quarta-feira, 24 de março de 2010

O SÉTIMO SELO

Por André Setaro

Não apenas um cineasta, mas um autor completo, um pensador que se vale do cinema para refletir suas angústias, suas dúvidas, refletir sobre a condição humana, Ingmar Bergman é um dos maiores realizadores cinematográficos de todos os tempos. Houve uma época, nos idos dos 60 e 70, que o seu nome despertava imensa curiosidade e, por causa dela, formou-se um verdadeiro culto ao diretor, que alguns chamaram de bergmania. Se na primeira fase de sua carreira não conheceu o sucesso nas bilheterias, considerado pelos exibidores um cineasta maldito, a partir dos meados dos anos 60 um mercado se abriu para suas obras. Principalmente na sua fase psicanalítica - Cenas de um Casamento, Face a Face, Sonata de Outono... Os filmes de Bergman que mais aprecio, no entanto, exceção se faça a A Paixão de Ana (1970), e, também a O Silêncio, são aqueles da primeira fase, notadamente O Sétimo Selo Morangos Silvestres, A Fonte da Donzela, Noites de Circo, (nunca o tema da humilhação foi tão bem exposto) Mônica e o Desejo, Sorrisos de uma Noite de Verão, Juventude, entre outros. No frigir dos ovos, entretanto, posso dizer que admiro a todos os seus filmes.
O Sétimo Selo, obra-prima da primeira fase do cineasta, ainda que produzido em 1956, somente em 1976, vinte anos depois de sua realização, foi lançado no Brasil através da distribuidora "Cinema 1" e, aqui na Bahia, apresentado neste mesmo ano no antigo cine Nazaré da Praça Almeida Couto. Já Morangos silvestres obteve estréia ainda na segunda metade do decurso dos 50, conseguindo grande impacto e estupefação na época de seu lançamento.
Alegoria tragicômica em forma de mistério medieval, com um desenvolvimento livre do imaginário da Idade Média, O sétimo selo (Det sjunde inseglet) tem sua fábula estruturada na volta de Antonius Blok (Max Von Sydow) à Suécia após dez anos de luta na cruzada e o jogo que estabelece com a Morte num tabuleiro de xadrez. Antonius e seu lacaio Jons (Gunnar Blornstrand) se dirigem, por uma longa jornada, ao castelo onde moram, e, no caminho, contemplam uma terra arrasada pela peste. Este itinerário de Blok, do erro inicial à Verdade final, é conduzido com extrema maestria por Ingmar Bergman, que se utiliza, aqui, do cinema, como um veículo "filosofante" e reflexivo acerca da condição humana. No percurso, Blok e Jons encontram vários personagens mas apenas um casal de artistas mambembes se constitui num remanso de paz e tranquilidade, longe da mesquinharia e da hipocrisia dos outros. Blok, entretanto, continua o jogo de xadrez com a Morte (impressionante caracterização de Bengt Ekerot), mas esta, de repente, ganha partida. Vencedora, precisa levar consigo todos os personagens, deixando na vida somente o casal de cômicos (Bibi Andersson e Nils Poppe), o único capaz de desfrutá-la de maneira pacífica e feliz.
O Sétimo Selo, antes da consagração definitiva que se daria, um ano depois, em Morangos silvestres, já coloca Bergman, no panorama internacional, como um dos grandes cineastas do século XX. Trata-se de um filme, a rigor, gnoseológico em que se estuda a origem e a possibilidade do conhecimento por parte do homem. Por autor, os filmes de Bergman se constituem, na verdade, em variações sobre um mesmo tema. Em todos eles, presentes: a incomunicabilidade dos seres, a angústia do estar-no-mundo, a inevitabilidade e o mistério da morte, os tormentos da relação amorosa...
O sétimo selo volta às raízes do cinema nórdico de Victor Sjostrom e Mauritz Stiller, à floração sueca, quando a natureza tinha uma forte influência no comportamento das personagens. Assim, Det sjunde inseglet pertence à série de filmes que Bergman realizou e que possuem um decór histórico, ainda que o fato de a ação localizada na Idade Média não tira a esta obra magistral seu caráter contemporâneo. O homem que Bergman estuda é o homem do aqui e do agora.Veja-se o caso dos dois protagonistas principais, o Cavaleiro e seu lacaio, que formam, a seu modo, um binômio no qual se debate o tema das fontes das possibilidades de conhecimento - não somente o conhecimento de Deus mas de tudo aquilo que escapa à constatação estrita dos sentidos.
Elementos de mistérios - a bruxa, a peste, a procissão penitencial.., simbolismos e participações insólitas, como a personagem da Morte, criam, em O sétimo selo, um clima tenso ao qual contribuem uma planificação e uma iluminação ( do artista Gunnar Fischer antes de Bergman trabalhar com o iluminador Sven Nykvist) cuidadas com esmero.Aposentando-se antes dos 70 anos, com o filme-síntese "Fanny e Alexander", Ingmar Bergman despediu-se do cinema prematuramente para se retirar e viver em sua ilha particular. Depois do ensaio, filme que realizou para a tv, não é considerado pelo autor sueco obra "para cinema". A ausência de Bergman apresenta uma lacuna para o cinema contemporâneo, pois a escassez de cineastas-pensadores é, muito mais que impressionante, assustadora. A visão de O sétimo selo, em sua versão restaurada e íntegra, surge, portanto, como uma grande oportunidade de se entrar em contato com um dos mestres supremos da sétima arte nestes derradeiros momentos do século XX.
Em O sétimo selo, como a afirmar a condição de autor do cinema moderno, Bergman mostra uma constância temática e estilística, um universo ficcional próprio e um estilo - que faz o artista! - pessoalíssimo. À guisa de um pequeno exemplo, que se veja alguns personagens secundários, os quais, vêem se repetindo nos filmes de Bergman de filme a filme: o casal dos artistas ambulantes (presentes desde Noites de Circo até O Rosto; a controvérsia estabelecida entre o ferreiro e sua mulher - contraponto e complemento.
Nas palavras do ensaista Claude Beylie (no indispensável As obras-primas do cinema, Martins Fontes): "A mensagem é clara. Continuamos ameaçados pela peste, que se chama, hoje, guerra nuclear, e, diante deste perigo, não há outro recurso além dos corações puros. Bergman opõe ao fanatismo e à intolerância, "O leite da ternura humana". No entanto, seu filme nada tem de dogmático. Ele joga o jogo da ingenuidade iconográfica, desenvolve livremente o imaginário medieval. Faz-nos pensar em Durer, nas xilogravuras de Hans Beham, na "dança macabra" de Orcagna. A reflexão filosófica é irrigada sem cessar por um onirismo límpido e, até, por traços de humor, notadamente através do personagem do escudeiro.

quarta-feira, 10 de março de 2010

COPPOLA EM SALVADOR!

Tuna Espinheira e André Setaro

Por André Setaro

O cineasta baiano Tuna Espinheira, autor do longa Cascalho, baseado em livro homonimo de Herberto Salles, cochicha, em off, sobre a possibilidade de Francis Ford Coppola vir a Salvador para fazer um filme sobre a cultura negra. Estupefato, e, mesmo assim, meio assombrado, ouso o que ele diz. "Posso colocar no meu blog?", perguntei, mas ele diz que ainda é um "segredo de estado." Mas creio não estar a revelar os detalhes, que são, estes sim, significativos e provocaria, na certa, um certo trauma no corporativismo dos cineastas ditos baianos. E nada mais digo.Ler mais: http://setarosblog.blogspot.com/#ixzz0hkewavPl

quarta-feira, 3 de março de 2010

MANOEL DE BARROS " SÓ DEZ POR CENTO É MENTIRA"

Manoel de Barros, no período de lançamento do filme, tinha 93 anos, cerca de 20 livros publicados e vivia em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.


ficha técnica:
título original:Só Dez por Cento é Mentira
gênero:Documentário
duração:01 hs 16 min
ano de lançamento:2010
site oficial:http://www.sodez.com.br/
estúdio:Artezanato Eletrônico / Vite Produções / Associação Jangada
distribuidora:Downtown Filmes
direção: Pedro Cezar
roteiro:Pedro Cezar
produção:Pedro Cezar e Kátia Adler
música:Marcos Kuzca Cunha
fotografia:Stefan Hessdesenho de produção: -->
direção de arte:Márcio Paes
figurino:
edição:Júlio Adler e Pedro Cezar
efeitos especiais:

domingo, 14 de fevereiro de 2010

O BANDIDO DA LUZ VERMELHA

Por Beto Magno

Paulo Villaça e Helena Ignez (cena do filme O Bandido da Luz Vermelha)

Rogério Sganzerla (Joaçaba, 26 de novembro de 1946 — São Paulo, 9 de janeiro de 2004)

Desde cedo, Sganzerla manifestou sua vocação para o cinema. Casou-se com sua própria musa do cinema (a atriz Helena Ignez), viveu para o cinema e morreu fazendo cinema.
De natureza intelectual, leitor e escritor precoce, formado desde a adolescência na leitura de diversas tradições artísticas e de vanguardas mundiais. Antes de começar sua produção cinematográfica, ainda muito jovem, foi acolhido por Décio de Almeida Prado, que na época dirigia o Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo, e seu texto de estréia foi sobre Os Cafajestes, filme de Ruy Guerra de 1962.
Continuou no Suplemento e colaborou também com o Jornal da Tarde. Sempre escrevendo sobre cinema.Em 1967 realizou seu primeiro curta-metragem titulado como Documentário.
E em 1968 seu primeiro longa-metragem foi rodado, o consagrado O bandido da luz vermelha. Estrelado por Paulo Villaça, perfeito no papel de um psicopata, o filme caiu como uma bomba no colo de uma intelectualidade que repetia feito papagaio o discurso pós-moderno de Michel Foucault e outros ideólogos que radiografaram a ascensão dos discursos das minorias. Com uma violência estilizada, tataravó do estilo “Pulp Fiction”, “O Bandido da Luz Vermelha” acompanhava o bafafá criado pelas ações de um ladrão, assassino e estuprador que representava uma metáfora da ação do poder repressor.Anos antes de Stanley Kubrick abordar realidade similar com seu “Laranja Mecânica”, Sganzerla chocava com sua experiência visual rica em referências à cultura nacional, incluindo MPB, literatura e o próprio cinema. Já ali aparecia Helena Ignez como a ninfa que inspira o gênio criador do cineasta. Lançado em 1968, o filme deixou a crítica, que ainda procurava se acostumar com os desvarios estéticos dos cinemanovistas, de cabelo em pé. Afinal, ali ganhava maturidade e voz grossa de adulto um novo projeto de se abordar a realidade brasileira na tela grande. Projeto este batizado como “Cinema Marginal”, que ganhara vida no ano anterior com o lançamento de “A Margem”, obra-prima de Ozualdo R. Candeias, calcado na pobreza de quem está na periferia do grande capital. Até hoje, no cenário acadêmico há quem prefira “O Bandido da Luz Vermelha” a “Deus e o Diabo na Terra do Sol”.
Em instituições públicas de ensino de cinema, como a Universidade Federal Fluminense, no Rio, e a Universidade de São Paulo, existem legiões de estudantes que enxergam em Sganzerla um mito de renovação e revolução estética. E, por isso, sua obra mais popular é tema de pesquisas e estudos, como o de Fernão Ramos, aclamado pesquisador e autor do livro “Cinema Marginal”. “’O Bandido da Luz Vermelha’ é um filme singular em diversos aspectos. Por seu ineditismo, já incorpora uma certa desenvoltura em relação à utilização irônica da narrativa clássica, embora seja ainda marcado pelo Cinema Novo”, afirmou Fernão em seu livro.
“Faltou linguagem depois do ‘Bandido’. Ninguém está se mancando. Naquele momento estávamos sintonizados.
Nós éramos muito cultos naquele momento. Faltaram condições históricas para não deixar acontecer. Os produtores se tornaram muito ingênuos, não entendiam mais nada de cinema. O cinema tem de ter linguagem. Tem de ter estrutura. Em São Paulo perdeu-se a sintaxe do cinema e perdeu-se também até a dignidade do cinema. E não se culpem os realizadores por isso”.

PRIMEIRO DOCUMENTÁRIO DE ROGÉRIO SGANZERLA

Por André Setaro

Documentário é o primeiro filme de Rogério Sganzerla, um curta em torno de 10 minutos, realizado em 1966, já revelador de um estilo que colocou em prática principalmente no explosivo O bandido da luz vermelha, dois anos depois, em 1968 (que é um dos mais fascinantes filmes da história do cinema brasileiro em todos os tempos). Dois rapazes (um deles, Andrea Tonnacci, que se tornaria um dos nomes mais importantes do chamado cinema marginal - Bang Bang e, há alguns anos, realizou o premiado Serras da desordem), na capital paulista, andam pelas suas ruas à procura de algo para fazer. Durante o trajeto, conversam bastante sobre os mais variados asuntos, principalmente de cinema. Enquanto isso, cartazes de filmes vão sendo mostrados como as fachadas das mais sensacionalistas salas de exibição de SP. Nunca tinha visto este filme que inicia o autor de O bandido da luz vermelha nas imagens em movimento. A oportunidade surgiu agora via You Tube.

Ler mais: http://setarosblog.blogspot.com/2010/02/o-primeiro-filme-de-rogerio-sganzerla.html#ixzz0fYrYchzb

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

MORRE TIMO DE ANDRADE


Por André Setaro
Timo Andrade (1944/2010) in Memoriam

José Oswald Guerrini de Andrade, mais conhecido como Timo Andrade, foi levado pela Implacável semana retrasada aos 65 anos (faria 66 dia 1 de maio), deixando seus amigos e colegas consternados com o seu falecimento. Sobre ter sido um excelente técnico de som, Timo era uma pessoa gentil, de lhano trato e possuía um senso de humor bastante aguçado, que dava a impressão de estar a rir do absurdo da existência, da comédia humana. Além do profissional competente, Timo gostava muito de tomar umas e outras (e o dito aqui é um elogio). Sabia, como poucos, entornar, sem que, com isso, se transtornasse, mas, ao contrário, ficava sempre sóbrio na sua composição etílica, salvo, evidentemente, e ninguém é de ferro, em raras ocasiões. Quem, em sã consciência, pode suportar a dura realidade da vida sem tomar umas três doses de scotch? já dizia Humphrey Bogart. Ao contrário dos dias de hoje, egoísticos, individualistas, consumistas, era amigo de seus amigos. Conheci Timo lá pelos anos 70, e, vez por outra, encontrava-o, vermelho, com cara de felicidade, sorriso aberto, nos colons da vida.

Neto do famoso Oswald de Andrade, sobrinho de Rudá, que faleceu também, José Oswald Guerrini de Andrade largou São Paulo (onde tinha tudo para circular folgado nos meios artísticos e intelectuais) para adotar a Bahia como morada da felicidade. Em 1981, trabalhei como ator-canastrão em O cisne também morre, de Tuna Espinheira, no papel de um dono de funerária. O filme, retrato de um tempo boêmio que não mais existe, inspirado na figura etérea do grande poeta Carlos Anysio Melhor, é um dos poucos trabalhos de ficção do documentarista Tuna (o outro: o longa Cascalho, baseado no romance homônimo de Herberto Salles). Lembro-me bem que houve uma sequência numa funerária do Terreiro de Jesus que durou quase o dia inteiro a entrar madrugada adentro. Para esperar as tomadas, ficava com Timo e outros companheiros da equipe, a tomar cervejas num barzinho em frente. O cinema, para o ator (não sou ator, mas já participei de poucos filmes como tal) é esperar a próxima tomada.

Seu currículo é extenso. Foi som-guia, em 1975, de Tenda dos milagres, que Nelson Pereira dos Santos filmou na Bahia segundo o livro de Jorge Amado. Trabalhou muito com Agnaldo Siri Azevedo (O boca do inferno, Creio em ti São Jorge dos Ilhéus, Não houve tempo sequer para as lágrimas, Memórias de Deus e o Diabo em Monte Santo e Cocorobó, Suite Bahia, A volta do Boca do Inferno, As philarmônicas, entre muitos outros), Tuna Espinheira (Maculelê, Seca verde, A seca no lago de Sobradinho, o já citado O cisne também morre etc), Guido Araújo (A morte das velas do Recôncavo, Ilhas da esperança, O Raso da Catarina, uma reserva ecológica), Fernando Cony Campos (O box amador, Semana de arte e educação...), Ipojuca Pontes (Memórias de Canudos), Roberto Gaguinho (Casa de taipa, Os que dormem do lado de fora), Plácido Campos Junior (Curumim na terra do sol), João Baptista Reimão (Daniel, o capanga de Deus), Rino Marconi e Tasso Franco (O lixo), Chico Drummond (Regalia de balaio), Arnold Conceição (O rio da vida), Fernando Bélens (Fibra), Pola Ribeiro (A lenda do Pai Inácio), Gofredo da Silva Telles Neto (Brasilíndia), Rubens Rocha (O sertão dos tocós), Otávio Bezerra (A resistência da lua), Walter Pinto Lima e Carlos Vasconcelos Domingues (O império do Belo Monte), Chico Liberato (O boi Aruá, desenho animado baiano de longa metragem), Luis Celso Campinho (Riscada do mapa), Luis Wenderhausen (Ursula), Chico Botelho (Janette, como assistente de produção), Almir Freire (A palavra aretê), entre muitos e muitos outros. Trabalhou também em importantes agências de publicidade. E foi o organizador do livro Dia seguinte e os outros dias, de seu avô Oswald de Andrade (Editora Cótex)
Quem me comunicou o falecimento de Timo Andrade foi Tuna Espinheira, quando ainda estava em Tiradentes. Assim se manifestou sobre o amigo e colega:

"Timo subverteu a ordem natural do êxodo. Nascido e criado na Paulicéia Desvairada, neto de Oswald de Andrade, sobrinho de outro Andrade, Rudá, tinha, portanto, régua e compasso e jogo de cintura próprio, para transitar com facilidade nas rodas da arte/cultura paulistana. Deixou o campo florido, escolheu a aventura. Um belo dia, obedecendo os ditames da sua própria cabeça, arrumou o matulão, pegou um Ita no sul e veio dar com os costados na Bahia de Todos os Exús.
Era um amigueiro profissional, bom de copo, dono de humor de boa cepa.

Tornou-se, em pouco tempo, em um baiano autêntico, com a marca emblemática, desta sua cidadania ter sido por obra e graça, com o Amem e a benção dos Anjos, da opção/devoção.
Aqueles que o conheceram nas aventuras cinematográficas, produções franciscanas, nesta renitente província, bem sabem do companheirismo, da presteza, deste membro de equipe, pau pra toda obra, sempre disposto, “sin perder La ternura jamás”.

Timo terá sempre um lugar no imaginário/memória, dos verdadeiros amigos, ele que, muitas vezes, desassombrado, rompia a barreira da amizade para se tornar um cúmplice.
Saudades e um brinde ao personagem Timo Andrade"


Tuna Espinheira


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

JÚRI DO FESTIVAL DE CINEMA DE TIRADENTES-MG

Não cheguei a tirar dentes

Por André Setaro

1) Morreu Timo Andrade, eficiente técnico de som que trabalhou na maior parte dos documentários feitos na Bahia nas décadas de 80, 90 e nesta última que se finda agora em 2010. Sobre ser um profissional de mão cheia, caracterizava-se pelo bom humor, que nunca negava um sorriso ao interlocutor. E, importante, era também um profissional do copo. O que o elevava da rotina e do tédio. Mas vou postar, noutro dia, um escrito mais detalhado sobre a figura e a trajetória de Timo Andrade (Andrade ilustre porque parente de Oswald. Sim, o autor de O rei da vela).
2) Quando bato estas mal traçadas, acabei de chegar de Tiradentes, cidade histórica de Minas Gerais, que tem um mostra importante de cinema há treze anos. Fui convidado para fazer parte do júri da crítica da Mostra Aurora (veja a foto do pessoal reunido)
3) Impressionante, para uma cidade pequena, o número de pousadas que tem Tiradentes. Perto de cem, segundo me informou um proprietário de uma delas. Todo mês de janeiro a cidade vira palco do cinema brasileiro com a sua já consolidade Mostra de Tiradentes, coordenada com o dinamismo e a eficiência de Raquel Hallak. E as pousadas são, quase todas, agradáveis, limpas, atmosféricas. Fiquei numa delas durante 7 dias, com atividade diária obrigado que estava a ver os filmes da Aurora. Mas o evento não se limitou a esta. Uma profusão de mostras de curtas, várias oficinas, debates dos filmes apresentados com os diretores e um crítico escolhido, seminários etc. Trés os júris: o do voto popular, e, na Aurora, o júri jovem constituído de estudiosos da análise fílmica, e o júri da crítica. O filme que ganhou, O caminho de Ythaca tem ecos do cinema marginal e uma proposta atual e interessante. Agradou tanto que foi duplamente premiado: pelo júri da crítica e pelo júri jovem.
4) Produzido para a Televisão Educativa da Bahia, Na Cena, clips diários veiculados pela tv, uma realização dos inquietos Raul Moreira e Cássio Sadder, esteve em Tiradentes para, segundo a sua equipe, revelar os paradoxos do evento. Os clips possuem certa non chalance e muita ironia. Moreira é um baiano que virou italiano e, depois, voltou a ser baiano. Na Cena não tem rabo preso nem vínculo chapa branca, ainda que seja uma realização da TVE. Mas, neste particular, Moreira e Sadder trabalham com ampla liberdade e não são afeitos a dormir de touca. Audazes e malditos na boa acepção da expressão. Para ter uma idéia das pérolas moreirianas e sadderianas: www.youtube.com/pgmnacena
5) Tiradentes lembra muito Cachoeira, mas a diferença está nos serviços oferecidos. Excelentes pousadas e não menos excelentes restaurantes. Já em Cachoeira, exceção se faça a uma pousada, poucas as opções de uma hospedagem confortável, assim como bares e restaurantes. Com a instalação da Universidade Federal do Recôncavo tudo leva a crer que a cidade histórica de Cachoeira venha a se revitalizar. Nos anos 80, Guido Araújo realizou a sua jornada de cinema em Cachoeira por duas vezes seguidas. Mas a precaridade dos alojamentos para tanta gente fê-lo desistir. E os filmes, nas jornadas cachoeiranas, eram exibidos num antigo cinema com projeção a desejar. Já o Cine Tenda de Tiradentes é um espaço ideal para um evento. Além de uma sala de projeção excelente, há, no espaço da tenda, um bar que fecha quando a madrugada dá o sinal, lojas, espaço para shows (que acontecem todos os dias meia-noite) etc. Mas o Cine Tenda tem uma duração efêmera. Montado para a Mostra Tiradentes, dia seguinte ao encerramento do festival é completamente destruída para ser montada de novo no ano seguinte.
6) Clint Eastwood faz um filme atrás do outro e está sempre a surpreender como parece ser o caso do recente Invictus, que mostra como Nelson Madella conseguiu superar os obstáculos entre raças por causa da emoção de um jogo de rúgbi. Morgan Freeman, dizem, está em sua quitessência como ator na pele de Mandella. E tem também o talentoso Matt Damon. Ainda não vi Invictus, mas já posso prever que vou gostar. Eastwood é um dos poucos que ainda se podem dizer cineastas na barbárie do cinema contemporâneo.

7) Na foto (clique na imagem para vê-la maior), o júri da crítica. Da esquerda para a direita, Denílson Lopes (RJ), Luiz Carlos Merten (SP), Luciana Corrêa de Araújo (SP), André Brasil (MG), e André Setaro (BA).


Ler mais: http://setarosblog.blogspot.com/2010/02/nao-cheguei-tirar-dentes.html#ixzz0eJdNiyhe

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

FILMES ESPERADOS PARA 2010

Os filmes que serão lançados em 2010 estão sendo já muito procurados por quem adora a sétima arte. O trailer de muitos deles ainda não está sendo disponibilizado, mas a partir de Dezembro as pessoas já poderão conferir muitas novidades do cinema, nem todas, mas boa parte.

Quando falamos de filmes de 2010 que serão lançamentos relacionados à comédia, temos como exemplo: Kung Fu Kid e Como Cães e Gatos 2. Estes serão lançados dia treze de Agosto e também dia três de Setembro do próximo ano. Estas são apenas duas das comédias que farão parte da lista de filmes que serão lançados em 2010.

Já quando falamos de drama, os filmes que serão lançados em 2010 são: Salt e Brilho de uma Paixão, sendo este um dos mais esperados de todos os tempos. Grandes sucesso de Harry Potter e também da saga Crepúsculo também serão lançados no próximo ano, mas é necessário um pouco mais de paciência para conferir as novidades em detalhes.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

MOSTRA DE CINEMA DE TIRADENTES - MG


Já se encontra em sua décima-terceira edição a Mostra de Cinema Tiradentes, evento cinematográfico que se consolidou como um dos mais importantes do Brasil. Tem início na sexta próxima, dia 20, e irá até 30 de janeiro, com mostras de filmes, oficinas, seminários, mesas redondas etc, uma verdadeira jornada para quem quiser acompanhar como anda o cinema brasileiro contemporâneo.

Ao contrário da maioria dos festivais, que se caracterizam mais pela festa, a Mostra Tiradentes, sobre ser um evento quase paradisíaco pela sua localização numa cidade histórica, é uma mostra concentrada não somente na exibição das últimas novidades da cinematografia nacional, mas revestida de um imenso debate sobre a linguagem, a estética e a economia do cinema que se faz neste país.

Fui convidado para participar do júri de filmes de jovens cineasta, o Aurora, e devo estar ausente a partir de domingo, dia 14, quando viajarei para a paisagem de Guimarães Rosa, e, volto no outro domingo, dia 31. Já fui a Tiradentes há exatos quatro anos, quando participei, lá, de um seminário sobre crítica de cinema. A organização do evento é exemplar e tem à frente a dinâmica Raquel Hallak, que, com o sucesso alcançado em Tiradentes, já consolidou outros, como o de Ouro Preto e Belo Horizonte.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

UM GÊNIO DO CINEMA: ALAIN RESNAIS

Alain Resnais e um de seus atores prediletos André Dussolier


Alain Resnais, gênio do cinema, em foto do último festival de Cannes, ao lado de um de seus atores preferidos, André Dussolier. Quando elaborei a lista dos melhores do ano para o Terra Magazine, que foi publicada na terça passada, ainda não tinha visto As ervas daninhas (Les herbes folles). Faço aqui uma retificação. Les herbes folles é, disparado e sem qualquer sombra de hesitação, o melhor filme de 2009. Impressionante que um realizador (1922), que vai fazer 88 anos neste 2010, ainda tenha fôlego para inventar no cinema. Considero Resnais o maior cineasta vivo, um dos últimos moicanos do grande cinema. Hiroshima, mon amour, seu primeiro longa (1959), tramatizou, pela sua beleza, pelo seu assombro, toda uma geração e, logo em seguida, 1961, estabelecia o espetáculo puro, o puro cinema em O ano passado em Marienbad (L'année derrière en Marienbad), que deixou de queixo caído boa parte da crítica. E vejam que elegância: todo de preto, apenas com a camisa vermelha, e óculos escuros, bem pretos. Sua figura é a figura da própria mise-en-scène. Alain Resnais é um inventor de fórmulas, um cineasta que eleva o cinema à categorian de obra de arte. Como bem atesta este recente Les herbes folles.

Mas, mudando do vinho para a água, é lamentável o que o Telecine Cult (volto a bater na mesma tecla) vem a praticar com os filmes originariamente rodados em CinemaScope. Comecei a ver A lança partida (Broken lance), de Edward Dmytryk, que tem a apresentação dos créditos na tela larga ou em letter box, mas, de repente, findo estes, a tela se espicha e o full screen toma conta de todo o espaço de seu aparelho televisivo. Um atentado à integridade da obra cinematográfica, um soco na cara do cinéfilo interessado na preservação do filme em seu formato original. A pancada foi tão forte que, incontinenti, desliguei a televisão e não vi o que queria ver. Ou melhor: rever, pois filme visto na infância e que ainda guardo boas recordações. Dmytryk faria outro western anos mais tarde: Minha vontade é lei (Warlock), com Richard Widmark, Henry Fonda, Anthony Quinn. Broken lance tem Spency Tracy, Robert Wagner ainda muito jovem, e Jean Peters. É um western também, o cinema americano por excelência na célebre definição de André Bazin, bem típico daquela época. O Cult preserva, porém, o formato CinemaScope em outros filmes e ainda não entendi direito a razão de manter o formato em alguns e massacrá-lo em outros. Hoje mesmo acabei de ver, em esplêndido CinemaScope, Carmem Jones, de Otto Preminger, com Harry Belafonte.



Treleio o importante livro de entrevistas entre François Truffaut e o mesmo Sir Alfred Hitchcock. Mais do que uma análise perfuratriz da filmografia hitchcockiana, é um livro sobre o processo de criação no cinema. Hitch, à sua maneira, foi um grande inventor de fórmulas (como Resnais). Intriga internacional (North by northwest, 1959), filme para se ficar vendo e revendo para aprender um pouco de cinema, é uma obra de pura mise-en-scène (vá lá o termo de novo).

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

ERICH ROHMER


Uma das principais figuras da Nouvelle Vague, Erich Rohmer desapareceu aos 89 anos - idade, convenhamos, boa para se morrer. Crítico da Cahiers du Cinema no auge de sua fama (anos 50 e 60), a partir de 1959, quando realiza o seu primeiro longa, O signo do leão, começa uma filmografia singular, original e sem concessões. Autor de Le cinema selon Hitchcock, escrito em parceria com Claude Chabrol, Rohmer defendia, com unhas e dentes, a excelência cinematográfica do mestre Hitch, assim como alguns cineastas americanos de sua preferência, a exemplo de Nicholas Ray.

Como exegeta de filmes, gostava de cineastas da ação e da emoção, mas, enquanto cineasta, um cineasta quase da inação, caracterizava-se por filmes nos quais os diálogos eram abundantes. Os diálogos, nos filmes de Eric Rohmer, eram um condutio para a expressão de suas idéias em seus contos morais e nas suas comédias e filmes proverbiais. Entre os seus filmes, destacam-se Conto de primavera, Conto de verão, Conto de inverno, Minha noite com ela (Ma nuit chez Maud, 1969), com Jean-Louis Trintgnant, A duquesa e o duque, O raio verde, e outros, muitos outros. Rohmer era um cineasta da palavra.

Até os anos 90, era muito difícil ver um filme de Eric Rohmer. Um ou dois foram lançados comercialmente e um deles, Minha noite com ela, já no ocaso da década de 60. Mas nos 90, a Estação Botafogo, quando planejou uma retrospectiva do autor, nunca pensou no sucesso que atingiria. O êxito, surpreendente, fez com que alguns filmes permanecessem por muito tempo em exibição, a provocar, com isso, um rohmerismo entre os cinéfilos mais atentos e exigentes - Rohmer não é para qualquer cinéfilo meia-sola.

A morte deste autor reverenciado - e apreciado por poucos - se dá quando faltam dois meses para o cineasta completar os rigorosos 90 anos. Entre outros filmes do realizador de Ma nuit chez Maud: O joelho de Claire (Le genou de Claire,1970), que foi lançado no mercado brasileiro ainda que meio escondido e com lançamento queimado em outras capitais, Noites de lua cheia (Les nuits de la pleine lune, 1994), A mulher do aviador (La femme de l'aviateur, 1981), Perceval le gallois (1978), Pauline na praia (Pauline à la plage, 1983), L'amour l'après midi (que tenho especial admiração) etc. Para gáudio dos rohmeristas, a Europa tem em seu acervo de DVDs vários de seus filmes.

Esta mesma Europa que massacrou, pondo-o em full screen, o belo Menina de ouro, de Clint Eastwood, e gosta muito de enganar o consumidor alterando os formato soriginais de seus filmes originariamente feitos em cinemascope e espichados para a tela cheia. Mas em relação a Rohmer, a Europa se comportou direitinho.