sexta-feira, 1 de março de 2013

CINEMA BAIANO HISTÓRIA E PACHORRA

Por André Setaro

Tudo começa com Redenção. Iniciado em 1956, o filme, que vem a ser o primeiro longa baiano, leva três anos para ser concluído e exibido em noite de gala no cinema Guarany, em abril de 1959. (como mostra um trecho do documentário de Petrus Pires e Paulo Hermida, com todos os presentes em traje a rigor, como era costume na época). Roberto Pires já tinha feito algumas experimentações amadorísticas em curtas como O calcanhar de Aquiles e Sonho. Seu pai tem uma ótica, a Mozart, e, nela, Roberto, fascinado com o cinemascope de O manto sagrado (The robe), que vê no mesmo Guarany no qual seria apresentado o seu primeiro longa, resolve investigar, na ótica do pai, para fazer uma lente anamórfica igual à lente do cinemascope. Desde já, além de um pioneiro, um inventor.
Mas Roberto Pires trabalha com alguns amigos (Oscar Santana, entre eles), mas não está vinculado às pessoas que discutem cinema no clube de Walter da Silveira, como Glauber Rocha, Luis Paulino dos Santos (autor de Um dia na rampa), entre outros. É somente a partir da estréia de Redenção que as pessoas começam a se aproximar dele. Porque ficam impressionadas com a concretização de um sonho: a realidade de um filme baiano de longa metragem projetado na tela de um cinema de escol como o Guarany.
Há, nesta época, pessoas que se interessam pelo cinema. Rex Schindler é um deles e se encontra, numa tarde, no escritório de Leão Rosemberg, com Glauber Rocha, então crítico de cinema do Jornal da Bahia, mas que não o conhecia pessoalmente. Este encontro ocasional entre Rex Schindler e Glauber Rocha dá início ao que mais tarde seria chamado deCiclo Baiano de Cinema. Glauber, que já tem prontos dois curtas, O pátio e Cruz na Praça (desaparecido), não tem experiência prática e chama Roberto Pires para fazer parte do grupo. Schindler e Rocha, a ver o exemplo de Redenção, sonham na viabilidade e exequibilidade de se implantar, na Bahia, uma infra-estrutura cinematográfica. E surge a Escola Bahiana de Cinema, que se estabelece com propostas e um cronograma mais ou menos definitivo. Schindler, associado a outros produtores, produz Barravento, que, incialmente é dirigido por Luis Paulino dos Santos e depois, por força de um golpe (segundo se propaga), a direção é dada a Glauber e o roteiro completamente reescrito em parceira com o esquecido José Telles de Magalhães. Segundo Schindler, Paulino quer uma mudança mística enquanto a idéia de Glauber é no sentido de, como diz o próprio título, uma mudança social.
O fato é queBarravento demora quase três anos para ser lançado, o que ocorre em 1962, depois do lançamento de A grande feira. Glauber leva ao Rio o copião debaixo do braço para ver se Nelson Pereira dos Santos consegue montá-lo.
Estabelecidos os postulados da Escola Bahiana de Cinema, entre os quais a procura de um cinema com raízes na cultura local sem a perda, contudo, do caráter universalista, o projeto se centraliza na criação de uma infra-estrutura capaz de que fossem realizados filmes de forma continuada e sistemática. O lucro de um seria investido no seguinte, e assim por diante. Num esquema de rodízio entre os diretores. Glauber Rocha assume Barravento e, assim, a seguir o cronograma, A grande feira, com argumento de Rex Schindler, é roteirizado e dirigido por Roberto Pires. O próximo, Tocaia no asfalto, tem programado Glauber Rocha na direção, mas este vai ao Rio montar Barravento e já cogita, no sul do país, a produção de Deus e o diabo na terra do sol, que seria realizado em 1963, com recursos oriundos da produtora de Jarbas Barbosa, a Copacabana Filmes. Além do mais, Glauber lança, por esta época, o manifesto do Cinema Novo no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil editado por Reynaldo Jardim.
A Bahia se torna uma Meca do Cinema, como diz o historiador renomado Georges Sadoul no jornal Les Lettres Françaises. E se torna um pólo aglutinador para cineastas do sul que aqui aportam na esperança de explorar o seu décor deslumbrante. Um dos pioneiros nesse sentido é Trigueirinho Neto, que faz Bahia de Todos os Santos, mas com intenções sérias, de análise dos conflitos sociais de uma sociedade. Não pretende Trigueirinho a exploração do décor, mas, ao contrário, a sua desmistificação. Outros, porém, gananciosos, possuem outros propósitos como a busca do exotismo tropical como faz o francês Robert Mazoyer que, baseado num argumento de Jacques Viot, realiza aqui O santo módico, sobre um jovem pescador desiludido que, apaixonado por uma bela mulher, é abandonado por esta que o troca por outro. Em torno da população, uma imagem sacra que parece solucionar problemas de toda ordem. Viot pretende focalizar a superstição de um povo subdesenvolvido que é manejado por forças ocultas. No elenco, atores baianos entre outros estrangeiros e brasileiros: Irene Boriski, Edgard Carvalho, Heitor Dias, Jorge dos Santos, Gessy Gesse, Zezé Macedo, Leny Eversong, Maria Lígia, Oscar Santana, Léa Garcia, Breno Mello, Jurema Penna, José Telles de Magalhães, Lídio Silva, etc. Ruy Guerra funciona como assistente de direção e a iluminação está a cargo de dois profissionais de alta competência: Roger Blanché e Andréas Winding. Com assistência de Hélio Silva. O filme, porém, está desaparecido.
Assim, Glauber não tem condições geográficas de dirigir no asfalto, como está planejado, que é entregue a Roberto Pires em 1961, ano do lançamento de A grande feira em Salvador, a alcançar uma bilheteria sem precedentes, superando, inclusive, o grande êxito do cinema mundial: Ben Hur, de William Wyler, com Charlton Heston. Os baianos vão em massa ver A grande feira, lançado, com festa, em duas salas: uma de primeira linha, o Capri, e outra mais popular, o Jandaia.
Por que Rex Schindler não produz Deus e o diabo na terra do sol, a precisar Glauber ir ao Rio buscar recursos? Segundo se conta, porque Schindler, ao invés de patrocinar a obra glauberiana, prefere investir numa co-produção de Portugal e Brasil: A montanha dos sete ecos, todo filmado em Cachoeira, cidade histórica, importante na consolidação do 2 de Julho de 1823, quando se dá, realmente, a completa independência brasileira iniciada em 7 de setembro de 1822 (independência, vírgula, bem entendido, pois apenas a dívida portuguesa com a Inglaterra, a dona do mundo naquele momento, passou para o Brasil). A montanha dos sete ecos, de um tal de Armando de Miranda, chega a ser exibido em algumas capitais. Um filme de aventuras com atores baianos como João Di Sordi, Roberto Ferreira (o Zé Coió, o Zazá de A grande feira), João Gama, Milton Gaúcho, Jota Luna, José Telles de Magalhães (que funciona também como diretor de produção). O principal não é da Bahia: Milton Morais.
A Escola Bahiana de Cinema, que tem Schindler como principal produtor, ao lado de David Singer e Braga Neto, tem, a rigor, os seguintes filmes: Barravento, A grande feira, e Tocaia no asfalto. Outros filmes considerados genuinamente baianos, no entanto, aqui são feitos, como O caipora (1963), de Oscar Santana, produzido por Winston Carvalho, sobre um azarento (Carlos Petrovich), um caipora (como se denomina no interior), que se apaixona pela filha do coronel local (Milton Gaúcho), mas sofre o preconceito e a discriminação da população local. Ainda no elenco, Maria Adélia (em impressionante caracterização), Iva Di Carla, João Di Sordi, Garibaldo Matos (que depois se tornaria juiz de futebol), Leonel Nunes, Jurema Penna, Conceição Senna, Lídio Silva (o beato Sebastião do filme de Glauber), José Telles de Magalhães (este está em todas). A fotografia (em excelente preto e branco) é de Giorgio Attili, montagem de Roberto Pires (amigo de Oscar desde os primórdios) e como diretor de produção um futuro cineasta: Agnaldo Siri Azevedo.
Outro filme genuinamente baiano é Sol sobre a lama (1964), uma produção de João Palma Neto, que, antigo feirante e sindicalista, considera que A grande feira trata superficialmente a questão do drama da feira de Água de Meninos. Decide, então, com dinheiro do próprio bolso, dar uma espécie de resposta a A grande feira. O filme tem roteiro escrito por Miguel Torres (que falece em acidente logo depois), e, para dirigi-lo, Palma chama Alex Viany. O resultado final não agrada ao produtor e a questão acaba na justiça. Há, desse filme, uma versão de Viany, a que passa no lançamento no Guarany, e uma versão de Palma Neto. Sol sobre a lama, na versão do crítico carioca Viany, é muito influenciado pelo cinema japonês pelo qual o cineasta está apaixonado e contraria o sentido de timing querido pelo produtor. Mas se constitui um sucesso, uma produção mais ambiciosa. A fotografia (em deslumbrante colorido) é do consagrado Ruy Santos. Vinicius de Morais coloca a letra noLamento de Pixinguinha especialmente para este filme, que tem no elenco Othon Bastos, Geraldo D'El Rey, Jurema Penna, Dilma Cunha, Roberto Ferreira, Milton Gaúch, Gessy Gesse (que se tornaria a sexta ou sétima mulher do poetinha), Maria Lígia, Garibaldo Matos, Glauce Rocha, Lídio Silva, Carlos Petrovich, Antonio Pitanga, Doris Monteiro…
Em Feira de Santana, Olney São Paulo deseja filmar a novela Caatinga, do fazendeiro Cyro de Carvalho Leite, e encontra neste o apoio para realizarO grito da terra (1964), canto de cisne do Ciclo Baiano de Cinema. Filme sobre o drama de homens e mulheres que vivem a violência e a fome do sertão agreste, O grito da terra tem, no seu cast, Helena Ignês, João Di Sordi, Eládio de Freitas, Augusta São Paulo, Lídio Silva, Orlando Senna, entre outros. Fotografia de Leonardo Bartucci. E partitura musical do maestro Remo Usai, que faz também a música de A grande feira e Tocaia no asfalto. Aluno de Miklos Rosza, Usai é um partiturista de alto nível que vem a valorizar muito os filmes baianos.
Anselmo Duarte filma O pagador de promessas nas escadarias da Igreja do Paço, Nelson Pereira dos Santos, que faz Mandacaru vermelho, porque, indo realizar Vidas secas nas Alagoas, acontece chover torrencialmente, impossibilitando o projeto, e, para não perder a viagem, vem a Bahia e realiza este nordestern meio improvisado que o tem como mocinho.
Interessante observar que embora alguns filmes baianos atuais tenham recebido prêmios em festivais, a exemplo de Eu me lembro, de Edgard Navarro, Samba Riachão, de Jorge Alfredo, estes filmes são vistos por uma elite e não alcançam o grande público, apesar de estreados em salas dos complexos. A explicação é simples e repetida: atualmente, o povo não vai mais ao cinema como nos idos dos anos 60.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

O CINEMA DE HOJE


Espaço de Cinema Tempo Glauber ( Rio de Janeiro)

Era uma vez um público variado, que lotava salas de cinema para ver de tudo, desde dramas e suspenses intrincados até o desenho animado mais bobo, ou aquele filme catástrofe que seria esquecido momentos depois da projeção. De uns 30 anos para cá esse público vem desaparecendo, sendo substituído ao poucos pelo público de um gênero só, ou quase.
Os relatórios de bilheterias anuais demonstram bem a migração do grande público para filmes de apreensão rápida, com muitos efeitos especiais e, principalmente, uma falta de criatividade sem precedentes. Estimulados pelo fenômeno, os produtores seguem abrindo seus cofres para levar mais super-heróis e continuações de sucesso para as telonas, ganhar mais dinheiro e produzir mais desse cinema fast food. Um ciclo sem fim.
Acontece que ninguém aguenta comer lanche com gosto de isopor a vida inteira e acaba preferindo fazer outra coisa longe do cinema, liberando as salas para uma faixa etária específica, a mesma que no futuro vai sair de fininho. Essa migração, somada às facilidades de acesso aos filmes, via tv, internet e outras mídias, já começa a ser sentida nos Estados Unidos, o país que mais produz e ganha dinheiro com cinema até hoje. A diminuição progressiva do público pagante, de dois anos para cá, tem preocupado os produtores que, sem perceber o que realmente está acontecendo, saem em busca de novos quadrinhos adaptáveis e franquias que permitam sequências infinitas.
O que pensar, por exemplo, quando analisamos a lista dos maiores blockbusters de todos os tempos e constatamos que entre os vinte primeiros filmes que mais arrecadaram no mundo somente dois, até o momento, não são parte de nenhuma franquia: Titanic, que, dada a quantidade versões extendidas e 3D que vão e voltam dos cinemas, só não tem sequências por que é historicamente impossível, e Alice no País das Maravilhas, que é a adaptação de uma história já levada ao cinema várias vezes? E não pára por aí. Desses mesmos vinte, somenteAvatar, líder absoluto de público com uma arrecadação de mais de dois bilhões de dólares, é baseado em um roteiro original, ainda que seja uma versão interplanetária de Pocahontas.
Além de comprovar a capacidade de seu diretor, James Cameron, em fazer rios de dinheiro,Avatar também faz parte de outra classificação dessa mesma lista: é o primeiro de uma série, já com duas continuações previstas. As adaptações de livros Harry Potter e a Pedra Filosofal eJurassic Park – O Parque dos Dinossauros estão juntos com ele, com a décima primeira e a décima oitava maiores bilheterias de todos os tempos, respectivamente.
Nada contra esses filmes, que, a seu modo, têm sua qualidade artística e indubitavelmente inovaram a técnica cinematográfica, mas fica difícil não formar coro com André Barcinski quando, em sua coluna do dia 28 de fevereiro, pergunta o que aconteceu com o público que lotava as salas para ver filmes como Perdidos na Noite.
Ah, George, você aqui de novo?
Se os rios de dinheiro gerados por Tubarão, de Steven Spielberg, são apontados como o começo da derrocada, eu faço questão de apontar o meu dedo para um outro senhor: George Lucas. Amigo íntimo daquele outro mas menos qualificado artisticamente, o homem que repudiava alterações nos filmes mas não se cansa de ganhar dinheiro com as que faz em uma mesma história, foi quem provou ao mundo que séries de filmes podem ser muito rentáveis.
O primeiro ano do resto de nossas vidas foi 1980. A sequência de Guerra nas EstrelasO Império Contra Ataca, estreava em mais de mil salas e teve um rendimento duas vezes maior do que o segundo colocado naquele ano, a comédia Como Eliminar seu Chefe. Neste ano: completando os dez filmes de maior bilheteria nos EUA, estavam as comédias Loucos de Dar Nó e Recruta Benjamin; o drama O Destino Mudou sua Vida; duas sequências: Desta Vez Te Agarro e Punhos de Aço – Lutador de Rua, e três títulos piloto (que tiveram sequência): Apertem os Cintos o Piloto SumiuOs Irmãos Cara-de-Pau e Lagoa Azul. Isso tudo na frente de filmes como Gente como a GenteO IluminadoO Homem Elefante e Vestida para Matar que também tiveram bilheterias significativas.
Os títulos mais assistidos do resto da década comprovam o começo da supremacia das trilogias e afins: somente três filmes, E.T. – O ExtraterrestreTop Gun e Rain Man não eram parte de uma série de filmes. Mas nem tudo estava perdido, filmes como Num Lago DouradoTootsie,Laços de Ternura e Atração Fatal ainda conseguiam emplacar o segundo lugar em seus anos de lançamento.
Uma mina de ouro chamada Pixar
Os primeiros anos dos anos 90 pareciam estar fadados a percorrer o mesmo caminho, comEsqueceram de Mim e Exterminador do Futuro 2 encabeçando as listas de bilheteria de 1990 e 1991, respectivamente. E teria mesmo sido assim nos primeiros anos da década se a Disney não resolvesse retomar sua produção de filmes em 2D e se a Pixar não tivesse aparecido.
Ainda que com o cinema mais voltado para o público infanto-juvenil, que é o principal pagante de hoje em dia, as duas produtoras – que vêm trabalhando juntas desde então – eram uma alternativa eficaz aos filmes sequênciais. Assim, em 1992 o desenho animado Aladdinconseguiu bater Esqueceram de Mim 2: Perdido em Nova York e Batman – O Retorno em público pagante. Em 1994 foi a vez da Pixar, com seu Toy Story ficar em primeiro lugar, na frente deBatman Eternamente. Neste mesmo ano, Pocahontas, o quarto filme mais visto, também superouAce Ventura – Um Maluco na África. O terceiro lugar do ano ficou com Apollo 13.
Marcando presença entre as maiores bilheterias da década, a dupla parece ter causado algo mais na configuração do público que, por algum motivo, voltou a olhar para filmes mais adultos e preferiu assistir a Forrest Gump e aos catastróficos Independence DayTwister (primeira e segunda bilheteria de 1996), e Titanic, mas sem ignorar o desenho O Rei Leão e os primeiros episódios Homens de Preto e Missão: Impossível, que mantiveram bons lugares na lista de rendimentos.
Um homem de carisma
Protagonista de Forrest Gump, Tom Hanks também esteve em Apollo 13, foi o responsável pela voz do cowboy Woody em Toy Story e talvez tenha sido o ator mais carismático da década, até ser substituído por Will Smith. Filmes com o ele sempre têm um retorno bom, como fica bem explícito na década de 90. Além dos títulos já citados, ele também esteve presente em Sintonia de Amor e Filadélfia, quinto e décimo segundo filmes mais vistos de 1993.
O segundo filme do ator a desbancar continuações e desenhos foi O Resgate do Soldado Ryan, lançado em 1998. Este ano, especificamente, foi diferente em todos os sentidos dos que vieram até então. Numa década em que títulos passageiros e facilmente assimiláveis deixaram para trás pérolas como Melhor É Impossível e Um Sonho de Liberdade, ter um ano com apenas dois filmes em série (Doutor Doolittle e Rush Hour) e um desenho animado (Vida de Inseto) entre os mais vistos, chama a atenção. Mesmo que junto com eles venham outro monte de filmes-catástrofe e comédias bobas.
Mas tudo não passou de um desvio no caminho da vaca rumo ao brejo e uma preparação para o retorno do pai de todos, nosso velho conhecido, o Sr. George Lucas. O responsável pela maior bilheteria de 1999, com a sequência, que na verdade não era sua sequência e sim uma prequência, daquela mesma história que ele gosta de contar: Star Wars – Episódio I: A Ameaça Fantasma. O filme superou de longe o público de O Sexto SentidoToy Story 2 e o primeiro Austin Powers e Matrix.
Depois de mais uma passagem de Lucas pelas estatísticas, o ano de 2000 foi quase um resumo do que aconteceu e uma prévia do que estava por vir. Teve de tudo um pouco nas dez maiores bilheterias. Filme infantil: O Grinch; Tom Hanks: O Náufrago; sequência: Missão Impossível 2; biografia: Gladiador; comédia romântica: Do Que as Mulheres Gostam; catástrofe:Mar em Fúria; comédia de costume: Entrando Numa Fria; super-heróis: X-Men, paródia besteirol:Todo Mundo em Pânico e terror: Revelação. Claro que alguns deles tiveram não só uma, mas várias continuações.
Histórias sem fim
Reparem que com a chegada dos anos 2000, mais um paradigma pôde ser quebrado. Com a revisita a Guerra nas Estrelas, Lucas mostrou ao mundo que pensar em trilogias era muito pouco, já que uma história pode sempre ser aproveitada até a última gota. Se fossem baseadas em grandes séries de livros, melhor ainda.
Em 2001, entre as dez maiores bilheterias, só Pearl Harbor não é parte de uma franquia e não foi feito para o público infantil. Entre os lançamentos do ano estavam os primeiros episódios de séries de filmes que durariam mais de dez anos no cinema ou que, fiéis à origem, não se preocupavam muito com a estrutura de início, meio e fim, já que o filme seguinte sanearia os problemas. Claro que estou falando de Harry Potter e a Pedra Filosofal e O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel, primeira e segunda maior arrecadação, respectivamente.
Daí pra frente nada mais segurou a vontade de ganhar dinheiro fácil dos produtores e os números após o nome só foram aumentando. Histórias que facilitavam continuações e séries de livros e gibis começaram a ser procuradas avidamente para garantir bilheteria, fazendo o caminho inverso até mesmo ao preconizado pelo guru Lucas. A lógica deixou de ser “uma boa história tem que ser esgotada até o final” e deu lugar à filosofia “ache alguma fonte que nunca seque”.
Dos filmes mais vistos nos últimos anos, só mesmo Avatar é baseado em um roteiro original e nem ele escapou da maldição das franquias. Seguindo a lista, filmes com super-heróis como Homem-Aranha, que liderou a bilheteria em 2002 e 2007, e Batman, em 2008, com O Cavaleiro das Trevas; o encerramento da saga O Senhor dos Anéis, em 2003, com O Retorno do Rei; as animações e continuações Shrek 2, em 2004, e Toy Story 3, em 2010; o encerramento da segunda trilogia Star Wars, com A Vingança dos Sith, em 2005; o terceiro, mas não último Piratas do Caribe, com O Baú da Morte, em 2006; e, para encerrar, em 2011, a segunda parte do último capítulo do bruxinho Harry Potter, As Relíquias da Morte.
Isso olhando por cima, porque qualquer olhada mais demorada detecta que o problema está cada vez mais grave. Como explicar, por exemplo que de todos os filmes que estiveram entre os dez mais vistos de 2001 até hoje, com exceção das animações, só sete não sejam refilmagem, versão ou parte de alguma franquia? Dá até para começar o entender o sucesso que alguns filmes bem fracos como Um Sonho Possível conseguem fazer, ou mesmo a popularidade dos desenhos animados.
O lado positivo
Obviamente que o cinema, como arte, perde muito com a crise que assola a produção americana, mas muita coisa antes ignorada começa a ser descoberta pelo público. A falta de uma diversão mais séria abre espaço para produções independentes e acaba forçando visitas a gêneros menos populares, como o documentário. Além de permitir que títulos estrangeiros sejam conhecidos, já que produções não-americanas não têm mais que competir de igual para igual com o que vem de lá.
No Brasil, diferente dos EUA, o público só vem aumentando de 2008 até os dias de hoje, mesmo que o preço do ingresso seja salgado. Os grandes blockbusters, essas versões todas e títulos infanto-juvenis citados anteriormente, ainda são os que atraem a maior parte do público por aqui também, mas é interessante notar o espaço que os documentários vêm ganhando nas salas de todo o país. Não é raro ver filmes do gênero nos grandes complexos de cinema e o público saindo da sala satisfeito com o que acabara de ver.
Mas não foi só o mercado de documentários aqui que mudou. O público de cinema nacional, de maneira geral, também cresceu significativamente. Se em 2001 as produções nacionais levaram 6,9 milhões de espectadores às salas, em 2011 o número foi de 17,8 milhões de pagantes. Isso sem considerar o ano de 2010, quando o lançamento de Tropa de Elite 2, maior sucesso de bilheteria no Brasil, levou mais de onze milhões de pessoas ao cinema e fez o balanço final do ano fechar em 25,6 milhões. Mas, reparem, era uma sequência.

Fontes: IMDb, Mojo e Filme B

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

ENTREVISTA PARA BLOG DE SÃO PAULO:


Beto Magno
Entrevista a Rafael Spaca para um blog sobre cinema de São Paulo
Endereço do blog:
http://oscurtosfilmes.blogspot.com.br/ 

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?

No meu caso começou quando sentimos a necessidade de produzir nossos próprios trabalhos como resultado dos cursos que são ministrados na Cap Escola de Tv e Cinema da Bahia sob a direção da minha ex-mulher Rada Rezedá.  Daí pra frente tomei gosto pela coisa e resolvi que faria alguma coisa digamos... experimental. Isso sem contar com o gosto de estar no set de filmagem junto com uma equipe de produção e atores. O que além de desafiador é magnífico.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.

Nós temos uma cooperativa a COOPERCINE – BAHIA que apesar de nova vem desenvolvendo um trabalho junto aos produtores de áudio visual na Bahia no sentido de subsidiar um ao outro nas suas necessidades, e isso tem rendido um bom resultado, embora falte muita coisa.


Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral? 

Eu penso que há um apelo comercial muito grande em pró dos longas metragens  em relação aos curtas, na verdade é uma série de fatores, além da própria cultura que foi se desenvolvendo no País. O que é uma grande bobagem, pois um bom roteiro desenvolvido num curta muitas vezes é melhor que certos longas.


Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?

Em função da existência da Lei do Curta, buscou-se uma definição de curta-metragem que fosse compatível com a sua exibição antes do longa metragem, nas sessões comerciais de cinema. Por isso, em 1992 a Lei 8.401 já definia o curta-metragem como o filme "cuja duração é igual ou inferior a 15 minutos". (Isso no Brasil, pois em alguns países um curta pode ter 30 minutos). Este conceito, com a mesma redação, foi mantido pela Medida Provisória 2.228, de 2001, e, portanto permanece em vigor. Só que não é uma coisa repeitada, inúmeros exibidores burlam essa lei Brasil a fora.


O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?

Sim, Sem duvidas! É uma verdadeira escola...


O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?

Eu especificamente acho que sim! Pois não deixa de ser um exercício, um aprendizado que nos traz muita experiência que sem sombra de duvidas iremos precisar para dirigir um longa metragem.


Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?

Olha! Acho que se você tem um bom roteiro e uma equipe empenhada, além de parceiros que te proporcione suporte técnico e trabalhe num sistema de cooperativismo você pode realizar alguma coisa sem precisar necessariamente de participar de editais de leis de incentivo a cultura. O que não anula os editais! Que nós também participamos esporadicamente.

Conte sobre o filme '2 de Julho'.

O Dois de julho é um Projeto do diretor Lázaro Faria, um dileto amigo e parceiro que juntamente com o Zelito Viana da MAPA FILMES - Rio de Janeiro. Que produzirá esse longa metragem importantíssimo para resgatar a verdadeira História do Brasil.

Como estão os trabalhos na Escola de TV e Cinema da Bahia?

A Cap Escola de TV e Cinema da Bahia é uma escola de formação de atores e uma produtora que é dirigida por Rada Rezedá, minha ex- mulher e amiga que tem um trabalho pioneiro na Bahia a mais de 16 anos. Continuo ligado a essa instituição através de parcerias, no passado fizemos muitas coisas juntos.

Fale sobre a sua parceria com a Casa de Cinema da Bahia.

A Casa de Cinema da Bahia é uma Osipe presidida por meu amigo Lázaro Faria diretor premiado de vários curtas e ex - publicitário, que irá dirigir o longa metragem “Dois de Julho a verdadeira História da Independência do Brasil!” nós somos parceiros em vários projetos e estamos trabalhando num filme internacional chamado “ A Roda do Mundo” que é um trabalho feito em vários Países sobre a capoeira que saio da Bahia, rodou  e está em todo canto do planeta! Começamos com “ Mandinga em Manhattan”, depois veio Mandinga em Colômbia...etc...etc... e por ai vai! Estamos na captação de recursos para fazer mais de 10 Países .


Pensa em dirigir um curta futuramente?  Recentemente escrevi um roteiro para um curta: “Eu não presto, mas eu te amo!” que começaria a gravar agora em Março, mas foi adiado para Abril por causa da produção de elenco que estamos fazendo para um seriado Israelense que será gravado no Brasil exatamente na época programada. 

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

CINEMA


diretor de cinema ou realizador (também conhecido como cineasta) é considerado, em termos gerais, o criador da obra cinematográfica. Ainda que o seu papel seja diferente consoante o realizador em causa (que além de estilos diferentes, têm estratégias de trabalho igualmente diversas), o trabalho do diretor de cinema, ao supervisionar e dirigir a execução das filmagens, utilizando recursos humanos, técnicosdramáticos e artísticos inclui:
  • A definição da orientação artística geral que caracterizará o filme no seu todo;
  • A análise e interpretação do roteiro do filme, adequando-o à realização cinematográfica;
  • A direção das interpretações dos atores  tanto sob um ponto de vista técnico (colocando-os em determinado local e enquadramento) como de um ponto de vista dramático, solicitando o género de emoção pretendida para a personagem;
  • A organização e selecção dos cenários do filme;
  • A direcção dos meios técnicos (sonoplastia, iluminação, enquadramento);
  • Escolha da equipe técnica e do elenco (em alguns casos, apenas);
  • Supervisão dos preparativos da produção;
  • Escolha de locações, cenários, figurinos, cenografia e equipamentos;
  • Direção e supervisão da montagem, dublagem, confecção da trilha musical e sonora (em Portugal: banda sonora)
  • Processamento do filme até a cópia final;
  • Acompanha a confecção do trailer, do avant-trailer.

"O ANJO EXTERMINADOR" DE LUIS BUÑUEL


Por André Setaro


Os 51 anos de O anjo exterminador (El angel exterminador, 1962), de Luis Buñuel, obra-prima do surrealismo cinematográfico, não podem passar em branco. Sobre ser o maior realizador surrealista da história do cinema, Luis Buñuel tem uma trajetória desigual, cheia de acidentes de percurso, vindo a estrear, em fins dos anos 20, com filmes puristas no que diz respeito aos postulados surrealistas: Un chien andalou (Um cão andaluz, 1928), em colaboração com o excêntrico Salvador Dali, e, dois anos depois, L'âge d'or (A idade do ouro, 1930). Nestas duas obras, Buñuel pretendeu passar ao cinema o surrealismo em estado bruto: as imagens se desenrolam como num processo onírico de associação de idéias. A cena inicial de Un chien andalou é clássica: um homem, com uma navalha, decepa o globo ocular de uma mulher enquanto as nuvens passam, indiferentes, no céu enluarado.
Em 1962, quando O anjo exterminador estreou em Paris, o exibidor solicitou a Buñuel que escrevesse alguma coisa para ser colocada na porta do cinema, a fim de esclarecer melhor os espectadores. Buñuel escreveu o seguinte: "A única explicação que pode ter esse filme é que ele, na verdade, não tem nenhuma." Woody Allen, em seu recente Meia-noite em Paris (Midnight in Paris), quando do retorno no tempo aos esfuziantes anos 20 na Cidade Luz, há um momento impagável: o personagem se encontra com o próprio Buñuel e dá a ele a idéia de fazer um filme como O anjo exterminador sobre um grupo de burgueses que depois de um jantar comemorativo, sem que haja obstáculos que o impeçam de sair, ficam trancados meses e meses na mansão. Buñuel se espanta com a idéia e diz que não compreendeu o por que de o grupo não poder sair.
Em 1955, Luis Buñuel se encontra com André Breton em Paris e este, desanimado, aborrecido, diz ao cineasta: "O escândalo não existe mais!" Breton, autor do manifesto surrealista, é o seu principal nome. Se o escândalo não existe mais, pour épater les bourgeois (para escandalizar os burgueses), o que se pode dizer hoje, decorridos mais de 50 anos, no momento de vale-tudo em que o BBB expõe, sem arte e sem surrealismo, a demência verificada na mentalidade da sociedade atual? A juventude, passou-a nos atribulados anos 20 em Paris, quando os artistas se amontoavam (como mostra Midnight in Paris, como mostra Sinfonia em Paris/An american in Paris, 1950, de Vincente Minnelli, entre tantos outros). Na capital da França, o aragonês Buñuel conheceu a nata e ficou amigo de muitos, além de trabalhar como assistente de direção em uma ou duas películas. Mas o que o atraiu mesmo foi o movimento surrealista liderado por André Breton. Nos anos 30, teve uma experiência mal sucedida em Hollywood, e, com a Guerra Civil da Espanha (1936/1939) exilou-se no México, onde estabeleceu a sua residência, ainda que, no final da carreira tenha filmado bastante em Paris. Terminadas as filmagens, porém, voltava para o aconchego de sua casa mexicana.
Metáfora surrealista sobre o homem e a sociedade, El angel exterminador (o título é bíblico, premonitório e profético) tem na impossibilidade de sair da mansão, sem que nada impeça que seus convidados saiam, um recurso de surrealismo que o autor utiliza para, na verdade, fazer um estudo de comportamentos, um laboratório para a observação de burgueses metidos a aristocratas que, com o tempo, fazem com que caiam as suas máscaras de hipocrisia, e, em consequência, as normas de etiquetas sejam relegadas.
Em uma suntuosa mansão de Nóbile (Enrique Rambal) se celebra um jantar elegante depois que os participantes voltam de uma ópera. Ao término da recepção, os convidados se dão conta de que não podem abandonar o salão. Reclusos por força invisível naquele lugar, iniciam um verdadeiro processo de degradação que deixa a descoberto o ser primário e zoológico que luta para sobreviver e, com isso, são esquecidos todos os prejuízos e convencionalismos sociais. Tudo é pulverizado e destruído, inclusive os luxuosos trajes dos personagens e o mobiliário rico da sala. Eles se alimentam graças a uns cordeiros que conseguem pegar – e que vivem, surrealisticamente, dentro da mansão, recorrendo a toda a classe de fórmulas – cerimônias mágicas, invocações maçônicas, rezas – numa série de tentativas para por fim àquela situação. O parágrafo seguinte contém spoiler e para os suscetíveis melhor que não seja lido.
Finalmente, depois de vários meses de reclusão, os convidados repetem os instantes finais da festa, e, desse modo, conseguem sair da casa. Na catedral do México, assistem a um solene Te Deum. Mas, findo este, comprovam que nem os oficiantes nem seus assistentes conseguem abandonar a igreja. O plano final apresenta cordeiros que entram na catedral enquanto nas ruas explode uma revolução.
(Na versão disponível em DVD de O anjo exterminador, a empresa distribuidora achou por bem cortar uma cena. No original, quando os convidados chegam à mansão de Nóbile, a chegada deles, entrando pela porta e subindo as grandes escadarias, é filmada duas vezes sob dois ângulos diferentes. O responsável pela edição do DVD cometeu um desastre com o corte, interferindo indevidamente na integridade da obra cinematográfica. Talvez por achar que, com a supressão de dois momentos idênticos, viesse a dar mais legibilidade ao filme. Já a versão em VHS, distribuído pela Sagres, mantém a obra na sua integralidade).
O surrealismo parte de uma atitude revolucionária em filosofia, cujo verdadeiro objetivo não consistiria em interpretar o mundo, mas, sim, em transformá-lo. Na forma exposta por seu principal animador, André Breton, o surrealismo revela forte influência do materialismo dialético, dele retirando sua "lógica da totalidade". Assim como o sistema social constitui um todo e nenhuma de suas partes pode ser compreendida separadamente, a arte não deve ser o reflexo de uma parcela de nossa experiência mental (a parcela consciente), mas uma síntese de todos os aspectos de nossa existência, especialmente daqueles que são mais contraditórios.
O surrealismo buñuelesco se, no princípio, seguia fielmente os postulados bretonianos, com o passar do tempo foi se diluindo, com o acréscimo de um humor refinado, sutil, ainda que bem corrosivo, a exemplo de O charme discreto da burguesia (1973), O fantasma da liberdade (1974) e Este obscuro objeto do desejo (1977, seu último filme, pois viria a morrer em 1983. Entre os seus filmes de minha predileção, os dois primeiros, Ensaio de um crime (1956), Viridiana (1960), que causa escândalo na época, O anjo exterminador, Nazarin, O alucinado,La mort em CE jardin, A bela da tarde, e Ocharme discreto da burguesia. Sem esquecer de uma fita mexicana, Los olvidados, que realizou em 1950. Em Este obscuro objeto do desejo, por exemplo, uma mesma personagem é interpretada por duas atrizes diferentes.
Obra sobre a alienação dos indivíduos alienados por crenças e atitudes, e, também, sobre as vacuidades das fórmulas postiças de convivência, El Angel exterminador constitui, de certo modo, uma prolongação dos grandes temas apontados em Laje d'or., mas com uma maturidade e lucidez ideológicas tais que fazem do filme uma síntese perfeita de toda a obra e ideário de seu autor. O roteiro original – de Buñuel e Luiz Alcoriza – leva o expressivo título de Os náufragos da Rua da Providência. O anjo exterminador foi premiado em Cannes (1962), Sestri-Levante (1962) e Acapulco (1963).

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

BASTIDORES DE UMA SALA DE CINEMA

Sala de Cinema
Operador (projecionista) fazendo emenda em película de 35mm, na bancada da enroladeira
Juntando as Partes de Filme Para Exibição e Carretel Gigante II
Juntando as Partes de Filme Para Exibição e Carretel Gigante
Filme pronto para ser rodado no cinema

COISAS DE CINÉFILOS II

Bancada com Coladeira e Enroladeira

COISAS DE CINÉFILOS

 Carreteis e filmes de 16mm