terça-feira, 20 de abril de 2010

O INSÓLITO ROMAN POLANSKY

Por André Setaro

Cineasta de rara inventividade no tratamento de seus temas, cuja crueldade vem muitas vezes na maneira pela qual estabelece a sua mise-en-scène, Roman Polansky pode ser considerado um dos mais insólitos realizadores cinematográficos do último quartel do século passado.


O Pianista (The Pianist), traz à cena o seu nome e atesta a maturidade de um autor quase que no outono da existência. Filme maduro e, por vezes, cruel, The Pianist tem uma correção que não admite sucumbir aos desvãos da pós-modernidade ou nos capítulos trânsfugas das inovações retrógradas – vide o dogmatismo dinamarquês e suas desabusadas manifestações ou as gramas innarriturianas.

Aqueles que criticaram Polansky quando este ganhou a Palma de Ouro em Cannes dada a O Pianista, considerando-o certinho demais, são os mesmos que solicitam do cinema não o espetáculo que envolve, aprofunda e traz reflexão, mas o supérfluo das câmeras planosequênciais, da prótese suja como manifestação de autoria e de rebeldia.


Realizador à primeira vista prolixo, Polansky, no entanto, ainda que tenha percorrido vários gêneros, é um autor, pois em cada um de seus filmes há uma gota de sangue de seu pretérito sofrido, maculado, esmagado, mas que ele, sempre confiante, soube ultrapassar os obstáculos e, otimista, apesar de tudo, seguindo, sempre, em frente.

É verdade que a segunda fase de sua obra não apresenta o mesmo impacto da primeira, aquela dos tempos de A faca na água, Repulsa ao sexo, Armadilha do destino, O bebê de Rosemary, Chinatown, O inquilino e, ainda, um extraordinário, e mal visto, MacBeth, que, sem medo de errar, poder-se-ia dizer que melhor que a versão que Orson Welles fez em 1948. Aliás, Polansky, numa entrevista a Jô Soares, quando aqui esteve para lançar Busca frenética, disse que os dois filmes que mais o influenciaram foram 8 e meio, de Federico Fellini, e MacBeth, de Orson Welles.
Mas o admirador confesso veio superar o mestre com a sua admirável, e, mais uma vez, pouco reconhecida, adaptação do clássico de William Shakespeare. Revisitando-se sua obra, a constatação de pontos comuns, de constantes temáticas, evidencia-se: a claustrofobia, o homem sempre acossado por circunstâncias indecifráveis, a insistente crueldade na visão ácida da condição humana, os desvãos do inconsciente, os entrechoques amorosos, a mulher sempre rainha, bela e sedutora, sedutora e bela, um certo ‘non sense’ na apreciação do ato de viver, a violência como mola propulsora para o estabelecimento do poder, a narratividade circular, em alguns filmes (A faca na água’, Chinatown...) onde ao invés de um desfecho se estabelece um impasse numa espécie de eterno retorno. E a perversidade e suas variantes. Polansky vê o homem com um olhar amargo, achando-lhe, a depender das circunstâncias, um potencial enorme de perversidade.


P.S: Uma vez, nos idos dos anos 70, mais precisamente em 1973, estando no Campo Grande com um amigo, li, num jornal, que Roman Polansky estava em Salvador e hospedado no Hotel da Bahia. Perto da hospedagem do autor de Rosemary’s Baby, decidimos, eu e este colega, adentrarmos no hotel à sua procura. Não precisamos ter trabalho na busca, pois, assim que entramos no saguão, avistamos Polansky na pergola da piscina tendo, a seu lado, Jack Nicholson. Aproximamo-nos com certo receio – estava na flor da juventude e, neste período, tudo é encantamento e novidade.

Tive a iniciativa de falar com Nicholson em francês – estudava, desculpem a modéstia, na Alliance Française – e trocamos algumas frases. Ele, muito simpático e receptivo, estava quase careca, porque criando o cabelo para o penteado do personagem que faria em Chinatown, deslumbrante filme noir, o primeiro a revisar o gênero quando ainda não se fazia isto. Polansky nos olhava calado. Acenava, apenas, com a cabeça. Um fotógrafo da Tribuna da Bahia, jornal onde escrevia uma coluna, estava a os acompanhar. Disse-me que estavam ali esperando que a namorada de Polansky descesse do apartamento.

O fotógrafo, que era Lázaro Torres, seria o cicerone para um passeio a Arembepe, que os dois manifestaram desejo de conhecer e que, na época, era um ‘must’, um ‘point’, uma aldeia hippie famosa no mundo inteiro e que tinha um insólito relógio solar. Quando Polansky, também falando em francês, começou a conversar sobre o filme que ia fazer, uma ‘louraça’ – fillet-mignon mesmo – apareceu na pergola. E se foram embora, deixando-nos a ver navios.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

lll BAHIA AFRO FILM FESTIVAL

Por Beto Magno

Será realizado de 13 a 23 de maio de 2010, na cidade de Cachoeira - Bahia, com o objetivo de fortalecer o desenvolvimento da formação, produção e difusão do audiovisual brasileiro, otimizando a vocação de Cachoeira, São Félix e demais municípios do Território de Identidade do Recôncavo como potencial pólo cinematográfico e do turismo étnico.
O lançamento da programação do III Bahia Afro Film Festival aconteceu dia 12 de abril de 2010 no Centro de Artes, Humanidades e Letras da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, com as presenças da Coordenação Executiva do Festival, Professor Danillo Barata, coordenador do Curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Lázaro Farias, da Casa de Cinema da Bahia, Luiz Cachoeira, coordenador do Ponto de Cultura Rede Terreiro Cultural/CEPASC e do Ponto de Cultura Expressão Cidadania Quilombola/CECVI. Além da programação, disponível no site do evento, representantes do IRDEB-TVE e da Petrobrás falaram sobre a importância do evento e do apoio que darão institucionalmente ao III Bahia Afro Film, inclusive com a cobertura da TV Educativa da Bahia, através de divulgação e reportagens.
Marcos Peri, do IRDEB, falou sobre a importância histórica e cinematográfica de Cachoeira e felicitou a UFRB por sediar e integrar a comissão executiva do evento. Ratificou o apoio do IRDEB na divulgação do festival, adiantando que a TVE deve produzir uma series de VT's que será produzida em parceria com os cursos de Cinema e Jornalismo da UFRB, para circular na programação da TV. Ele estuda a possibilidade de realizar o minuto do festival, uma espécie de telejornal diário, de um minuto, revelando as atividades do festival.O assessor de imprensa da Petrobrás, Rosenberg Pinto, falou da preocupação especial que a Petrobrás tem com relação à produção cultural do Brasil, relembrou o percurso da Petrobrás no apoio às produções culturais e sobre a preocupação atual da empresa com a qualidade dos projetos patrocinados, visto que no passado a empresa apoiava muito cinema, mas não tinha uma preocupação com o conteúdo, e que o Afro Film Festival tem uma importância enorme para a Bahia e o Brasil e por conta disso a Petrobrás é parceira na realização do evento.


Luiz (Lula) Wandhausen Cineasta e Assessor da curadoria e Programação do BAFF

Sinto-me honrado em estar contribuindo com o BAFF. Participo desde o seu lançamento, quando naquela noite de Dezembro no Palácio da Aclamação, afirmava que o cinema baiano estava fazendo a sua história, com os seus holofotes iluminando as nossas raízes afro-brasileiras, abrindo as portas do audiovisual para refletir o talento de um povo.

Hoje, o BAFF consolida-se no melhor cenário possível para abrigá-lo, a histórica cidade de Cachoeira, em pleno recôncavo baiano, impregnado de riquezas culturais.


De grande valia a nossa parceria com a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, através da sua Escola de Cinema, representado por Danillo Barata, abre as suas portas ao BAFF, e com isso compartilha do espírito do Festival, em um momento em que na Bahia, o cinema entra em ebulição, revelando grandes talentos.



Percebo uma união de pessoas muito talentosas e apaixonadas pelo cinema em torno de Lázaro Faria, o seu idealizador, o que me dá uma sensação de nítida confiança em realizar um excelente Festival.

domingo, 11 de abril de 2010

RADA ZAVERUTCHA REZEDÁ

Rada Rezedá: Atriz, Apresentadora, Diretora de TV e Diretora da CAP Escola de Tv e Cinema em Salvador

BATE-PAPO

Roberto Monteiro (TV Itapoan), Jefferson Beltrão (TV Bahia) e Rada Rezedá (Cap Escola de TV e Cinema) no projeto Bate-papo onde trocam idéias com alunos da Escola.

LANÇAMENTO DE LIVRO SOBRE CINEMA

Capas dos Livros

Por André Setaro


A simpática jornalista Aleksandra Pinheiro, que trabalha na divulgação de meu livro Escritos sobre Cinema - Trilogia de um tempo crítico, escreveu um texto sobre a publicação e sobre a minha trajetória. Não mereço tantas palavras gentis, mas, neste domingo de chuva e trovoadas, e a considerar a proximidade do lançamento, gostaria, aqui, de transcrever o que Aleksandra escreveu sob o título de Um homem chamado cinema. Abrindo as necessárias aspas, pois o que vai a seguir não é de minha pena. O que me resta é agradecer a Alé e parabenizá-la pelo seu trabalho.


Um homem chamado Cinema
"Com quase 40 anos de experiência em análise cinematográfica, André Setaro, crítico de cinema do Terra Magazine e professor da Facom (UFBA), reuniu textos, resenhas e suas melhores análises filmícas para lançar, em 3 volumes, a coleção Escritos sobre cinema - trilogia de um tempo crítico. O lançamento é da editora carioca Azougue, coedição da Edufba, produção da Multi Planejamento Cultural e patrocínio do Fundo de Cultura da Bahia, da Secretaria de Cultura do Estado (Secult).
A noite de autógrafos será na próxima terça-feira, 13/abril, às 20h, na Saladearte Cinema do Museu.

São partes integrantes deste projeto, a realização da Oficina Gratuita de Crítica Cinematográfica, nos dias 14 e 15/abr, e o Clube da Crítica - sessão de bate-papos entre Setaro e outros críticos brasileiros convidados ao evento-, nos dias 14, 15 e 16/abr, na Saladearte Cinema da UFBA.

André Setaro estreou na crítica cinematográfica há cerca de 40 anos, quando escreveu seu primeiro ensaio na imprensa, no antigo Jornal da Bahia, defendendo a importância de Jerry Lewis. Em vez de submeter-se aos padrões ideológicos da época, preferiu privilegiar a estética cinematográfica, tal e qual aquele personagem quixotesco de Nós que nos amávamos tanto, de Ettore Scola. É o próprio Setaro quem explica as reações na ocasião: “Se até hoje muitas pessoas não compreendem o valor de Jerry Lewis, acham que é um diretor de sessão da tarde, imagine naquele período ideologizado? Fui logo chamado de alienado”, relata, com o riso irônico de quem sempre amou muito mais o cinema do que as revoluções.

Seu amor pelo cinema, reiterado na militância da imprensa diária, especialmente no Jornal Tribuna da Bahia, ganha agora o sabor da permanência. A editora Azouge, em parceria com a Edufba, lança no próximo dia 13 de abril, Escritos sobre o cinema, trilogia de um tempo crítico.

A obra 'setariana' está dividida em 3 volumes: No Vol I encontramos os escritos sobre filmes, atores e diretores que marcaram a história do cinema e também depoimentos e artigos com inclinações autobiográficas. Além das impressões do crítico sobre Orson Welles, Kurosawa, Fellini, Godard, Bergman, entre outros ícones, fica-se também conhecendo a trajetória e paixão de Setaro pelo seu objeto de desejo e estudo.

O Vol II é dedicado integralmente ao cinema baiano que este ano completa 100 anos. Nas resenhas críticas, o autor fala sobre as obras e cineastas pioneiros na Bahia (a exemplo de Roberto Pires e Glauber Rocha) e também reflete sobre os homens e as circunstâncias que permitiram o surgimento e a efervescência do cinema na província. Setaro rende homenagens ao mestre Walter da Silveira e ao lendário Clube de Cinema da Bahia, assim como reconhece o valor de empreendedores, a exemplo de Guido Araújo e sua longeva Jornada de Cinema. Fala sobre o boom superoitista e recorda com ternura dos cinemas de rua de Salvador, como o Guarany, Excelsior, Liceu, Tamoio, Bahia, Pax, Aliança, Jandaia.

No Vol III Setaro trata especificamente da linguagem cinematográfica: Embrenha-se pelos caminhos teóricos, destaca as escolas, os autores, mas nunca perde de vista aquilo que o crítico Inácio Araújo, autor do prefácio da sua trilogia, definiu como “uma prazerosa proposta civilizatória”.


Este farto material estava praticamente destinado ao esquecimento, já que André Setaro, apesar do incentivo que sempre recebeu dos colegas e alunos, recusava a ideia de transformar tudo em livro: “Amigos sempre me falaram para escrever um livro, mas eu nunca quis”, relata, destacando que foi convencido da viabilidade do projeto pelo jornalista e escritor Carlos Ribeiro, que há mais de 15 anos insistia na publicação destes textos. Foi assim que, a partir de 2005, Carlos Ribeiro juntou-se a Carlos Pereira, André França, Marcos Pierry e alguns outros ex-alunos de Setaro e decidiram, de forma voluntária, realizar o trabalho de pesquisa e seleção da obra: “O enorme esforço dos professores que realizaram o trabalho foi, em si, um reconhecimento à contribuição de André Setaro ao cinema da Bahia e do Brasil. É um material valiosíssimo, que necessitava ser preservado.”, destaca Carlos Ribeiro, organizador dos três volumes. Esta memória e toda a paixão de Setaro será lançada às 20h, do dia 13/abr, na Saladearte do Cinema do Museu e em breve estará nas principais livrarias do país."

OFICINA DE CRÍTICA CINEMATOGRÁFICA:
Um dia após o lançamento da trilogia Escritos sobre cinema..., Setaro começa Oficina Gratuita de Crítica Cinematográfica nos dias 14 e 15/abril, das 9h às 11h30, na Saladearte do Cinema da UFBA, conforme programação descrita a seguir:

14/abril
1.) A crítica cinematográfica como instrumento de conhecimento da arte do filme. A narrativa e a fábula no discurso cinematográfico. O elo sintático e o elo semântico.
2.)Técnica, linguagem e estética. A transformação da crítica através dos tempos. A decadência dos suplementos culturais. A crítica do pretérito e a crítica contemporânea. Diferenciações entre ensaio, crítica, comentário e resenha.

15/abril
3.) A mise-en-scène. Tout est dans la mise-en-scène. Cineastas cerebrais e cineastas intuitivos. Os filmes-faróis e a necessidade de uma base referencial. A crítica de cinema como crítica de arte.
4.) A redução da crítica nos jornais expressos e o advento de blogs e sites. A crise da crítica e do cinema contemporâneo.
Inscrições gratuitas: Interessados devem solicitar ficha de inscrição através do e-mail:
oficinadecritica@gmail.com

CLUBE DA CRÍTICA:
Encerrando a tríade do projeto patrocinado pelo Fundo de Cultura do Estado da Bahia e produzido pela Multi Planejamento Cultural, acontece o Clube da Crítica: 3 dias de debates entre críticos convidados e André Setaro afim de discutirem assuntos ligados ao cinema atual. O bate-papo será das 16h às 17h30 na Saladearte Cinema da UFBA e a entrada é franca. Abaixo, as datas de realização, nomes dos críticos e temas que serão abordados:

· 14/abril: A decadência da crítica nos jornais e o seu advento em blogs e sites com Sérgio Alpendre (editor da revista eletrônica Paisà, crítico da Contracampo, colaborar esporádico da Folha de S Paulo, UOL Cinema, Cineclick, Revista MOVIE, Zingu e Cinequanon)
· 15/abril: Panorama atual da crítica cinematográfica com Francis Vogner (crítico da revista eletrônica Cinética, professor de cinema e colunista da revista Filme Cultura - que será relançada agora em abril/2010)
· 16/abril (sexta): A Inexistência da crítica na Bahia como reflexo de seu momento cultural com Marcos Pierry (Jornalista e professor de cinema) e André França (professor de cinema e artista visual)


Sobre André Setaro:
Graduado em Direito pela UFBA (1974), mestre em História e Teoria da Arte pela Escola de Belas Artes também na UFBA (1998), atualmente é professor adjunto do Departamento de Comunicação da UFBA. Tem experiência na área de Artes com Ênfase em Cinema, atuando principalmente nos seguintes temas: cinema baiano, discurso cinematográfico, análise fílmica e linguagem. Crítico cinematográfico do jornal Tribuna da Bahia, desde agosto de 1974, manteve uma coluna diária de crítica cinematográfica até 1994, quando passou a escrever apenas uma vez por semana. Colaborador eventual do Suplemento Cultural do jornal A Tarde, já publicou alguns ensaios e críticas de cinema neste periódico. Colunista cinematográfico da revista eletrônica Terra Magazine.


Serviço:
Lançamento dos 3 volumes de Escritos sobre cinema, a trilogia de um tempo crítico.
Caixa com 3 volumes: R$60,00. Venda avulsa de cada livro: R$23,00
Na Saladearte Cinema do Museu, dia 13/abril, às 20h.
Endereço: Av. Sete de Setembro, 2595, Corredor da Vitória - Museu Geológico
Tel: (71) 3338 2241

Oficina Gratuita de Crítica Cinematográfica
na Saladearte Cinema da UFBA, dias 14 e 15/abril, das 9h às 11h30.
Endereço: Av. Reitor Miguel Calmon, s/n, Vale do Canela. No pavilhão de aulas da UFBA do Canela (estacionamento gratuito).
Tel: (71) 3235 9879

Clube da Crítica
na Saladearte Cinema da UFBA, dias 13, 14 e 15/abril, das 16h às 17h30. Entrada franca.
(endereço igual ao anterior)




Ler mais:
http://setarosblog.blogspot.com/2010/04/escritos-sobre-cinema-e-uma-trilogia.html#ixzz0koM7SLYm

quarta-feira, 24 de março de 2010

O SÉTIMO SELO

Por André Setaro

Não apenas um cineasta, mas um autor completo, um pensador que se vale do cinema para refletir suas angústias, suas dúvidas, refletir sobre a condição humana, Ingmar Bergman é um dos maiores realizadores cinematográficos de todos os tempos. Houve uma época, nos idos dos 60 e 70, que o seu nome despertava imensa curiosidade e, por causa dela, formou-se um verdadeiro culto ao diretor, que alguns chamaram de bergmania. Se na primeira fase de sua carreira não conheceu o sucesso nas bilheterias, considerado pelos exibidores um cineasta maldito, a partir dos meados dos anos 60 um mercado se abriu para suas obras. Principalmente na sua fase psicanalítica - Cenas de um Casamento, Face a Face, Sonata de Outono... Os filmes de Bergman que mais aprecio, no entanto, exceção se faça a A Paixão de Ana (1970), e, também a O Silêncio, são aqueles da primeira fase, notadamente O Sétimo Selo Morangos Silvestres, A Fonte da Donzela, Noites de Circo, (nunca o tema da humilhação foi tão bem exposto) Mônica e o Desejo, Sorrisos de uma Noite de Verão, Juventude, entre outros. No frigir dos ovos, entretanto, posso dizer que admiro a todos os seus filmes.
O Sétimo Selo, obra-prima da primeira fase do cineasta, ainda que produzido em 1956, somente em 1976, vinte anos depois de sua realização, foi lançado no Brasil através da distribuidora "Cinema 1" e, aqui na Bahia, apresentado neste mesmo ano no antigo cine Nazaré da Praça Almeida Couto. Já Morangos silvestres obteve estréia ainda na segunda metade do decurso dos 50, conseguindo grande impacto e estupefação na época de seu lançamento.
Alegoria tragicômica em forma de mistério medieval, com um desenvolvimento livre do imaginário da Idade Média, O sétimo selo (Det sjunde inseglet) tem sua fábula estruturada na volta de Antonius Blok (Max Von Sydow) à Suécia após dez anos de luta na cruzada e o jogo que estabelece com a Morte num tabuleiro de xadrez. Antonius e seu lacaio Jons (Gunnar Blornstrand) se dirigem, por uma longa jornada, ao castelo onde moram, e, no caminho, contemplam uma terra arrasada pela peste. Este itinerário de Blok, do erro inicial à Verdade final, é conduzido com extrema maestria por Ingmar Bergman, que se utiliza, aqui, do cinema, como um veículo "filosofante" e reflexivo acerca da condição humana. No percurso, Blok e Jons encontram vários personagens mas apenas um casal de artistas mambembes se constitui num remanso de paz e tranquilidade, longe da mesquinharia e da hipocrisia dos outros. Blok, entretanto, continua o jogo de xadrez com a Morte (impressionante caracterização de Bengt Ekerot), mas esta, de repente, ganha partida. Vencedora, precisa levar consigo todos os personagens, deixando na vida somente o casal de cômicos (Bibi Andersson e Nils Poppe), o único capaz de desfrutá-la de maneira pacífica e feliz.
O Sétimo Selo, antes da consagração definitiva que se daria, um ano depois, em Morangos silvestres, já coloca Bergman, no panorama internacional, como um dos grandes cineastas do século XX. Trata-se de um filme, a rigor, gnoseológico em que se estuda a origem e a possibilidade do conhecimento por parte do homem. Por autor, os filmes de Bergman se constituem, na verdade, em variações sobre um mesmo tema. Em todos eles, presentes: a incomunicabilidade dos seres, a angústia do estar-no-mundo, a inevitabilidade e o mistério da morte, os tormentos da relação amorosa...
O sétimo selo volta às raízes do cinema nórdico de Victor Sjostrom e Mauritz Stiller, à floração sueca, quando a natureza tinha uma forte influência no comportamento das personagens. Assim, Det sjunde inseglet pertence à série de filmes que Bergman realizou e que possuem um decór histórico, ainda que o fato de a ação localizada na Idade Média não tira a esta obra magistral seu caráter contemporâneo. O homem que Bergman estuda é o homem do aqui e do agora.Veja-se o caso dos dois protagonistas principais, o Cavaleiro e seu lacaio, que formam, a seu modo, um binômio no qual se debate o tema das fontes das possibilidades de conhecimento - não somente o conhecimento de Deus mas de tudo aquilo que escapa à constatação estrita dos sentidos.
Elementos de mistérios - a bruxa, a peste, a procissão penitencial.., simbolismos e participações insólitas, como a personagem da Morte, criam, em O sétimo selo, um clima tenso ao qual contribuem uma planificação e uma iluminação ( do artista Gunnar Fischer antes de Bergman trabalhar com o iluminador Sven Nykvist) cuidadas com esmero.Aposentando-se antes dos 70 anos, com o filme-síntese "Fanny e Alexander", Ingmar Bergman despediu-se do cinema prematuramente para se retirar e viver em sua ilha particular. Depois do ensaio, filme que realizou para a tv, não é considerado pelo autor sueco obra "para cinema". A ausência de Bergman apresenta uma lacuna para o cinema contemporâneo, pois a escassez de cineastas-pensadores é, muito mais que impressionante, assustadora. A visão de O sétimo selo, em sua versão restaurada e íntegra, surge, portanto, como uma grande oportunidade de se entrar em contato com um dos mestres supremos da sétima arte nestes derradeiros momentos do século XX.
Em O sétimo selo, como a afirmar a condição de autor do cinema moderno, Bergman mostra uma constância temática e estilística, um universo ficcional próprio e um estilo - que faz o artista! - pessoalíssimo. À guisa de um pequeno exemplo, que se veja alguns personagens secundários, os quais, vêem se repetindo nos filmes de Bergman de filme a filme: o casal dos artistas ambulantes (presentes desde Noites de Circo até O Rosto; a controvérsia estabelecida entre o ferreiro e sua mulher - contraponto e complemento.
Nas palavras do ensaista Claude Beylie (no indispensável As obras-primas do cinema, Martins Fontes): "A mensagem é clara. Continuamos ameaçados pela peste, que se chama, hoje, guerra nuclear, e, diante deste perigo, não há outro recurso além dos corações puros. Bergman opõe ao fanatismo e à intolerância, "O leite da ternura humana". No entanto, seu filme nada tem de dogmático. Ele joga o jogo da ingenuidade iconográfica, desenvolve livremente o imaginário medieval. Faz-nos pensar em Durer, nas xilogravuras de Hans Beham, na "dança macabra" de Orcagna. A reflexão filosófica é irrigada sem cessar por um onirismo límpido e, até, por traços de humor, notadamente através do personagem do escudeiro.

quarta-feira, 10 de março de 2010

COPPOLA EM SALVADOR!

Tuna Espinheira e André Setaro

Por André Setaro

O cineasta baiano Tuna Espinheira, autor do longa Cascalho, baseado em livro homonimo de Herberto Salles, cochicha, em off, sobre a possibilidade de Francis Ford Coppola vir a Salvador para fazer um filme sobre a cultura negra. Estupefato, e, mesmo assim, meio assombrado, ouso o que ele diz. "Posso colocar no meu blog?", perguntei, mas ele diz que ainda é um "segredo de estado." Mas creio não estar a revelar os detalhes, que são, estes sim, significativos e provocaria, na certa, um certo trauma no corporativismo dos cineastas ditos baianos. E nada mais digo.Ler mais: http://setarosblog.blogspot.com/#ixzz0hkewavPl

quarta-feira, 3 de março de 2010

MANOEL DE BARROS " SÓ DEZ POR CENTO É MENTIRA"

Manoel de Barros, no período de lançamento do filme, tinha 93 anos, cerca de 20 livros publicados e vivia em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.


ficha técnica:
título original:Só Dez por Cento é Mentira
gênero:Documentário
duração:01 hs 16 min
ano de lançamento:2010
site oficial:http://www.sodez.com.br/
estúdio:Artezanato Eletrônico / Vite Produções / Associação Jangada
distribuidora:Downtown Filmes
direção: Pedro Cezar
roteiro:Pedro Cezar
produção:Pedro Cezar e Kátia Adler
música:Marcos Kuzca Cunha
fotografia:Stefan Hessdesenho de produção: -->
direção de arte:Márcio Paes
figurino:
edição:Júlio Adler e Pedro Cezar
efeitos especiais:

domingo, 14 de fevereiro de 2010

O BANDIDO DA LUZ VERMELHA

Por Beto Magno

Paulo Villaça e Helena Ignez (cena do filme O Bandido da Luz Vermelha)

Rogério Sganzerla (Joaçaba, 26 de novembro de 1946 — São Paulo, 9 de janeiro de 2004)

Desde cedo, Sganzerla manifestou sua vocação para o cinema. Casou-se com sua própria musa do cinema (a atriz Helena Ignez), viveu para o cinema e morreu fazendo cinema.
De natureza intelectual, leitor e escritor precoce, formado desde a adolescência na leitura de diversas tradições artísticas e de vanguardas mundiais. Antes de começar sua produção cinematográfica, ainda muito jovem, foi acolhido por Décio de Almeida Prado, que na época dirigia o Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo, e seu texto de estréia foi sobre Os Cafajestes, filme de Ruy Guerra de 1962.
Continuou no Suplemento e colaborou também com o Jornal da Tarde. Sempre escrevendo sobre cinema.Em 1967 realizou seu primeiro curta-metragem titulado como Documentário.
E em 1968 seu primeiro longa-metragem foi rodado, o consagrado O bandido da luz vermelha. Estrelado por Paulo Villaça, perfeito no papel de um psicopata, o filme caiu como uma bomba no colo de uma intelectualidade que repetia feito papagaio o discurso pós-moderno de Michel Foucault e outros ideólogos que radiografaram a ascensão dos discursos das minorias. Com uma violência estilizada, tataravó do estilo “Pulp Fiction”, “O Bandido da Luz Vermelha” acompanhava o bafafá criado pelas ações de um ladrão, assassino e estuprador que representava uma metáfora da ação do poder repressor.Anos antes de Stanley Kubrick abordar realidade similar com seu “Laranja Mecânica”, Sganzerla chocava com sua experiência visual rica em referências à cultura nacional, incluindo MPB, literatura e o próprio cinema. Já ali aparecia Helena Ignez como a ninfa que inspira o gênio criador do cineasta. Lançado em 1968, o filme deixou a crítica, que ainda procurava se acostumar com os desvarios estéticos dos cinemanovistas, de cabelo em pé. Afinal, ali ganhava maturidade e voz grossa de adulto um novo projeto de se abordar a realidade brasileira na tela grande. Projeto este batizado como “Cinema Marginal”, que ganhara vida no ano anterior com o lançamento de “A Margem”, obra-prima de Ozualdo R. Candeias, calcado na pobreza de quem está na periferia do grande capital. Até hoje, no cenário acadêmico há quem prefira “O Bandido da Luz Vermelha” a “Deus e o Diabo na Terra do Sol”.
Em instituições públicas de ensino de cinema, como a Universidade Federal Fluminense, no Rio, e a Universidade de São Paulo, existem legiões de estudantes que enxergam em Sganzerla um mito de renovação e revolução estética. E, por isso, sua obra mais popular é tema de pesquisas e estudos, como o de Fernão Ramos, aclamado pesquisador e autor do livro “Cinema Marginal”. “’O Bandido da Luz Vermelha’ é um filme singular em diversos aspectos. Por seu ineditismo, já incorpora uma certa desenvoltura em relação à utilização irônica da narrativa clássica, embora seja ainda marcado pelo Cinema Novo”, afirmou Fernão em seu livro.
“Faltou linguagem depois do ‘Bandido’. Ninguém está se mancando. Naquele momento estávamos sintonizados.
Nós éramos muito cultos naquele momento. Faltaram condições históricas para não deixar acontecer. Os produtores se tornaram muito ingênuos, não entendiam mais nada de cinema. O cinema tem de ter linguagem. Tem de ter estrutura. Em São Paulo perdeu-se a sintaxe do cinema e perdeu-se também até a dignidade do cinema. E não se culpem os realizadores por isso”.

PRIMEIRO DOCUMENTÁRIO DE ROGÉRIO SGANZERLA

Por André Setaro

Documentário é o primeiro filme de Rogério Sganzerla, um curta em torno de 10 minutos, realizado em 1966, já revelador de um estilo que colocou em prática principalmente no explosivo O bandido da luz vermelha, dois anos depois, em 1968 (que é um dos mais fascinantes filmes da história do cinema brasileiro em todos os tempos). Dois rapazes (um deles, Andrea Tonnacci, que se tornaria um dos nomes mais importantes do chamado cinema marginal - Bang Bang e, há alguns anos, realizou o premiado Serras da desordem), na capital paulista, andam pelas suas ruas à procura de algo para fazer. Durante o trajeto, conversam bastante sobre os mais variados asuntos, principalmente de cinema. Enquanto isso, cartazes de filmes vão sendo mostrados como as fachadas das mais sensacionalistas salas de exibição de SP. Nunca tinha visto este filme que inicia o autor de O bandido da luz vermelha nas imagens em movimento. A oportunidade surgiu agora via You Tube.

Ler mais: http://setarosblog.blogspot.com/2010/02/o-primeiro-filme-de-rogerio-sganzerla.html#ixzz0fYrYchzb

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

MORRE TIMO DE ANDRADE


Por André Setaro
Timo Andrade (1944/2010) in Memoriam

José Oswald Guerrini de Andrade, mais conhecido como Timo Andrade, foi levado pela Implacável semana retrasada aos 65 anos (faria 66 dia 1 de maio), deixando seus amigos e colegas consternados com o seu falecimento. Sobre ter sido um excelente técnico de som, Timo era uma pessoa gentil, de lhano trato e possuía um senso de humor bastante aguçado, que dava a impressão de estar a rir do absurdo da existência, da comédia humana. Além do profissional competente, Timo gostava muito de tomar umas e outras (e o dito aqui é um elogio). Sabia, como poucos, entornar, sem que, com isso, se transtornasse, mas, ao contrário, ficava sempre sóbrio na sua composição etílica, salvo, evidentemente, e ninguém é de ferro, em raras ocasiões. Quem, em sã consciência, pode suportar a dura realidade da vida sem tomar umas três doses de scotch? já dizia Humphrey Bogart. Ao contrário dos dias de hoje, egoísticos, individualistas, consumistas, era amigo de seus amigos. Conheci Timo lá pelos anos 70, e, vez por outra, encontrava-o, vermelho, com cara de felicidade, sorriso aberto, nos colons da vida.

Neto do famoso Oswald de Andrade, sobrinho de Rudá, que faleceu também, José Oswald Guerrini de Andrade largou São Paulo (onde tinha tudo para circular folgado nos meios artísticos e intelectuais) para adotar a Bahia como morada da felicidade. Em 1981, trabalhei como ator-canastrão em O cisne também morre, de Tuna Espinheira, no papel de um dono de funerária. O filme, retrato de um tempo boêmio que não mais existe, inspirado na figura etérea do grande poeta Carlos Anysio Melhor, é um dos poucos trabalhos de ficção do documentarista Tuna (o outro: o longa Cascalho, baseado no romance homônimo de Herberto Salles). Lembro-me bem que houve uma sequência numa funerária do Terreiro de Jesus que durou quase o dia inteiro a entrar madrugada adentro. Para esperar as tomadas, ficava com Timo e outros companheiros da equipe, a tomar cervejas num barzinho em frente. O cinema, para o ator (não sou ator, mas já participei de poucos filmes como tal) é esperar a próxima tomada.

Seu currículo é extenso. Foi som-guia, em 1975, de Tenda dos milagres, que Nelson Pereira dos Santos filmou na Bahia segundo o livro de Jorge Amado. Trabalhou muito com Agnaldo Siri Azevedo (O boca do inferno, Creio em ti São Jorge dos Ilhéus, Não houve tempo sequer para as lágrimas, Memórias de Deus e o Diabo em Monte Santo e Cocorobó, Suite Bahia, A volta do Boca do Inferno, As philarmônicas, entre muitos outros), Tuna Espinheira (Maculelê, Seca verde, A seca no lago de Sobradinho, o já citado O cisne também morre etc), Guido Araújo (A morte das velas do Recôncavo, Ilhas da esperança, O Raso da Catarina, uma reserva ecológica), Fernando Cony Campos (O box amador, Semana de arte e educação...), Ipojuca Pontes (Memórias de Canudos), Roberto Gaguinho (Casa de taipa, Os que dormem do lado de fora), Plácido Campos Junior (Curumim na terra do sol), João Baptista Reimão (Daniel, o capanga de Deus), Rino Marconi e Tasso Franco (O lixo), Chico Drummond (Regalia de balaio), Arnold Conceição (O rio da vida), Fernando Bélens (Fibra), Pola Ribeiro (A lenda do Pai Inácio), Gofredo da Silva Telles Neto (Brasilíndia), Rubens Rocha (O sertão dos tocós), Otávio Bezerra (A resistência da lua), Walter Pinto Lima e Carlos Vasconcelos Domingues (O império do Belo Monte), Chico Liberato (O boi Aruá, desenho animado baiano de longa metragem), Luis Celso Campinho (Riscada do mapa), Luis Wenderhausen (Ursula), Chico Botelho (Janette, como assistente de produção), Almir Freire (A palavra aretê), entre muitos e muitos outros. Trabalhou também em importantes agências de publicidade. E foi o organizador do livro Dia seguinte e os outros dias, de seu avô Oswald de Andrade (Editora Cótex)
Quem me comunicou o falecimento de Timo Andrade foi Tuna Espinheira, quando ainda estava em Tiradentes. Assim se manifestou sobre o amigo e colega:

"Timo subverteu a ordem natural do êxodo. Nascido e criado na Paulicéia Desvairada, neto de Oswald de Andrade, sobrinho de outro Andrade, Rudá, tinha, portanto, régua e compasso e jogo de cintura próprio, para transitar com facilidade nas rodas da arte/cultura paulistana. Deixou o campo florido, escolheu a aventura. Um belo dia, obedecendo os ditames da sua própria cabeça, arrumou o matulão, pegou um Ita no sul e veio dar com os costados na Bahia de Todos os Exús.
Era um amigueiro profissional, bom de copo, dono de humor de boa cepa.

Tornou-se, em pouco tempo, em um baiano autêntico, com a marca emblemática, desta sua cidadania ter sido por obra e graça, com o Amem e a benção dos Anjos, da opção/devoção.
Aqueles que o conheceram nas aventuras cinematográficas, produções franciscanas, nesta renitente província, bem sabem do companheirismo, da presteza, deste membro de equipe, pau pra toda obra, sempre disposto, “sin perder La ternura jamás”.

Timo terá sempre um lugar no imaginário/memória, dos verdadeiros amigos, ele que, muitas vezes, desassombrado, rompia a barreira da amizade para se tornar um cúmplice.
Saudades e um brinde ao personagem Timo Andrade"


Tuna Espinheira


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

JÚRI DO FESTIVAL DE CINEMA DE TIRADENTES-MG

Não cheguei a tirar dentes

Por André Setaro

1) Morreu Timo Andrade, eficiente técnico de som que trabalhou na maior parte dos documentários feitos na Bahia nas décadas de 80, 90 e nesta última que se finda agora em 2010. Sobre ser um profissional de mão cheia, caracterizava-se pelo bom humor, que nunca negava um sorriso ao interlocutor. E, importante, era também um profissional do copo. O que o elevava da rotina e do tédio. Mas vou postar, noutro dia, um escrito mais detalhado sobre a figura e a trajetória de Timo Andrade (Andrade ilustre porque parente de Oswald. Sim, o autor de O rei da vela).
2) Quando bato estas mal traçadas, acabei de chegar de Tiradentes, cidade histórica de Minas Gerais, que tem um mostra importante de cinema há treze anos. Fui convidado para fazer parte do júri da crítica da Mostra Aurora (veja a foto do pessoal reunido)
3) Impressionante, para uma cidade pequena, o número de pousadas que tem Tiradentes. Perto de cem, segundo me informou um proprietário de uma delas. Todo mês de janeiro a cidade vira palco do cinema brasileiro com a sua já consolidade Mostra de Tiradentes, coordenada com o dinamismo e a eficiência de Raquel Hallak. E as pousadas são, quase todas, agradáveis, limpas, atmosféricas. Fiquei numa delas durante 7 dias, com atividade diária obrigado que estava a ver os filmes da Aurora. Mas o evento não se limitou a esta. Uma profusão de mostras de curtas, várias oficinas, debates dos filmes apresentados com os diretores e um crítico escolhido, seminários etc. Trés os júris: o do voto popular, e, na Aurora, o júri jovem constituído de estudiosos da análise fílmica, e o júri da crítica. O filme que ganhou, O caminho de Ythaca tem ecos do cinema marginal e uma proposta atual e interessante. Agradou tanto que foi duplamente premiado: pelo júri da crítica e pelo júri jovem.
4) Produzido para a Televisão Educativa da Bahia, Na Cena, clips diários veiculados pela tv, uma realização dos inquietos Raul Moreira e Cássio Sadder, esteve em Tiradentes para, segundo a sua equipe, revelar os paradoxos do evento. Os clips possuem certa non chalance e muita ironia. Moreira é um baiano que virou italiano e, depois, voltou a ser baiano. Na Cena não tem rabo preso nem vínculo chapa branca, ainda que seja uma realização da TVE. Mas, neste particular, Moreira e Sadder trabalham com ampla liberdade e não são afeitos a dormir de touca. Audazes e malditos na boa acepção da expressão. Para ter uma idéia das pérolas moreirianas e sadderianas: www.youtube.com/pgmnacena
5) Tiradentes lembra muito Cachoeira, mas a diferença está nos serviços oferecidos. Excelentes pousadas e não menos excelentes restaurantes. Já em Cachoeira, exceção se faça a uma pousada, poucas as opções de uma hospedagem confortável, assim como bares e restaurantes. Com a instalação da Universidade Federal do Recôncavo tudo leva a crer que a cidade histórica de Cachoeira venha a se revitalizar. Nos anos 80, Guido Araújo realizou a sua jornada de cinema em Cachoeira por duas vezes seguidas. Mas a precaridade dos alojamentos para tanta gente fê-lo desistir. E os filmes, nas jornadas cachoeiranas, eram exibidos num antigo cinema com projeção a desejar. Já o Cine Tenda de Tiradentes é um espaço ideal para um evento. Além de uma sala de projeção excelente, há, no espaço da tenda, um bar que fecha quando a madrugada dá o sinal, lojas, espaço para shows (que acontecem todos os dias meia-noite) etc. Mas o Cine Tenda tem uma duração efêmera. Montado para a Mostra Tiradentes, dia seguinte ao encerramento do festival é completamente destruída para ser montada de novo no ano seguinte.
6) Clint Eastwood faz um filme atrás do outro e está sempre a surpreender como parece ser o caso do recente Invictus, que mostra como Nelson Madella conseguiu superar os obstáculos entre raças por causa da emoção de um jogo de rúgbi. Morgan Freeman, dizem, está em sua quitessência como ator na pele de Mandella. E tem também o talentoso Matt Damon. Ainda não vi Invictus, mas já posso prever que vou gostar. Eastwood é um dos poucos que ainda se podem dizer cineastas na barbárie do cinema contemporâneo.

7) Na foto (clique na imagem para vê-la maior), o júri da crítica. Da esquerda para a direita, Denílson Lopes (RJ), Luiz Carlos Merten (SP), Luciana Corrêa de Araújo (SP), André Brasil (MG), e André Setaro (BA).


Ler mais: http://setarosblog.blogspot.com/2010/02/nao-cheguei-tirar-dentes.html#ixzz0eJdNiyhe