentada com o infinito. [...] O governo da imaginação Ontem à noite, depois de ter enviado as últimas páginas de minha carta, em que eu havia escrito, mas não sem certa timidez: Como a imaginação criou o mundo, ela o governa, eu folheava a Face nocturne de la Nature, e me deparei com estas linhas, que cito unicamente porque são a perífrase justificativa da linha que me inquietava: “By imagination, I do not simply mean the common notion implied by that much abused word, which is only fancy, but the constructive imagination, which is much higher function, and which, in as much the man is made in the likeness of God, bears a distinct relation to the sublime power by which the Creator projects, creates and upholds his universe.” Por imaginação eu não quero somente exprimir a ideia comum implicada na palavra de que se faz tão grande abuso, a qual é simplesmente fantasia, mas justamente a imaginação criadora [note-se como Baudelaire traduziu o original inglês “constructive” AB), que é uma função muito mais elevada, e que, na medida em que o homem é feito à semelhança de Deus, guarda uma relação distinta com essa potência sublime pela qual o Criador concebe, cria e mantém esse universo. (Baudelaire, 1951, p.764-72) Baudelaire retoma e salienta a distinção originariamente romântica entre a imaginação reprodutiva, colada à representação do real, e a imaginação produtiva, que o texto inglês chama “construtiva”, e que o poeta traduz como “criadora”. Se atentarmos para a qualidade da imagem presente no Livro dos sonetos, concluiremos, à primeira vista, que é essa última que constitui o procedimento corrente em quase toda obra. Jorge de Lima constrói sistematicamente o que Baudelaire considera criação de um mundo novo, tão verdadeiro como o que nos é dado pela percepção cotidiana. Não me deterei aqui na rede de influências ou afinidades desse potenciamento da imagem inerente à poesia de Jorge de Lima. Romantismo, simbolismo, expressionismo (no caso da sua pintura), surrealismo, hermetismo e até mesmo barroco, tudo permeado de ardente fé cristã: eis os movimentos literários e culturais que tem sido assinalados para situar o poeta na história da cultura brasileira e, lato sensu, ocidental. Creio que será sempre plausível descobrir no seu itinerário poético traços deste ou daquele estilo de época. Romântica é a sua aberta preferência pela expressão das instâncias subjetivas ou líricas da poesia. Simbolista o tom solene e a dicção elevada dos sonetos. Surrealista a atmosfera onírica e febril, bem como o procedimento de colagem das figuras que aparenta a poesia e as fotomontagens. Hermético é o sentido difícil de precisar de tantas de suas aproximações verbais aparentemente aleatórias. Enfim, barroca seria a própria proliferação de imagens, analogias e metáforas que vai em crescendo do Livro dos sonetos até Invenção de Orfeu. Mas à medida que se afunila o estudo do seu imaginário e dos seus meios estilísticos, deparamos com a voz singular de uma persona inconfundível. E esbatem-se no quadro do discurso crítico as classificações histórico-literárias e as tentativas de fazer tipologias psicanalíticas. Até mesmo a pertença do homem público Jorge de Lima a uma corrente renovadora do catolicismo social deve ser relativizada enquanto fator externo gerador de poesia. A chamada conversão de Jorge de Lima, simultânea à de Murilo Mendes, e confessadamente inspirada na religiosidade cristã de Ismael Nery, tem raízes no chamado “renouveau catholique”, do primeiro quartel do século XX. Em termos literários, se expressou na poesia de Péguy, no romance de Bernanos e no teatro de Claudel. Ideologicamente só Péguy inclinou-se para o socialismo, e certamente vem dele a denúncia da exploração do proletário, que se encontra na poesia regional, negra e, a espaços, na vertente religiosa do nosso poeta. No entanto, seria forçar a mão estabelecer conexões estreitas entre a difusa mentalidade anticapitalista católica (encontrável também em alguns círculos ultraconservadores, aos quais Jorge de Lima nunca aderiu) e o imaginário entre místico e apocalíptico dos seus últimos livros. A sua visão de mundo, expressão aqui mais adequada do que a sua ideologia, tem a ver com os dogmas centrais do catolicismo ortodoxo: o “mundo” e o “reino deste mundo” estão contaminados pela Queda, enquanto universo da violência, do poder e da iniquidade. Desse magma obscuro, de que o demônio é o príncipe, veio salvar-nos Cristo, Filho de Deus e Filho do homem (ambas as denominações constam nos evangelhos), mediante a graça concedida a todos os homens de boa vontade. Mas este mundo e o reino de Deus estão misturados, de onde a perene contradição em que se debatem todas as gerações. No último horizonte há a perspectiva de um juízo final, precedido de anos apocalípticos, nos quais homem e natureza padecerão de males devastadores. O simples enunciado dessa revelação é o bastante para compreender o vetor suprapolítico (embora não necessariamente apolítico) da esperança escatológica, voltada para um tempo de redenção que rematará a história sofrida da humanidade. Nessa ordem de considerações, entende-se também o teor visionário de tantas imagens constantes do Livro de sonetos. Imaginação produtiva, construtiva e criadora, segundo as reflexões de Baudelaire, na medida em que se trata de imagens concebidas pela visão de um futuro inteiramente constituído pelo desejo (ou pela aversão) do poeta. O que não lhes tira a qualidade de reais, se é verdade que toda imagem denota algum fenômeno percebido ou rememorado. Cabe aqui uma observação sobre dois sentidos da palavra visão: faculdade de ver os objetos do mundo exterior, sinônimo de percepção realista; e aparecimento, epifania, que pode ocorrer com seres anômalos ou extraordinários, videntes, visionários, santos... e alguns artistas e poetas. Essa bivalência do termo visão remete à dualidade do termo “imagem”, que pode reportar-se, como se viu linhas acima, ora ao objeto da percepção comum, socializada, ora a uma intencional construção-criação da mente poética. Entramos, nesta altura, em pleno debate entre realistas e surrealistas. Ancorados no trabalho da imaginação durante os sonhos e, complementarmente, no arbítrio do artista que faz colagens de corpos, cenas e quadros com vistas à produção de novas figuras, os surrealistas preconizam literalmente a criação de uma nova e suprarrealidade. Para tanto, faz-se necessário que a imaginação se valha das percepções da vigília ou do devaneio para combiná-las, desconstruí-las e reconstruí-las como um novo demiurgo que tira da sua vontade e do inconsciente mundos paralelos ao do bom senso convencional. No limite, os efeitos desse processo combinatório podem despertar no leitor a suspeita de que se trata de um hermetismo programado, o que, no caso de Jorge de Lima, me pareceria um juízo equivocado. Prefiro atribuir a gênese da escrita enigmática em parte ao “estado hipnagógico” em que, em dois meses de febre e sedação, ele escreveu os 78 sonetos deste Livro repleto de visões, algumas alucinadas, outras dotadas de serena harmonia.2 No quarto soneto, “Sei Teu grito profundo...”, a alma confessa ao Cristo crucificado (Ó Desnudado) o seu estado de derrelição. O motivo tem raízes na literatura mística do outono da Idade Média, de que a Imitação de Cristo é o mais perfeito modelo. A originalidade do soneto está na profusão de imagens, verdadeiras células metafóricas. A alma sabe-se presa à raiz divina da qual tudo recebeu: origem, patas, asas, enumeração insólita, que aproxima a gravidade animal das patas e a graça aérea das asas, atributos contraditórios do ser decaído e redimido. Não se detém aí a imaginação construtiva do poeta: ele compara-se à “pobre enguia de águas rasas”, ao passo que de Cristo diz que é o “Nazareno dos lagos e lume primo”, reunindo pecador e redentor mediante a parábola evangélica do joio misturado ao trigo até que o Juízo Final os separe. O fecho é à primeira vista hermético: “Ó Desnudado! é meu todo o disfarce/em revelar os tempos que persigo/- na vazante maré com inversa proa”. A alma, diferentemente da divindade que nada oculta, dissimula (disfarça) a sua condição de homem vivendo à mercê da corrente do tempo e encalhado na maré baixa em barco sem norte (inversa proa). A face temível dos tempos derradeiros está manifesta em um soneto coesamente armado: “Se a estrela de absinto desabar”. Todos os signos, concebidos por uma imaginação febril, prenunciam a agonia do universo. Nenhuma glosa prosaica pode substituir a leitura integral do soneto: Se a estrela de absinto desabar terei pena das águas sempre vivas porque um torpor virá do céu ao mar amortecer o pêndulo das vidas. Sob o livor da morte coisas idas já são as coisas deste mundo. No ar as vozes claras, tristes e exauridas. Há sombras ocultando a luz solar. Galopes surdos, cascos como goma. Viscosos seres, dedos de medusas Contando silenciosos coisas nulas. Verdoengo e mole um ser estranho soma: Crânios como algas, vísceras confusas, massas embranquecidas de medulas. As sonoridades escuras, surdas, cavas, em sintonia com o lívido torpor das imagens provêm da peculiar condição do poeta, médico de enfermos terminais, debruçado sobre corpos na decomposição da agonia, e crente visionário das cenas figuradas no Apocalipse de João, também chamado Livro da Revelação.3 Não se trata, evidentemente, de um texto isolado. O mesmo pressentimento de uma hora fatal, convertida em tempo de agora pelo poder da visão, aproxima quatro sonetos seguidos. “O horizonte era estreito”, que termina assim: “O oceano apodreceu no próprio leito,/ e uma lava comum, estranha lava/de loucura inundou bestas e gênios”; o soneto “O mundo estanque, o céu alucinado,/o olhar vítreo de Deus furando o tempo”; o soneto “Tudo estancara. Eu mesmo. Do alto vi-me”; e “Sentado em pirâmides vulgares”, cujo terceto final trai o desejo de ver a catástrofe universal: “Quero assistir ao trágico desfecho/desse último espetáculo encantado /que irá encher espaço, terra e mares”. A concorrência de visão e transformação move-se no limite do que seria uma poética surrealista difusa no Livro de sonetos. É o que sugere o soneto “A torre de marfim, a torre alada” na procissão de imagens em perpétuo movimento: A torre de marfim, a torre alada, esguia e cinza sob o céu cinzento, corredores de bruma congelada, galerias de sombras e lamentos. A torre de marfim fez-se esqueleto E o esqueleto desfez-se num momento, Ó! Não julgueis as coisas pelo aspecto, que as coisas mudam como muda o vento. E com o vento revive o que era inerme. Os peixes também podem criar asas, as asas brancas podem gerar vermes. Olhei a torre de marfim exangue e vi a torre transformar-se em brasa e a brasa rubra transformar-se em sangue. O anúncio do desfecho de toda a história não é única missão do poeta visionário. Há também a hora de contemplar a luta que se trava no meio do caminho. O soneto “Há cavalos noturnos, mel e fel” sobressai pela densa concisão com que trabalha o tema do embate das forças do bem e do mal, unindo a imagem sobrenatural do Arcanjo Miguel com o ícone do grande visionário da tradição literária, o Quixote de Miguel de Cervantes. Há cavalos noturnos: mel e fel. O cavalo que vai com Satanás e o cavalo que vai com São Miguel. O cavalo do santo vai atrás, e vai na frente a azêmola cruel. Mas vão os dois e cada qual com um ás. No cavalo da frente o atro anjo infiel com façanhas de guerra se compraz. São Miguel de la Mancha, D. Quixote, Garcia Lorca viu-te, vejo-te eu na luta igual com o ás da negação, arremeter com lança em riste e archote. E ao fim de tudo há um anjo que venceu: Tu, D. Quixote da Anunciação. Algumas observações tópicas: “Há cavalos noturnos: mel e fel”. Mel e fel – a suprema doçura e o amargor extremo, contrários e contíguos na vida e no verso. Bem e mal cavalgam na noite, pois os cavalos são noturnos e escura é a travessia em que transcorre a história dos homens. Adiante, com a sobriedade da denotação clássica, vêm os nomes dos cavaleiros. São dois anjos: aquele a quem foi dada a primazia no governo do mundo, Lúcifer, degradado em Satanás; e aquele que luta contra os poderes das trevas, audaz, mas sem violência, São Miguel. “O cavalo do santo vai atrás”. Indício da arrogância e açodamento do Mal ou sinal da primazia do tentador durante o percurso que nos foi traçado entre o nascer e o morrer? Haverá alguma ênfase intencional neste enunciado da posição dos ginetes. A rigor, não seria logicamente necessário dizer que vai na frente a azêmola cruel. Mas quanto se perderia se fosse omitida a palavra árabe, rara e expressiva, que marcou, desde a Idade Média, a inferioridade da raça, sendo azêmola sinônimo de besta, animal rude e tosco, se comparado à fiel nobreza do corcel! “Mas vão os dois e cada qual com um ás”. A disparidade das montarias é contrabalançada pelo valor atribuído aos cavaleiros. A conjunção “mas” adverte que cada um ostenta a mesma qualidade mestra de ás. A diferença, porém, re- ponta, e é tudo. O cavaleiro da frente, com ser anjo, é não só atro como infiel, enquanto transgressor da lei divina e causa da queda das primeiras criaturas. “Infiel” traz em si os fonemas de fel. A rima final do segundo quarteto (ás- -compraz) é um achado semântico-sonoro, denunciando o ânimo belicoso do anjo do Mal que com façanhas de guerra se compraz. Os tercetos dizem, dentro de um período fortemente articulado, o essencial do combate. O arcanjo Miguel desce da transcendência para entrar na alma do criador do mais puro dos cavaleiros. É São Miguel de la Mancha (assim nomeado, em castelhano), incorporado, por meio de um aposto, à sua inseparável criatura, Dom Quixote. O poeta irmana-se com outro grande poeta da Espanha, Garcia Lorca, na sua visão do arcanjo figurada no Romancero Gitano (“Garcia Lorca viu-te, vejo-te eu”). Um deslocamento temporal avizinha a luta de São Miguel com os feitos do Quixote, “que arremete com lança em riste e archote” contra o “ás da negação”. Na hora da vitória final, a identificação é explícita: “E ao fim de tudo há um anjo que venceu: Tu, D. Quixote da Anunciação”. Por um equívoco feliz, ou escolha voluntária, Jorge de Lima atribui ao Arcanjo Miguel a missão de anunciar à Virgem Maria que ela dará a luz ao Messias, o que, no texto evangélico, é confiado ao Arcanjo Gabriel (Lucas, 1, 26). De todo modo, o que importa é o gesto poético de fundir a imagem do anjo lutador com a do Cavaleiro da Mancha, deixando implícito que se trata de combatentes fiéis, refratários à violência. De um lado, a serena nobreza de Miguel que, segundo a Epístola de São Judas (1, 9), vence o Maligno, mas abstém-se de injuriá-lo e infamá-lo (“finge una cólera dulce”, diz Lorca ao descobri-lo em um altar cigano); de outro lado, a alma alevantada do Quixote, incapaz do mínimo ato de egoísmo ou vilania, percorrendo o mundo para restaurar a justiça e o respeito violados por inimigos ignóbeis. Junto às fontes da lírica: a infância, a amada Não só de visões transcendentes e do embate entre o Bem e o Mal extrai Jorge de Lima a matéria-prima do Livro de sonetos. Sendo um poeta eminentemente lírico, a sua imaginação também desce ao próprio passado e, como nas primeiras obras afetadas pelo modernismo regionalista, traz da infância motivos condutores de mais de um poema. Embora o Livro de Sonetos não se disponha em ordem narrativa ou temática, não deixa de ser digno de nota o fato de os sonetos da infância virem só no último terço da série. Mas, quando chegam, é como se emergissem, um após outro, jorrando do poço da memória prestes a transbordar. As figuras evocadas passam a ter nome e história e o desejo de fixá-las modula-se ora em forma interrogativa (“Onde está o Marão?”), ora em torneios puramente narrativos: “/ Eu fui de lá. Minha avó era fiandeira. Ouvi romances./ Chorei Páscoas, nadei por vários poços”; ora, enfim, com entoação exclamativa: “Ó meninos, ó noites, ó sobrados!” Este último verso repete o final de outro soneto evocativo:  Nas noites enluaradas cabeleiras das moças debruçadas, dos sobrados desciam como gatas borralheiras por sobre os nossos lábios descuidados. Talvez seja possível estender à criação poética o que a observação empírica nos sugere em termos da insistente repetição com que figuras e cenas da infância acorrem à mente do adulto. No imaginário evocativo da meninice Jorge de Lima alcança um alto nível de redundância. Palavras, frases, às vezes períodos inteiros assinalam a presença obsessiva de seres que povoaram os seus primeiros anos em Alagoas. De tudo faz o poeta matéria de poesia: noites enluaradas, meninas e meninos no sobrado, o avô morto, a avó fiandeira, a draga na maré baixa (“Lembras-te, meu irmão, da draga morta?”), o Marão, onde o menino mourejou, a esfera armilar e o candeeiro antigo, os galos e o seu canto. Mas, de repente, a névoa da memória... Ao lado da nítida rememoração surge o encontro com o tempo roaz, irreversível. É o risco do esquecimento, a queda no vazio que assombra, quando não apaga cada figura e cada cena vivida nos verdes anos. Neste soneto o desaparecimento do passado atinge não só a história familiar, mas também a dos nautas e descobridores lusitanos, de onde o intertexto camoniano, que voltará em mais de um passo da Invenção de Orfeu: Virado para o Marão o avô morrido/ e o pai deste Nordeste sepultado./ Rio Lima e Mundaú. O filho nado/ em limo e sal do mar sobrevivido.// Nem da roda de fiar da avó, o ouvido/ conserva do som. Silêncio. O céu calado./Descobridor do oceano submergido,/ navegante do rio emparedado.// Sôbolos rios e sôbolos oceanos,/ só uma sombra de nauta fragmentada/ no roteiro dos mares lusitanos.//O restante é oceania naufragada:/cavernas de nau, âncoras e gáveas./ Dessa vasa salobra a morte lave-as. Enfim, o melos, a música da lírica amorosa, que nos sonetos é pouca, mas intensa, pois testemunha o desejo sublimado de tornar presente a amada para sempre ausente: E esta angústia de te recompor, traço a traço, tua boca dolorosa (fonte que se exauriu), teu rosto escasso, ó musa angelical, airosa rosa! Quando li, pela primeira vez, os sonetos da amada ausente, figurada na imagem enigmática da infanta defunta, veio-me à memória a poesia de amor, igualmente sublimado, de Alphonsus de Guimaraens. O sentimento de fundo é o mesmo, semelhante é a forma clássica dos decassílabos, idêntico o procedimento que evita a descrição precisa preferindo a “melodiosa dança” das aparências.