sábado, 26 de setembro de 2009

A COR NO CINEMA



Por André Setaro

Qual a função da cor nos filmes? Atualmente, quando todos os filmes lançados no circuito são coloridos, o preto e branco virou uma exceção utilizada apenas por questões estilísticas. E a maioria das pessoas, desconhecendo as possibilidades do claro/escuro, não mais aceita o filme sem cor. Se o filme é em branco e preto, geralmente é recusado pelos exibidores, havendo, somente, casos raros de aceitação, como o referente a A lista de Schindler, porque distribuído por major poderosa.

Assim, se é verdade aquilo que afirmou Roland Barthes, que colorir o mundo significa em última análise negá-lo, como deve comportar-se a cor se não quiser esmagar a realidade, mas, pelo contrário, interpretá-la poeticamente? E, sobretudo, que atitude deve assumir relativamente às imagens e aos sons? A resposta é fácil de prever: a cor no filme deve cumprir uma missão essencialmente psicológica. Deve ser, não bela, mas significativa. Somente deste modo tem a sua presença uma justificação expressiva e pode servir para dizer coisas que não poderiam ser ditas sem a sua intervenção. Se tal não acontece, a cor não apenas resulta nociva para o filme como corre o risco de empobrecê-lo a ponto de fazê-lo regredir para um nível inferior ao alcançado no velho preto e branco.

Não é, portanto, o cinema colorido que interessa ao nosso artigo, mas, sim, o cinema de cor. Desde que, naturalmente, não reproduza a realidade de maneira cada vez mais perfeita e cada vez mais banal. Neste particular, os videomakers contemporâneos são pródigos na ânsia de reprodução do real de maneira naturalista e, em consequência, vulgar, pelo fato de não ter consciência da função da cor no tecido dramatúrgico da expressão videográfica. Quantos aos belos planos, não sendo o cinema uma pinacoteca – mas, pelo contrário, a vida transformada em discurso no próprio momento em que se desenrola – eles condenam o filme – ou o vídeo – à asfixia e impedem a sua respiração vital.

De citações pictóricas ilustres está a história do cinema cheia, assim como o inferno está cheio de boas intenções. Gian Piero Brunetta, ensaísta italiano, enumera alguns filmes que não aplicam bem o cinema de cor, por mais encantador e sugestivo que possa ser o resultado. A opinião é bastante discutível – este comentarista, por exemplo, não concorda, porém se trata de um estudioso do assunto. Vão desde o impressionismo francês que inspira a fotografia de Elvira Madigan (1967), de Bo Wilderberg, à pintura inglesa do século XVIII evocada em Barry Lyndon (1975), de Stanley Kubrick, do modelo dos macchiairoli italianos dos finais do século XIX seguido por Sedução da carne (Senso, 1954), de Luchino Visconti às homenagens à pintura surrealista presentes em La montagne sacré (1973), de Alexandre Jorodowsky. Para não falar, ainda segundo Brunetta, já de citações relativas a pinturas singulares, como Rossi reproduzido em Dois destinos (Cronaca familiare, 1962), de Valério Zurlini, ou Degas em que se inspira Laura (1980), de David Hamilton, ou, ainda, Remington, recriado na tela pelo mestre John Ford em Legião invencível (She wore a yellow ribbon, 1949). Os filmes citados aqui, vale repetir, segundo Brunetta, são exemplos da má utilização do cinema de cor. E o que diria ele de Caravaggio e do recente A moça do brinco de pérolas? Que são bombas amortizadas.

Porque Brunetta acha que nos exemplos citados a expressão propriamente fílmica não atinge qualquer autonomia, marcada como está pela autoridade de tantos mestres da cor, antigos e modernos. Diante dos mestres pictóricos nos quais se inspiram para compor seus filmes, os realizadores se abstêm de tomar iniciativas pessoais que possam ofender a ilustre posição de que gozam os modelos invocados.

Quando, pelo contrário, ao invés da abstenção, os realizadores decidem tomar a iniciativa, a linguagem cinematográfica pode finalmente exibir a sua autonomia, embora tenha de defrontar-se com alguns obstáculos e alguns perigos durante a empreitada. Estes são os casos em que a cor se preocupa em ser funcional e não apenas bela. São os casos em que a cor aparece na tela para complicar as coisas que nela se sucedem e não para as secundar redundantemente. Trata-se, nestes casos, de intervenções sem as quais o filme seria diferente do que é, ou, pior ainda, não estaria completo. Em suma, somente quando a cor consegue ser irredutível a qualquer outro código presente é que se pode falar de função qualificante da cor e de emprego antinaturalista, mas também antiacadêmico, dos recursos cromáticos.

Entre as funções aptas a produzir sentido, a psicológica e a crítica são as mais eficazes, para além daquelas a que mais se recorre no âmbito do cinema que odeia a cópia rasteira da realidade quotidiana. E como o cinema brasileiro gosta de ser uma cópia servil na representação do real nas telas!

De emprego da cor em sentido psicológico, tem-se como exemplo O deserto vermelho (Deserto rosso), de Michelangelo Antonioni. As cores, aqui, são apagadas, envoltas por uma dominante cinzenta que unifica as várias tonalidades, privando-as das gradações mais vivas. Isto se justifica porque, no filme, o mundo é visto pelos olhos de uma mulher que sofre de nevrose e se sente separada da realidade. Neste caso, portanto, cabe à cor a tarefa de dar a idéia de como a protagonista vê as coisas, o que acontece sem necessidade de recorrer com insistência a indicações inerentes ao diálogo e à encenação no seu conjunto. Do mesmo modo, em Satyricon, com respeito total à integridade de seu formato original, isto é, em cinemascope, ou, como se diz agora, em letter box), de Federico Fellini, as tintas carregadas e desprovidas de bom gosto denotam a vulgaridade do mundo representado e sublinham a sua essência lúgubre, próxima da desagregação material e espiritual. Em Nosferatu, de Werner Herzog, cabe à dominante azul, que impregna todas as cores, a função de conferir à narrativa aquele tom de lucidez que a acompanha do princípio ao fim, sugerindo a presença do Mal onde e como quer que seja, através de uma espécie de expressionismo cromático inserido na construção figurativa geral. Em O açougueiro (1970), de Claude Chabrol, a cor evolui conjuntamente com a própria fábula e, mudando de quando em vez de tonalidade, segue o seu itinerário narrativo desde a atmosfera idílica inicial até à descida aos infernos dos protagonistas com a respectiva ressurreição final, (dramática e cromática). Em Os guarda-chuvas do amor (Les parapluies de Cherbourg, 1964) e Duas garotas românticas (Les demoiselles de Rochefort, 1966), ambos do poeta Jacques Demy – um dos cineastas mais admiráveis de toda a história do cinema, as cores exercem um importante papel constitutivo do tecido dramático, situando-se como elementos determinantes da mise-en-scène – nos dois casos, também, a partitura musical de Michel Legrand pode ser considerada tão importante que o músico faz configurar, ao lado da mise-en-scène, uma mise-en-musique.

Mas é a cor que aqui interessa. Em outro exemplo, Tragam-me a cabeça de Alfredo Garcia (Bring me the head of Alfredo Garcia, 1974), de Sam Peckinpah, a dominante vermelha presente a nível figurativo exprime o clima de torpor e de violência próxima da explosão que caracteriza o local onde se desenrola a ação narrada. Há, finalmente, casos em que o efeito psicológico é confiado à presença de um único valor cromático que emerge do restante preto e branco. É o que acontece em Reflexões nos olhos dourados (Reflections in a golden eye, 1967), de John Huston, com Marlon Brando e Elizabeth Taylor, onde o monocromatismo da fotografia é quebrado pela presença exclusiva do tom vermelho, a significar a loucura latente do protagonista que sofre de um trauma mental que remonta à infância. As cópias distribuídas no Brasil, no entanto, foram banhadas de um technicolor que destruiu por completo a intenção inicial do autor.

Fala-se em intervenção crítica da cor, pelo contrário, quando a cor desempenha uma função dissonante no interior do filme. Neste caso, a escolha cromática deixa de corresponder ao ponto de vista psicológico de um dos protagonistas ou à exigência de definição ambiental para passar a refletir o ponto de vista do próprio autor assim como a análise que faz da realidade representada. Em Dillinger está morto (Dillinger è morto), de Marco Ferrari, as cores, cruas e brilhantes, de aspecto metálico, denunciam a invasão multicolor dos objetos a que o homem é sujeito na civilização tecnológica e a conseqüência reificante que tal invasão comporta relativamente aos sentimentos humanos. Do mesmo modo, as cores fantasiosas do sketch La terra vista dalla luna ( A Terra vista da Lua, um episódio de As bruxas) conotam a ação num sentido marcadamente irrealista e conferem-lhe um tom de alegoria moral suspensa entre o divertimento e a meditação filosófica.

Pode por vezes dar-se o caso de ser a própria ausência da cor a adquirir valor expressivo. Em Manhattan (1978), de Woody Allen, a escolha do preto e branco corresponde a uma atitude nostálgica assumida pelo protagonista relativamente a um mundo que é por ele reinvocado em puro estilo dos anos quarenta, como é, de resto, confirmado pela banda sonora. Também em O jovem Frankenstein (The Young Frankenstein, 1974), de Mel Brooks, a ausência de cor representa uma homenagem ao cinema de terror dos anos trinta, relido com uma veia que se situa entre o irônico e o nostálgico. Tem-se, entre outros, evidentemente, o caso de Truffaut, que, pouco antes de morrer, dirigiu um filme no qual faz homenagem ao noir francês: De repente num domingo (Vivement dimanche, 1984), filmado em preto e branco e, recentemente, para realizar uma releitura do filme noir, os irmãos Coen apresentaram O homem que não estava lá, filme totalmente destituído de qualquer coloração e carregado no contraste do claro e do escuro.

A cor no cinema deve ser usada em função de seu tecido dramatúrgico e é preciso que se acabe, uma vez por todas, com a confusão sempre presente entre o uso da cor em função da beleza e o uso da cor em função da própria estrutura fílmica. Quem não gosta de filme em preto e branco, por outro lado, e, desde já, com as desculpas nas mãos, é um tremendo ignorante. O assunto cinema de cor rende muito mais, porém o espaço já se alonga e o comentarista deve estar de olho no velocímetro cromático de seu próprio olhar escritural.


E o que dizer do esverdeamento total de Não matarás, de Kieslowski?

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

NOVA OFICINA: ELEMENTOS DE APRECIAÇÃO CINEMATOGRÁFICA


Por Beto Magno
A Oficina de Cinema, Elementos de Apreciação Cinematográfica, ministrada por André Setaro, objetiva, através de oito aulas e de oito filmes essenciais, oferecer os elementos para que se possa entender que o cinema tem uma linguagem, uma sintaxe própria. Na plenitude de sua expressão, o cinema certamente se utiliza de elementos de outras artes, porém o filme constitui um todo original e indivisível, que existe independentemente da própria espécie desses elemento

A oficina tem início na quarta, dia 21 de outubro, e termina a 9 de dezembro. Para a inscrição, enviar um e-mail para setaro@gmail.com ou telefonar para 88067572 ou 32472290. As aulas serão ministradas no bairro do Rio Vermelho (Numa molduraria chamada EngenhArte, rua da Paciência, 149, entre o Largo de Santana e a praia da Paciência). Taxa de inscrição: 250,00 (à vista). Um certificado será conferido ao término do oficina. Toda quarta das 20 às 22 horas

1.) PONTO DE PARTIDA DO CINEMA CONTEMPORÂNEO.
Morfologia e sintaxe da linguagem cinematográfica. Narrativa e fábula. O elo semântico e o elo sintático. Kane e a reviravolta na estrutura narrativa. A profundidade de campo. Os realizadores cerebrais e os figurativos.
CIDADÃO KANE (Citizen Kane, 1941), de Orson Welles.

2.) NEO-REALISMO E NOVA ESTÉTICA
Técnica, linguagem e estética. A importância do neo-realismo italiano e a sua influência marcante para o cinema contemporâneo. Postulados. Rossellini e a abertura para um novo cinema e uma nova estética.
ROMA, CIDADE ABERTA (Roma, città aperta, 1945), de Roberto Rossellini.

3.) DA ORALIDADE EM ALAIN RESNAIS
O recitativo como poética da imagem. A palavra, como valor de criação dentro da criação artística, passa a ser um fim e não mais um meio do conduto da idéia. E o silêncio como continuação da palavra. A contradição dialética entre a efemeridade e a permanência.Filme que fez evoluir a linguagem cinematográfica.
HIROSHIMA, MEU AMOR (Hirsohima, mon amour, 1959), de Alain Resnais

4.) A DESMISTIFICAÇÃO DO ESPETÁCULO
O estilo godardiano e a inclusão da metalinguagem. A comédia romântica vista pelos olhos da nouvelle vague. A narração que se insinua em função da transparência. O importante não é o que está dito, mas como se diz.
UMA MULHER É UMA MULHER (Une femme est une femme, 1961), de Jean-Luc Godard.

.) O CINEMA COMO VEÍCULO DO PENSAMENTO
Visão de mundo e visão de cinema. O cinema de autor na sua mais exata tradução em torno de uma troca de identidade entre uma atriz e a enfermeira que cuida dela. A incomunicabilidade, tema caro ao cineasta, dá lugar, aqui, à permeabilidade.
PERSONA (Suécia, 1966), de Ingmar Bergman

6.) A DESDRAMATIZAÇÃO E O DOMÍNIO DA ANTINARRATIVA
A "desdramatização" do filme e a opção pela quebra da progressão dramática em função da antinarrativa. A procura da comunicação numa sociedade decadente e as incertezas do instante que passa, tema recorrente do autor. Fotógrafo de moda, fazendo ao acaso fotos de uma mulher, percebe, ao ampliá-las (blow-up), que testemunhou um assassinato, talvez imaginário.
BLOW UP - DEPOIS DAQUELE BEIJO (Blow up, 1966), de Michelangelo Antonioni.

7) A RENOVAÇÃO DA COMÉDIA CINEMATOGRÁFICA
Comédia premiada e que renova o gênero na década de 70 e que se destaca pela articulação inteligente dos elementos da linguagem cinematográfica e pela visão do mundo de seu autor: Woody Allen.
NOIVO NEURÓTICO, NOIVA NERVOSA (Annie Hall, 1977), de Woody Allen.

8.) O CINEMA DO ESSENCIAL
Ilustração ficcional das teses do biólogo Henri Laborit sobre o comportamento humano pelo realizador mais cinematográfico do cinema dos tempos presentes: Alain Resnais, que possui pleno domínio formal sobre a arte da mise-en-scène.
MEU TIO DA AMÉRICA (Mon oncle d'Amérique, 1980), de Alain Resnais.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

DENÚNCIA GRAVE



Por André Setaro

Não sei se são todos, é bom que se diga logo, mas a maioria dos filmes exibidos em versão digital não respeita o formato original. Se em cinemascope, as laterais são podadas em função do enchimento criminoso da tela. Se em outro formato, tipo widescreen, há uma tentação diabólica para apresentar o filme em tela cheia (full screen). Como se faz, criminosamente, na televisão paga. Quase todos os canais que exibem filmes massacram o formato (Universal, AXN, Fox, Warner...) e a única que o respeita, mesmo assim em alguns, é o Telecine Cult. Também agora verifico que as cópias em dvd cometem a mesma intromissão indevida contra a integridade da obra cinematográfica. A Europa (entre outras) é uma campeã na destruição dos filmes (Menina de ouro, de Clint Eastwood, está irreconhecível no dvd espúrio lançado pela Europa).

Evito ver filme em versão digital para não sofrer o constrangimento de ter que sair incontinenti da sala de projeção.
Fica o aviso amigo e a denúncia necessária. Que os amantes do bom cinema abram bem os seus olhos.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

O HOMEM QUE NÃO DORMIA


Do diretor Edgard Navarro

SINOPSE

Numa mesma noite, cinco pessoas de uma cidadezinha do interior são acometidas por um mesmo pesadelo envolvendo um homem sinistro e um tesouro enterrado. Com a chegada de um misterioso peregrino, o vilarejo é arrebatado da rotina medíocre e os personagens são lançados num vórtice de acontecimentos insólitos. Será assim que cada um terá sua verdade trazida à luz e se libertará do jugo perverso das hipocrisias, medos e doenças, assumindo as rédeas de seus destinos e reescrevendo suas vidas.

sábado, 5 de setembro de 2009

A HORA DO CINEMA DIGITAL

Por André Setaro


Um dos mais competentes especialistas em cinema digital no Brasil., Luiz Gonzaga Assis De Luca acaba de lançar A Hora do Cinema Dgital - Democratização e Globalização do Audiovisual pela Imprensa Oficial de São Paulo dentro da Coleção Aplauso (Cinema & Tecnologia). Num momento em que o processo digital está a revolucionar não somente a produção, mas, também, a exibição cinematográficas, esta publicação é de leitura imprescindível, principalmente quando se verifica que várias pessoas ainda não entenderam bem o que vem a ser o digital em oposição ao antigo celulóide. Com excelente prefário de Gustavo Dahl, o livro de Luiz Gonzaga De Luca vai a fundo na questão.




O autor é homem de cinema, conhece profundamentos as injunções do mercado exibidor. Quando trabalhou na extinta Embrafilme, a sua participação foi decisiva para fazer da empresa uma líder do mercado, a atuar como seu distribuidor responsável por um período de três anos. Finda a experiência, que, para ele, foi muito importante, trabalhou na produção de desenhos animados e licenciamento de personagens e se assinala aqui outro pioneirismo: a da distribuição do videocassete doméstico. Há 20 anos, atua no setor da exibição cinematográfica, ocupando, atualmente, o cargo de diretor de relações institucionais do Grupo Severiano Ribeiro, a maior empresa exibidora de capital nacional. É também professor do curso de pós-graduação Film & Television Business da Fundação Getúlio Vargas. Graduado em Administração Pública,doutorou-se em Ciências da Comunicação na USP. Em 2004, lançou, também pela Aplauso, Cinema Digital: Um Novo Cinema?




Sobre o livro recente, que já inicei a sua leitura, algumas informações tiradas do site da Livraria Saraiva, onde a publicação pode ser encontrada (inclusive pela internet), entre outras boas livrarias brasileiras:




"As tecnologias digitais vêm provendo a substituição dos equipamentos de cinema. Embora muitos filmes já sejam gravados com câmaras digitais e existam mais de 6 mil cinemas digitais no mundo, ocorrem sérios entraves na substituição tecnológica, a começas pelas dificuldades de obtenção dos recursos necessários para financiar a compra dos novos aparelhos. A Hora do Cinema Digital - Democratização e Globalização do Audiovisual não é apenas uma atualização do livro anterior de Luiz Gonzaga Assis de Luca, Cinema Digital - Um Novo Cinema?. Mais do que responder às questões tecnológicas que ficam em aberto no livro anterior, e que se solucionaram nos últimos anos, discute as questões decorrentes da convergência digital que, ao mesmo tempo, une e separa a indústria cinematográfica. Este livro preenche uma lacuna na literatura da área, abordando um tema atual que interessa não só aos profissionais e aos interessados no cinema, como aos que atuam nas diferentes atividades do audiovisual: distribuidores de homevideo, criadores de games e produtores de programas para diferentes meios e veículos: televisão, telefonia, eventos e internet."

terça-feira, 1 de setembro de 2009

DUAS HISTÓRIAS DA BAHIA

*Por André Setaro



(1.) O sonho de Walter da Silveira era implantar, na Universidade Federal da Bahia, um curso de cinema. Quando do reinado de Edgard Santos, chegou, inclusive, a publicar na imprensa artigos sugerindo a sua criação. Não sei se um curso de graduação, como o atual da FTC, mas, talvez, a inclusão de disciplinas na grade programativa de uma Escola de Belas Artes, por exemplo. Em fins de 1967, no reitorado de Roberto Santos, o ensaísta conversou nesse sentido com o diretor do Departamento Cultural da UFBA - assim se chamava nesta época, Professor Valentin Calderon de la Barca, que passou a mensagem ao reitor que, ao contrário de seu pai, o mitológico Edgard, achou a idéia viável e exeqüível. Resolveu instituir um curso de cinema livre, com a duração de um ano. Não se exigia diploma universitário, mas havia um teste e um módulo de não sei quantos alunos. Estudando no Colégio Estadual da Bahia, o saudoso Central, ainda por fazer 18 anos, consegui passar e o freqüentei, oportunidade na qual travei conhecimento com Walter da Silveira durante o ano letivo - já o conhecia do Clube de Cinema da Bahia de vista e de chapéu.

Eis que chega no cais soteropolitano um navio que vinha da Tchecoslováquia, trazendo, nele, Guido Araújo e sua esposa tcheca, Bohudmila. Guido tinha passado neste país mais de 10 anos e a conheceu porque ela, estudante de Letras, se especializara na língua portuguesa. O criador das jornadas baianas tinha ido à Tchecoslováquia como uma espécie de prêmio por seu trabalho como assistente de Nelson Pereira dos Santos em Rio 40 graus e Rio zona norte - na verdade, segundo os créditos dos filmes, fora continuísta. Nelson pediu a Guido que levasse Rio zona norte para o festival internacional de Karlovy Vary. E Guido foi ficando até se estabelecer em Praga, onde trabalhou em programas de rádio, entre outros afazeres na área cultural. Vale ressaltar que Barravento, de Glauber Rocha, que ganhou o principal prêmio do Festival de Karlovy Vary, foi Guido quem o inscreveu.

Na chegada de Guido, estavam no cais a esperá-lo, além de Walter da Silveira, com o qual tinha relações de amizade, Ney Negrão e sua esposa, na época, a advogada Ronilda Noblat, Walter Pinto Lima, entre outros. Quem sabe bem dessa história é Waltinho. Desempregado, Guido precisava arranjar um trabalho e Walter da Silveira o colocou no Departamento Cultural da UFBA. A partir da entrada de Guido neste setor da universidade é que tem início a estruturação do Curso Livre de Cinema, através da criação do Grupo Experimental de Cinema (GEC)

Com duração de um ano, o curso foi dado à noite, às 20 horas, sempre às terças e quintas, na Casa da França que, depois que saiu do guarda-chuva da UFBa, veio a morrer lentamente na Mouraria, e o espaço deu lugar a Biblioteca Central, que no reitorado de Luiz Fernando Macedo Costa, construído um prédio grande no campus de Ondina, para lá se transferiu. E a Faculdade de Comunicação passou a ocupar o antigo prédio da Casa da França.

Walter da Silveira ensinava, as terças, História e Estética do Cinema, e Guido Araújo, as quintas, Teoria e Prática. Fui colega de muitas pessoas que se tornaram, depois, cineastas, como André Luiz de Oliveira, que fez Meteorango Kid, A lenda de Ubirajara, Louco por cinema, José Umberto (O anjo negro), José Frazão (Akpalô, O último herói do gibi, O mistério do Colégio Brasil... - por falar nele, onde anda Frazão?), e pessoas que estudaram, depois, cinema, a exemplo de Geraldo Machado, Jairo Farias Goes, etc. Vou parar por aqui para não omitir nomes. E Ney Negrão, que também tomou o curso.

Uma noite inesquecível foi quando Walter da Silveira levou Glauber Rocha para fazer uma palestra. O cineasta estava filmando em Milagres O dragão da maldade contra o santo guerreiro, que ganharia, no ano seguinte, um prêmio importante em Cannes. Glauber fez uma radiografia brilhante da situação do cinema brasileiro, lamentou que o governo do Estado lhe negou até uma Kombi, não recebendo da administração Luiz Vianna Filho um centavo sequer, respondeu perguntas. Corria o mês de maio e Glauber estava com um casaco preto de couro.

Em 1969, por motivos de saúde, Walter não pôde mais dar aulas. Um câncer lhe destruía o corpo efêmero. Morreu aos 55 anos em novembro de 1970. Mas o Curso Livre de Cinema continuou por muitos anos comandando, apenas, por Guido Araújo. Por falar no Cidadão Walter, o Departamento de Audiovisual da Fundação há mais de dez anos que prometeu publicar uma coletânea completa dos escritos do autor de Fronteiras do Cinema. Designado para fazer o trabalho de seleção e organização, José Umberto Dias – que, nos anos 70 já organizara A História do Cinema vista da província, obra póstuma de Walter, se empenhou por vários anos na tarefa e entregou o material todo pronto para o prelo. Mas o livro foi engavetado e se encontra num processo kafquiniano submerso num labirinto burocrático difícil de decifrar e solucionar. O jornalista Cláudio Leal fez a denúncia ano passado no jornal Província da Bahia e a filha mais velha de Walter da Silveira, Kátia, luta desesperadamente para que a obra venha a ser editada. Todos os esforços, no entanto, parece em vão. Não se compreende que uma obra de tal envergadura, de tal importância, fique, assim, à mercê dos burocratas, que parecem não entender a fundamental contribuição de Walter para o ensaio cinematográfico. Walter da Silveira, é bom que se diga, não somente é o maior ensaísta que a Bahia já teve, mas um dos mais lúcidos pensadores sobre a natureza do cinema do Brasil. Prefiro, por exemplo, sem aqui tirar o valor, imenso, de Paulo Emílio Salles Gomes, os ensaios de Walter aos ensaios deste. Urge uma providência e mesmo uma intervenção. Vale lembrar que, se vivo fosse, o ensaísta estaria a completar, neste 2005, 90 anos, pois nasceu em 1915. Seria uma grande homenagem se, no ano em curso, o livro, afinal, fosse dado à luz.






(2.) Quando se podia transitar na urbis soteropolitana, antes que a violência tomasse conta da cidade, lá pelos anos 60, um exibidor de um cinema do bairro da Liberdade, o Cine São Jorge - que formava com o Brasil e o São Caetano as salas exibidoras do bairro, resolveu passar, à meia-noite dos sábados, 'filmes de putaria', segundo sua própria expressão. Eram filmes mal feitos, pessimamente fotografados, mal focados, quase que não se podia ver direito o que estava acontecendo no interior do enquadramento. Para compensar a qualidade deficiente dos celulóides em 35mm, o exibidor comprou um projetor 8mm - nada de Super 8, que não existia - em Marota, um comerciante antigo da Cidade Baixa que negociava com material de cinema. Instalando este projetor na sala, mandou buscar filmes suecos e dinamarqueses 'de putaria grossa', que tinham, apesar da bitola menor, o 8mm, uma qualidade fotográfica excelente.

As sessões ficavam abarrotadas, porque em matéria de 'putaria', os homens se contentavam com as histórias em quadrinhos de Carlos Zéfiro, vendidas clandestinamente, mas fáceis de encontrar na Praça Municipal. Fui a uma delas, e vim andando da Liberdade para casa em Nazaré perto das duas da manhã. Tudo era muito calmo. Dava prazer se viver em Salvador.

Mas a polícia, um belo dia, invadiu o São Jorge, mandou parar a sessão, prendeu o exibidor. Todos os jornais estamparam em manchetes. A Tarde fez um editorial moralista da lavra calmoniana. Mas Cruz Rios riu do episódio. Dois meses depois, Walter da Silveira fez um acordo com o exibidor Francisco Python para projetar 'filmes de arte' no Guarany da Praça Castro Alves - que com a morte de Glauber tomou o nome do cineasta.
Considerando que a cidade era muito pacata, a sessão da meia-noite do Clube de Cinema da Bahia, aos sábados, constituiria-se numa opção para o fim de semana.

Walter programou, para abrir com chave de ouro a programação, O túmulo do sol, um filme japonês muito premiado sobre um menino que gostava de contemplar o sol. Filme mágico e encantado e próprio para todas as idades. Mas, por causa do horário, meia-noite, menor não podia entrar. No dia marcado, desde as 23 horas filas se desdobravam pela Praça. Walter achou esquisito, pois o filme seria para um público mais restrito. Filas para comprar ingresso e outras filas para entrar. Um sufoco. A sala de espera abarrotada, e na hora que a corrente foi aberta, pessoas sendo empurradas, uma confusão dos diabos. Na sala, gente sentada no chão. Eis que começa o filme. Passados quinze minutos, as pessoas começaram a gritar, gerando, com isso, um tumulto. Resultado: a maioria das poltronas do Guarany foi arrebentada.

Tudo porque, estando ainda fresca na memória dos baianos a notícia da invasão policial do São Jorge, os soteropolitanos pensaram que, naquele horário, os filmes seriam de 'putaria grossa'. Python rasgou o contrato com Walter, tendo a aquiescência deste.



*André Setaro, professor da UFBA

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A MISÉRIA CULTURAL BAIANA

Por André Setaro
Se a miséria está instalada na cultura baiana (nada a ver com política cultural deste ou daquele governo, pois a coisa é crônica), no plano nacional, e no tocante ao cinema em particular, ir ao cinema somente é permitido à classe média alta para cima. O povo e a classe média estão praticamente excluídos, a formar uma geração dos Sem Cinema. Triste realidade. E assustadora, porque quem não se habitua cedo a ir ao cinema não vai nunca mais.


Sim, uma ida ao cinema atualmente significa um gasto considerável, que fura o orçamento do classe média, que está pagando a conta das bolsas familiares. A verdade é que, depois do Plano Real, a economia se dolarizou, os preços subiram muito e os salários, congelados em freezer potente. Um casal para ir ao Multiplex gasta, de saída, 32 reais, considerando que o ingresso custa a 16. Se quiser se empipocar, como é de praxe, mais uma grana – e os complexos de cinema cobram muito mais nas guloseimas compradas dentro deles. Mas, uma ida a seco, e de ônibus, adicione-se aos 32 dos ingressos, os 8 das passagens (2 reais por cabeça). O resultado assinala que um filme custa 40 reais. Muito caro. E o povo, e o povo, como é que pode ir ao cinema? Já que não mais existem os chamados cinemas de rua nem os de bairros?
Se formos fazer uma comparação entre o número de salas exibidoras que Salvador tinha em 1958 e o que tem atualmente, a conclusão é uma só: os cinemas estão fechando suas portas. Com uma população de, mais ou menos, quinhentos mil habitantes, a província possuía em torno de quase trinta salas, considerando, no cômputo final, as de primeira linha, os poeiras da Baixa dos Sapateiros, e os cinemas de bairro. Para arredondar o raciocino, que se coloque trinta salas em 1958 para quinhentos mil habitantes, sendo que cada uma delas tinha, em média, mil poltronas, variando entre as salas maiores, de quase duas mil cadeiras, como o Guarany e o Jandaia, e as menores, que beiravam a mil lugares.


Para não haver crescimento das salas exibidores, e considerando, sempre, a densidade demográfica, nos dias que correm – e como correm!, com uma população de dois milhões e quinhentos mil habitantes – e, aqui, nivelando por baixo, Salvador deveria ter, no mínimo, cento e cinqüenta salas, pois a sua população, entre 1958 e 2005, aumentou cinco vezes. O cálculo é simples. Multiplicam-se as trinta salas do passado por 5 e se tem o número de cinemas que a cidade deveria ter e, repetindo-se, sem haver crescimento. Mas atualmente o que se tem é um máximo de trinta e cinco salas e cada uma com um máximo de 400 lugares, a maior parte se localizando nos complexos chamados Multiplex.

Então que se faça uma nova contagem, considerando que cada cinema, em 1958, tinha em média mil lugares e, hoje, trezentos. Trinta vezes mil, em 1958, é igual a trinta mil. Que se coloque, para ficar bem claro, em números inteiros: tinha-se, na província, nesta época, 30.000 lugares e, se o número for multiplicado por cinco, porque a população cresceu cinco vezes, tem-se o número redondo de 150.000. Este, o número que, para não se constatar crescimento, mas, apenas, manutenção, deveria a cidade possuir em número de lugares. Mas o que se tem atualmente? Com a média de 400 lugares e 35 salas, fazendo-se a multiplicação, o resultado é de 14.000 lugares. Que diferença brutal!
Se antigamente o povo ia muito ao cinema, hoje, como disse Gustavo Dahl, há alguns anos, no Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual, não tem acesso a ele. O cinema, que era um meio de comunicação de massa, atualmente é um veículo cujo acesso somente é possível à elite.


Antes, existiam os cinemas de primeira linha, lançadores, que ficavam concentrados no centro histórico, os poeiras da Baixa dos Sapateiros e os de bairro. Luiz Carlos Barreto, que conhece muito bem a mercadologia cinematográfica, afirmou, em recente entrevista no Canal Brasil, que o ingresso custava em torno de um dólar e, nos cinemas de segunda, cinqüenta centavos. É como se hoje o ingresso para entrar numa das salas do Multiplex custasse dois reais e cinqüenta centavos, a inteira, a inteira! Mas quanto custa realmente? Em torno de quatorze reais. Como uma pessoa que ganha a miséria do salário mínimo pode freqüentar as salas de exibição? Ir com a família ao cinema? Nem pensar.


O Plano Real dolarizou a economia de uma forma perversa. O povo está excluído do cinema, assim como a chamada classe média baixa. A conclusão é estarrecedora e reveladora: apenas dez por cento da população baiana pode ir ao cinema, sendo que dois milhões e tanto de pessoas estão completamente fora da rota cinematográfica. Constatou-se, em pesquisa recente, que a maioria dos baianos nunca foi ao cinema. Um grupo organizou uma sessão cinematográfica num bairro periférico e o que se viu foi espantoso. As pessoas ficaram maravilhadas pelas imagens em movimento, pois estavam a contempla-las pela primeira vez. E isto aconteceu na região metropolitana de Salvador!Na década de 50, o Brasil tinha perto de dez mil salas exibidoras. Em 1975, já se contavam apenas cinco mil. No ano passado, chegou a mil e novecentos.


Os cinemas interioranos fecharam suas portas. Assim como aqueles de rua, como os antigos e inesquecíveis da Baixa dos Sapateiros e os de bairro. O que se constata é que os cinemas estão sendo construídos para o usufruto de uma elite que pode pagar os quatorze reais de ingresso, ainda a se refestelar com as guloseimas caríssimas que lhe são oferecidas no fast food. O público se infantilizou e se idiotizou. Ir ao cinema, antes um ritual, uma solenidade, uma função, atualmente é comparável a uma ida ao fast food.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

MANUAL DESCOMPLICADO DE ROTEIRO



Por André setaro


Roberto Lyrio Duarte Guimarães ou, como é mais conhecido, Roberto Duarte, lança, amanhã, dia 25 de agosto, a partir das 18 horas, no Instituto Goethe (Icba), que se localiza no Corredor da Vitória, o livro Primeiro Traço - Manual descomplicado de roteiro, um tratado sobre o roteiro cinematográfico ou, segundo as palavras do autor, "o meu pequeno manual". Na verdade, Roberto Duarte é um pesquisador que está sempre a refletir sobre a construção do roteiro e pode ser considerado um dos poucos especialistas no assunto. Há mais de uma década realiza oficinas quase permanentes abertas ao público que se destinam a ensinar, discutir, analisar, e pensar sobre a elaboração do roteiro, que é a pré-visualização de um filme. Excetuando-se os casos particulares, aqueles de cineastas que dispensam o roteiro, o fato é que este é imprescindível para um filme que se queira consistente e bem alinhavado. Duarte sabe caminhar pelos labirintos de sua construção.

A recomendação aqui é feita sem nenhuma hesitação. Leiam e comprem Primeiro Traço - Manual descomplicado de roteiro. E clique na imagem para ver a capa em tamanho maior. O livro é editado pela Edufba e contou com o apoio da Fapesb.

sábado, 22 de agosto de 2009

BESOURO ( O FILME )


Por Filipêra

Lembro que era adolescente e tive uma reação de estupefação ao ver Chown Youn-Fat trocando sopapos no ar com Zhang Ziyi. Apesar de já ter visto filmes de Hong Kong nas velhas sessões Kickboxing da Band, foi com O Tigre e o Dragão que tive aquela queda por filmes de kung fu. Depois veio Bruce Lee, Jet Li e meu maior ídolo: Jackie Chan. Olhando o cinema brasileiro, parece inimaginável que coisa parecida pintasse por aqui. É mais fácil ver clássicos que são uma ode à violência, às costelas quebradas e tiros a esmo, como os essenciais Cidade de Deus e Tropa de Elite.

Besouro surge para mostrar que uma vez ou outra podemos experimentar, nem que seja acrescentado à cultura dos outros, um pouco da nossa cultura. O filme é uma mistura de O Tigre e o Dragão (ou Herói, outro clássico moderno dos filmes wuxia) com capoeira.

Toda essa maluquice surreal e interessante é dirigida pelo publicitário João Daniel Tikhomiroff, ao custo de 10 milhões de verdinhas com a cara da Princesa Isabel. Grande parte dessa bolada foi para Hiuen Chiu Ku, que ajudou na coreografia da produção, coisa que ele já havia feito em Matrix, Kill Bill e… O Tigre e o Dragão



Besouro é baseado no romance Feijoada no Paraíso, de Marco Carvalho, e levou quase três meses para ser filmado no Bahia. Fátima Toledo (Tropa de Elite, Cidade de Deus) cuida do elenco e Patrícia Andrade (Os 2 filhos de Francisco) assinou o roteiro.

METEORANGO KID - O HERÓI INTERGALÁTICO (1969)

Beto Magno

SINOPSE

As aventuras de Lula, um estudante universitário, no dia do seu aniversário. De forma absolutamente despojada, anárquica e irreverente, mostra sem rodeios o perfil de um jovem desesperado, representante de uma geração oprimida pela ditadura militar e pela moral retrógrada de uma sociedade passiva e hipócrita. O anti-herói intergaláctico atravessa esse labirinto cotidiano através das suas fantasias e delírios libertários, deixando atrás de si um rastro de inconformismo e um convite à rebelião em todos os níveis



FICAHA DO FILME


              • Título original: Meteorango Kid - O Herói Intergalático

              • Diretor: André Luiz Oliveira

              • Elenco: Antônio Luís Martins, Carlos Bastos, Milton Gaúcho, Manoel Costa Junior, Antonio Vianna, Nilda Spencer, Ana Lúcia Oliveira, João Di Sordi, Caveirinha, Sônia Dias, José Wagner

              • Gênero: Ação, Comédia, Cult

              • Duração: 85 min

              • Ano: 1969

              • Cor: Preto e Branco

              • Classificação: Não recomendado para menores de 14 anos

              • País: Brasil


              DADOS DO DVD



              • Extras: Curtas "Doce Amargo" (1968, co-direção com José Umberto); "A Fonte" (1970), "O Cristo de Vitória da Conquista" (1981)

              • Idioma: Português

              • Distribuidora: Lume

              • Ano: 1969

              • Data de lançamento: 24/05/2009

              DOCUMENTÁRIO SOBRE RAUL SEIXAS SERÁ FILMADO EM SALVADOR


              RAUL SEIXAS


              “Estamos materializando aqui uma ideia de cinco anos atrás, quando um garoto visionário decidiu que iria fazer um filme sobre Raul Seixas”.

              O autor da frase é Walter Carvalho, mais respeitado diretor de fotografia do cinema brasileiro em atividade (”Central do Brasil”, “Lavoura Arcaica”), ao iniciar, no último domingo(19) em Salvador, as fillmagens de “O Inicio, o Fim e o Meio”, documentário que promete abrir ainda mais o baú de informações sobre a vida do lendário roqueiro baiano, morto em 21 de agosto de 1989

              O “garoto” em questão é o produtor Denis Feijão, 30, idealizador do longa. Para um completo desconhecido no mercado cinematográfico, quando teve a ideia, é impressionante ver a estrutura que o projeto tomou.

              É uma conquista ver tudo se concretizando. E, para mim, era fundamental começar aonde tudo começou para Raul”, diz Feijão, explicando o motivo das filmagens começarem pela capital baiana.

              Depois de Salvador, a equipe parte para filmagens no Rio de Janeiro e São Paulo, finalizando em junho com entrevistas no exterior (provavelmente na Suíça) com o parceiro de Raul, o escritor Paulo Coelho. Também impressiona a escalação para a direção do projeto: Walter Carvalho e Evaldo Mocarzel, nomes consagrados do cinema nacional.

              Carvalho tem, como diretor, no currículo, a bem sucedida cinebiografia “Cazuza – O Tempo Não Para” (co-dirigido por Suzana Werneck) e o premiado documentário “Janela da Alma”, (co-dirigido por João Jardim).

              “Fiquei muito sensibilizado com o convite porque, como documentarista, gosto de trabalhar com a memória”, disse ele, em um intervalo nas gravações das primeiras entrevistas do filme, realizadas no Café Portela, no bairro do Rio Vermelho.

              Acostumado aos trabalhos em dupla e vendo o tamanho da proporção do trabalho, Carvalho (que lança no próximo dia 22 de maio a adaptação para o cinema do livro de Chico Buarque, “Budapeste”) convidou para a empreitada o amigo Mocarzel – editor nos anos 90 do caderno de cultura do jornal Estado de S. Paulo e, na atual década, um documentarista de filmes como “Do Luto à Luta” e “A Imagem do Concreto”. “Serviu para aumentar o meu medo em me meter nesta aventura”, brinca Carvalho.

              Parece que, realmente, Raul Seixas estava no caminho de Mocarzel. Além de ser testemunha de vários momentos do que chama de “ascensão e queda de Raul”, outro fato curioso liga o jornalista/cineasta ao cantor: “Quando fui morar em São Paulo, em 1990, morei no apart hotel em que ele morreu. O filme está cheio dessas coincidências loucas. Quando o Waltinho me chamou para dividir a direção, fiquei muito excitado. Raul é o expoente de uma época. Vamos falar de Brasil, dos anos 60. Quer dizer, até o fato dele ter nascido em 1945, ano das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, marcou o estilo apocalíptico dele”

              Falando em coincidências, uma delas veio logo de cara no início das filmagens em Salvador. É que, como o humorista Chico Anysio estava na cidade, se apresentando no Teatro Castro Alves, os diretores foram atrás de uma entrevista. Mas o que ligaria Raul Seixas e Chico Anysio?

              “Tivemos a informação de que o Chico deu uma força para o Raul ir para o Rio. Na verdade, o que ele fez foi sugerir ao (cantor) Jerry Adriani os Panteras (banda com que Raul tocou no início de sua carreira). Muitos episódios da vida de Raul são lendas. Disseram também que o Chico Anysio tinha ajudado a carregar os instrumentos dos Panteras. O que até tem uma parte de verdade. Vamos ter que enfrentar essas várias camadas de realidades, essas ciladas”, explica Carvalho

              Outra coincidência que os diretores esperam que aconteça é que dois fãs especiais do cantor leiam esta matéria. São personagens de duas fotos de momentos peculiares: uma delas, feita durante o velório do cantor, mostra alguns fãs chorando copiosamente no seu caixão (o fã desejado é o mais em destaque na imagem, na extrema direita, de barba).

              Já a outra foto mostra Carlos Augusto Santana Silva, que em 1993, foi flagrado tentando levar para casa, como recordação, a lápide do túmulo de Raul. “Estamos curiosos para descobrir como essas pessoas se relacionam com Raul hoje em dia”, diz o produtor Feijão, que deixa o contato da produção – (71) 2103-2233 ramal 2074, para quem souber alguma informação.

              Carvalho e Mocarzel se mostram abertos às possibilidades que podem aparecer na busca de informações e no processo de realização do filme. “O ponto de partida é Raul. Não temos um ponto a chegar, e, sim, de partir. Quanto mais elementos você tem, mais você descobre as relações entre estes pontos com o tema”. diz Carvalho

              “Claro que você vislumbra um filme na sua cabeça. Eu vislumbro essa textura de memória, ir no colégio Maristas, onde ele foi expulso, e observar a ação do tempo nessas locações. O filme terá várias texturas, porque temos matérias das mais diversas fontes: Super 8, VHS, e por aí vai. Também queremos trabalhar com o silêncio e, ao mesmo tempo, o universo rock’n'roll do Raul, sua trajetória, problemas com o alcoolismo. Uma de suas mulheres diz que, se ele passava uma imagem de artista muito agressivo, em casa era um homem muito delicado. Queremos também humanizar o mito”, complementa Mocarzel.


              Entre as 54 pessoas pré-selecionadas para as entrevistas, estão personalidades como os cantores Jerry Adriani e Marcelo Nova, as três mulheres com quem Raul foi casado, os companheiros de banda local Os Panteras, além de personalidades da indústria musical, como os produtores Roberto Menescal, André Midani e Marco Mazolla. E, claro, Paulo Coelho.

              Por fim, a pergunta que os fãs devem estar ansiosos: quando o filme chega às telas? “Te garanto que sai esse ano. Acho que está mais para a Mostra Internacional de São Paulo (fim de outubro), entrando no circuito comercial logo depois”, afirma Feijão.
              Cineinsite

              segunda-feira, 17 de agosto de 2009

              ENTREVISTA DE RADA REZEDÁ A REVISTA "MUITO" DO JORNAL A TARDE


              Revista Muito 71 - 09/08/2009
              Abre aspas: Quem tem medo de Marcelo Nova? Rock, polêmicas e palavrões
              Moda: Quando o estilo aproxima pais e filhos, fica mais fácil se divertir
              Arte: Em vídeos, instalações e pinturas, Caetano Dias valoriza o humano
              Bio: A atriz e publicitária Rada Rezedá aposta na versatilidade
              Atalho: No Dom Fernand’s, em Villas, cozinhas hispânica e mediterrânea
              Satélite: O bar Via Urbana une arte e descontração no centro de Roma
              Gastrô: As delícias da gastronomia espanhola vão além das famosas paellas

              Vejam a revsita Muito do Jornal A Tarde, na coluna BIO a atriz Rada Rezedá

              GRAVAÇÃO DO DOCUMENTÁRIO SOBRE OS 25 ANOS DA UNEB.

              XENO VELOSO E CHICO ARGUEIRO - SENTADOS - PALMERINHA E BETO MAGNO