sábado, 24 de abril de 2010

FUNÇÔES CINEMATOGRÁFICAS E SUAS ATRIBUIÇÕES

Por Beto Magno

Aderecista – Monta, transforma ou duplica, utilizando-se de técnicas artesanais, objetos cinematográficos e de indumentária, segundo orientação do cenógrafo e/ ou figurinista.

Animador – Executa a visualização do roteiro, modelos dos personagens e os “lay-outs “de cena, conforme orientação do Diretor de animação.

Arquivista de filmes – Organiza, controla e mantém sob sua guarda filmes e material publicitário em arquivos apropriados, avalia e relata o estado do material publicitário em arquivos apropriados, avalia e relata o estado do material, coordenando os trabalhos de revisão e reparos das cópias, quando possível ou necessário, com o auxílio do Revisor.

Assistente de animação – Transfere para o acetato, os “lay-outs” do Animador e do Assistente de Animador.

Assistente de animador – Completa o planejamento de animador intercalando os desenhos, faz pequenas animações.

Assistente de Câmera de Cinema – Assiste o Operador de Câmera e o Diretor de Fotografia, monta e desmonta a Câmera de cinema e seus acessórios, zela pelo bom estado deste equipamento, carrega e descarrega chassis, opera o foco, a “zoom” e o diafragma, redige os boletins de Câmera, prepara o material a ser encaminhado ao laboratório, realiza os testes de verificação de equipamento.

Assistente de Cenografia – Assiste o Cenógrafo em suas atribuições, coleta dados e realiza pesquisas relacionadas com o projeto cenográfico.

Assistente do Diretor Cinematográfico – Assiste o Diretor Cinematográfico em suas atividades, desde a preparação da produção até o término das filmagens, coordena as comunicações entre o Diretor de Produção Cinematográfico e o conjunto da equipe e do elenco, colabora na análise técnica do roteiro e do elenco, colabora na análise técnica do roteiro, do plano e da programação diária de filmagens ou ordem do dia , supervisiona o recebimento e distribuição dos elementos requisitados na ordem do dia, coordena e dinamiza as atividades, visando o cumprimento da programação estabelecida.

Assistente de Montador Cinematográfico – Encarrega-se da ordenação, classificação e sincronização do som e imagem do copião; executa os cortes indicados pelo Montador Cinematográfico, classifica e ordena as sobras de som e imagem, sincroniza as diversas pistas componentes da trilha sonora.

Assistente de Montador de Negativo – Assiste o Montador de Negativo em suas atribuições, prepara o material e equipamento a ser utilizado , acondiciona as sobras de material.
Assistente de Operador de Câmera de Animação – Assiste o operador de Câmera no processo de filmagens de animação.

Assistente de Produtor Cinematográfico – Assiste o Diretor de Produção Cinematográfica no desempenho de suas funções.

Assistente de Revisor e Limpador – Encarrega-se da revisão e limpeza de películas e fitas magnéticas.

Assistente de Trucador – Assiste o Trucador Cinematográfico em suas atribuições.

Ator - 2 – Cria , interpreta, e representa uma ação dramática baseando-se em textos, estímulos visuais, sonoros e outros, previamente concebidos por um autor ou criados através de improvisações individuais ou coletivas, utiliza-se de recursos vocais, corporais e emocionais, apreendidos ou intuídos , com o objetivo de transmitir ao espectador o conjunto de idéias e ações dramáticas propostas, pode utilizar-se de recursos técnicos para manipular bonecos, títeres e congêneres, pode interpretar sobre a imagem a voz de outrem, ensaia buscando aliar a sua criatividade à de diretor, atua em locais onde apresentam espetáculos de diversões públicas e / ou nos demais veículos de comunicação.

Auxiliar de Iluminador – Presta auxílio direto ao iluminador na operação dos sistemas de luz , transporte e montagem dos equipamentos. Cuida da limpeza e conservação dos equipamentos, materiais e instrumentos indispensáveis ao desempenho da função.

Auxiliar de Tráfego – Encarrega-se do encaminhamento dos filmes ao seus devidos setores.
Carpinteiro – Prepara material em madeira para a cenografia e outras destinaçoes.

Cenarista de Animação – Executa os cenários necessários para cada plano, cena e seqüência da animação conforme os “lay-outs” de cena e orientação do chefe de arte e do diretor de animação.

Cenógrafo – cria , projeta e supervisiona, de acordo com o espírito da obra a realização e montagem de todas as ambientaçoes e espaços necessários, dirige a preparação, montagem e remontagem das diversas unidades de trabalho. Nos filmes de longa metragem exerce ainda, as funções de Diretor de arte.

Cenotécnico – Planeja, coordena, , constrói, adapta e executa todos os detalhes de material, serviços e montagem de cenários , segundo maquetes, croquis e plantas fornecidas pelo cenógrafo.

Chefe de Arte de Animação – Coordena o trabalho do colorista e da copiadora eletrostática.

Colador – Marcador de sincronismo – Tira as pontas de sincronismo, ao mesmo tempo que faz a marca do ponto sincrônico do anel anterior, colocando, por meio de emendas o rolo de filme e de magnético em seu estado original.

Colorista de Animação – Colore os desenhos impressos no acetato sob a supervisão do Chefe de arte.

Conferente de Animação – Confere o trabalho dos coloristas, auxilia na filmagem, cuida do mapa de animação e da ordem dos desenhos e cenários, separando-os por planos e cenas.

Continuista de Cinema – Assiste o Diretor cinematográfico no que se refere ao encadeamento e continuidade da narrativa, cenários, figurinos, adereços, maquilagens, penteados, luz, ambiente, profundidade de campo, altura e distancia da Câmera, elabora boletins de continuidade e controla os de som e de Câmera, anota diálogos, ações, minutagens, dados de Câmera e horário das tomadas , prepara a claquete, informa à produção dos gastos diários de negativo e fita magnética.

Contra-Regra de Cena – Encarrega-se da guarda, conservação e colocação dos objetos de cena sob orientação do Cenógrafo.

Cortador – colocador de anéis – Corta os trechos marcados do copião ou cópia do trabalho seguindo a numeração feita pelo Marcador de anéis.

Diretor de Animação – Cria o planejamento de animação do filme, os “lay-outs” de cena, guias de animação, movimentos de Câmera, supervisiona o processo de produção, inclusive trilha sonora, é o responsável pela qualidade do filme.

Diretor de Arte – Cria, conceitua, planeja e supervisiona a produção de todos os componentes visuais de um filme ou espetáculo, traduz em formas concretas as relações dramáticas imaginadas pelo diretor cinematográfico e sugeridas pelo roteiro, define a construção a plástico-emocional de cada cena e de cada personagem dentro do contexto geral do espetáculo, verifica elege as locações as texturas, a cor e os efeitos visuais desejados, junto ao diretor cinematográfico e ao diretor de fotografia, define e conceitua o espetáculo estabelecendo as bases sob as quais trabalharão o Cenógrafo, o figurinista, o maquiador, o técnico em efeitos especiais cênicos, os gráficos e os demais profissionais necessários supervisionando-os durante as diversas fases de desenvolvimento do projeto.

Diretor de Arte de Animação – Responsável pelo visual gráfico dos filmes de animação, cria os personagens e os cenários do filme.

Diretor Cinematográfico – Cria a obra cinematográfica, supervisionando e dirigindo sua execução, utilizando recursos humanos, técnicos e artísticos, dirige artisticamente e tecnicamente a equipe e o elenco, analisa e interpreta o roteiro do filme, adequando-o à realização cinematográfica sob o ponto de vista técnico e artístico, escolhe a equipe técnica e o elenco, supervisiona a preparação da produção, escolhe locações, cenários , figurinos, cenografias e equipamentos, dirige ou supervisiona montagem, dublagem, confecção da trilha musical e sonora, e de todo o processamento do filme até a cópia final, acompanha a confecção do “trailer”, e do “avant-trailer”.

Diretor de Dublagem – Assiste ao filme e sugere a escalação do elenco para a dublagem do filme, esquematiza a produção, programa nos horários de trabalho, orienta a interpretação e o sincronismo do ator sobre sua imagem ou de outrem.

Diretor de Fotografia – Interpreta com imagens o roteiro cinematográfico, sob a orientação do diretor cinematográfico, mantém o padrão técnico e artístico da imagem, durante a preparação do filme, seleciona e aprova o equipamento adequado ao trabalho, indicando e/ ou aprovando os técnicos sob sua orientação, o tipo de negativo a ser a adotado, os testes de equipamento, examina e aprova locações interiores e exteriores, cenários e vestuários, nas filmagens orienta o operador de Câmera, assistente de Câmera, eletricista, maquinista e supervisiona o trabalho do continuista e do maquiador, sob o ponto de vista fotográfico, no acabamento do filme, quando conveniente ou necessário, acompanha a cópia final, em laboratório, durante a marcação de luz.

Diretor de Produção Cinematográfica – Mobiliza e administra recursos humanos, técnicos, artísticos e materiais para realização do filme, racionaliza e viabiliza a execução do projeto, mediante análise técnica do roteiro, em conjunto com Diretor cinematográfico ou seu assistente, administra financeiramente a produção.

Editor de Áudio – Encarrega-se da guarda, manutenção e adequada instalação do equipamento elétrico e de iluminação do filme, distribuindo de acordo com as indicações do diretor de fotografia, determina as especificações dos geradores a serem utilizados.

Figurante – Participa, individual ou coletivamente, como complementação de cena.

Figurinista – Cria e projeta trajes e complementos usados pelo elenco e figuração, executando o projeto gráfico dos mesmos, indica os materiais a serem utilizados, acompanha, supervisiona e detalha a execução do projeto.

Fotógrafo de Cena – Fotografa, durante as filmagens, cenas do filme para efeito de divulgação e confecção de material publicitário, indica o material adequado ao seu trabalho, trabalhando em conjunto com o diretor cinematográfico e o diretor de fotografia.

Guarda Roupeiro – Encarrega-se da conservação das peças de vestuário utilizadas no espetáculo ou produção, auxilia o elenco e a figuração a vestir as indumentárias, organiza a guarda e embalagem dos figurinos, em caso de viagem.

Letrista de Animação – Executa os letreiros ou créditos para produções cinematográficas.

Maquiador de Cinema – Encarrega-se da maquilagem ou caracterização do elenco e figuração de um filme, sob orientação do diretor cinematográfico, em comum acordo com o diretor de fotografia, indica os produtos a serem utilizados em seu trabalho.

Maquinista de Cinema – Encarrega-se do apoio direto ao operador de
Câmera e eletricista no que se refere ao material maquinária, instala e opera equipamentos destinados à fixação e/ ou movimentação de Câmera.

Marcador de Anéis – Executa a marcação dos anéis de dublagem, no copião ou cópia de trabalho.

Microfonista – Assiste o técnico de som, monta e desmonta o equipamento, zelando, pelo seu bom estado, posiciona os microfones, confecciona os boletins de som.

Montador de Filme Cinematográfico – Monta e estrutura o filme em sua forma definitiva, sob a orientação do diretor cinematográfico, a partir do material de imagem e som, usando seus recursos artísticos, técnicos e equipamentos específicos, zelando pelo bom estado e conservação das pistas sonoras, faz o plano de mixagem, participando da mesma, orienta o assistente de montagem.

Montador de Negativo – Monta negativos de filmes cinematográficos e do diretor de fotografia, enquadra as cenas do filme, indica os focos e os movimentos de “zoom” e Câmera.
Operador de Câmera de Animação – Filma os desenhos em equipamentos especial responsabilizando-se pela qualidade fotográfica do filme.

Operador de Gerador – Encarrega-se da manipulação e operação do gerador e corrente elétrica durante as filmagens.

Operador de Vídeo – Responsável pela qualidade de imagem no vídeo, operando as controles aumentando ou diminuindo o vídeo e pedestal, alinhando as câmeras, colocando os filtros adequados e corrigindo as aberturas de diafragma.

Operador de Telecine – Opera projetores de telecine,
comunicando-os de acordo com as necessidades de utilização, efetua ajustes operacionais nos projetores ( foco, filamento e enquadramento ).

Operador de Áudio – Opera a mesa de áudio durante gravações, respondendo por sua qualidade.
Pesquisador Cinematográfico – Coleta e organiza dados e materiais, desenvolve pesquisas no sentido de preservação da memória cinematográfica, sob qualquer forma, quer fílmica, bibliográfica, fotográfica e outras.

Pintor Artístico – Executa o trabalho de pintura dos cenários, prepara cartazes para utilização nos cenários, amplia quadros e telas, zela pela guarda e conservação dos materiais e instrumentos de trabalho, indispensáveis à execução de sua tarefa.

Projecionista de Laboratório – Opera o projetor cinematográfico especialmente preparado para os trabalhos de estúdio de som.

Revisor de Filme – Executa a revisão e reparo das cópias de filmes, verificando as condições materiais das mesmas, sob coordenação dos arquivistas de filmes.

Roteirista de Animação – Cria, a partir de uma idéia texto ou obra literária, sob forma de argumento ou roteiro de animação, narrativa com seqüências de ação, com ou do qual se realiza o filme de animação.

Roteirista Cinematográfico – Cria a partir de uma idéia, texto ou obra literária, sob a forma de argumento ou roteiro cinematográfico, narrativa com seqüências de ação, com ou sem diálogos, a partir da qual se realiza o filme.

Técnicos em Efeitos Especiais Cênicos – Realiza e /ou opera, durante as filmagens, mecanismos que permitem a realização de cenas exigidas pelo roteiro cinematográfico, cujo efeito dá ao espectador convencimento da ação pretendida pelo diretor cinematográfico.

Técnicos em Efeitos Especiais Óticos – Realiza e elabora trucagens, durante as filmagens, com acessórios complementares à Câmera, sem a utilização de laboratório de imagens ou “truca”.

Técnico de Finalização Cinematográfica – Acompanha as trucagens e faz o tráfego de laboratórios, supervisionando a qualidade do material trabalhado, na área do filme publicitário.
Técnico de Manutenção Eletrônica – Encarrega-se da conservação, manutenção e reparo do equipamento eletrônico de um estúdio de som.

Técnico de Manutenção de Equipamento Cinematográfico –e/ou eletrônica cinematográfica. Responsável pelo bom andamento das máquinas, com profundo conhecimento de mecânica
Técnico Operador de Caracteres – Opera as caracteres nos programas gravados, filmes, vinhetas, chamadas, conforme roteiro da produção.

Técnico Operador de Mixagem – Encarrega-se de reunir, em uma única pista, todas as pistas sonoras de um filme, após submete-las a vários processos de equalização sonora.

Técnico de Som – Realiza a interpretação e registro durante as filmagens, dos sons requeridos pelo diretor cinematográfico, indica o material adequado ao seu trabalho e à equipe que o assiste, examina e aprova, do ponto de vista sonoro, as locações internas e externas, cenários e figurinos, orienta o microfonista, acompanha o acabamento do filme, a transcrição do material gravado para magnético perfurado, a mixagem e a transcrição ótica.

Técnico de Tomada de Som – Realiza a gravação de vozes, ruídos e musicas, em estúdios de som, opera a mesa de gravação, executa equalizações sonoras.

Técnico em Transferencia Sonora – Realiza a transferencia de sons gravados em discos, fitas magnéticas ou negativo ótico, realiza testes de ajuste do equipamento e da qualidade do negativo ótico revelado.

Trucador Cinematográfico – Executa trucagens óticas, realizando efeitos de imagem desejados pelo diretor cinematográfico, opera o equipamento denominado “truca”.

Texto Retirado do Guia dos Profissionais de Cinema e Vídeo – Sindicine SP – 1997 - 95 páginas. I. Cinema/ Vídeo. II. SINDCINE. III. Título.

terça-feira, 20 de abril de 2010

O INSÓLITO ROMAN POLANSKY

Por André Setaro

Cineasta de rara inventividade no tratamento de seus temas, cuja crueldade vem muitas vezes na maneira pela qual estabelece a sua mise-en-scène, Roman Polansky pode ser considerado um dos mais insólitos realizadores cinematográficos do último quartel do século passado.


O Pianista (The Pianist), traz à cena o seu nome e atesta a maturidade de um autor quase que no outono da existência. Filme maduro e, por vezes, cruel, The Pianist tem uma correção que não admite sucumbir aos desvãos da pós-modernidade ou nos capítulos trânsfugas das inovações retrógradas – vide o dogmatismo dinamarquês e suas desabusadas manifestações ou as gramas innarriturianas.

Aqueles que criticaram Polansky quando este ganhou a Palma de Ouro em Cannes dada a O Pianista, considerando-o certinho demais, são os mesmos que solicitam do cinema não o espetáculo que envolve, aprofunda e traz reflexão, mas o supérfluo das câmeras planosequênciais, da prótese suja como manifestação de autoria e de rebeldia.


Realizador à primeira vista prolixo, Polansky, no entanto, ainda que tenha percorrido vários gêneros, é um autor, pois em cada um de seus filmes há uma gota de sangue de seu pretérito sofrido, maculado, esmagado, mas que ele, sempre confiante, soube ultrapassar os obstáculos e, otimista, apesar de tudo, seguindo, sempre, em frente.

É verdade que a segunda fase de sua obra não apresenta o mesmo impacto da primeira, aquela dos tempos de A faca na água, Repulsa ao sexo, Armadilha do destino, O bebê de Rosemary, Chinatown, O inquilino e, ainda, um extraordinário, e mal visto, MacBeth, que, sem medo de errar, poder-se-ia dizer que melhor que a versão que Orson Welles fez em 1948. Aliás, Polansky, numa entrevista a Jô Soares, quando aqui esteve para lançar Busca frenética, disse que os dois filmes que mais o influenciaram foram 8 e meio, de Federico Fellini, e MacBeth, de Orson Welles.
Mas o admirador confesso veio superar o mestre com a sua admirável, e, mais uma vez, pouco reconhecida, adaptação do clássico de William Shakespeare. Revisitando-se sua obra, a constatação de pontos comuns, de constantes temáticas, evidencia-se: a claustrofobia, o homem sempre acossado por circunstâncias indecifráveis, a insistente crueldade na visão ácida da condição humana, os desvãos do inconsciente, os entrechoques amorosos, a mulher sempre rainha, bela e sedutora, sedutora e bela, um certo ‘non sense’ na apreciação do ato de viver, a violência como mola propulsora para o estabelecimento do poder, a narratividade circular, em alguns filmes (A faca na água’, Chinatown...) onde ao invés de um desfecho se estabelece um impasse numa espécie de eterno retorno. E a perversidade e suas variantes. Polansky vê o homem com um olhar amargo, achando-lhe, a depender das circunstâncias, um potencial enorme de perversidade.


P.S: Uma vez, nos idos dos anos 70, mais precisamente em 1973, estando no Campo Grande com um amigo, li, num jornal, que Roman Polansky estava em Salvador e hospedado no Hotel da Bahia. Perto da hospedagem do autor de Rosemary’s Baby, decidimos, eu e este colega, adentrarmos no hotel à sua procura. Não precisamos ter trabalho na busca, pois, assim que entramos no saguão, avistamos Polansky na pergola da piscina tendo, a seu lado, Jack Nicholson. Aproximamo-nos com certo receio – estava na flor da juventude e, neste período, tudo é encantamento e novidade.

Tive a iniciativa de falar com Nicholson em francês – estudava, desculpem a modéstia, na Alliance Française – e trocamos algumas frases. Ele, muito simpático e receptivo, estava quase careca, porque criando o cabelo para o penteado do personagem que faria em Chinatown, deslumbrante filme noir, o primeiro a revisar o gênero quando ainda não se fazia isto. Polansky nos olhava calado. Acenava, apenas, com a cabeça. Um fotógrafo da Tribuna da Bahia, jornal onde escrevia uma coluna, estava a os acompanhar. Disse-me que estavam ali esperando que a namorada de Polansky descesse do apartamento.

O fotógrafo, que era Lázaro Torres, seria o cicerone para um passeio a Arembepe, que os dois manifestaram desejo de conhecer e que, na época, era um ‘must’, um ‘point’, uma aldeia hippie famosa no mundo inteiro e que tinha um insólito relógio solar. Quando Polansky, também falando em francês, começou a conversar sobre o filme que ia fazer, uma ‘louraça’ – fillet-mignon mesmo – apareceu na pergola. E se foram embora, deixando-nos a ver navios.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

lll BAHIA AFRO FILM FESTIVAL

Por Beto Magno

Será realizado de 13 a 23 de maio de 2010, na cidade de Cachoeira - Bahia, com o objetivo de fortalecer o desenvolvimento da formação, produção e difusão do audiovisual brasileiro, otimizando a vocação de Cachoeira, São Félix e demais municípios do Território de Identidade do Recôncavo como potencial pólo cinematográfico e do turismo étnico.
O lançamento da programação do III Bahia Afro Film Festival aconteceu dia 12 de abril de 2010 no Centro de Artes, Humanidades e Letras da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, com as presenças da Coordenação Executiva do Festival, Professor Danillo Barata, coordenador do Curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Lázaro Farias, da Casa de Cinema da Bahia, Luiz Cachoeira, coordenador do Ponto de Cultura Rede Terreiro Cultural/CEPASC e do Ponto de Cultura Expressão Cidadania Quilombola/CECVI. Além da programação, disponível no site do evento, representantes do IRDEB-TVE e da Petrobrás falaram sobre a importância do evento e do apoio que darão institucionalmente ao III Bahia Afro Film, inclusive com a cobertura da TV Educativa da Bahia, através de divulgação e reportagens.
Marcos Peri, do IRDEB, falou sobre a importância histórica e cinematográfica de Cachoeira e felicitou a UFRB por sediar e integrar a comissão executiva do evento. Ratificou o apoio do IRDEB na divulgação do festival, adiantando que a TVE deve produzir uma series de VT's que será produzida em parceria com os cursos de Cinema e Jornalismo da UFRB, para circular na programação da TV. Ele estuda a possibilidade de realizar o minuto do festival, uma espécie de telejornal diário, de um minuto, revelando as atividades do festival.O assessor de imprensa da Petrobrás, Rosenberg Pinto, falou da preocupação especial que a Petrobrás tem com relação à produção cultural do Brasil, relembrou o percurso da Petrobrás no apoio às produções culturais e sobre a preocupação atual da empresa com a qualidade dos projetos patrocinados, visto que no passado a empresa apoiava muito cinema, mas não tinha uma preocupação com o conteúdo, e que o Afro Film Festival tem uma importância enorme para a Bahia e o Brasil e por conta disso a Petrobrás é parceira na realização do evento.


Luiz (Lula) Wandhausen Cineasta e Assessor da curadoria e Programação do BAFF

Sinto-me honrado em estar contribuindo com o BAFF. Participo desde o seu lançamento, quando naquela noite de Dezembro no Palácio da Aclamação, afirmava que o cinema baiano estava fazendo a sua história, com os seus holofotes iluminando as nossas raízes afro-brasileiras, abrindo as portas do audiovisual para refletir o talento de um povo.

Hoje, o BAFF consolida-se no melhor cenário possível para abrigá-lo, a histórica cidade de Cachoeira, em pleno recôncavo baiano, impregnado de riquezas culturais.


De grande valia a nossa parceria com a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, através da sua Escola de Cinema, representado por Danillo Barata, abre as suas portas ao BAFF, e com isso compartilha do espírito do Festival, em um momento em que na Bahia, o cinema entra em ebulição, revelando grandes talentos.



Percebo uma união de pessoas muito talentosas e apaixonadas pelo cinema em torno de Lázaro Faria, o seu idealizador, o que me dá uma sensação de nítida confiança em realizar um excelente Festival.

domingo, 11 de abril de 2010

RADA ZAVERUTCHA REZEDÁ

Rada Rezedá: Atriz, Apresentadora, Diretora de TV e Diretora da CAP Escola de Tv e Cinema em Salvador

BATE-PAPO

Roberto Monteiro (TV Itapoan), Jefferson Beltrão (TV Bahia) e Rada Rezedá (Cap Escola de TV e Cinema) no projeto Bate-papo onde trocam idéias com alunos da Escola.

LANÇAMENTO DE LIVRO SOBRE CINEMA

Capas dos Livros

Por André Setaro


A simpática jornalista Aleksandra Pinheiro, que trabalha na divulgação de meu livro Escritos sobre Cinema - Trilogia de um tempo crítico, escreveu um texto sobre a publicação e sobre a minha trajetória. Não mereço tantas palavras gentis, mas, neste domingo de chuva e trovoadas, e a considerar a proximidade do lançamento, gostaria, aqui, de transcrever o que Aleksandra escreveu sob o título de Um homem chamado cinema. Abrindo as necessárias aspas, pois o que vai a seguir não é de minha pena. O que me resta é agradecer a Alé e parabenizá-la pelo seu trabalho.


Um homem chamado Cinema
"Com quase 40 anos de experiência em análise cinematográfica, André Setaro, crítico de cinema do Terra Magazine e professor da Facom (UFBA), reuniu textos, resenhas e suas melhores análises filmícas para lançar, em 3 volumes, a coleção Escritos sobre cinema - trilogia de um tempo crítico. O lançamento é da editora carioca Azougue, coedição da Edufba, produção da Multi Planejamento Cultural e patrocínio do Fundo de Cultura da Bahia, da Secretaria de Cultura do Estado (Secult).
A noite de autógrafos será na próxima terça-feira, 13/abril, às 20h, na Saladearte Cinema do Museu.

São partes integrantes deste projeto, a realização da Oficina Gratuita de Crítica Cinematográfica, nos dias 14 e 15/abr, e o Clube da Crítica - sessão de bate-papos entre Setaro e outros críticos brasileiros convidados ao evento-, nos dias 14, 15 e 16/abr, na Saladearte Cinema da UFBA.

André Setaro estreou na crítica cinematográfica há cerca de 40 anos, quando escreveu seu primeiro ensaio na imprensa, no antigo Jornal da Bahia, defendendo a importância de Jerry Lewis. Em vez de submeter-se aos padrões ideológicos da época, preferiu privilegiar a estética cinematográfica, tal e qual aquele personagem quixotesco de Nós que nos amávamos tanto, de Ettore Scola. É o próprio Setaro quem explica as reações na ocasião: “Se até hoje muitas pessoas não compreendem o valor de Jerry Lewis, acham que é um diretor de sessão da tarde, imagine naquele período ideologizado? Fui logo chamado de alienado”, relata, com o riso irônico de quem sempre amou muito mais o cinema do que as revoluções.

Seu amor pelo cinema, reiterado na militância da imprensa diária, especialmente no Jornal Tribuna da Bahia, ganha agora o sabor da permanência. A editora Azouge, em parceria com a Edufba, lança no próximo dia 13 de abril, Escritos sobre o cinema, trilogia de um tempo crítico.

A obra 'setariana' está dividida em 3 volumes: No Vol I encontramos os escritos sobre filmes, atores e diretores que marcaram a história do cinema e também depoimentos e artigos com inclinações autobiográficas. Além das impressões do crítico sobre Orson Welles, Kurosawa, Fellini, Godard, Bergman, entre outros ícones, fica-se também conhecendo a trajetória e paixão de Setaro pelo seu objeto de desejo e estudo.

O Vol II é dedicado integralmente ao cinema baiano que este ano completa 100 anos. Nas resenhas críticas, o autor fala sobre as obras e cineastas pioneiros na Bahia (a exemplo de Roberto Pires e Glauber Rocha) e também reflete sobre os homens e as circunstâncias que permitiram o surgimento e a efervescência do cinema na província. Setaro rende homenagens ao mestre Walter da Silveira e ao lendário Clube de Cinema da Bahia, assim como reconhece o valor de empreendedores, a exemplo de Guido Araújo e sua longeva Jornada de Cinema. Fala sobre o boom superoitista e recorda com ternura dos cinemas de rua de Salvador, como o Guarany, Excelsior, Liceu, Tamoio, Bahia, Pax, Aliança, Jandaia.

No Vol III Setaro trata especificamente da linguagem cinematográfica: Embrenha-se pelos caminhos teóricos, destaca as escolas, os autores, mas nunca perde de vista aquilo que o crítico Inácio Araújo, autor do prefácio da sua trilogia, definiu como “uma prazerosa proposta civilizatória”.


Este farto material estava praticamente destinado ao esquecimento, já que André Setaro, apesar do incentivo que sempre recebeu dos colegas e alunos, recusava a ideia de transformar tudo em livro: “Amigos sempre me falaram para escrever um livro, mas eu nunca quis”, relata, destacando que foi convencido da viabilidade do projeto pelo jornalista e escritor Carlos Ribeiro, que há mais de 15 anos insistia na publicação destes textos. Foi assim que, a partir de 2005, Carlos Ribeiro juntou-se a Carlos Pereira, André França, Marcos Pierry e alguns outros ex-alunos de Setaro e decidiram, de forma voluntária, realizar o trabalho de pesquisa e seleção da obra: “O enorme esforço dos professores que realizaram o trabalho foi, em si, um reconhecimento à contribuição de André Setaro ao cinema da Bahia e do Brasil. É um material valiosíssimo, que necessitava ser preservado.”, destaca Carlos Ribeiro, organizador dos três volumes. Esta memória e toda a paixão de Setaro será lançada às 20h, do dia 13/abr, na Saladearte do Cinema do Museu e em breve estará nas principais livrarias do país."

OFICINA DE CRÍTICA CINEMATOGRÁFICA:
Um dia após o lançamento da trilogia Escritos sobre cinema..., Setaro começa Oficina Gratuita de Crítica Cinematográfica nos dias 14 e 15/abril, das 9h às 11h30, na Saladearte do Cinema da UFBA, conforme programação descrita a seguir:

14/abril
1.) A crítica cinematográfica como instrumento de conhecimento da arte do filme. A narrativa e a fábula no discurso cinematográfico. O elo sintático e o elo semântico.
2.)Técnica, linguagem e estética. A transformação da crítica através dos tempos. A decadência dos suplementos culturais. A crítica do pretérito e a crítica contemporânea. Diferenciações entre ensaio, crítica, comentário e resenha.

15/abril
3.) A mise-en-scène. Tout est dans la mise-en-scène. Cineastas cerebrais e cineastas intuitivos. Os filmes-faróis e a necessidade de uma base referencial. A crítica de cinema como crítica de arte.
4.) A redução da crítica nos jornais expressos e o advento de blogs e sites. A crise da crítica e do cinema contemporâneo.
Inscrições gratuitas: Interessados devem solicitar ficha de inscrição através do e-mail:
oficinadecritica@gmail.com

CLUBE DA CRÍTICA:
Encerrando a tríade do projeto patrocinado pelo Fundo de Cultura do Estado da Bahia e produzido pela Multi Planejamento Cultural, acontece o Clube da Crítica: 3 dias de debates entre críticos convidados e André Setaro afim de discutirem assuntos ligados ao cinema atual. O bate-papo será das 16h às 17h30 na Saladearte Cinema da UFBA e a entrada é franca. Abaixo, as datas de realização, nomes dos críticos e temas que serão abordados:

· 14/abril: A decadência da crítica nos jornais e o seu advento em blogs e sites com Sérgio Alpendre (editor da revista eletrônica Paisà, crítico da Contracampo, colaborar esporádico da Folha de S Paulo, UOL Cinema, Cineclick, Revista MOVIE, Zingu e Cinequanon)
· 15/abril: Panorama atual da crítica cinematográfica com Francis Vogner (crítico da revista eletrônica Cinética, professor de cinema e colunista da revista Filme Cultura - que será relançada agora em abril/2010)
· 16/abril (sexta): A Inexistência da crítica na Bahia como reflexo de seu momento cultural com Marcos Pierry (Jornalista e professor de cinema) e André França (professor de cinema e artista visual)


Sobre André Setaro:
Graduado em Direito pela UFBA (1974), mestre em História e Teoria da Arte pela Escola de Belas Artes também na UFBA (1998), atualmente é professor adjunto do Departamento de Comunicação da UFBA. Tem experiência na área de Artes com Ênfase em Cinema, atuando principalmente nos seguintes temas: cinema baiano, discurso cinematográfico, análise fílmica e linguagem. Crítico cinematográfico do jornal Tribuna da Bahia, desde agosto de 1974, manteve uma coluna diária de crítica cinematográfica até 1994, quando passou a escrever apenas uma vez por semana. Colaborador eventual do Suplemento Cultural do jornal A Tarde, já publicou alguns ensaios e críticas de cinema neste periódico. Colunista cinematográfico da revista eletrônica Terra Magazine.


Serviço:
Lançamento dos 3 volumes de Escritos sobre cinema, a trilogia de um tempo crítico.
Caixa com 3 volumes: R$60,00. Venda avulsa de cada livro: R$23,00
Na Saladearte Cinema do Museu, dia 13/abril, às 20h.
Endereço: Av. Sete de Setembro, 2595, Corredor da Vitória - Museu Geológico
Tel: (71) 3338 2241

Oficina Gratuita de Crítica Cinematográfica
na Saladearte Cinema da UFBA, dias 14 e 15/abril, das 9h às 11h30.
Endereço: Av. Reitor Miguel Calmon, s/n, Vale do Canela. No pavilhão de aulas da UFBA do Canela (estacionamento gratuito).
Tel: (71) 3235 9879

Clube da Crítica
na Saladearte Cinema da UFBA, dias 13, 14 e 15/abril, das 16h às 17h30. Entrada franca.
(endereço igual ao anterior)




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quarta-feira, 24 de março de 2010

O SÉTIMO SELO

Por André Setaro

Não apenas um cineasta, mas um autor completo, um pensador que se vale do cinema para refletir suas angústias, suas dúvidas, refletir sobre a condição humana, Ingmar Bergman é um dos maiores realizadores cinematográficos de todos os tempos. Houve uma época, nos idos dos 60 e 70, que o seu nome despertava imensa curiosidade e, por causa dela, formou-se um verdadeiro culto ao diretor, que alguns chamaram de bergmania. Se na primeira fase de sua carreira não conheceu o sucesso nas bilheterias, considerado pelos exibidores um cineasta maldito, a partir dos meados dos anos 60 um mercado se abriu para suas obras. Principalmente na sua fase psicanalítica - Cenas de um Casamento, Face a Face, Sonata de Outono... Os filmes de Bergman que mais aprecio, no entanto, exceção se faça a A Paixão de Ana (1970), e, também a O Silêncio, são aqueles da primeira fase, notadamente O Sétimo Selo Morangos Silvestres, A Fonte da Donzela, Noites de Circo, (nunca o tema da humilhação foi tão bem exposto) Mônica e o Desejo, Sorrisos de uma Noite de Verão, Juventude, entre outros. No frigir dos ovos, entretanto, posso dizer que admiro a todos os seus filmes.
O Sétimo Selo, obra-prima da primeira fase do cineasta, ainda que produzido em 1956, somente em 1976, vinte anos depois de sua realização, foi lançado no Brasil através da distribuidora "Cinema 1" e, aqui na Bahia, apresentado neste mesmo ano no antigo cine Nazaré da Praça Almeida Couto. Já Morangos silvestres obteve estréia ainda na segunda metade do decurso dos 50, conseguindo grande impacto e estupefação na época de seu lançamento.
Alegoria tragicômica em forma de mistério medieval, com um desenvolvimento livre do imaginário da Idade Média, O sétimo selo (Det sjunde inseglet) tem sua fábula estruturada na volta de Antonius Blok (Max Von Sydow) à Suécia após dez anos de luta na cruzada e o jogo que estabelece com a Morte num tabuleiro de xadrez. Antonius e seu lacaio Jons (Gunnar Blornstrand) se dirigem, por uma longa jornada, ao castelo onde moram, e, no caminho, contemplam uma terra arrasada pela peste. Este itinerário de Blok, do erro inicial à Verdade final, é conduzido com extrema maestria por Ingmar Bergman, que se utiliza, aqui, do cinema, como um veículo "filosofante" e reflexivo acerca da condição humana. No percurso, Blok e Jons encontram vários personagens mas apenas um casal de artistas mambembes se constitui num remanso de paz e tranquilidade, longe da mesquinharia e da hipocrisia dos outros. Blok, entretanto, continua o jogo de xadrez com a Morte (impressionante caracterização de Bengt Ekerot), mas esta, de repente, ganha partida. Vencedora, precisa levar consigo todos os personagens, deixando na vida somente o casal de cômicos (Bibi Andersson e Nils Poppe), o único capaz de desfrutá-la de maneira pacífica e feliz.
O Sétimo Selo, antes da consagração definitiva que se daria, um ano depois, em Morangos silvestres, já coloca Bergman, no panorama internacional, como um dos grandes cineastas do século XX. Trata-se de um filme, a rigor, gnoseológico em que se estuda a origem e a possibilidade do conhecimento por parte do homem. Por autor, os filmes de Bergman se constituem, na verdade, em variações sobre um mesmo tema. Em todos eles, presentes: a incomunicabilidade dos seres, a angústia do estar-no-mundo, a inevitabilidade e o mistério da morte, os tormentos da relação amorosa...
O sétimo selo volta às raízes do cinema nórdico de Victor Sjostrom e Mauritz Stiller, à floração sueca, quando a natureza tinha uma forte influência no comportamento das personagens. Assim, Det sjunde inseglet pertence à série de filmes que Bergman realizou e que possuem um decór histórico, ainda que o fato de a ação localizada na Idade Média não tira a esta obra magistral seu caráter contemporâneo. O homem que Bergman estuda é o homem do aqui e do agora.Veja-se o caso dos dois protagonistas principais, o Cavaleiro e seu lacaio, que formam, a seu modo, um binômio no qual se debate o tema das fontes das possibilidades de conhecimento - não somente o conhecimento de Deus mas de tudo aquilo que escapa à constatação estrita dos sentidos.
Elementos de mistérios - a bruxa, a peste, a procissão penitencial.., simbolismos e participações insólitas, como a personagem da Morte, criam, em O sétimo selo, um clima tenso ao qual contribuem uma planificação e uma iluminação ( do artista Gunnar Fischer antes de Bergman trabalhar com o iluminador Sven Nykvist) cuidadas com esmero.Aposentando-se antes dos 70 anos, com o filme-síntese "Fanny e Alexander", Ingmar Bergman despediu-se do cinema prematuramente para se retirar e viver em sua ilha particular. Depois do ensaio, filme que realizou para a tv, não é considerado pelo autor sueco obra "para cinema". A ausência de Bergman apresenta uma lacuna para o cinema contemporâneo, pois a escassez de cineastas-pensadores é, muito mais que impressionante, assustadora. A visão de O sétimo selo, em sua versão restaurada e íntegra, surge, portanto, como uma grande oportunidade de se entrar em contato com um dos mestres supremos da sétima arte nestes derradeiros momentos do século XX.
Em O sétimo selo, como a afirmar a condição de autor do cinema moderno, Bergman mostra uma constância temática e estilística, um universo ficcional próprio e um estilo - que faz o artista! - pessoalíssimo. À guisa de um pequeno exemplo, que se veja alguns personagens secundários, os quais, vêem se repetindo nos filmes de Bergman de filme a filme: o casal dos artistas ambulantes (presentes desde Noites de Circo até O Rosto; a controvérsia estabelecida entre o ferreiro e sua mulher - contraponto e complemento.
Nas palavras do ensaista Claude Beylie (no indispensável As obras-primas do cinema, Martins Fontes): "A mensagem é clara. Continuamos ameaçados pela peste, que se chama, hoje, guerra nuclear, e, diante deste perigo, não há outro recurso além dos corações puros. Bergman opõe ao fanatismo e à intolerância, "O leite da ternura humana". No entanto, seu filme nada tem de dogmático. Ele joga o jogo da ingenuidade iconográfica, desenvolve livremente o imaginário medieval. Faz-nos pensar em Durer, nas xilogravuras de Hans Beham, na "dança macabra" de Orcagna. A reflexão filosófica é irrigada sem cessar por um onirismo límpido e, até, por traços de humor, notadamente através do personagem do escudeiro.