domingo, 11 de abril de 2010

LANÇAMENTO DE LIVRO SOBRE CINEMA

Capas dos Livros

Por André Setaro


A simpática jornalista Aleksandra Pinheiro, que trabalha na divulgação de meu livro Escritos sobre Cinema - Trilogia de um tempo crítico, escreveu um texto sobre a publicação e sobre a minha trajetória. Não mereço tantas palavras gentis, mas, neste domingo de chuva e trovoadas, e a considerar a proximidade do lançamento, gostaria, aqui, de transcrever o que Aleksandra escreveu sob o título de Um homem chamado cinema. Abrindo as necessárias aspas, pois o que vai a seguir não é de minha pena. O que me resta é agradecer a Alé e parabenizá-la pelo seu trabalho.


Um homem chamado Cinema
"Com quase 40 anos de experiência em análise cinematográfica, André Setaro, crítico de cinema do Terra Magazine e professor da Facom (UFBA), reuniu textos, resenhas e suas melhores análises filmícas para lançar, em 3 volumes, a coleção Escritos sobre cinema - trilogia de um tempo crítico. O lançamento é da editora carioca Azougue, coedição da Edufba, produção da Multi Planejamento Cultural e patrocínio do Fundo de Cultura da Bahia, da Secretaria de Cultura do Estado (Secult).
A noite de autógrafos será na próxima terça-feira, 13/abril, às 20h, na Saladearte Cinema do Museu.

São partes integrantes deste projeto, a realização da Oficina Gratuita de Crítica Cinematográfica, nos dias 14 e 15/abr, e o Clube da Crítica - sessão de bate-papos entre Setaro e outros críticos brasileiros convidados ao evento-, nos dias 14, 15 e 16/abr, na Saladearte Cinema da UFBA.

André Setaro estreou na crítica cinematográfica há cerca de 40 anos, quando escreveu seu primeiro ensaio na imprensa, no antigo Jornal da Bahia, defendendo a importância de Jerry Lewis. Em vez de submeter-se aos padrões ideológicos da época, preferiu privilegiar a estética cinematográfica, tal e qual aquele personagem quixotesco de Nós que nos amávamos tanto, de Ettore Scola. É o próprio Setaro quem explica as reações na ocasião: “Se até hoje muitas pessoas não compreendem o valor de Jerry Lewis, acham que é um diretor de sessão da tarde, imagine naquele período ideologizado? Fui logo chamado de alienado”, relata, com o riso irônico de quem sempre amou muito mais o cinema do que as revoluções.

Seu amor pelo cinema, reiterado na militância da imprensa diária, especialmente no Jornal Tribuna da Bahia, ganha agora o sabor da permanência. A editora Azouge, em parceria com a Edufba, lança no próximo dia 13 de abril, Escritos sobre o cinema, trilogia de um tempo crítico.

A obra 'setariana' está dividida em 3 volumes: No Vol I encontramos os escritos sobre filmes, atores e diretores que marcaram a história do cinema e também depoimentos e artigos com inclinações autobiográficas. Além das impressões do crítico sobre Orson Welles, Kurosawa, Fellini, Godard, Bergman, entre outros ícones, fica-se também conhecendo a trajetória e paixão de Setaro pelo seu objeto de desejo e estudo.

O Vol II é dedicado integralmente ao cinema baiano que este ano completa 100 anos. Nas resenhas críticas, o autor fala sobre as obras e cineastas pioneiros na Bahia (a exemplo de Roberto Pires e Glauber Rocha) e também reflete sobre os homens e as circunstâncias que permitiram o surgimento e a efervescência do cinema na província. Setaro rende homenagens ao mestre Walter da Silveira e ao lendário Clube de Cinema da Bahia, assim como reconhece o valor de empreendedores, a exemplo de Guido Araújo e sua longeva Jornada de Cinema. Fala sobre o boom superoitista e recorda com ternura dos cinemas de rua de Salvador, como o Guarany, Excelsior, Liceu, Tamoio, Bahia, Pax, Aliança, Jandaia.

No Vol III Setaro trata especificamente da linguagem cinematográfica: Embrenha-se pelos caminhos teóricos, destaca as escolas, os autores, mas nunca perde de vista aquilo que o crítico Inácio Araújo, autor do prefácio da sua trilogia, definiu como “uma prazerosa proposta civilizatória”.


Este farto material estava praticamente destinado ao esquecimento, já que André Setaro, apesar do incentivo que sempre recebeu dos colegas e alunos, recusava a ideia de transformar tudo em livro: “Amigos sempre me falaram para escrever um livro, mas eu nunca quis”, relata, destacando que foi convencido da viabilidade do projeto pelo jornalista e escritor Carlos Ribeiro, que há mais de 15 anos insistia na publicação destes textos. Foi assim que, a partir de 2005, Carlos Ribeiro juntou-se a Carlos Pereira, André França, Marcos Pierry e alguns outros ex-alunos de Setaro e decidiram, de forma voluntária, realizar o trabalho de pesquisa e seleção da obra: “O enorme esforço dos professores que realizaram o trabalho foi, em si, um reconhecimento à contribuição de André Setaro ao cinema da Bahia e do Brasil. É um material valiosíssimo, que necessitava ser preservado.”, destaca Carlos Ribeiro, organizador dos três volumes. Esta memória e toda a paixão de Setaro será lançada às 20h, do dia 13/abr, na Saladearte do Cinema do Museu e em breve estará nas principais livrarias do país."

OFICINA DE CRÍTICA CINEMATOGRÁFICA:
Um dia após o lançamento da trilogia Escritos sobre cinema..., Setaro começa Oficina Gratuita de Crítica Cinematográfica nos dias 14 e 15/abril, das 9h às 11h30, na Saladearte do Cinema da UFBA, conforme programação descrita a seguir:

14/abril
1.) A crítica cinematográfica como instrumento de conhecimento da arte do filme. A narrativa e a fábula no discurso cinematográfico. O elo sintático e o elo semântico.
2.)Técnica, linguagem e estética. A transformação da crítica através dos tempos. A decadência dos suplementos culturais. A crítica do pretérito e a crítica contemporânea. Diferenciações entre ensaio, crítica, comentário e resenha.

15/abril
3.) A mise-en-scène. Tout est dans la mise-en-scène. Cineastas cerebrais e cineastas intuitivos. Os filmes-faróis e a necessidade de uma base referencial. A crítica de cinema como crítica de arte.
4.) A redução da crítica nos jornais expressos e o advento de blogs e sites. A crise da crítica e do cinema contemporâneo.
Inscrições gratuitas: Interessados devem solicitar ficha de inscrição através do e-mail:
oficinadecritica@gmail.com

CLUBE DA CRÍTICA:
Encerrando a tríade do projeto patrocinado pelo Fundo de Cultura do Estado da Bahia e produzido pela Multi Planejamento Cultural, acontece o Clube da Crítica: 3 dias de debates entre críticos convidados e André Setaro afim de discutirem assuntos ligados ao cinema atual. O bate-papo será das 16h às 17h30 na Saladearte Cinema da UFBA e a entrada é franca. Abaixo, as datas de realização, nomes dos críticos e temas que serão abordados:

· 14/abril: A decadência da crítica nos jornais e o seu advento em blogs e sites com Sérgio Alpendre (editor da revista eletrônica Paisà, crítico da Contracampo, colaborar esporádico da Folha de S Paulo, UOL Cinema, Cineclick, Revista MOVIE, Zingu e Cinequanon)
· 15/abril: Panorama atual da crítica cinematográfica com Francis Vogner (crítico da revista eletrônica Cinética, professor de cinema e colunista da revista Filme Cultura - que será relançada agora em abril/2010)
· 16/abril (sexta): A Inexistência da crítica na Bahia como reflexo de seu momento cultural com Marcos Pierry (Jornalista e professor de cinema) e André França (professor de cinema e artista visual)


Sobre André Setaro:
Graduado em Direito pela UFBA (1974), mestre em História e Teoria da Arte pela Escola de Belas Artes também na UFBA (1998), atualmente é professor adjunto do Departamento de Comunicação da UFBA. Tem experiência na área de Artes com Ênfase em Cinema, atuando principalmente nos seguintes temas: cinema baiano, discurso cinematográfico, análise fílmica e linguagem. Crítico cinematográfico do jornal Tribuna da Bahia, desde agosto de 1974, manteve uma coluna diária de crítica cinematográfica até 1994, quando passou a escrever apenas uma vez por semana. Colaborador eventual do Suplemento Cultural do jornal A Tarde, já publicou alguns ensaios e críticas de cinema neste periódico. Colunista cinematográfico da revista eletrônica Terra Magazine.


Serviço:
Lançamento dos 3 volumes de Escritos sobre cinema, a trilogia de um tempo crítico.
Caixa com 3 volumes: R$60,00. Venda avulsa de cada livro: R$23,00
Na Saladearte Cinema do Museu, dia 13/abril, às 20h.
Endereço: Av. Sete de Setembro, 2595, Corredor da Vitória - Museu Geológico
Tel: (71) 3338 2241

Oficina Gratuita de Crítica Cinematográfica
na Saladearte Cinema da UFBA, dias 14 e 15/abril, das 9h às 11h30.
Endereço: Av. Reitor Miguel Calmon, s/n, Vale do Canela. No pavilhão de aulas da UFBA do Canela (estacionamento gratuito).
Tel: (71) 3235 9879

Clube da Crítica
na Saladearte Cinema da UFBA, dias 13, 14 e 15/abril, das 16h às 17h30. Entrada franca.
(endereço igual ao anterior)




Ler mais:
http://setarosblog.blogspot.com/2010/04/escritos-sobre-cinema-e-uma-trilogia.html#ixzz0koM7SLYm

quarta-feira, 24 de março de 2010

O SÉTIMO SELO

Por André Setaro

Não apenas um cineasta, mas um autor completo, um pensador que se vale do cinema para refletir suas angústias, suas dúvidas, refletir sobre a condição humana, Ingmar Bergman é um dos maiores realizadores cinematográficos de todos os tempos. Houve uma época, nos idos dos 60 e 70, que o seu nome despertava imensa curiosidade e, por causa dela, formou-se um verdadeiro culto ao diretor, que alguns chamaram de bergmania. Se na primeira fase de sua carreira não conheceu o sucesso nas bilheterias, considerado pelos exibidores um cineasta maldito, a partir dos meados dos anos 60 um mercado se abriu para suas obras. Principalmente na sua fase psicanalítica - Cenas de um Casamento, Face a Face, Sonata de Outono... Os filmes de Bergman que mais aprecio, no entanto, exceção se faça a A Paixão de Ana (1970), e, também a O Silêncio, são aqueles da primeira fase, notadamente O Sétimo Selo Morangos Silvestres, A Fonte da Donzela, Noites de Circo, (nunca o tema da humilhação foi tão bem exposto) Mônica e o Desejo, Sorrisos de uma Noite de Verão, Juventude, entre outros. No frigir dos ovos, entretanto, posso dizer que admiro a todos os seus filmes.
O Sétimo Selo, obra-prima da primeira fase do cineasta, ainda que produzido em 1956, somente em 1976, vinte anos depois de sua realização, foi lançado no Brasil através da distribuidora "Cinema 1" e, aqui na Bahia, apresentado neste mesmo ano no antigo cine Nazaré da Praça Almeida Couto. Já Morangos silvestres obteve estréia ainda na segunda metade do decurso dos 50, conseguindo grande impacto e estupefação na época de seu lançamento.
Alegoria tragicômica em forma de mistério medieval, com um desenvolvimento livre do imaginário da Idade Média, O sétimo selo (Det sjunde inseglet) tem sua fábula estruturada na volta de Antonius Blok (Max Von Sydow) à Suécia após dez anos de luta na cruzada e o jogo que estabelece com a Morte num tabuleiro de xadrez. Antonius e seu lacaio Jons (Gunnar Blornstrand) se dirigem, por uma longa jornada, ao castelo onde moram, e, no caminho, contemplam uma terra arrasada pela peste. Este itinerário de Blok, do erro inicial à Verdade final, é conduzido com extrema maestria por Ingmar Bergman, que se utiliza, aqui, do cinema, como um veículo "filosofante" e reflexivo acerca da condição humana. No percurso, Blok e Jons encontram vários personagens mas apenas um casal de artistas mambembes se constitui num remanso de paz e tranquilidade, longe da mesquinharia e da hipocrisia dos outros. Blok, entretanto, continua o jogo de xadrez com a Morte (impressionante caracterização de Bengt Ekerot), mas esta, de repente, ganha partida. Vencedora, precisa levar consigo todos os personagens, deixando na vida somente o casal de cômicos (Bibi Andersson e Nils Poppe), o único capaz de desfrutá-la de maneira pacífica e feliz.
O Sétimo Selo, antes da consagração definitiva que se daria, um ano depois, em Morangos silvestres, já coloca Bergman, no panorama internacional, como um dos grandes cineastas do século XX. Trata-se de um filme, a rigor, gnoseológico em que se estuda a origem e a possibilidade do conhecimento por parte do homem. Por autor, os filmes de Bergman se constituem, na verdade, em variações sobre um mesmo tema. Em todos eles, presentes: a incomunicabilidade dos seres, a angústia do estar-no-mundo, a inevitabilidade e o mistério da morte, os tormentos da relação amorosa...
O sétimo selo volta às raízes do cinema nórdico de Victor Sjostrom e Mauritz Stiller, à floração sueca, quando a natureza tinha uma forte influência no comportamento das personagens. Assim, Det sjunde inseglet pertence à série de filmes que Bergman realizou e que possuem um decór histórico, ainda que o fato de a ação localizada na Idade Média não tira a esta obra magistral seu caráter contemporâneo. O homem que Bergman estuda é o homem do aqui e do agora.Veja-se o caso dos dois protagonistas principais, o Cavaleiro e seu lacaio, que formam, a seu modo, um binômio no qual se debate o tema das fontes das possibilidades de conhecimento - não somente o conhecimento de Deus mas de tudo aquilo que escapa à constatação estrita dos sentidos.
Elementos de mistérios - a bruxa, a peste, a procissão penitencial.., simbolismos e participações insólitas, como a personagem da Morte, criam, em O sétimo selo, um clima tenso ao qual contribuem uma planificação e uma iluminação ( do artista Gunnar Fischer antes de Bergman trabalhar com o iluminador Sven Nykvist) cuidadas com esmero.Aposentando-se antes dos 70 anos, com o filme-síntese "Fanny e Alexander", Ingmar Bergman despediu-se do cinema prematuramente para se retirar e viver em sua ilha particular. Depois do ensaio, filme que realizou para a tv, não é considerado pelo autor sueco obra "para cinema". A ausência de Bergman apresenta uma lacuna para o cinema contemporâneo, pois a escassez de cineastas-pensadores é, muito mais que impressionante, assustadora. A visão de O sétimo selo, em sua versão restaurada e íntegra, surge, portanto, como uma grande oportunidade de se entrar em contato com um dos mestres supremos da sétima arte nestes derradeiros momentos do século XX.
Em O sétimo selo, como a afirmar a condição de autor do cinema moderno, Bergman mostra uma constância temática e estilística, um universo ficcional próprio e um estilo - que faz o artista! - pessoalíssimo. À guisa de um pequeno exemplo, que se veja alguns personagens secundários, os quais, vêem se repetindo nos filmes de Bergman de filme a filme: o casal dos artistas ambulantes (presentes desde Noites de Circo até O Rosto; a controvérsia estabelecida entre o ferreiro e sua mulher - contraponto e complemento.
Nas palavras do ensaista Claude Beylie (no indispensável As obras-primas do cinema, Martins Fontes): "A mensagem é clara. Continuamos ameaçados pela peste, que se chama, hoje, guerra nuclear, e, diante deste perigo, não há outro recurso além dos corações puros. Bergman opõe ao fanatismo e à intolerância, "O leite da ternura humana". No entanto, seu filme nada tem de dogmático. Ele joga o jogo da ingenuidade iconográfica, desenvolve livremente o imaginário medieval. Faz-nos pensar em Durer, nas xilogravuras de Hans Beham, na "dança macabra" de Orcagna. A reflexão filosófica é irrigada sem cessar por um onirismo límpido e, até, por traços de humor, notadamente através do personagem do escudeiro.

quarta-feira, 10 de março de 2010

COPPOLA EM SALVADOR!

Tuna Espinheira e André Setaro

Por André Setaro

O cineasta baiano Tuna Espinheira, autor do longa Cascalho, baseado em livro homonimo de Herberto Salles, cochicha, em off, sobre a possibilidade de Francis Ford Coppola vir a Salvador para fazer um filme sobre a cultura negra. Estupefato, e, mesmo assim, meio assombrado, ouso o que ele diz. "Posso colocar no meu blog?", perguntei, mas ele diz que ainda é um "segredo de estado." Mas creio não estar a revelar os detalhes, que são, estes sim, significativos e provocaria, na certa, um certo trauma no corporativismo dos cineastas ditos baianos. E nada mais digo.Ler mais: http://setarosblog.blogspot.com/#ixzz0hkewavPl

quarta-feira, 3 de março de 2010

MANOEL DE BARROS " SÓ DEZ POR CENTO É MENTIRA"

Manoel de Barros, no período de lançamento do filme, tinha 93 anos, cerca de 20 livros publicados e vivia em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.


ficha técnica:
título original:Só Dez por Cento é Mentira
gênero:Documentário
duração:01 hs 16 min
ano de lançamento:2010
site oficial:http://www.sodez.com.br/
estúdio:Artezanato Eletrônico / Vite Produções / Associação Jangada
distribuidora:Downtown Filmes
direção: Pedro Cezar
roteiro:Pedro Cezar
produção:Pedro Cezar e Kátia Adler
música:Marcos Kuzca Cunha
fotografia:Stefan Hessdesenho de produção: -->
direção de arte:Márcio Paes
figurino:
edição:Júlio Adler e Pedro Cezar
efeitos especiais:

domingo, 14 de fevereiro de 2010

O BANDIDO DA LUZ VERMELHA

Por Beto Magno

Paulo Villaça e Helena Ignez (cena do filme O Bandido da Luz Vermelha)

Rogério Sganzerla (Joaçaba, 26 de novembro de 1946 — São Paulo, 9 de janeiro de 2004)

Desde cedo, Sganzerla manifestou sua vocação para o cinema. Casou-se com sua própria musa do cinema (a atriz Helena Ignez), viveu para o cinema e morreu fazendo cinema.
De natureza intelectual, leitor e escritor precoce, formado desde a adolescência na leitura de diversas tradições artísticas e de vanguardas mundiais. Antes de começar sua produção cinematográfica, ainda muito jovem, foi acolhido por Décio de Almeida Prado, que na época dirigia o Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo, e seu texto de estréia foi sobre Os Cafajestes, filme de Ruy Guerra de 1962.
Continuou no Suplemento e colaborou também com o Jornal da Tarde. Sempre escrevendo sobre cinema.Em 1967 realizou seu primeiro curta-metragem titulado como Documentário.
E em 1968 seu primeiro longa-metragem foi rodado, o consagrado O bandido da luz vermelha. Estrelado por Paulo Villaça, perfeito no papel de um psicopata, o filme caiu como uma bomba no colo de uma intelectualidade que repetia feito papagaio o discurso pós-moderno de Michel Foucault e outros ideólogos que radiografaram a ascensão dos discursos das minorias. Com uma violência estilizada, tataravó do estilo “Pulp Fiction”, “O Bandido da Luz Vermelha” acompanhava o bafafá criado pelas ações de um ladrão, assassino e estuprador que representava uma metáfora da ação do poder repressor.Anos antes de Stanley Kubrick abordar realidade similar com seu “Laranja Mecânica”, Sganzerla chocava com sua experiência visual rica em referências à cultura nacional, incluindo MPB, literatura e o próprio cinema. Já ali aparecia Helena Ignez como a ninfa que inspira o gênio criador do cineasta. Lançado em 1968, o filme deixou a crítica, que ainda procurava se acostumar com os desvarios estéticos dos cinemanovistas, de cabelo em pé. Afinal, ali ganhava maturidade e voz grossa de adulto um novo projeto de se abordar a realidade brasileira na tela grande. Projeto este batizado como “Cinema Marginal”, que ganhara vida no ano anterior com o lançamento de “A Margem”, obra-prima de Ozualdo R. Candeias, calcado na pobreza de quem está na periferia do grande capital. Até hoje, no cenário acadêmico há quem prefira “O Bandido da Luz Vermelha” a “Deus e o Diabo na Terra do Sol”.
Em instituições públicas de ensino de cinema, como a Universidade Federal Fluminense, no Rio, e a Universidade de São Paulo, existem legiões de estudantes que enxergam em Sganzerla um mito de renovação e revolução estética. E, por isso, sua obra mais popular é tema de pesquisas e estudos, como o de Fernão Ramos, aclamado pesquisador e autor do livro “Cinema Marginal”. “’O Bandido da Luz Vermelha’ é um filme singular em diversos aspectos. Por seu ineditismo, já incorpora uma certa desenvoltura em relação à utilização irônica da narrativa clássica, embora seja ainda marcado pelo Cinema Novo”, afirmou Fernão em seu livro.
“Faltou linguagem depois do ‘Bandido’. Ninguém está se mancando. Naquele momento estávamos sintonizados.
Nós éramos muito cultos naquele momento. Faltaram condições históricas para não deixar acontecer. Os produtores se tornaram muito ingênuos, não entendiam mais nada de cinema. O cinema tem de ter linguagem. Tem de ter estrutura. Em São Paulo perdeu-se a sintaxe do cinema e perdeu-se também até a dignidade do cinema. E não se culpem os realizadores por isso”.

PRIMEIRO DOCUMENTÁRIO DE ROGÉRIO SGANZERLA

Por André Setaro

Documentário é o primeiro filme de Rogério Sganzerla, um curta em torno de 10 minutos, realizado em 1966, já revelador de um estilo que colocou em prática principalmente no explosivo O bandido da luz vermelha, dois anos depois, em 1968 (que é um dos mais fascinantes filmes da história do cinema brasileiro em todos os tempos). Dois rapazes (um deles, Andrea Tonnacci, que se tornaria um dos nomes mais importantes do chamado cinema marginal - Bang Bang e, há alguns anos, realizou o premiado Serras da desordem), na capital paulista, andam pelas suas ruas à procura de algo para fazer. Durante o trajeto, conversam bastante sobre os mais variados asuntos, principalmente de cinema. Enquanto isso, cartazes de filmes vão sendo mostrados como as fachadas das mais sensacionalistas salas de exibição de SP. Nunca tinha visto este filme que inicia o autor de O bandido da luz vermelha nas imagens em movimento. A oportunidade surgiu agora via You Tube.

Ler mais: http://setarosblog.blogspot.com/2010/02/o-primeiro-filme-de-rogerio-sganzerla.html#ixzz0fYrYchzb

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

MORRE TIMO DE ANDRADE


Por André Setaro
Timo Andrade (1944/2010) in Memoriam

José Oswald Guerrini de Andrade, mais conhecido como Timo Andrade, foi levado pela Implacável semana retrasada aos 65 anos (faria 66 dia 1 de maio), deixando seus amigos e colegas consternados com o seu falecimento. Sobre ter sido um excelente técnico de som, Timo era uma pessoa gentil, de lhano trato e possuía um senso de humor bastante aguçado, que dava a impressão de estar a rir do absurdo da existência, da comédia humana. Além do profissional competente, Timo gostava muito de tomar umas e outras (e o dito aqui é um elogio). Sabia, como poucos, entornar, sem que, com isso, se transtornasse, mas, ao contrário, ficava sempre sóbrio na sua composição etílica, salvo, evidentemente, e ninguém é de ferro, em raras ocasiões. Quem, em sã consciência, pode suportar a dura realidade da vida sem tomar umas três doses de scotch? já dizia Humphrey Bogart. Ao contrário dos dias de hoje, egoísticos, individualistas, consumistas, era amigo de seus amigos. Conheci Timo lá pelos anos 70, e, vez por outra, encontrava-o, vermelho, com cara de felicidade, sorriso aberto, nos colons da vida.

Neto do famoso Oswald de Andrade, sobrinho de Rudá, que faleceu também, José Oswald Guerrini de Andrade largou São Paulo (onde tinha tudo para circular folgado nos meios artísticos e intelectuais) para adotar a Bahia como morada da felicidade. Em 1981, trabalhei como ator-canastrão em O cisne também morre, de Tuna Espinheira, no papel de um dono de funerária. O filme, retrato de um tempo boêmio que não mais existe, inspirado na figura etérea do grande poeta Carlos Anysio Melhor, é um dos poucos trabalhos de ficção do documentarista Tuna (o outro: o longa Cascalho, baseado no romance homônimo de Herberto Salles). Lembro-me bem que houve uma sequência numa funerária do Terreiro de Jesus que durou quase o dia inteiro a entrar madrugada adentro. Para esperar as tomadas, ficava com Timo e outros companheiros da equipe, a tomar cervejas num barzinho em frente. O cinema, para o ator (não sou ator, mas já participei de poucos filmes como tal) é esperar a próxima tomada.

Seu currículo é extenso. Foi som-guia, em 1975, de Tenda dos milagres, que Nelson Pereira dos Santos filmou na Bahia segundo o livro de Jorge Amado. Trabalhou muito com Agnaldo Siri Azevedo (O boca do inferno, Creio em ti São Jorge dos Ilhéus, Não houve tempo sequer para as lágrimas, Memórias de Deus e o Diabo em Monte Santo e Cocorobó, Suite Bahia, A volta do Boca do Inferno, As philarmônicas, entre muitos outros), Tuna Espinheira (Maculelê, Seca verde, A seca no lago de Sobradinho, o já citado O cisne também morre etc), Guido Araújo (A morte das velas do Recôncavo, Ilhas da esperança, O Raso da Catarina, uma reserva ecológica), Fernando Cony Campos (O box amador, Semana de arte e educação...), Ipojuca Pontes (Memórias de Canudos), Roberto Gaguinho (Casa de taipa, Os que dormem do lado de fora), Plácido Campos Junior (Curumim na terra do sol), João Baptista Reimão (Daniel, o capanga de Deus), Rino Marconi e Tasso Franco (O lixo), Chico Drummond (Regalia de balaio), Arnold Conceição (O rio da vida), Fernando Bélens (Fibra), Pola Ribeiro (A lenda do Pai Inácio), Gofredo da Silva Telles Neto (Brasilíndia), Rubens Rocha (O sertão dos tocós), Otávio Bezerra (A resistência da lua), Walter Pinto Lima e Carlos Vasconcelos Domingues (O império do Belo Monte), Chico Liberato (O boi Aruá, desenho animado baiano de longa metragem), Luis Celso Campinho (Riscada do mapa), Luis Wenderhausen (Ursula), Chico Botelho (Janette, como assistente de produção), Almir Freire (A palavra aretê), entre muitos e muitos outros. Trabalhou também em importantes agências de publicidade. E foi o organizador do livro Dia seguinte e os outros dias, de seu avô Oswald de Andrade (Editora Cótex)
Quem me comunicou o falecimento de Timo Andrade foi Tuna Espinheira, quando ainda estava em Tiradentes. Assim se manifestou sobre o amigo e colega:

"Timo subverteu a ordem natural do êxodo. Nascido e criado na Paulicéia Desvairada, neto de Oswald de Andrade, sobrinho de outro Andrade, Rudá, tinha, portanto, régua e compasso e jogo de cintura próprio, para transitar com facilidade nas rodas da arte/cultura paulistana. Deixou o campo florido, escolheu a aventura. Um belo dia, obedecendo os ditames da sua própria cabeça, arrumou o matulão, pegou um Ita no sul e veio dar com os costados na Bahia de Todos os Exús.
Era um amigueiro profissional, bom de copo, dono de humor de boa cepa.

Tornou-se, em pouco tempo, em um baiano autêntico, com a marca emblemática, desta sua cidadania ter sido por obra e graça, com o Amem e a benção dos Anjos, da opção/devoção.
Aqueles que o conheceram nas aventuras cinematográficas, produções franciscanas, nesta renitente província, bem sabem do companheirismo, da presteza, deste membro de equipe, pau pra toda obra, sempre disposto, “sin perder La ternura jamás”.

Timo terá sempre um lugar no imaginário/memória, dos verdadeiros amigos, ele que, muitas vezes, desassombrado, rompia a barreira da amizade para se tornar um cúmplice.
Saudades e um brinde ao personagem Timo Andrade"


Tuna Espinheira


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

JÚRI DO FESTIVAL DE CINEMA DE TIRADENTES-MG

Não cheguei a tirar dentes

Por André Setaro

1) Morreu Timo Andrade, eficiente técnico de som que trabalhou na maior parte dos documentários feitos na Bahia nas décadas de 80, 90 e nesta última que se finda agora em 2010. Sobre ser um profissional de mão cheia, caracterizava-se pelo bom humor, que nunca negava um sorriso ao interlocutor. E, importante, era também um profissional do copo. O que o elevava da rotina e do tédio. Mas vou postar, noutro dia, um escrito mais detalhado sobre a figura e a trajetória de Timo Andrade (Andrade ilustre porque parente de Oswald. Sim, o autor de O rei da vela).
2) Quando bato estas mal traçadas, acabei de chegar de Tiradentes, cidade histórica de Minas Gerais, que tem um mostra importante de cinema há treze anos. Fui convidado para fazer parte do júri da crítica da Mostra Aurora (veja a foto do pessoal reunido)
3) Impressionante, para uma cidade pequena, o número de pousadas que tem Tiradentes. Perto de cem, segundo me informou um proprietário de uma delas. Todo mês de janeiro a cidade vira palco do cinema brasileiro com a sua já consolidade Mostra de Tiradentes, coordenada com o dinamismo e a eficiência de Raquel Hallak. E as pousadas são, quase todas, agradáveis, limpas, atmosféricas. Fiquei numa delas durante 7 dias, com atividade diária obrigado que estava a ver os filmes da Aurora. Mas o evento não se limitou a esta. Uma profusão de mostras de curtas, várias oficinas, debates dos filmes apresentados com os diretores e um crítico escolhido, seminários etc. Trés os júris: o do voto popular, e, na Aurora, o júri jovem constituído de estudiosos da análise fílmica, e o júri da crítica. O filme que ganhou, O caminho de Ythaca tem ecos do cinema marginal e uma proposta atual e interessante. Agradou tanto que foi duplamente premiado: pelo júri da crítica e pelo júri jovem.
4) Produzido para a Televisão Educativa da Bahia, Na Cena, clips diários veiculados pela tv, uma realização dos inquietos Raul Moreira e Cássio Sadder, esteve em Tiradentes para, segundo a sua equipe, revelar os paradoxos do evento. Os clips possuem certa non chalance e muita ironia. Moreira é um baiano que virou italiano e, depois, voltou a ser baiano. Na Cena não tem rabo preso nem vínculo chapa branca, ainda que seja uma realização da TVE. Mas, neste particular, Moreira e Sadder trabalham com ampla liberdade e não são afeitos a dormir de touca. Audazes e malditos na boa acepção da expressão. Para ter uma idéia das pérolas moreirianas e sadderianas: www.youtube.com/pgmnacena
5) Tiradentes lembra muito Cachoeira, mas a diferença está nos serviços oferecidos. Excelentes pousadas e não menos excelentes restaurantes. Já em Cachoeira, exceção se faça a uma pousada, poucas as opções de uma hospedagem confortável, assim como bares e restaurantes. Com a instalação da Universidade Federal do Recôncavo tudo leva a crer que a cidade histórica de Cachoeira venha a se revitalizar. Nos anos 80, Guido Araújo realizou a sua jornada de cinema em Cachoeira por duas vezes seguidas. Mas a precaridade dos alojamentos para tanta gente fê-lo desistir. E os filmes, nas jornadas cachoeiranas, eram exibidos num antigo cinema com projeção a desejar. Já o Cine Tenda de Tiradentes é um espaço ideal para um evento. Além de uma sala de projeção excelente, há, no espaço da tenda, um bar que fecha quando a madrugada dá o sinal, lojas, espaço para shows (que acontecem todos os dias meia-noite) etc. Mas o Cine Tenda tem uma duração efêmera. Montado para a Mostra Tiradentes, dia seguinte ao encerramento do festival é completamente destruída para ser montada de novo no ano seguinte.
6) Clint Eastwood faz um filme atrás do outro e está sempre a surpreender como parece ser o caso do recente Invictus, que mostra como Nelson Madella conseguiu superar os obstáculos entre raças por causa da emoção de um jogo de rúgbi. Morgan Freeman, dizem, está em sua quitessência como ator na pele de Mandella. E tem também o talentoso Matt Damon. Ainda não vi Invictus, mas já posso prever que vou gostar. Eastwood é um dos poucos que ainda se podem dizer cineastas na barbárie do cinema contemporâneo.

7) Na foto (clique na imagem para vê-la maior), o júri da crítica. Da esquerda para a direita, Denílson Lopes (RJ), Luiz Carlos Merten (SP), Luciana Corrêa de Araújo (SP), André Brasil (MG), e André Setaro (BA).


Ler mais: http://setarosblog.blogspot.com/2010/02/nao-cheguei-tirar-dentes.html#ixzz0eJdNiyhe

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

FILMES ESPERADOS PARA 2010

Os filmes que serão lançados em 2010 estão sendo já muito procurados por quem adora a sétima arte. O trailer de muitos deles ainda não está sendo disponibilizado, mas a partir de Dezembro as pessoas já poderão conferir muitas novidades do cinema, nem todas, mas boa parte.

Quando falamos de filmes de 2010 que serão lançamentos relacionados à comédia, temos como exemplo: Kung Fu Kid e Como Cães e Gatos 2. Estes serão lançados dia treze de Agosto e também dia três de Setembro do próximo ano. Estas são apenas duas das comédias que farão parte da lista de filmes que serão lançados em 2010.

Já quando falamos de drama, os filmes que serão lançados em 2010 são: Salt e Brilho de uma Paixão, sendo este um dos mais esperados de todos os tempos. Grandes sucesso de Harry Potter e também da saga Crepúsculo também serão lançados no próximo ano, mas é necessário um pouco mais de paciência para conferir as novidades em detalhes.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

MOSTRA DE CINEMA DE TIRADENTES - MG


Já se encontra em sua décima-terceira edição a Mostra de Cinema Tiradentes, evento cinematográfico que se consolidou como um dos mais importantes do Brasil. Tem início na sexta próxima, dia 20, e irá até 30 de janeiro, com mostras de filmes, oficinas, seminários, mesas redondas etc, uma verdadeira jornada para quem quiser acompanhar como anda o cinema brasileiro contemporâneo.

Ao contrário da maioria dos festivais, que se caracterizam mais pela festa, a Mostra Tiradentes, sobre ser um evento quase paradisíaco pela sua localização numa cidade histórica, é uma mostra concentrada não somente na exibição das últimas novidades da cinematografia nacional, mas revestida de um imenso debate sobre a linguagem, a estética e a economia do cinema que se faz neste país.

Fui convidado para participar do júri de filmes de jovens cineasta, o Aurora, e devo estar ausente a partir de domingo, dia 14, quando viajarei para a paisagem de Guimarães Rosa, e, volto no outro domingo, dia 31. Já fui a Tiradentes há exatos quatro anos, quando participei, lá, de um seminário sobre crítica de cinema. A organização do evento é exemplar e tem à frente a dinâmica Raquel Hallak, que, com o sucesso alcançado em Tiradentes, já consolidou outros, como o de Ouro Preto e Belo Horizonte.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

UM GÊNIO DO CINEMA: ALAIN RESNAIS

Alain Resnais e um de seus atores prediletos André Dussolier


Alain Resnais, gênio do cinema, em foto do último festival de Cannes, ao lado de um de seus atores preferidos, André Dussolier. Quando elaborei a lista dos melhores do ano para o Terra Magazine, que foi publicada na terça passada, ainda não tinha visto As ervas daninhas (Les herbes folles). Faço aqui uma retificação. Les herbes folles é, disparado e sem qualquer sombra de hesitação, o melhor filme de 2009. Impressionante que um realizador (1922), que vai fazer 88 anos neste 2010, ainda tenha fôlego para inventar no cinema. Considero Resnais o maior cineasta vivo, um dos últimos moicanos do grande cinema. Hiroshima, mon amour, seu primeiro longa (1959), tramatizou, pela sua beleza, pelo seu assombro, toda uma geração e, logo em seguida, 1961, estabelecia o espetáculo puro, o puro cinema em O ano passado em Marienbad (L'année derrière en Marienbad), que deixou de queixo caído boa parte da crítica. E vejam que elegância: todo de preto, apenas com a camisa vermelha, e óculos escuros, bem pretos. Sua figura é a figura da própria mise-en-scène. Alain Resnais é um inventor de fórmulas, um cineasta que eleva o cinema à categorian de obra de arte. Como bem atesta este recente Les herbes folles.

Mas, mudando do vinho para a água, é lamentável o que o Telecine Cult (volto a bater na mesma tecla) vem a praticar com os filmes originariamente rodados em CinemaScope. Comecei a ver A lança partida (Broken lance), de Edward Dmytryk, que tem a apresentação dos créditos na tela larga ou em letter box, mas, de repente, findo estes, a tela se espicha e o full screen toma conta de todo o espaço de seu aparelho televisivo. Um atentado à integridade da obra cinematográfica, um soco na cara do cinéfilo interessado na preservação do filme em seu formato original. A pancada foi tão forte que, incontinenti, desliguei a televisão e não vi o que queria ver. Ou melhor: rever, pois filme visto na infância e que ainda guardo boas recordações. Dmytryk faria outro western anos mais tarde: Minha vontade é lei (Warlock), com Richard Widmark, Henry Fonda, Anthony Quinn. Broken lance tem Spency Tracy, Robert Wagner ainda muito jovem, e Jean Peters. É um western também, o cinema americano por excelência na célebre definição de André Bazin, bem típico daquela época. O Cult preserva, porém, o formato CinemaScope em outros filmes e ainda não entendi direito a razão de manter o formato em alguns e massacrá-lo em outros. Hoje mesmo acabei de ver, em esplêndido CinemaScope, Carmem Jones, de Otto Preminger, com Harry Belafonte.



Treleio o importante livro de entrevistas entre François Truffaut e o mesmo Sir Alfred Hitchcock. Mais do que uma análise perfuratriz da filmografia hitchcockiana, é um livro sobre o processo de criação no cinema. Hitch, à sua maneira, foi um grande inventor de fórmulas (como Resnais). Intriga internacional (North by northwest, 1959), filme para se ficar vendo e revendo para aprender um pouco de cinema, é uma obra de pura mise-en-scène (vá lá o termo de novo).

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

ERICH ROHMER


Uma das principais figuras da Nouvelle Vague, Erich Rohmer desapareceu aos 89 anos - idade, convenhamos, boa para se morrer. Crítico da Cahiers du Cinema no auge de sua fama (anos 50 e 60), a partir de 1959, quando realiza o seu primeiro longa, O signo do leão, começa uma filmografia singular, original e sem concessões. Autor de Le cinema selon Hitchcock, escrito em parceria com Claude Chabrol, Rohmer defendia, com unhas e dentes, a excelência cinematográfica do mestre Hitch, assim como alguns cineastas americanos de sua preferência, a exemplo de Nicholas Ray.

Como exegeta de filmes, gostava de cineastas da ação e da emoção, mas, enquanto cineasta, um cineasta quase da inação, caracterizava-se por filmes nos quais os diálogos eram abundantes. Os diálogos, nos filmes de Eric Rohmer, eram um condutio para a expressão de suas idéias em seus contos morais e nas suas comédias e filmes proverbiais. Entre os seus filmes, destacam-se Conto de primavera, Conto de verão, Conto de inverno, Minha noite com ela (Ma nuit chez Maud, 1969), com Jean-Louis Trintgnant, A duquesa e o duque, O raio verde, e outros, muitos outros. Rohmer era um cineasta da palavra.

Até os anos 90, era muito difícil ver um filme de Eric Rohmer. Um ou dois foram lançados comercialmente e um deles, Minha noite com ela, já no ocaso da década de 60. Mas nos 90, a Estação Botafogo, quando planejou uma retrospectiva do autor, nunca pensou no sucesso que atingiria. O êxito, surpreendente, fez com que alguns filmes permanecessem por muito tempo em exibição, a provocar, com isso, um rohmerismo entre os cinéfilos mais atentos e exigentes - Rohmer não é para qualquer cinéfilo meia-sola.

A morte deste autor reverenciado - e apreciado por poucos - se dá quando faltam dois meses para o cineasta completar os rigorosos 90 anos. Entre outros filmes do realizador de Ma nuit chez Maud: O joelho de Claire (Le genou de Claire,1970), que foi lançado no mercado brasileiro ainda que meio escondido e com lançamento queimado em outras capitais, Noites de lua cheia (Les nuits de la pleine lune, 1994), A mulher do aviador (La femme de l'aviateur, 1981), Perceval le gallois (1978), Pauline na praia (Pauline à la plage, 1983), L'amour l'après midi (que tenho especial admiração) etc. Para gáudio dos rohmeristas, a Europa tem em seu acervo de DVDs vários de seus filmes.

Esta mesma Europa que massacrou, pondo-o em full screen, o belo Menina de ouro, de Clint Eastwood, e gosta muito de enganar o consumidor alterando os formato soriginais de seus filmes originariamente feitos em cinemascope e espichados para a tela cheia. Mas em relação a Rohmer, a Europa se comportou direitinho.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

PESQUISA

PÉS DUROS E MELETES

“Povo sem história é povo ignorado, povo esquecido, sem nome, sem valor”.
Aníbal Lopes Viana

Vitória da Conquista é um município brasileiro do estado da Bahia. Sua população, conforme o IBGE, em 1º de Julho de 2008, era de 313.898 habitantes, o que a torna a 3ª maior cidade do estado e também do interior do Nordeste (excetuando-se as regiões metropolitanas).
Possui um dos PIBs que mais crescem no interior desta região. Capital regional de uma área que abrange aproximadamente 70 municípios na Bahia, além de 16 cidades do norte de Minas Gerais. Tem a altitude, nas escadarias da Igreja Matriz, de 923 metros podendo atingir mais de 1.000 metros nos bairros mais altos. Possui uma área de 3.743 km².

História:

Rua_GrandeO Arraial da Conquista foi fundado em 1783 pelo sertanista português João Gonçalves da Costa, nascido em Chaves em 1720, no Alto Tâmega, na região de Trás-os-Montes que com dezesseis anos de idade, veio para o Brasil a serviço de D. José I, Rei de Portugal, com a missão de conquistar as terra ao oeste da costa da Bahia.
Anteriormente já havia lutado ao lado do Mestre-de-Campo João da Silva Guimarães, líder da Bandeira responsável pela ocupação territorial do Sertão, iniciada em 1752. A origem do núcleo populacional está relacionada à busca de ouro, à introdução da atividade pecuária e ao próprio interesse da metrópole portuguesa em criar um aglomerado urbano entre a região litorânea e o interior do Sertão. Portanto, integra-se à expansão do ciclo de colonização dos fins do século XVIII.

Lindoya.

Lindoya.

Quando se fala em história de um povo, a cidade de Vitória da Conquista possui uma das mais belas. Não é uma história simples, acomodada, pobre em acontecimentos. Mas, antes de tudo, uma história rica, contundente, marcada por fatos que não saem da cabeça das pessoas, principalmente daquelas de mais idade. Sangue, violência, bondade, sabedoria, benevolência, trabalho, poesia, fatos hilariantes, dinamismo, coragem, arrojo, visão, fé. São alguns dos ingredientes preponderantes na história de nossa cidade.

Clube Social.

Clube Social.

Não se trata de sermos saudosistas, preso ao passado. O que nos faz voltar ao passado para pesquisar nossa história ou qualquer outra história nos ajuda a compreender nosso presente e refletir, deduzir e produzir o nosso futuro. Entendo o porquê de ter escutado muitas pessoas dizerem que os anos 50, 60 e 70 foram os melhores anos para se viver, pois quando olhamos para uma fotografia antiga nós resgatamos aquele elo entre a foto e a emoção gerada por ela, relativa ao período vivido. Na grande maioria das vezes, são lembranças boas e positivas porque nos ligamos aos saudosos valores da época, momentos felizes, a paz da época, o encontro na praça ou nas portas das casas para um bate-papo descontraído no final da tarde, a música que marcou uma época, a serenata, o serão, uma brincadeira, a disciplina, o respeito. Enfim, nos lembramos de algo que era bom, mas que na época não valorizamos e que sentimos falta agora.

Alguém pode ver as fotos e achar que as informações são superficiais, mas a depender do interesse e da curiosidade de cada um, talvez cada foto seja apenas o ponto de referência para uma pesquisa mais aprofundada. Têm-se a possibilidade de se escrever vários livros com temas inspirados em várias fotos. Poderíamos analisá-las, tendo como base o que representava naquele momento e com certeza quem quiser aprofundar algum tema irá encontrar várias possibilidades.

Curiosidades
:

Um Príncipe Alemão em Conquista. Como um príncipe veio parar aqui?
No ano de 1817, passou pelo então Arraial da Conquista vindo de Minas Gerais um príncipe Alemão Maximiliano Alexander Philip nascido no palácio de Wied Neuwied, em 1782. Chegou à Paraíba em junho de 1815, em julho desembarca no Rio de Janeiro. Em março de 1817 passou pelo Arraial da Conquista, naturalista e conhecedor de botânica, encontrou na região de Conquista espécimes raras da flora e fauna dos trópicos, que foram recolhidas e levadas para a Alemanha, onde foram depositadas em museus e universidades daquele país.
Ele conta que encontrou no Arraial o capitão-mor Antonio Dias de Miranda, filho de João Gonçalves da Costa que ficou alojado em sua casa. O Arraial de Conquista é quase tão importante quanto qualquer vila do litoral. Contando-se aí umas quarenta casas baixas e uma igreja em construção por conta de João Gonçalves da Costa e do capitão-mor Miranda, já que os moradores são pobres. A venda de algodão e a na geração de recursos para os moradores. Grande parte dos moradores do Arraial compõe-se de trabalhadores e de rapazes desocupados, que ocasionam muitos distúrbios, pois não há polícia nesta localidade. A malandrice e uma inclinação imoderada para as bebidas fortes são traços distintivos do caráter desses homens; daí resulta disputas e excessos freqüentes que torna detestável esse lugar, de má fama para as pessoas mais sérias e consideradas, que vivem em suas fazendas espalhadas em torno. Fomos freqüentemente incomodados por pessoas embriagadas que nos aborrecia. Trazendo cada um, como é perigoso costume da terra, um estilete ou um punhal na cintura, esses homens grosseiros e imorais, que nenhuma espécie de vigilância contém freqüentes assassínios e outras violências. Eis porque nunca será demais recomendar aos viajantes que procedam com a máxima cautela em Arraial da Conquista, para evitarem, para si e para o seu pessoal, aborrecimentos muito sérios.
Em novembro de 1817, retorna para a Europa, levando consigo o índio civilizado, de nome Quack, que o acompanhou durante sua expedição. Em 1840 foi eleito membro da Academia de Ciências Prussianas
Estes são alguns relatos do Príncipe sua passagem por Conquista. Visitando Mucugê me chamou a atenção a informação de que outros dois príncipes alemães que passaram por lá, então já era normal a visita deles aqui no Brasil na época.

Os índios:

As nações, Pataxó, Ymboré (Aimoré – Botocudos) e Mongoió foram os primeiros habitantes da uma vasta região denominada “Sertão da Ressaca” que era delimitada pelos rios das contas, Pardo e Jequitinhonha. Cada nação indígena tinha suas características:

Ymboré ou Botocudo:

BOTOCUDOSViviam em uma extensa faixa de terra entre Minas Gerais, Ilhéus, Porto Seguro e Espírito Santo. Tinham como característica a capacidade de se dividirem em inúmeros subgrupos e se dispersarem em extensas áreas, dando a impressão de serem em maior numero do que realmente eram. Ganhou dos portugueses o nome de Botocudo pelo fato de usarem nas orelhas e nos lábios um ornamento chamado botoque, que eram colocados em rituais. Eram considerados canibais, mas não há nada que comproves essa hipótese.
Segundo descrição do príncipe Maximiliano, eles tinham a cor avermelhada, cabelos fortes e pretos, duros e lisos, considerados bravos e muito temidos lutaram e resistiram até o seu extermínio, pela manutenção do seu território. Eram nômades, viviam da caça, pesca, frutos e raízes. Gostavam de pintar o corpo e usavam o urucum e o jenipapo, gostavam do vermelho e preto. Às vezes, usavam pinturas longitudinais, colorindo um lado de preto e deixando o outro sem pintura para representar a noite e o dia.

Pataxó:

Habitavam a área entre os rios Cachoeira e Pardo. Eram nômades, andavam em pequenos grupos sendo uma das últimas tribos a serem dominadas pelos portugueses após constantes ataques que provocaram a redução da tribo.
Não tinham aparência física diferentes, de estatura mediana, não se pintavam e quando pintavam faziam traços nas cores vermelho e preto. Ainda segundo o príncipe “os Pataxós se aliavam contra os Ymborés e tratavam os prisioneiros como escravos. Eram desconfiados e reservados, e não aceitavam que os filhos fossem criados entre os brancos, como as outras tribos o fazem prontamente”.
Viviam da caça e frutos e o animal predileto para sua alimentação era o macaco. Não davam muita importância para a pesca.
Mongoió:

Viviam entre os rios Pardo, Jequitinhonha e das Contas. Eram fortes de estatura mediana de pele morena. Também foram colonizados, porém, lutaram bravamente para defender seu território. Viviam da caça, da pesca e diferente das outras tribos, os Mongoiós praticavam a agricultura, plantavam batata-doce, feijão, banana, milho, melancia etc. O plantio era realizado no período das chuvas. Também gostavam de pintar-se com a s cores pretas e vermelhas. Com o contato com os missionários passaram a pintar a imagem da cruz na testa. Com o aumento da colonização os mongoiós passaram a vender seus produtos às tribos e as aldeias vizinhas.
As festas eram regadas a cauim bebida à base de milho, feita pelas mulheres. Curiosamente, elas tinham que mastigar o milho. Após a mastigação, o milho era cuspido em um recipiente feito do tronco da barriguda preparado para esta finalidade. Acrescentava-se água fervendo e levava ao fogo.

Banquete da morte:

Conta o príncipe que: “João Gonçalves depois de ordenar a seus homens que tivessem as armas prontas, convidou todos os índios para uma festa e, enquanto confiadamente se entregavam à alegria, foram cercados de todos os lados e quase todos mortos”.

Construção da Igreja Matriz:

Igreja_MatrizA primeira Igreja Matriz foi iniciada por João Gonçalves da Costa em 1803. Foi coberta em 1806 conforme se conclui pelas inscrições com esta data, quando da sua demolição em 1932. Em 15 de agosto de 1809, ainda inacabada, foi realizada a primeira missa por um Padre da vila de Rio Pardo (Minas Gerais).

Em março de 1817, como registrou o Príncipe maximilian, ainda estava em construção. Foi inaugurada sem os altares e decoração em 1823. A pintura interna e decoração do teto foram terminadas em 1848, pelo pintor italiano João Pirasoli. Portanto, 45 anos depois. Por certo, a demora na construção se deve às dificuldades no transporte de materiais vindos da capital em lombo de burros.
Em 31 de maio de 1919, o intendente Ascendino Melo sanciona a lei de desapropriação da Igreja em função das rachaduras das paredes que causavam preocupação. No entanto, a demolição só aconteceu em 1932.
Em 15 de agosto de 1932 foi lançada a pedra fundamental para a construção da nova Igreja. Em edição de seis de agosto de 1944 o Padre Palmeira publicou no jornal “A Conquista” sob sua direção, o artigo “A Nova Igreja Matriz”. “É um templo soberbo cuja construção se deve a operosidade e tenacidade de um frade: Frei Egídio de Elcito”.
“Quando pode uma vontade que quer, quando essa mesma vontade, nos seus apelos insistentes, faz eco na consciência esclarecida do povo católico”.
“A futura Catedral de Conquista nasceu da energia de um homem alimentada pela generosidade de um povo”.

Cinema:

Prédio_onde_ funcionava_o_Cine_Íris

Prédio onde funcionava o Cine Íris.

O cine Íris nasceu por conta de querelas políticas, na época se alguém fosse ligado a uma facção partidária e criasse uma filarmônica, por exemplo, logo era identificada como pertencente ao grupo tal e, assim, o adversário tratava logo de fundar a sua. Por isso, tínhamos a “Aurora”, interada ao Meletes, e a “Vitória”, dos Peduros. Se fosse jornal, acontecia a mesma coisa: “A Palavra” defendia os Peduros e “O Conquistense” aos Meletes. Com o cinema aconteceu assim: um senhor de nome Ubirajara chegou a Conquista e adaptou um cinema em um galpão existente no beco que hoje tem o nome de travessa Lima Guerra. Os freqüentadores levavam cadeira e bancos para se sentarem. Ubirajara aproximou-se dos Peduros e seu cinema tornou-se também Peduro. Maneca Moreira, chefe dos Meletes e muito rico, construiu o Cine Iris, com trezentos e cinqüenta cadeiras. Um luxo para a época, pois o prédio foi edificado para este fim, onde funcionava a Radio clube na Pç. Barão do Rio branco.

Mudanças de nomes:

Vitória da Conquista até chegar a este nome, passou por outros três nomes: em 1806 era conhecida como ARRAIAL DA CONQUISTA ou ARRAIAL DA VITÓRIA; em 09/11/1840 passou a ter o pomposo nome de IMPERIAL VILA DA VITÓRIA com a posse da primeira Câmara. Com a chegada da República em 1889, ficou proibido qualquer nome que lembrasse a época da Monarquia, por isso em 1891 passou a ser chamada de CIDADE DA CONQUISTA. Finalmente, em 1943 passou definitivamente a ser nossa “VITÓRIA DA CONQUISTA”.

Houve outra tentativa de mudar o nome para Saracota ou Conquistânea.
O saudoso historiador Mozart Tanajura conta em seu livro História de Conquista, que em 1945 foi criado o conselho Nacional de Revisão para fazer a revisão de nomes de cidades que tivessem dois nomes ou nomes que trouxesse insatisfação. Em Vitória da Conquista, foi criada uma comissão para esta finalidade que propôs ao então prefeito da época o Sr. Gerson Sales que mudasse o nome de vitória da Conquista para SARACOTA ou CONQUISTÂNEA. Graças à intervenção de Bruno Bacelar de Oliveira, que fez ver ao prefeito a origem e importância do nome de Vitória da Conquista conseguindo assim que o nome de nossa cidade fosse mantido. Em pesquisa sobre o significado do nome saracota, não obtive êxito. No entanto, a única cidade no mundo com este nome fica no Chile.

Passagens do Pe. Palmeira:

O padre Palmeira, nascido em Alagoas, político por vocação, de grande cultura humanista, orador nato, tanto sacro quanto profano, polêmico, tinha muita presença de espírito e raciocínio rápido e irreverência.
Foi Secretário de Estado em 1963 no governo de Lomanto Júnior, ocupando a pasta da Secretaria de Educação e Cultura. Com o Golpe Militar de 64, e a aproximação do governador das forças dominantes, acabou perdendo o cargo de secretário. Conta o Sr. Sebastião Leite, que após ser exonerado do cargo de secretário, o governador, que tinha muito apreço pelo Pe. Palmeira enviou um emissário até a casa do Padre, com a missão de convidá-lo para, na primeira oportunidade, comparecer no Palácio do Governo para tomarem um uísque. O emissário, após conversas de praxe, assim procedeu, fez o convite como o governador pedira. O Pe. Palmeira então respondeu da seguinte forma: diga ao governador que eu “uisqueci”.

João Torres me apresentou a crônica de Antonio José Nascimento contando sobre a polêmica e mais picante passagem do Padre Palmeira, foi com o Prefeito Edvaldo Flores. Em 1958, o Padre solicita do prefeito a retirada de um jumento morto em frente ao Ginásio de Conquista. Obteve como resposta que o jumento não seria retirado enquanto o padre não encomendasse o corpo; no dia seguinte fez a tréplica: “como posso benzer o corpo, se a família não pediu?”

Repetindo certo candidato a Deputado e ex-prefeito de uma cidade, saiu com esta: “Povo de minha terra, se aqui tem escolas criadas, foi eu quem as criôlas; se tem ruas calçadas, foi eu quem as calçoulas, mas se não me elegerem Deputado, eu saio da vida pública e volto para a privada”.

Quando candidato a Deputado Estadual, ao fazer um comício em Itambé, a esposa do candidato a Prefeito pediu sua orientação para falar em público alegando ser muito tímida. Num repente falou: “pegue o microfone e solte o verbo, basta falar igual e no mesmo tom de quando você está brigando com seu marido”.

Como homem público ganhou muitos apelidos saídos dos palanques dos adversários, como: Homem de saia, urubu de saia, agourento, corvo, etc. Mas revidava no mesmo tom, apelidando os adversários de: Engole ele paletó, Gavião de Penacho e outros.

De outra vez um vereador lançou um panfleto afirmando que o Pe. Palmeira era pai de um garoto e se recusava a aceitar a paternidade. O Padre Respondeu: “Dizem por aí que eu sou um homem de saia, mas estão enganados, debaixo desta saia tem um pijama, debaixo deste pijama tem uma cueca, e debaixo desta cueca tem uma PALMEIRA”.

Caixeiros Viajantes:

Caixeiros_viajantesVitória da Conquista, sempre foi um entreposto comercial, favorecida pela sua localização geográfica. Antes da construção da linha tronco da Rio-Bahia, os comerciantes (chamados de CAIXEIROS) já se destacavam no crescimento da cidade e as lojas eram supridas através de lombos de burros conduzidos pelos Caixeiros Viajantes, conhecidos no passado como Cometas, que foram de grande importância para o desenvolvimento da cidade, nos tempo difíceis. Por onde passavam, eram recebidos com todas as honras, eram questionados sobre as notícias da Capital, os coronéis queriam saber sobre a política, além de comprarem jornais, mesmo que atrasados. Cada viajem durava em média sessenta dias. Eles se apresentavam a rigor em todos os momentos, não abrindo mão do terno branco e bem engomado, além de chapéu e bengala.

As firmas fornecedoras ao contratarem os viajantes, procuravam os solteiros de boa aparência e bem falantes, por isso os cometas impressionavam as filhas solteiras dos ricos coronéis e acabavam se casando.
Com o tempo, passaram a acompanhar as mercadorias pela via férrea, a “Maria Fumaça”, até as cidades chaves onde passava o trem: santo Antônio de Jesus, Jequié, Brumado, Senhor do Bonfim, Juazeiro, etc., a partir daí seguiam com as tropas para atendimento dos clientes.
A festa dos cometas no final dos anos 40 foi um encontro dos caixeiros viajantes de caráter nacional, com a presença de muitos políticos e autoridades da época. Realizada no Clube Social, vizinho ao Hotel Albatroz, teve a presença da famosa cantora Emilinha Borba.

Marco: construção da Rio-Bahia. Era o sonho de todos. Após sua conclusão a população dobrou, o comércio tomou impulso, a cidade progrediu, o transporte ficou fácil, a ligação com o sul do país facilitou a chegada de produtos industrializados, e ganhamos o título de “Capital do Sudoeste da Bahia.

BATALHAS:

Barulho do Tamanduá:

No ano de 1895, Vitória da Conquista presenciou uma das lutas mais violentas de sua história entre as famílias do Cel. Domingos Ferraz de Araújo e da viúva Lourença de Oliveira Freitas, ambas com ligações de parentesco.
Um acontecimento fútil, a morte de uma vaca do Coronel, que teria sido morta pelos filhos de Lourença (Calisto, Sérgio e Gasparino), ou por causa de uma quarta de mandioca, não se sabe ao certo, foi o motivo inicial do conflito. Afonso Lopes Moitinho, genro de Domingos Ferraz, foi agredido pelos filhos da viúva. Tempos depois, investido de autoridade policial saiu em perseguição aos irmãos e acabou por matar Sérgio e Gasparino que se encontravam enfermos em sua casa, sob a legação de resistência à prisão.

Afonso e Calisto tinham temperamento violento e de muita coragem e não mediam as conseqüências de seus atos.
Assassinados os filhos, Lourença foi à cidade implorar por justiça conduzindo os corpos. Por não ter sido ouvida em testemunho policial, deixou-os insepultos no cemitério local, dizendo: “vocês mataram os meus filhos, agora coma-os.”
Nesse tempo Calistinho, como era conhecido, havia fugido para as Lavras Diamantinas, onde conseguiu a amizades de alguns jagunços que lhe seriam úteis na vingança. Trouxe-os consigo a Conquista. Hospedou-os em Campo Formoso na casa do Major Martins, que era seu parente. Conseguiu com ele 50 homens armados. Saíram à noite e chegaram ao amanhecer na fazenda Tamanduá onde o Coronel Domingos residia, atacando-a nas primeiras horas do dia 20 de outubro de 1895.
Pegado de surpresa, mas com alguns jagunços às suas ordens, o fazendeiro resiste durante todo o dia. Sem munição e cercada por todos os lados, a residência é invadida. O jornalista Aníbal Viana contou que “Calisto e seus companheiros aproximaram ferozmente da Casa Grande e invadiram assassinando a todos com tiros, facadas e facãozadas, encontravam no interior da casa cerca de 22 pessoas, ficando o chão coberto de sangue”.

cem._do TamanduáDepois da tragédia em que morreram quase todos, já que dois conseguiram escapar, o casarão foi saqueado levando tudo o que encontraram de valor. O casarão da fazenda foi transformado em cemitério e lá estão, ainda hoje, as sepulturas e os restos mortais da família.

Calistinho após a vingança dispersou os jagunços e fugiu para Minas Gerais, onde foi perseguido e morto a mando de parentes da família que foi dizimada.
A tragédia do Tamanduá, como ficou conhecida na crônica sertaneja, teve repercussão regional, tendo sido lembrada durante muito tempo pelos poetas nordestinos que sobre o assunto escreveram Abcês e cantos romanceados.

Peduros e Meletes:

sobradoDe 1916 a 1919, apesar das famílias se constituírem numa endogamia, eminentemente rural, houve vários desentendimentos entre o Cel. José Fernandes de oliveira Gugé, que liderava o poder dominante, e o Cel. Manuel Emiliano Moreira de Andrade, Maneca Moreira, que liderava a oposição.
A imprensa, surgida em 1910, ajudou a acirrar os ânimos com publicações políticas contundentes entre intelectuais, a exemplo de Manoel Fernandes de Oliveira, Maneca Grosso, que escrevia para o jornal “A Palavra”, e assim ia-se definindo os dois grupos de forma acirrada.

Com o falecimento do Cel. Gugé em cinco de agosto de 1918, tido como pacificador, as divergências aumentaram e briga armada foi difícil de ser evitada.
O Juiz de Direito da Comarca era acusado de agir de maneira imparcial, conduzindo as decisões sempre favoráveis aos Meletes, grupo do qual se achava ligado pelo diretório político.

A luta armada se deu na manhã do dia 19 de janeiro de 1919. Os homens do sobrade de Paulino Fernandes, foi demolido para a construção do Banco do Brasil, atiravam contra a trincheira dos Peduros em frente ao sobrado. O tiroteio durou o dia todo. Antes, houve troca de tiros onde morreu o fazendeiro Teotônio Andrade e saiu ferido Tibúrcio Freitas. Também morreram vários jagunços.

Como a luta continuava, um grupo de pessoas composto pelas Senhoras Laudicéia Gusmão, Henriqueta Prates dos Santos, Eufrosina Freitas Trindade, Fulô da Panela, e Joana Angélica Santos (viúva do Cel. Gugé) saíram em meio à contenda empunhando bandeira branca, apoiadas pelos Senhores Dr. Crescêncio Silveira, Dr. Nicanor Ferreira, Agripino Borges, José Maximiliano Fernandes Oliveira, Cel. Deraldo Mendes Ferraz e o Major Belizário Mendes, segundo narra Anibal Viana, intercederam aos combatentes e conseguiram por fim à luta mediante certa condição: a do Juiz “sair da cidade montado em um boi” como castigo às suas provocações. Novos pedidos demoveram os Peduros da humilhação imposta ao Juiz, e ele subiu a serra do Piri piri (Piri em Tupi significa brejo) montado em um cavalo rumo a Salvador. Maneca Moreira transferiu-se com todos seus familiares para a cidade de Poções onde ficou residindo, não antes de terem assinado um acordo de paz.

Pacto de não matar:

COMPROMISSO_DE_NÃO_MATARO ódio, no entanto, persistiu entre Peduros e Meletes por algum tempo, até que ambos resolveram fazer as pazes, assinando um acordo, em 21 de janeiro de 1919, de acordo transcrição abaixo, para que não houvesse mais entre as duas partes qualquer tipo de vingança.

Nós abaixo assinados temos firmados a bem da paz e tranqüilidade de Conquista, evitar toda espécie de vingança contra qualquer cidadão, ficando sujeito as penas da lei e sem ampara de nenhum de nós todo aquele que transgredir esta clausula.
Cidade de Conquista, 21 de janeiro de 1919.
Zeferino Correia de Mello, Manoel Fernandes de Oliveira, Deraldo Mendes Ferraz, Virgílio Mendes Ferraz, Manuel de Oliveira Santos, Antonio da Silva Lemos, José Correia de Mello Freitas, Ascendino dos Santos Mello, Plácido Mendes Gusmão, José Wenceslau dos Santos Silva, Justino Gusmão, Cornélio da Silva Gusmão, José da Silva Gusmão, Manoel Januário de Andrade, João Gusmão de Oliveira, Manuel Emiliano Moreira Andrade, Rogério Ferraz Gusmão, João Fernandes de Oliveira Santos, Pompílio Nunes de Oliveira.
Reconheço verdadeiras as dezenove firmas supra que dou fé. Cidade da Conquista, 22 de janeiro de 1919.
Tabelião de Notas intº Joaquim Martim Bastos.

Origem dos nomes:

Conta Anibal Lopes Viana, em sua Revista Histórica, que certo dia um amigo e correligionário de Cel. Maneca Moreira atravessava a antiga Rua Grande, montado em um cavalo, conduzindo um melete, espécie de Tamanduá. Partidários do Cel. Gugé começaram a vaiar o cavaleiro e este irritado gritou: “Os amigos do Cel. Maneca Moreira são como meletes que são bichos fortes, de coragem e quando agarram não soltam mais. Vocês são uns peduros de raça ruim, sem preço e sem valor”. Deste dia em diante quem era partidário do Cel. Maneca Moreira ficaram com o nome de “Meletes” e os do Cel. Gugé, com o nome de “Peduros”

Desenvolvimento:
A região de Vitória da Conquista, compreendendo os municípios de Barra do Choça, Planalto e Poções, devido à localização em uma altitude próxima de 1.000m acima do nível do mar e por não ter geadas, sempre foi um produtor de café.
Entretanto a partir do ano de 1975 esta cultura agrícola foi incrementada com financiamentos subsidiados pelos bancos oficiais, passando a região a ser a maior produtora do norte e nordeste do Brasil.
A partir do final dos anos 1980, o município realça sua característica de pólo de serviços. A educação, a rede de saúde e o comércio se expandem, tornando a cidade a terceira economia do interior baiano. Esse pólo variado de serviços atrai a população dos municípios vizinhos.

Bibliografia:
Ymboré, pataxó, Kamaka. A presença indígena no planalto da Conquista.
Tanajura, Mozart. História de Conquista: crônica de uma cidade.
Viana, Aníbal L. Revista Histórica

domingo, 3 de janeiro de 2010

EM BUSCA DE UM CINEMA ROMANTICO



Por André Setaro



O fato é que, com o surgimento dos novos suportes, com o avanço da tecnologia, que possibilita a visão de filmes “em qualquer lugar”, a magia das salas exibidoras desapareceu. As imagens em movimento se tornaram rotineiras. Nasce-se, hoje, vendo-as no televisor acoplado na parece do hospital enquanto ainda se está a sair para a vida. Todo mundo pode, atualmente, fazer um filme. Faz-se filmes como antigamente se fazia poesias. Mas isto não quer dizer que eles sejam poéticos (alguns podem sê-los).
E o velho cineclube? Ainda teria a mesma função, o mesmo fascínio, a mesma curiosidade? Em alguns lugares, as sessões, por assim dizer, cineclubistas, ainda funcionam, a exemplo das concorridas sessões do Comodoro, patrocinadas pelo cineasta Carlos Reichenbach na capital paulista.
Mas, creio, são exceções que fogem à regra.
O “negócio”, nos dias que correm, se encontra em baixar filmes da internet. E, com isso, aquele reverência que se tinha, diante das imagens em movimento, se perdeu no tempo. As coisas mudam, porém, e, com elas, a recepção ao filme se tornou um ato rotineiro sem o tão necessário encantamento e assombro. Na verdade, está a acontecer uma revolução no modo de ver o filme, e esta revolução tem que ser assimilada, compreendida. O cinema que se tinha, nos moldes de antigamente, está morto.
A sentença de morte foi dada poeticamente por “Cinema Paradiso” (“Nuevo Cinema Paradiso”, 1989), de Giuseppe Tornatore. E, também, na mesma época, por “Splendor”, de Ettore Scola. Mas, e a respeitar aqueles que gostam de ver filmes na telinha do computador, devo dizer, em alto e bom som: recuso-me, peremptoriamente a ver filmes na telinha do aparelho informático. Vejo-os muitos em DVD. Pode acontecer, em alguns casos, para falar a verdade, e a verdade verdadeira no sentido kantiano, de assistir a filmes baixados na internet se convertidos em DVD, mas que sejam obras raras, que não as tenha visto e que sejam importantes.
Com o advento do VHS, do laser-disc, do DVD, e, agora, com a possibilidade de se baixar quase tudo da internet, a pergunta que se quer fazer é a seguinte: ainda haveria condições de ser ter um clube de cinema nos moldes do de Walter da Silveira nas décadas de 50 e 60 em Salvador?
Naquela época, difícil era se ver certos filmes, que ficavam restritos às cinematecas. O mercado exibidor se restringia aos lançamentos e as constantes reprises de filmes de sucesso. Como, nos anos citados, assistir aos filmes neo-realistas, aos do expressionismo alemão, às obras mais independentes de cinematografias desconhecidas, às obras do realismo poético francês, à vanguarda da estética da arte muda? O único jeito era a viagem e, assim mesmo, o mais certo seria ao exterior, às cinematecas de Nova York ou a de Paris, além de outras importantes da Europa. Aqui no Brasil, existiam, mas ainda incipientes, as cinematecas do Rio e de São Paulo (esta com um acervo mais versátil). Salvador não tinha nenhuma possibilidade de constituir uma cinemateca.

A importância de Walter da Silveira (que boa parte da nova geração não sabe quem foi, apesar de nome de sala alternativa nos Barris) foi justamente a de, com a fundação do Clube de Cinema da Bahia, trazer filmes especiais, essenciais à evolução da linguagem e da estética cinematográficas. Walter da Silveira fez ver, aos baianos de província (mas uma província muito agradável bem diferente da cidade engarrafada de hoje), que o cinema, além de um bom divertimento, era, também, a expressão de uma arte.
O próprio Glauber Rocha, quando de sua morte, em novembro de 1970, em artigo para o Jornal da Bahia, confessou que o ensaísta fora seu grande mestre, que aprendeu a ver cinema através das palavras de Walter da Silveira. E conta, num artigo, o esporro que este lhe deu, quando, numa exibição de "O encouraçado Potemkin", numa sessão matutina no cinema Liceu, conversava, durante a exibição, com um amigo. Walter, percebendo o "arruído", deu-lhe tremendo esporro, segundo palavras do próprio Glauber que, conta, nunca mais falou durante a projeção de um filme, tal a indignação do mestre diante do jovem tagarela.

Atualmente, no entanto, com a facilidade existente, pode-se ver um raro filme antigo, a exemplo de "Ordet, de Carl Theodor Dreyer, famoso cineasta dinamarquês, em boa cópia em DVD. Este filme, há poucos anos, somente seria possível ser contemplado na cinemateca de Henry Langlois, em Paris. Outro dia, vim a saber, um conhecido baixou da internet, em cópia decente e legendada, "As estranhas coisas de Paris" ("Elena et les hommes", 1956), com a bela Ingrid Bergman e Jean Marais, filme difícil de se ver (nunca passa na televisão e não tem no disquinho).
Há dois anos, tentou-se implantar um cineclube na Faculdade de Comunicação. Com excelente programação. Retrospectivas de Kubrick, Buñuel etc. Mas os alunos, antes de entrar, perguntavam se os filmes estavam disponíveis em DVD. E davam meia-volta, volver.

Uma vez no Rio, ao saber da exibição de "Ladrões de bicicleta" na Cinemateca do Museu de Arte Moderna, em única sessão, ainda que mal tivesse chegado à cidade, corri para lá. Finda a exibição, chuva torrencial fiquei encharcado e voltei a pé para o hotel (a cidade engarrafada, tudo parado). Nos tempos atuais, faria o mesmo sacrifício? Claro que não, pois o DVD de "Ladri di biciclette" está disponível não somente para ser adquirido, mas também nas melhores locadoras da cidade.

Qual a função do cineclubismo nos dias atuais? Walter da Silveira, por exemplo, sobre ser um dos maiores ensaístas de cinema do Brasil (na Bahia ninguém nunca lhe chegou perto), era um homem, verdade se diga, à antiga, de tom grave, circunspeto, com uma gestualística bem diversa da juventude atual e, mesmo, dos menos jovens que atualmente constituem o meio circundante e intelectual, universitário. A figura de Walter faz lembrar aqueles antigos mestres universitários, principalmente os professores da Faculdade de Direito (no acento vocal, nas pausas, na maneira de expor o assunto, um "magister dixit").

Mas acontece que o mundo mudou e, com ele, a cultura. Houve um papel importantíssimo exercido por Walter da Silveira. Os realizadores que se aventuram na captação das imagens em movimento são contemporâneos de um cinema digital. Faz-se filmes até pelos telefones celulares. O Clube de Cinema da Bahia, portanto, não poderia existir - nem teria razão de ser - nesta chamada contemporaneidade. A própria psicologia de recepção da obra cinematográfica mudou. Bem, são reflexões ao acaso.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

TOCAIA NO ASFALTO É RESTAURADO


Por André Setaro

Escrevi hoje, na minha coluna semanal da revista eletrônica Terra Magazine, um comentário crítico ao filme baiano Tocaia no asfalto (1962), de Roberto Pires, que pode ser lido no seguinte endereço: http://terramagazine.terra.com.br/

Com seu negativo em processo de deterioração, Tocaia no asfalto foi inteiramente restaurado e vai ser exibido, nesta cópia luminosa e novíssima, quarta, 16 de dezembro, na Sala Walter da Silveira, que fica à rua General Labatut, nos Barris, às 19 horas. Quem mora em Salvador, uma oportunidade e tanto para ver ou rever este filme, que considero o melhor já feito dentro do itinerário de longas do cinema baiano.O talento de Roberto Pires é inegável e pode ser considerado um dos melhores artesãos do cinema brasileiro. Pires foi o responsável pelo primeiro longa metragem feito na Bahia: Redenção, em 1959, que se encontra sendo devidamente restaurado. Pires também realizou, no apogeu do Ciclo Baiano de Cinema, A grande feira (1961). Depois, retirou-se para o Rio de Janeiro para continuar a sua carreira (Máscara da traição, Crime no Sacopã etc).