terça-feira, 8 de setembro de 2009

O HOMEM QUE NÃO DORMIA


Do diretor Edgard Navarro

SINOPSE

Numa mesma noite, cinco pessoas de uma cidadezinha do interior são acometidas por um mesmo pesadelo envolvendo um homem sinistro e um tesouro enterrado. Com a chegada de um misterioso peregrino, o vilarejo é arrebatado da rotina medíocre e os personagens são lançados num vórtice de acontecimentos insólitos. Será assim que cada um terá sua verdade trazida à luz e se libertará do jugo perverso das hipocrisias, medos e doenças, assumindo as rédeas de seus destinos e reescrevendo suas vidas.

sábado, 5 de setembro de 2009

A HORA DO CINEMA DIGITAL

Por André Setaro


Um dos mais competentes especialistas em cinema digital no Brasil., Luiz Gonzaga Assis De Luca acaba de lançar A Hora do Cinema Dgital - Democratização e Globalização do Audiovisual pela Imprensa Oficial de São Paulo dentro da Coleção Aplauso (Cinema & Tecnologia). Num momento em que o processo digital está a revolucionar não somente a produção, mas, também, a exibição cinematográficas, esta publicação é de leitura imprescindível, principalmente quando se verifica que várias pessoas ainda não entenderam bem o que vem a ser o digital em oposição ao antigo celulóide. Com excelente prefário de Gustavo Dahl, o livro de Luiz Gonzaga De Luca vai a fundo na questão.




O autor é homem de cinema, conhece profundamentos as injunções do mercado exibidor. Quando trabalhou na extinta Embrafilme, a sua participação foi decisiva para fazer da empresa uma líder do mercado, a atuar como seu distribuidor responsável por um período de três anos. Finda a experiência, que, para ele, foi muito importante, trabalhou na produção de desenhos animados e licenciamento de personagens e se assinala aqui outro pioneirismo: a da distribuição do videocassete doméstico. Há 20 anos, atua no setor da exibição cinematográfica, ocupando, atualmente, o cargo de diretor de relações institucionais do Grupo Severiano Ribeiro, a maior empresa exibidora de capital nacional. É também professor do curso de pós-graduação Film & Television Business da Fundação Getúlio Vargas. Graduado em Administração Pública,doutorou-se em Ciências da Comunicação na USP. Em 2004, lançou, também pela Aplauso, Cinema Digital: Um Novo Cinema?




Sobre o livro recente, que já inicei a sua leitura, algumas informações tiradas do site da Livraria Saraiva, onde a publicação pode ser encontrada (inclusive pela internet), entre outras boas livrarias brasileiras:




"As tecnologias digitais vêm provendo a substituição dos equipamentos de cinema. Embora muitos filmes já sejam gravados com câmaras digitais e existam mais de 6 mil cinemas digitais no mundo, ocorrem sérios entraves na substituição tecnológica, a começas pelas dificuldades de obtenção dos recursos necessários para financiar a compra dos novos aparelhos. A Hora do Cinema Digital - Democratização e Globalização do Audiovisual não é apenas uma atualização do livro anterior de Luiz Gonzaga Assis de Luca, Cinema Digital - Um Novo Cinema?. Mais do que responder às questões tecnológicas que ficam em aberto no livro anterior, e que se solucionaram nos últimos anos, discute as questões decorrentes da convergência digital que, ao mesmo tempo, une e separa a indústria cinematográfica. Este livro preenche uma lacuna na literatura da área, abordando um tema atual que interessa não só aos profissionais e aos interessados no cinema, como aos que atuam nas diferentes atividades do audiovisual: distribuidores de homevideo, criadores de games e produtores de programas para diferentes meios e veículos: televisão, telefonia, eventos e internet."

terça-feira, 1 de setembro de 2009

DUAS HISTÓRIAS DA BAHIA

*Por André Setaro



(1.) O sonho de Walter da Silveira era implantar, na Universidade Federal da Bahia, um curso de cinema. Quando do reinado de Edgard Santos, chegou, inclusive, a publicar na imprensa artigos sugerindo a sua criação. Não sei se um curso de graduação, como o atual da FTC, mas, talvez, a inclusão de disciplinas na grade programativa de uma Escola de Belas Artes, por exemplo. Em fins de 1967, no reitorado de Roberto Santos, o ensaísta conversou nesse sentido com o diretor do Departamento Cultural da UFBA - assim se chamava nesta época, Professor Valentin Calderon de la Barca, que passou a mensagem ao reitor que, ao contrário de seu pai, o mitológico Edgard, achou a idéia viável e exeqüível. Resolveu instituir um curso de cinema livre, com a duração de um ano. Não se exigia diploma universitário, mas havia um teste e um módulo de não sei quantos alunos. Estudando no Colégio Estadual da Bahia, o saudoso Central, ainda por fazer 18 anos, consegui passar e o freqüentei, oportunidade na qual travei conhecimento com Walter da Silveira durante o ano letivo - já o conhecia do Clube de Cinema da Bahia de vista e de chapéu.

Eis que chega no cais soteropolitano um navio que vinha da Tchecoslováquia, trazendo, nele, Guido Araújo e sua esposa tcheca, Bohudmila. Guido tinha passado neste país mais de 10 anos e a conheceu porque ela, estudante de Letras, se especializara na língua portuguesa. O criador das jornadas baianas tinha ido à Tchecoslováquia como uma espécie de prêmio por seu trabalho como assistente de Nelson Pereira dos Santos em Rio 40 graus e Rio zona norte - na verdade, segundo os créditos dos filmes, fora continuísta. Nelson pediu a Guido que levasse Rio zona norte para o festival internacional de Karlovy Vary. E Guido foi ficando até se estabelecer em Praga, onde trabalhou em programas de rádio, entre outros afazeres na área cultural. Vale ressaltar que Barravento, de Glauber Rocha, que ganhou o principal prêmio do Festival de Karlovy Vary, foi Guido quem o inscreveu.

Na chegada de Guido, estavam no cais a esperá-lo, além de Walter da Silveira, com o qual tinha relações de amizade, Ney Negrão e sua esposa, na época, a advogada Ronilda Noblat, Walter Pinto Lima, entre outros. Quem sabe bem dessa história é Waltinho. Desempregado, Guido precisava arranjar um trabalho e Walter da Silveira o colocou no Departamento Cultural da UFBA. A partir da entrada de Guido neste setor da universidade é que tem início a estruturação do Curso Livre de Cinema, através da criação do Grupo Experimental de Cinema (GEC)

Com duração de um ano, o curso foi dado à noite, às 20 horas, sempre às terças e quintas, na Casa da França que, depois que saiu do guarda-chuva da UFBa, veio a morrer lentamente na Mouraria, e o espaço deu lugar a Biblioteca Central, que no reitorado de Luiz Fernando Macedo Costa, construído um prédio grande no campus de Ondina, para lá se transferiu. E a Faculdade de Comunicação passou a ocupar o antigo prédio da Casa da França.

Walter da Silveira ensinava, as terças, História e Estética do Cinema, e Guido Araújo, as quintas, Teoria e Prática. Fui colega de muitas pessoas que se tornaram, depois, cineastas, como André Luiz de Oliveira, que fez Meteorango Kid, A lenda de Ubirajara, Louco por cinema, José Umberto (O anjo negro), José Frazão (Akpalô, O último herói do gibi, O mistério do Colégio Brasil... - por falar nele, onde anda Frazão?), e pessoas que estudaram, depois, cinema, a exemplo de Geraldo Machado, Jairo Farias Goes, etc. Vou parar por aqui para não omitir nomes. E Ney Negrão, que também tomou o curso.

Uma noite inesquecível foi quando Walter da Silveira levou Glauber Rocha para fazer uma palestra. O cineasta estava filmando em Milagres O dragão da maldade contra o santo guerreiro, que ganharia, no ano seguinte, um prêmio importante em Cannes. Glauber fez uma radiografia brilhante da situação do cinema brasileiro, lamentou que o governo do Estado lhe negou até uma Kombi, não recebendo da administração Luiz Vianna Filho um centavo sequer, respondeu perguntas. Corria o mês de maio e Glauber estava com um casaco preto de couro.

Em 1969, por motivos de saúde, Walter não pôde mais dar aulas. Um câncer lhe destruía o corpo efêmero. Morreu aos 55 anos em novembro de 1970. Mas o Curso Livre de Cinema continuou por muitos anos comandando, apenas, por Guido Araújo. Por falar no Cidadão Walter, o Departamento de Audiovisual da Fundação há mais de dez anos que prometeu publicar uma coletânea completa dos escritos do autor de Fronteiras do Cinema. Designado para fazer o trabalho de seleção e organização, José Umberto Dias – que, nos anos 70 já organizara A História do Cinema vista da província, obra póstuma de Walter, se empenhou por vários anos na tarefa e entregou o material todo pronto para o prelo. Mas o livro foi engavetado e se encontra num processo kafquiniano submerso num labirinto burocrático difícil de decifrar e solucionar. O jornalista Cláudio Leal fez a denúncia ano passado no jornal Província da Bahia e a filha mais velha de Walter da Silveira, Kátia, luta desesperadamente para que a obra venha a ser editada. Todos os esforços, no entanto, parece em vão. Não se compreende que uma obra de tal envergadura, de tal importância, fique, assim, à mercê dos burocratas, que parecem não entender a fundamental contribuição de Walter para o ensaio cinematográfico. Walter da Silveira, é bom que se diga, não somente é o maior ensaísta que a Bahia já teve, mas um dos mais lúcidos pensadores sobre a natureza do cinema do Brasil. Prefiro, por exemplo, sem aqui tirar o valor, imenso, de Paulo Emílio Salles Gomes, os ensaios de Walter aos ensaios deste. Urge uma providência e mesmo uma intervenção. Vale lembrar que, se vivo fosse, o ensaísta estaria a completar, neste 2005, 90 anos, pois nasceu em 1915. Seria uma grande homenagem se, no ano em curso, o livro, afinal, fosse dado à luz.






(2.) Quando se podia transitar na urbis soteropolitana, antes que a violência tomasse conta da cidade, lá pelos anos 60, um exibidor de um cinema do bairro da Liberdade, o Cine São Jorge - que formava com o Brasil e o São Caetano as salas exibidoras do bairro, resolveu passar, à meia-noite dos sábados, 'filmes de putaria', segundo sua própria expressão. Eram filmes mal feitos, pessimamente fotografados, mal focados, quase que não se podia ver direito o que estava acontecendo no interior do enquadramento. Para compensar a qualidade deficiente dos celulóides em 35mm, o exibidor comprou um projetor 8mm - nada de Super 8, que não existia - em Marota, um comerciante antigo da Cidade Baixa que negociava com material de cinema. Instalando este projetor na sala, mandou buscar filmes suecos e dinamarqueses 'de putaria grossa', que tinham, apesar da bitola menor, o 8mm, uma qualidade fotográfica excelente.

As sessões ficavam abarrotadas, porque em matéria de 'putaria', os homens se contentavam com as histórias em quadrinhos de Carlos Zéfiro, vendidas clandestinamente, mas fáceis de encontrar na Praça Municipal. Fui a uma delas, e vim andando da Liberdade para casa em Nazaré perto das duas da manhã. Tudo era muito calmo. Dava prazer se viver em Salvador.

Mas a polícia, um belo dia, invadiu o São Jorge, mandou parar a sessão, prendeu o exibidor. Todos os jornais estamparam em manchetes. A Tarde fez um editorial moralista da lavra calmoniana. Mas Cruz Rios riu do episódio. Dois meses depois, Walter da Silveira fez um acordo com o exibidor Francisco Python para projetar 'filmes de arte' no Guarany da Praça Castro Alves - que com a morte de Glauber tomou o nome do cineasta.
Considerando que a cidade era muito pacata, a sessão da meia-noite do Clube de Cinema da Bahia, aos sábados, constituiria-se numa opção para o fim de semana.

Walter programou, para abrir com chave de ouro a programação, O túmulo do sol, um filme japonês muito premiado sobre um menino que gostava de contemplar o sol. Filme mágico e encantado e próprio para todas as idades. Mas, por causa do horário, meia-noite, menor não podia entrar. No dia marcado, desde as 23 horas filas se desdobravam pela Praça. Walter achou esquisito, pois o filme seria para um público mais restrito. Filas para comprar ingresso e outras filas para entrar. Um sufoco. A sala de espera abarrotada, e na hora que a corrente foi aberta, pessoas sendo empurradas, uma confusão dos diabos. Na sala, gente sentada no chão. Eis que começa o filme. Passados quinze minutos, as pessoas começaram a gritar, gerando, com isso, um tumulto. Resultado: a maioria das poltronas do Guarany foi arrebentada.

Tudo porque, estando ainda fresca na memória dos baianos a notícia da invasão policial do São Jorge, os soteropolitanos pensaram que, naquele horário, os filmes seriam de 'putaria grossa'. Python rasgou o contrato com Walter, tendo a aquiescência deste.



*André Setaro, professor da UFBA

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A MISÉRIA CULTURAL BAIANA

Por André Setaro
Se a miséria está instalada na cultura baiana (nada a ver com política cultural deste ou daquele governo, pois a coisa é crônica), no plano nacional, e no tocante ao cinema em particular, ir ao cinema somente é permitido à classe média alta para cima. O povo e a classe média estão praticamente excluídos, a formar uma geração dos Sem Cinema. Triste realidade. E assustadora, porque quem não se habitua cedo a ir ao cinema não vai nunca mais.


Sim, uma ida ao cinema atualmente significa um gasto considerável, que fura o orçamento do classe média, que está pagando a conta das bolsas familiares. A verdade é que, depois do Plano Real, a economia se dolarizou, os preços subiram muito e os salários, congelados em freezer potente. Um casal para ir ao Multiplex gasta, de saída, 32 reais, considerando que o ingresso custa a 16. Se quiser se empipocar, como é de praxe, mais uma grana – e os complexos de cinema cobram muito mais nas guloseimas compradas dentro deles. Mas, uma ida a seco, e de ônibus, adicione-se aos 32 dos ingressos, os 8 das passagens (2 reais por cabeça). O resultado assinala que um filme custa 40 reais. Muito caro. E o povo, e o povo, como é que pode ir ao cinema? Já que não mais existem os chamados cinemas de rua nem os de bairros?
Se formos fazer uma comparação entre o número de salas exibidoras que Salvador tinha em 1958 e o que tem atualmente, a conclusão é uma só: os cinemas estão fechando suas portas. Com uma população de, mais ou menos, quinhentos mil habitantes, a província possuía em torno de quase trinta salas, considerando, no cômputo final, as de primeira linha, os poeiras da Baixa dos Sapateiros, e os cinemas de bairro. Para arredondar o raciocino, que se coloque trinta salas em 1958 para quinhentos mil habitantes, sendo que cada uma delas tinha, em média, mil poltronas, variando entre as salas maiores, de quase duas mil cadeiras, como o Guarany e o Jandaia, e as menores, que beiravam a mil lugares.


Para não haver crescimento das salas exibidores, e considerando, sempre, a densidade demográfica, nos dias que correm – e como correm!, com uma população de dois milhões e quinhentos mil habitantes – e, aqui, nivelando por baixo, Salvador deveria ter, no mínimo, cento e cinqüenta salas, pois a sua população, entre 1958 e 2005, aumentou cinco vezes. O cálculo é simples. Multiplicam-se as trinta salas do passado por 5 e se tem o número de cinemas que a cidade deveria ter e, repetindo-se, sem haver crescimento. Mas atualmente o que se tem é um máximo de trinta e cinco salas e cada uma com um máximo de 400 lugares, a maior parte se localizando nos complexos chamados Multiplex.

Então que se faça uma nova contagem, considerando que cada cinema, em 1958, tinha em média mil lugares e, hoje, trezentos. Trinta vezes mil, em 1958, é igual a trinta mil. Que se coloque, para ficar bem claro, em números inteiros: tinha-se, na província, nesta época, 30.000 lugares e, se o número for multiplicado por cinco, porque a população cresceu cinco vezes, tem-se o número redondo de 150.000. Este, o número que, para não se constatar crescimento, mas, apenas, manutenção, deveria a cidade possuir em número de lugares. Mas o que se tem atualmente? Com a média de 400 lugares e 35 salas, fazendo-se a multiplicação, o resultado é de 14.000 lugares. Que diferença brutal!
Se antigamente o povo ia muito ao cinema, hoje, como disse Gustavo Dahl, há alguns anos, no Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual, não tem acesso a ele. O cinema, que era um meio de comunicação de massa, atualmente é um veículo cujo acesso somente é possível à elite.


Antes, existiam os cinemas de primeira linha, lançadores, que ficavam concentrados no centro histórico, os poeiras da Baixa dos Sapateiros e os de bairro. Luiz Carlos Barreto, que conhece muito bem a mercadologia cinematográfica, afirmou, em recente entrevista no Canal Brasil, que o ingresso custava em torno de um dólar e, nos cinemas de segunda, cinqüenta centavos. É como se hoje o ingresso para entrar numa das salas do Multiplex custasse dois reais e cinqüenta centavos, a inteira, a inteira! Mas quanto custa realmente? Em torno de quatorze reais. Como uma pessoa que ganha a miséria do salário mínimo pode freqüentar as salas de exibição? Ir com a família ao cinema? Nem pensar.


O Plano Real dolarizou a economia de uma forma perversa. O povo está excluído do cinema, assim como a chamada classe média baixa. A conclusão é estarrecedora e reveladora: apenas dez por cento da população baiana pode ir ao cinema, sendo que dois milhões e tanto de pessoas estão completamente fora da rota cinematográfica. Constatou-se, em pesquisa recente, que a maioria dos baianos nunca foi ao cinema. Um grupo organizou uma sessão cinematográfica num bairro periférico e o que se viu foi espantoso. As pessoas ficaram maravilhadas pelas imagens em movimento, pois estavam a contempla-las pela primeira vez. E isto aconteceu na região metropolitana de Salvador!Na década de 50, o Brasil tinha perto de dez mil salas exibidoras. Em 1975, já se contavam apenas cinco mil. No ano passado, chegou a mil e novecentos.


Os cinemas interioranos fecharam suas portas. Assim como aqueles de rua, como os antigos e inesquecíveis da Baixa dos Sapateiros e os de bairro. O que se constata é que os cinemas estão sendo construídos para o usufruto de uma elite que pode pagar os quatorze reais de ingresso, ainda a se refestelar com as guloseimas caríssimas que lhe são oferecidas no fast food. O público se infantilizou e se idiotizou. Ir ao cinema, antes um ritual, uma solenidade, uma função, atualmente é comparável a uma ida ao fast food.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

MANUAL DESCOMPLICADO DE ROTEIRO



Por André setaro


Roberto Lyrio Duarte Guimarães ou, como é mais conhecido, Roberto Duarte, lança, amanhã, dia 25 de agosto, a partir das 18 horas, no Instituto Goethe (Icba), que se localiza no Corredor da Vitória, o livro Primeiro Traço - Manual descomplicado de roteiro, um tratado sobre o roteiro cinematográfico ou, segundo as palavras do autor, "o meu pequeno manual". Na verdade, Roberto Duarte é um pesquisador que está sempre a refletir sobre a construção do roteiro e pode ser considerado um dos poucos especialistas no assunto. Há mais de uma década realiza oficinas quase permanentes abertas ao público que se destinam a ensinar, discutir, analisar, e pensar sobre a elaboração do roteiro, que é a pré-visualização de um filme. Excetuando-se os casos particulares, aqueles de cineastas que dispensam o roteiro, o fato é que este é imprescindível para um filme que se queira consistente e bem alinhavado. Duarte sabe caminhar pelos labirintos de sua construção.

A recomendação aqui é feita sem nenhuma hesitação. Leiam e comprem Primeiro Traço - Manual descomplicado de roteiro. E clique na imagem para ver a capa em tamanho maior. O livro é editado pela Edufba e contou com o apoio da Fapesb.

sábado, 22 de agosto de 2009

BESOURO ( O FILME )


Por Filipêra

Lembro que era adolescente e tive uma reação de estupefação ao ver Chown Youn-Fat trocando sopapos no ar com Zhang Ziyi. Apesar de já ter visto filmes de Hong Kong nas velhas sessões Kickboxing da Band, foi com O Tigre e o Dragão que tive aquela queda por filmes de kung fu. Depois veio Bruce Lee, Jet Li e meu maior ídolo: Jackie Chan. Olhando o cinema brasileiro, parece inimaginável que coisa parecida pintasse por aqui. É mais fácil ver clássicos que são uma ode à violência, às costelas quebradas e tiros a esmo, como os essenciais Cidade de Deus e Tropa de Elite.

Besouro surge para mostrar que uma vez ou outra podemos experimentar, nem que seja acrescentado à cultura dos outros, um pouco da nossa cultura. O filme é uma mistura de O Tigre e o Dragão (ou Herói, outro clássico moderno dos filmes wuxia) com capoeira.

Toda essa maluquice surreal e interessante é dirigida pelo publicitário João Daniel Tikhomiroff, ao custo de 10 milhões de verdinhas com a cara da Princesa Isabel. Grande parte dessa bolada foi para Hiuen Chiu Ku, que ajudou na coreografia da produção, coisa que ele já havia feito em Matrix, Kill Bill e… O Tigre e o Dragão



Besouro é baseado no romance Feijoada no Paraíso, de Marco Carvalho, e levou quase três meses para ser filmado no Bahia. Fátima Toledo (Tropa de Elite, Cidade de Deus) cuida do elenco e Patrícia Andrade (Os 2 filhos de Francisco) assinou o roteiro.

METEORANGO KID - O HERÓI INTERGALÁTICO (1969)

Beto Magno

SINOPSE

As aventuras de Lula, um estudante universitário, no dia do seu aniversário. De forma absolutamente despojada, anárquica e irreverente, mostra sem rodeios o perfil de um jovem desesperado, representante de uma geração oprimida pela ditadura militar e pela moral retrógrada de uma sociedade passiva e hipócrita. O anti-herói intergaláctico atravessa esse labirinto cotidiano através das suas fantasias e delírios libertários, deixando atrás de si um rastro de inconformismo e um convite à rebelião em todos os níveis



FICAHA DO FILME


              • Título original: Meteorango Kid - O Herói Intergalático

              • Diretor: André Luiz Oliveira

              • Elenco: Antônio Luís Martins, Carlos Bastos, Milton Gaúcho, Manoel Costa Junior, Antonio Vianna, Nilda Spencer, Ana Lúcia Oliveira, João Di Sordi, Caveirinha, Sônia Dias, José Wagner

              • Gênero: Ação, Comédia, Cult

              • Duração: 85 min

              • Ano: 1969

              • Cor: Preto e Branco

              • Classificação: Não recomendado para menores de 14 anos

              • País: Brasil


              DADOS DO DVD



              • Extras: Curtas "Doce Amargo" (1968, co-direção com José Umberto); "A Fonte" (1970), "O Cristo de Vitória da Conquista" (1981)

              • Idioma: Português

              • Distribuidora: Lume

              • Ano: 1969

              • Data de lançamento: 24/05/2009

              DOCUMENTÁRIO SOBRE RAUL SEIXAS SERÁ FILMADO EM SALVADOR


              RAUL SEIXAS


              “Estamos materializando aqui uma ideia de cinco anos atrás, quando um garoto visionário decidiu que iria fazer um filme sobre Raul Seixas”.

              O autor da frase é Walter Carvalho, mais respeitado diretor de fotografia do cinema brasileiro em atividade (”Central do Brasil”, “Lavoura Arcaica”), ao iniciar, no último domingo(19) em Salvador, as fillmagens de “O Inicio, o Fim e o Meio”, documentário que promete abrir ainda mais o baú de informações sobre a vida do lendário roqueiro baiano, morto em 21 de agosto de 1989

              O “garoto” em questão é o produtor Denis Feijão, 30, idealizador do longa. Para um completo desconhecido no mercado cinematográfico, quando teve a ideia, é impressionante ver a estrutura que o projeto tomou.

              É uma conquista ver tudo se concretizando. E, para mim, era fundamental começar aonde tudo começou para Raul”, diz Feijão, explicando o motivo das filmagens começarem pela capital baiana.

              Depois de Salvador, a equipe parte para filmagens no Rio de Janeiro e São Paulo, finalizando em junho com entrevistas no exterior (provavelmente na Suíça) com o parceiro de Raul, o escritor Paulo Coelho. Também impressiona a escalação para a direção do projeto: Walter Carvalho e Evaldo Mocarzel, nomes consagrados do cinema nacional.

              Carvalho tem, como diretor, no currículo, a bem sucedida cinebiografia “Cazuza – O Tempo Não Para” (co-dirigido por Suzana Werneck) e o premiado documentário “Janela da Alma”, (co-dirigido por João Jardim).

              “Fiquei muito sensibilizado com o convite porque, como documentarista, gosto de trabalhar com a memória”, disse ele, em um intervalo nas gravações das primeiras entrevistas do filme, realizadas no Café Portela, no bairro do Rio Vermelho.

              Acostumado aos trabalhos em dupla e vendo o tamanho da proporção do trabalho, Carvalho (que lança no próximo dia 22 de maio a adaptação para o cinema do livro de Chico Buarque, “Budapeste”) convidou para a empreitada o amigo Mocarzel – editor nos anos 90 do caderno de cultura do jornal Estado de S. Paulo e, na atual década, um documentarista de filmes como “Do Luto à Luta” e “A Imagem do Concreto”. “Serviu para aumentar o meu medo em me meter nesta aventura”, brinca Carvalho.

              Parece que, realmente, Raul Seixas estava no caminho de Mocarzel. Além de ser testemunha de vários momentos do que chama de “ascensão e queda de Raul”, outro fato curioso liga o jornalista/cineasta ao cantor: “Quando fui morar em São Paulo, em 1990, morei no apart hotel em que ele morreu. O filme está cheio dessas coincidências loucas. Quando o Waltinho me chamou para dividir a direção, fiquei muito excitado. Raul é o expoente de uma época. Vamos falar de Brasil, dos anos 60. Quer dizer, até o fato dele ter nascido em 1945, ano das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, marcou o estilo apocalíptico dele”

              Falando em coincidências, uma delas veio logo de cara no início das filmagens em Salvador. É que, como o humorista Chico Anysio estava na cidade, se apresentando no Teatro Castro Alves, os diretores foram atrás de uma entrevista. Mas o que ligaria Raul Seixas e Chico Anysio?

              “Tivemos a informação de que o Chico deu uma força para o Raul ir para o Rio. Na verdade, o que ele fez foi sugerir ao (cantor) Jerry Adriani os Panteras (banda com que Raul tocou no início de sua carreira). Muitos episódios da vida de Raul são lendas. Disseram também que o Chico Anysio tinha ajudado a carregar os instrumentos dos Panteras. O que até tem uma parte de verdade. Vamos ter que enfrentar essas várias camadas de realidades, essas ciladas”, explica Carvalho

              Outra coincidência que os diretores esperam que aconteça é que dois fãs especiais do cantor leiam esta matéria. São personagens de duas fotos de momentos peculiares: uma delas, feita durante o velório do cantor, mostra alguns fãs chorando copiosamente no seu caixão (o fã desejado é o mais em destaque na imagem, na extrema direita, de barba).

              Já a outra foto mostra Carlos Augusto Santana Silva, que em 1993, foi flagrado tentando levar para casa, como recordação, a lápide do túmulo de Raul. “Estamos curiosos para descobrir como essas pessoas se relacionam com Raul hoje em dia”, diz o produtor Feijão, que deixa o contato da produção – (71) 2103-2233 ramal 2074, para quem souber alguma informação.

              Carvalho e Mocarzel se mostram abertos às possibilidades que podem aparecer na busca de informações e no processo de realização do filme. “O ponto de partida é Raul. Não temos um ponto a chegar, e, sim, de partir. Quanto mais elementos você tem, mais você descobre as relações entre estes pontos com o tema”. diz Carvalho

              “Claro que você vislumbra um filme na sua cabeça. Eu vislumbro essa textura de memória, ir no colégio Maristas, onde ele foi expulso, e observar a ação do tempo nessas locações. O filme terá várias texturas, porque temos matérias das mais diversas fontes: Super 8, VHS, e por aí vai. Também queremos trabalhar com o silêncio e, ao mesmo tempo, o universo rock’n'roll do Raul, sua trajetória, problemas com o alcoolismo. Uma de suas mulheres diz que, se ele passava uma imagem de artista muito agressivo, em casa era um homem muito delicado. Queremos também humanizar o mito”, complementa Mocarzel.


              Entre as 54 pessoas pré-selecionadas para as entrevistas, estão personalidades como os cantores Jerry Adriani e Marcelo Nova, as três mulheres com quem Raul foi casado, os companheiros de banda local Os Panteras, além de personalidades da indústria musical, como os produtores Roberto Menescal, André Midani e Marco Mazolla. E, claro, Paulo Coelho.

              Por fim, a pergunta que os fãs devem estar ansiosos: quando o filme chega às telas? “Te garanto que sai esse ano. Acho que está mais para a Mostra Internacional de São Paulo (fim de outubro), entrando no circuito comercial logo depois”, afirma Feijão.
              Cineinsite

              segunda-feira, 17 de agosto de 2009

              ENTREVISTA DE RADA REZEDÁ A REVISTA "MUITO" DO JORNAL A TARDE


              Revista Muito 71 - 09/08/2009
              Abre aspas: Quem tem medo de Marcelo Nova? Rock, polêmicas e palavrões
              Moda: Quando o estilo aproxima pais e filhos, fica mais fácil se divertir
              Arte: Em vídeos, instalações e pinturas, Caetano Dias valoriza o humano
              Bio: A atriz e publicitária Rada Rezedá aposta na versatilidade
              Atalho: No Dom Fernand’s, em Villas, cozinhas hispânica e mediterrânea
              Satélite: O bar Via Urbana une arte e descontração no centro de Roma
              Gastrô: As delícias da gastronomia espanhola vão além das famosas paellas

              Vejam a revsita Muito do Jornal A Tarde, na coluna BIO a atriz Rada Rezedá

              GRAVAÇÃO DO DOCUMENTÁRIO SOBRE OS 25 ANOS DA UNEB.

              XENO VELOSO E CHICO ARGUEIRO - SENTADOS - PALMERINHA E BETO MAGNO

              domingo, 16 de agosto de 2009

              SAMBA DE LATA - SERIE DE VIDEOS 25 ANOS UNEB.



              CINE MARACANGALHA

              O CINEASTA LÁZARO FARIA


              VEM AI: O 2 DE JULHO ( O FILME)

              Beto Magno

              Lazaro Faria nasceu no Sul de Minas na cidade de Lamberi em 08 de dezembro de 1956, começou sua carreira em Belo Horizonte como Produtor de RTVC na PTC. Aos 19 anos viaja para a Bahia e trabalha na Sany Filmes como operador de camera de cinema, em seguida trabalhou na agencia de Publicidade Divisao como Produtor e Diretor de Filmes Publicitarios e documentarios.em seguida trabalha na Randam Propaganda e Norton Publicidade exercendo as mesmas funçoes.Em 1980 funda uns dos primeiros canais de TV Comunitarios do Brasil em Camaçari onde produz varios Programas de Televisao e dirige seu primeiro Filme A Comunidade no Poder, produz para o obeservatorio Astronomico de Feira de Santana um documentario sobre o Cometa Harley.

              Em 1985 e contratado por uma das maiores Agencias de Publicidade da Bahia a Propeg onde desempenha a funçao de Produtor Executivo e Diretor de Cenas de mais de 1000 comercias em Cinema e diversos Documentarios para Clientes como Correios, Telebras, Governo da Bahia, Governo de Pernambuco, Governo Federal, Ministerio das Comunicaçoes, Telebahia e dirige neste
              periodo diversas campanhas Politicas para Televisao.

              Em 1990 funda sua empresa a X Filmes da Bahia, onde produz enumeros comerciais para todo o Brasil, institucionais e Programas para Televisao. Produz em 16 mm o Documentario Orixas da Bahia, viaja a India e produz Satytananda, documenta varias festas populares e faz um documentario em cinema sobre a festa de Yemanja, em 2000 começa a produçao e direçao do sei primeiro Longa Metragem A Cidade das Mulheres, recebe premio do BNDS e patrocinio da Petrobras e em 2005 faz o lançamento no teatro Castro Alves, ganha o premio Tatu de Ouro como melor longa metragem na 32 Jornada de Cinema da Bahia, no mesmo Ano produz e Dirige Mandinga em Manhattam, documentario sobre como a capoeira se espalhou pelo Mundo. A partir dai foi convidado com seus filmes para diversos Festivais no Brasil e exterior como tambem Universidades como a da Fhiladelfia e Notre Dame.

              Em 2007 lança a primeira ediçao do BAHIA AFRO FILM FESTIVAL no palacio daaclamaçao, apresentado entre outros filmes o resultado da oficina o Negro e o Cinema.
              Atualmente e presidente da casa de cinema da Bahia, onde desenvolve enumeros projetos da area de produçao e Formaçao de proficionais e esta a frente da direçao do BAFF.

              EU ME LEMBRO, DE EDGARD NAVARRO



              Beto Magno

              Eu Me Lembro é um filme que desperta no espectador um gostar carinhoso. Incursão nas memórias de Edgard Navarro e na história do país, o filme é costurado por uma trilha sonora muito bem selecionada (com direito a canção original de Caetano Veloso), e conta a história de Guiga, da sua infância na ainda provinciana Salvador, passando pela descoberta do sexo na adolescência até a rebeldia da juventude – entre os anos 50 e 70. Assisti-lo é o tipo de experiência que nos coloca dentro do furacão, desperta tantas questões que o filme quase parece ficar perdido no meio de tanta coisa

              A primeira delas, claro, é o fato de que Edgard Navarro demorou tantos anos para fazer seu primeiro longa-metragem. paralelamente, a revista Cine Imperfeito lançava uma edição sobre cineastas desaparecidos, incluindo o Edgard Navarro, na mesma época que o diretor ganhava diversos prêmios no Festival de Brasília. Se é claro que não se pode gostar de um filme só porque ele teve um processo demorado e sofrido de realização, isso vem à mente de forma inevitável quando estamos assistindo ao filme e pensamos em Superoutro, experiência radical dirigida por Navarro no fim dos anos 80 – filme que dá vontade de fazer cinema, escatológico e engraçado, certamente inspirador. Por que tanto tempo entre aquele e este filme? Em relação ao radicalismo de Superoutro, Eu Me Lembro trabalha em chave muito distinta. Está ali o roteiro bem concatenado, os lampejos de loucura que não extrapolam limites, explicações sobre a matriz psicanalítica do filme a disposição no site do filme. Seria ridículo exigir que um cineasta atendesse às nossas expectativas, mas não deixa de ser triste perceber como a estética agressiva e radical de alguns cineastas se apaziguou: sinal dos tempos, ou de que um filme é sempre muito mais do que um filme.
              Neste sentido, Eu Me Lembro é bem simples mesmo. Evoca claramente uma matriz felliniana na sua incursão ao passado, mas não chega a existir ali nada da indistinção surrealista entre fantasia e realidade, a força e beleza dos momentos de magia. O filme tem grandes momentos, é verdade: os atores estão especialmente bem e muitas situações são inspiradas. Apesar do período da infância ser extenso demais, o retrato da família é bonito, cada um seguindo o seu caminho e a criança observando e absorvendo tudo aquilo. É a matriz do que virá a seguir na vida de Guiga e não é a toa que o filme termina com um devaneio seu, louco de cogumelo, onde surgem todos os personagens de sua infância.

              Mas, tem grua, muita grua e a presença ostensiva do equipamento faz pensar que existe muita intenção para pouco cinema, ou que definitivamente falta ao filme uma linguagem que dê conta de tanta intenção. O que não tira a força da experiência que é ver o filme, mas certamente deixa uma saudade, uma espécie de um lirico regresso a nossa própria infância e adolecência.

              sexta-feira, 14 de agosto de 2009

              Pola Ribeiro tenta salvar "Revoada"


              POLA RIBEIRO (DIRETOR DO IRDEB E CINEASTA)


              Por André setaro


              Vê-se uma luz no fim do túnel para a salvação de Revoada, de José Umberto, que foi montado à sua revelia com um resultado desastroso e que se revela totalmente oposto à concepção original de seu autor. E a luz está na intervenção de Pola Ribeiro, diretor-geral do Irdeb, e, também, o representante do audiovisual baiano, que tenta resolver o impasse.

              Pola Ribeiro é o intermediário do acordo entre o produtor Rex Schindler e o cineasta José Umberto para que o império do Autor se mantenha de acordo com o projeto original aprovado pelo MinC (patrimônio público). O apoio de Pola Ribeiro se manifestou na sala de reunião da diretoria do Irdeb que teve as presenças de Edgard Navarro (Eu me lembro) e Luz Paulino dos Santos (roteirista original e diretor das primeiras filmagens de Barravento). As tratativas para solucionar o impasse também se desenvolveram com a reunião que Pola patrocinou com Umberto e a família de Rex Schindler.

              Creio que o apoio de Pola Ribeiro é fundamental para se resolver esta questão difícil, cuja solução seria importante para o Cinema Baiano, principalmente no seu significado simbólico. Pola estaria, nesse sentido, na posição de um pacificador, e a resolução do impasse teria um significado extremamente importante para tirar o Cinema Baiano das sombas nas quais se encontra escondido pelas picuinhas desordenadas, pelos interesses comerciais, e pelo poder econômico a preponderar sobre a criação artística. Basta dizer que o Edital de Baixo Orçamento do MinC (do qual Revoada foi um dos vencedores) visa prestigiar a produção independente, a política do Autor de filmes. O que aconteceu com Revoada, assim é se me parece, descaracteriza o propósito e o objetivo precípuo dos editais do MinC, a transferir o processo de criação para os interesses nada autorais do produtor em questão.

              Não se pode esquecer que Pau Brasil, de Fernando Belens (recentemente apresentado no encerramento do V Seminário do Cinema e do Audiovisual), O jardim das folhas sagradas, de Pola Ribeiro, O homem que não dormia, de Edgard Navarro, e Revoada, de José Umberto, são filmes que formam um dos arcos da evolução cíclica do Cinema Baiano. A cópia de Revoada, editada sem a presença de seu autor, espúria, não pode ser mostrada como exemplo de uma expressão individual, pois, sobre descaracterizar uma obra cinematográfica, desvirtua, como já disse, a razão de ser dos editais do Minc. Seus negativos estão íntegros, e a batalha consiste em dar a oportunidade de Umberto montar o seu filme segundo o seu projeto original. A intervenção política de Pola Ribeiro não ficaria restrita a uma intervenção para salvar apenas um filme, mas seria um beau geste em favor de todo
              o Cinema Baiano.

              Como disse José Umberto: "O Cinema Baiano está envolvido atualmente por uma Sombra, e é preciso, o quanto antes, afastar este fantasma shakespeariano, porque, afastado, todos irão respirar o ar puro da criação inviolável". Mais: "A questão, hoje, não é de um filme em si, mas uma questão ética que transcende a individualidade de uma obra para alcançar a dimensão coletiva da inviolabilidade da obra artística na sua pureza original, porque, na verdade, o artista verte lágrimas de sangue ao ver sua obra inacabada."

              Salvar Revoada, penso, é uma questão moral. E não há dúvida sobre isso. É superar um pesadelo, é limpar a estrada para um Cinema Baiano livre da consciência culpada. A História, nesse sentido, pede passagem.

              quarta-feira, 12 de agosto de 2009

              ORIGENS DO CINEMA NOVO: A CULTURA POLÍTICA DOS ANOS 50 ATÉ 1964 (1)

              Por Beto Magno

              Não é, portanto, dizendo “não sou mais um pequeno-burguês, movimento-me livremente no universal” que o intelectual pode se unir aos tabalhadores. É, justamente ao contrário, pensando: “sou um pequeno-burguês; se para tentar resolver minha contradição, alinhei-me ao lado da classe operária e camponesa, não deixei por isso de ser um pequeno-burguês” (Sartre).(2)



              Quais eram os elementos que a caracterizavam e o que era a cultura política compartilhada por muitos intelectuais e militan­tes populistas e de esquerda brasileiros durante os anos 50 e começo dos anos 60? Durante esse período, o Brasil sofreu um intenso processo de industrialização com resultados sociais muito contraditórios (3). O perfil da sociedade brasileira passava rapidamente de agrário-exportador a industrial, com uma forte urbanização causada pela migração de milhões de pessoas do campo para as cidades, mormente para o Rio e São Paulo. O mercado de trabalho e o mercado consumidor cresceram junto com as camadas médias urba­nas, de onde saíram os intelec­tuais e simpatizantes dos setores populistas e de esquerda. Dentro desse contexto, os intelec­tuais aderiram a uma mesma leitura da realidade brasileira, que, grosso modo, caracterizava o país como subdesenvolvido, cultural­mente colonizado, onde as “classes fundamentais” - a burguesia e o proletariado - eram incipientes, pouco desenvolvidas[i].


              Um dos pilares sobre os quais essa cultura política - na qual subdesenvolvimento e dominação cultural eram categorias centrais - se sustentava era a busca do que seria “nacional” e “democrático”. Os debates relativos a estes atributos inseriam-se numa problemática mais ampla, a da questão desen­vol­vimentista. A maneira mais rápida do país superar suas contradições seria desenvolver-se economicamente de uma maneira autôno­ma e independente. Tal desenvolvimento teria de apoiar-se no fortalecimento das “forças progressistas”, formadas pela burguesia industrial nacionalista, o proletariado e os setores técnicos da classe média que, após serem ideologi­camente esclarecidas pelos intelectuais “progressistas”, se tornariam uma “vanguarda política capaz e bem organizada” (4). Àquela época, segundo uma leitura reducionista do marxismo feita de acordo com os objetivos que se pretendia alcançar, desconsideravam-se as particularidades conjunturais e grandes questões teóricas gerais do próprio marxismo. Assim, para que o Brasil se desenvolvesse, uma “revolução burguesa” seria necessária, ou seja, o desenvolvimento das forças produtivas proporcionaria à burguesia e ao proletariado as condições histórico-materiais para que se tornassem classes sociais para si, conscientes do seu papel histórico. Só havendo classes sociais conscientes, definidas e antagônicas, as contradições se acirrariam e as condições para a sua solução estariam colocadas. De acordo com esse esquema, a acumulação capitalista e as conquistas operárias fariam parte de um mesmo e único processo.


              Nessa conjuntura sócio-político e cultural, que vai da morte de Getúlio Vargas até o golpe militar de 1964, o Partido Comunista do Brasil (PCB) tornou-se um dos mais importantes atores políticos. Ele “adquiriu um papel crescente na estrutura do desen­volvimento nacionalista” (Pécaut, 1990:141). Apesar de estar na ilegalidade desde 1947, o Partido contava com numerosos e influentes intelectuais que gravitavam em torno dele, seja como militantes, seja como simpatizantes (ibid: 142). A aproximação desses intelectuais se deu, entre outros motivos, graças à participação do PCB na campanha pela nacionalização do petróleo, que culminou com a criação da Petrobras, em 1953, ao seu posicionamento a favor da industrialização nacional e da formação de uma ampla coalizão nacionalista e ao seu posicionamento como “vanguarda” do movimen­to pelas “refor­mas de base” (ibid.). Sua influência vai-se fazer sen­tir de forma marcante sobre o ISEB (Instituto Supe­rior de Estudos Brasileiros) e, mais tarde, no CPC (Centro Popular de Cultura) da UNE (União Nacional dos Estudantes).


              O ISEB foi o principal arauto das teses desenvolvimentistas e exercia influência na política dos governos JK e Jango. Forneceu os alicerces teóricos para as mais diversas correntes, inclusive para membros do governo, e quadros para os vários escalões desses dois governos. Foi criado no Rio, em julho de 1955, por um decreto do presidente interino Café Filho e recebeu subvenções da CAPES (Pécaut, op.cit: 109). A proposta do grupo de intelectuais que fundou o ISEB era assumir uma liderança na política nacional por seus próprios meios. Eles se dispunham a arregimentar e organizar as forças progressistas e esclarecê-las ideologicamente. Se autodefiniam como uma vanguarda capaz e bem organizada. O ISEB foi fechado pelos militares após o golpe de 1 de abril (5).


              O CPC da UNE foi formado em 1962 e fechado pelo golpe militar em 1964. É interessante notar-se que a experiência do CPC “está filosoficamente ligada ao ISEB” (Ortiz, 1986: 68). Sua meta era utilizar elementos da cultura popular para desalienar o povo. A alienação é a categoria fundamental que os cepecistas utilizaram para analisar a realidade brasileira. A cultura popular é vista como verdadeira enquanto a cultura das classes dominantes é alienada (6).


              Algumas das teses do PCB chegaram a situar-se no centro dos debates intelectuais, transformando-se, muitas vezes, numa espécie de senso comum no qual os intelectuais progressistas se reconheciam. “Em torno do Partido Comunista e de sua interpretação do nacionalismo formou-se uma cultura política singularmente fecunda” (Pécaut, op.cit.:141). Quatro fa­to­res teriam contribuído para a aproximação entre intelectuais e o PCB: a) o partido era o portador da tradição estatal dos intelectuais brasileiros que via no Estado o veículo capaz de modernizar a sociedade brasileira, realizando as mudanças estruturais que se faziam necessárias; b) responsa­bilizou-se pelo acesso à modernidade; c) concebia o povo como a encarnação simbólica da nação; d) sinalizava a possibilidade de que a “revolução brasileira” pudesse ser feita de forma pacífica, via desenvolvimento econômico e reformas “democráticas” da Constituição (ibid.:144-8).


              Em nome dessa “revolução brasileira”, o Partido criou o conceito de forças progressistas que se confundia, até um certo ponto, com o de “massas populares” que, após sofrerem uma ação ideológica educadora-conscientizadora, se tornariam povo. As categorias massa e povo eram definidas nessa época, por algumas correntes marxistas, em relação ao grau de consciência alcançado. A massa não tem consciência; o povo, a tem. Neste momento, a questão da afirmação nacional se sobrepõe à questão democrática: as contradições entre as “classes fundamentais” deveriam permane­cer latentes e serem resolvidas de forma pacífica. Mesmo porque, como já foi dito, essas duas classes mal existiam no Brasil, cuja economia baseava-se num modelo agrário-exportador. Entretanto, nesse período, as formas de representatividade não são tidas como questões fundamentais. Elas não devem atrapalhar o desenvolvimento da aliança nacionalista progressista.


              O papel que a produção cultural teria que desempenhar nesse processo de afirmação nacional era fundamental. A burguesia e as camadas urbanas guiavam seu comportamento por aquilo que era ditado pela produção cultural estrangeira, principalmente pelo cinema de Hollywood. Diante disso, a necessidade de se criarem condições para que o artista brasileiro pudesse enfrentar as produções estrangeiras era uma das frentes de atuação dos nacionalistas. A luta pela afirmação de uma cultura nacional tinha como um dos seus principais objetivos buscar fazer com que o cinema brasileiro, por ser uma arte e um veículo de comunicação de massa, ocupasse os espaços do cinema estrangeiro ou que, ao menos, conseguisse dele tomar uma fatia do mercado brasileiro.



              1 - Cinema Novo: primórdios.


              Nos anos 50, encontramos um grupo de jovens que começavam a discutir a idéia de se criar um cinema nacio­nal, que construísse uma identidade político-cultural para o povo brasileiro, e que posteriormente vieram a criar o Cinema Novo. Porém, os cinemanovistas não foram os primeiros a perceberem a importância de se lutar por um cinema brasileiro forte, com uma linguagem própria. Uma geração anterior (o critério aqui não é de idade, mas de atividade) já havia começado a articular, no começo da década do 50, uma crítica sobre o cinema brasileiro, diferente daqueles críticos dos anos 30 e 40 que nem sequer consideravam a existência de tal cinema. Essa crítica questionava a dependência do mercado brasileiro aos filmes importados, a submissão do cineasta no Brasil à linguagem do cinema produzido em Hollywood e outros centros mais desenvolvidos e começou a lutar para que o cinema nacional se tornasse uma das expressões da cultura brasileira, o que depois foi encampado pelo Cinema Novo. Nem os críticos que os precederam cronologicamente, nem os cinemanovistas discutiam mais a formação do povo - assunto praticamente esgotado pelos modernistas em 1922 -, já constituído como uma das categorias fundamentais da cultura política da esquerda nacionalista e tido como um dos principais agentes de mudança da realidade brasileira. Faltava, entretanto, definir as características e especificida­des daquele povo, tarefa a que se propuseram os criadores do Cinema Novo. O ponto de partida deveria ser um mergulho na “realidade” sócio-político-cultural brasileira, da mesma forma que o fizera o movimento modernista cerca de trinta anos antes. A identidade do povo e a cultura nacional que pretendiam forjar tinham um forte compo­nente anti-imperialista. Seguindo Frantz Fanon, eles acreditavam que “lutar pela cultura nacional significa, antes de tudo, lutar pela libertação nacional, por aquela base material essencial, que torne possível a construção de uma cultura” (7).


              O Brasil era visto como um país colonizado culturalmen­te e esta característica era muito marcante com relação ao cinema. A idéia de uma cultura colonizada está intimamente subordinada às idéias desenvolvimentistas, então em voga. Em nome do desenvol­vimento brasileiro, era preciso mudar uma atitude resignada para com a realidade do país. Esta conjuntura não poderia ser transformada enquanto não se alterasse a atitude das pessoas frente ao american way of life, que moldaria o imaginário da burguesia e das camadas médias da população brasileira e tinha no cinema americano um de seus mais importantes instrumentos de difusão. No caso do Brasil e do cinema brasileiro, era preciso que o filme nacional ocupasse o lugar do produto estrangeiro. O cinema brasileiro seria estrangeiro no próprio país porque estava destinado a ocupar as migalhas do mercado, deixadas cair da mesa farta do cinema de Hollywood. Para Maria Rita Galvão e Jean-Claude Bernardet, analisando a “situação colonial” do cinema brasileiro, tal como definida por Paulo Emílio Salles Gomes,


              O fator básico que explica a “situação colonial” do cinema brasileiro é o fato de que o “produto importado” ocupa o seu lugar. Trata-se, portanto, de uma definição de ordem econômica que será metaforicamente transposta para o campo da cultura. Importamos não apenas objetos manufaturados, mas idéias prontas - e formas, modelos, estruturas de pensamento - forjadas em função de realidades diversas que correspondem mal a nossa própria realidade. Estas idéias ocupam um tal espaço em nossas mentes que pouco sobra para que nelas se desenvolvam idéias próprias. Além de produtos industriais, os filmes são também produtos culturais. Juntamente com os filmes, importamos uma concepção de cultura - e uma concepção de cinema que identifica com o próprio cinema o cinema estrangeiro. Nisto reside o cerne da “colonização” cultural: a “situação colonial” - cuja marca cruel e inescapável é a mediocridade - se configura quando se adota um modelo importado que não se tem condições de igualar (Galvão e Bernardet, 1983:166-7).



              A questão colonial, era um dos grandes temas políticos que dominavam as esquerdas mundiais juntamente com as guerras nacionais anti-imperialistas. A revolução em Cuba e a libertação da Argélia eram alguns dos mais importantes paradigmas da esquerda mundial, nesse momento. “O prestígio do terceiro mundismo esteve ligado ao entusiasmo pelas lutas de emancipação nacional e a reservas em relação à União Soviética” (Schwartz, 1987: 127). Assim, um problema da esfera política era transposto para a esfera cultural e servia como pressuposto básico para a atuação dos cinemanovistas. Flávio Moreira da Costa afirma que


              ... nossa cultura era importada: no bojo do colonialismo político-econômico vinha o colonialismo cultural (...). Em conseqüência disso, (...) [fazia-se] uma confusão entre cultura e erudição (...) ignorância de uma cultura brasileira popular, mas conhecimento [de autores estrangeiros] (Costa, 1966:172).



              Em um texto de 1960, escrito logo após o término da Primeira Convenção Nacional da Crítica Cinematográfica, Paulo Emílio Salles Gomes analisa a situação colonial do cinema brasileiro tendo como ponto de partida a relação público/produtor. Ele diz, referindo-se mais especificamente aos “chanchadeiros”, que os produtores


              produzem determinados gêneros de filmes que eles próprios desprezam, alegando ser o único tipo de cinema brasileiro que o público aceita. No fundo, esses homens (...) estão convencidos de que o público brasileiro é infenso ao cinema nacional (...) Para ambos, cinema mesmo é o de fora, e outra coisa é aquilo que os (produtores) fazem e o (público) apre­cia. (Salles Gomes, 1981:287).



              Os próprios produtores dos filmes brasileiros que conseguiam grandes sucessos de público desqualificavam seu produto evidenciando, assim, mais um sintoma de dominação colonial.


              A luta do Cinema Novo em prol de um cinema nacional ganhou força a partir do começo dos anos 60 quando o grupo, apesar de espalhado (uns, estudando cinema no exterior, outros, vivendo e trabalhando no Brasil), percebeu que só conseguiria mudar alguma coisa se se unisse. Em carta de Glauber Rocha a Paulo César Saraceni, que estava estudando cinema na Itália, é possível captar essa ânsia em criar um cinema no Brasil. Diz o texto:


              (...) estamos recriando nosso cinema e você precisa voltar para ser soldado nesta luta. Não quero que você fique mais tempo na Itália. (...) precisas FAZER FILMES aqui no Brasil dentro de nossa luta: joaquim [Pedro de Andrade], eu, [Luis] paulino [dos Santos], você, miguel [Borges], marcos [Faria], leon [Hirszman] e outros novos que surgirão (aqui foram respeitados a pontuação e os destaques do texto original) (Saraceni, 1993:94-95).



              Em outra carta a Paulo César Saraceni, Glauber Rocha deixa transparecer toda a sua vontade e angústia em lançar o movimento.


              Escrevi um artigo negando o cinema. Não acredito no cinema, mas não posso viver sem o cinema. Acho que devemos fazer revolução. Cuba é um acontecimento que me levou às ruas, me deixou sem dormir. Precisamos fazer a nossa aqui. Cuba é o máximo (...). Estão fazendo um novo cinema (...), vários filmes longos e curtos. Estou articulando com eles um congresso latino-americano de cinema independente. Vamos agir em bloco, fazendo política. Agora, neste momento, não credito nada à palavra arte neste país subdesenvolvido. Precisamos quebrar tudo.


              Do contrário eu me suicido (Saraceni, op.cit.:101).



              Dois dados importantes surgem nessa carta. O primeiro, é a associação de um cinema nacional com as lutas nacionais anti-imperialistas. O segundo, é que quando ele diz que não acredita mais no cinema, referia-se a um determinado tipo de cinema que partia de um modelo esgotado e falido, cuja estrutura era formada por estúdios, grandes orçamentos, star syistem... Mas havia novidades interessantes. Na mesma carta, cujo um trecho foi transcrito acima, Glauber Rocha pede que Gustavo Dahl, que também estava na Itália estudando cinema, envie-lhe um artigo sobre “o novo Antonioni, L’aventura” (ibid: 100). Por isso, para superar esse cinema “reacionário”, Glauber Rocha estava ansioso. Ele queria que o grupo de amigos lançasse logo um movimento que viesse a revolucionar a linguagem do cinema, um cinema que ouvisse a voz do homem (Rocha, 1981:17): “Nosso cinema é novo porque o homem brasileiro é novo e a problemática do Brasil é nova e nossa luz é nova e por isso nossos filmes nascem diferentes dos cinemas da Europa” (ibid.). “Nossa geração tem consciência: sabe o que deseja. Queremos fazer filmes antiindustriais (...)” (ibid.).


              O Cinema Novo conseguiu uma grande vitória ao fazer com que o cinema brasileiro passasse a ter sua existência reconhecida pelos principais críticos de cinema do Brasil e passasse a freqüentar suas colunas com maior assiduidade. Antes dele, Moniz Vianna, Ely Azeredo e outros não reconheciam, sequer, que existisse um cinema nacional, exceção feita aos filmes da Vera Cruz. As produções brasileiras eram tratadas com desdém e ironia. Em geral, esses críticos só se dignavam a escrever sobre as produções européias e norte-americanas que chegavam até nós. Ely Azeredo, que foi quem deu o nome ao Cinema Novo, renegou o seu “filho” e discordava veementemente dos defensores do movimento, polemizando com seus diretores.



              2 - Reação à Vera Cruz:



              A Vera Cruz foi uma tentativa, malograda, de se instalar uma indústria cinematográfica no Brasil. Fundada em São Paulo em 1949, com os estúdios em São Bernardo do Campo, pretendia produzir no Brasil um cinema de “qualidade” para fazer frente àquelas “fitas horrorosas de que todo mundo falava muito mal, mas que na verdade nunca ninguém tinha visto” (8). Fazer cinema de “qualidade” significava, para os empresários que fundaram esse estúdio, fazer cinema como os europeus, principalmente ingleses e italianos neo-realistas “até agora a maior revelação cinematográfica do pós-guerra” (citado por Galvão, 1981:81). O cinema americano era tido como um cinema puramente de espetáculo, incapaz de satisfazer o gosto de um público mais refinado. Para Mariarosaria Fabris, não há contradição no fato de os dirigentes da Vera Cruz criticarem o cinema norte-americano e utilizarem sua forma de produção porque, para eles, o que era lamentável não eram os recursos técnicos utilizados (estúdio, equipe numerosa etc.), mas o mau uso que era feito daqueles recursos (Fabris, 1994:34). O cinema brasileiro era tido como inferior e nem considerado cinema era. Por isso, ao criarem a Vera Cruz, seus diretores contrataram técnicos estrangeiros, na sua maioria ingleses, para trabalharem em seus estúdios. Uma das poucas exceções feitas na área técnica foi a contratação de Alberto Cavalcanti para ser seu produtor geral (9). Cavalcanti estava radicado na Europa havia anos. Participara ativamente do movimento documentarista inglês dos anos 20 e 30 e do movimento da vanguarda francesa junto com Jean Renoir e outros. Ele foi chamado a dirigir a empresa mais por sua longa relação com o cinema europeu do que por sua relação com o cinema brasileiro.


              Um fato é interessante de se notar. O Neo-realismo, tido, pelos fundadores da Vera Cruz, como a maior revelação cinematográfica do pós-guerra, influenciou a escolha dos técnicos contratados e era um dos modelos de cinema a serem seguidos. Porém, não conseguiu influenciar determinantemente a forma de produzir desse estúdio. O Neo-realismo tinha como algumas de suas características principais a produção barata, fora dos estúdios, com atores pouco conhecidos ou amadores. Ora, a Vera Cruz construiu um estúdio onde eram produzidos a maior parte dos filmes e isso implicava numa produção cara, pouco ágil, com o uso de muitos técnicos e contratou atores consagrados de teatro do Rio e de São Paulo. Alex Viany (que trabalhou na empresa) teceu um comentário pertinente sobre esse assunto ao afirmar que


              Houve um abrupto encarecimento da produção, nem sempre justificado pela melhoria técnica e artística. Muita gente diz, provavelmente com razão, que a Vera Cruz quis voar muito alto e muito depressa, construindo estúdios grandes demais para seu programa de produção, ao mesmo tempo em que se descuidava de fatores tão importantes como a distribuição, a exibição, a administração e a arrecadação (Viany, 1987: 109).



              E complementa dizendo que “quando veio a tão prevista derrocada, espalhou-se o desânimo. Resultado imediato: retração dos capitais, paralisação quase total da produção” (ibid.). Esse “modelo” de produção, segundo Cacá Diegues, persistiu e causou problemas ao cinema paulista “por causa exatamente da tradição da Vera Cruz. Em São Paulo, cada vez que um sujeito queria fazer um filme era sempre confrontado com o sucesso artístico da Vera Cruz, de uma maneira positiva, e, de uma maneira negativa, com o seu fracasso econômico” (Diegues, E, 1993) (10).


              Outra crítica feita à Vera Cruz é não ter usado, ou ter usado pouco, técnicos e diretores que já faziam cinema no Brasil. Essa diretriz teria tornado seus filmes muito pouco brasileiros. Os técnicos estrangeiros não entenderiam a cultura do país que estavam exibindo nas telas e nem certas características locais específicas, como a luminosidade. Além do mais, a empresa preocupava-se apenas com a produção, deixando a distribuição a cargo de multinacionais também produtoras de filmes e que não tinham interesse nenhum em ceder um pedaço do seu mercado para o cinema brasileiro. Segundo Mariarosaria Fabris,


              [para a Vera Cruz] o cinema nacional (...) era entendido como tal enquanto produção e não enquanto conquista de mercado, também porque a Vera Cruz estava mais interessada em projetar-se no exterior do que em assegurar para si o mercado brasileiro. Caso contrário, não se explicaria mais tal erro num período em que não faltaram alertas contra o perigo que a inflação de fitas norte-americanas constituía para qualquer país (Fabris, op.cit.:43).



              Viany reconhece, entretanto, aspectos positivos na Vera Cruz ressaltando uma melhora técnica e artística dos filmes brasileiros graças aos técnicos estrangeiros que vieram para cá e que, de uma certa maneira, treinaram os brasileiros para desempenharem melhor suas funções. Ressalta também que esta experiência empresarial “precipitou a industrialização do cinema no Brasil” (Viany, op.cit.: 109).


              Apesar de ser uma experiência realizada em São Paulo, a derrocada da Vera Cruz exerceu influência sobre o Cinema Novo, no Rio de Janeiro, sobretudo enquanto padrão econômico, técnico, cultural e artístico a ser evitado. A Vera Cruz tentou implantar um modelo de cinema que não deu certo e que, na opinião de todos os cinemanovistas, não tinha condições de dar certo. Era, portanto, um modelo a ser rejeitado. Entre outras coisas, a produção em estúdio exigia muitos capitais, que nunca estiveram disponíveis no Brasil para o cinema e os cineastas brasileiros deveriam privilegiar a produção barata. A produção em estúdio era um processo pouco ágil e, por isso, devia-se privilegiar a produção de filmes rodados em espaços abertos, com luz natural e câmera na mão. As produções da Vera Cruz se baseavam em um cinema formalmente pouco criativo, como o que era feito na Europa antes dos cinemas novos europeus, e para os cinemanovistas, o cinema brasileiro deveria se preocupar com formas e conteúdos novos. O cinema da Vera Cruz era pouco brasileiro, porque mostrava o homem e a cultura do país de forma estilizada, exótica, pouco natural e, muitas vezes, negativa; o novo cinema brasileiro deveria ter como sua base primordial o homem e a cultura do país. Como disse Mário Carneiro em sua entrevista “a gente saía do estúdio e ia para o ar livre para tentar documentar ao máximo os filmes (...) ao invés de se prender ao estúdio” (Carneiro, E, 1993). Para David Neves, o cinema da Vera Cruz era “muito estrangeirado, veio muita gente contratada de fora e não deu certo, então eles desistiram” (Neves, E, 1993). Paulo César Saraceni diz que “nós não queríamos aquele equipamento. Nós queríamos fazer filmes já, naquele momento, com o que tivesse” (Saraceni, E, 1993).


              As produções da Vera Cruz serviram como um parâmetro real e negativo para o Cinema Novo e representavam aquilo que deveria ser rejeitado e descartado na produção de um cinema nacional e popular. Sua linguagem era considerada reacionária e burguesa por não retratar o homem brasileiro, sua cultura, seus problemas, sua forma de falar nem retratar o ambiente do país. Na luta contra o sudesenvolvimento e a dependência cultural, as produções da Vera Cruz eram tidas como inimigas pelos cinemanovistas, já que não ajudavam a desalienar o povo e reforçavam modelos que submetiam o público brasileiro à dependência cultural.



              3 - Chanchada: o alvo principal.



              No Brasil dos anos 50 e 60, dos estúdios paulistas e das chanchadas, fazer bons filmes era sinônimo de fazer filmes nos moldes do cinema estran­geiro de “qualidade”, feito por Hollywood pelos cinemas industriais europeus. A chanchada procurava parodiar esse cinema (a Atlântida fez várias paródias de filmes norte-americanos) (11).


              Como alternativa ao cinema de “nível internacional” da Vera Cruz, e à chanchada, o Cinema Novo propunha um cinema anti-industrial, “aberto, sem nenhum dogma, nenhum preconceito, (...) autoral­, sincero, criativo, revolucionário e que olhasse a realidade social e econômica do Brasil com vontade de analisá-la, transformá-la num mundo melhor para todos” (Saraceni, 1993:118) e com um “alto nível de compromisso com a verdade” (Rocha, 1981:30). Podemos acrescentar a isso a palavra moderno. Moderno porque contemporâneo aos cinemas novos que se fazia em outros países naquele momento e porque diferente do antigo cinema brasileiro. Das antigas produções brasileiras, os cinemanovistas só consideravam dignos de serem vistos os filmes de Humberto Mauro, pela sua “brasilidade”, e, muito posteriormente, Limite. Ainda segundo Paulo César Saraceni,


              Se adotamos o nome cinemanovo, não foi por imitação. É porque - certos ou errados - envergonha dizer que fazemos ou vamos fazer cinema brasileiro ombro a ombro com aqueles que, até agora, apenas gastaram dinheiro com imponências fracassadas. (Saraceni, op.cit.: 119).


              O Cinema Novo, como todo movimento que propõe uma mudança radical e precisa demarcar e conquistar seus espaços, tinha que definir os inimigos a combater. Seu alvo principal foi a chanchada. Glauber Rocha a define, juntamente com os filmes feitos pelos estúdios paulistas, como um “cinema populista”, que “denuncia o povo às classes dominantes” (Rocha, 1963:82). As opiniões de outros cinemanovistas sobre a chanchada caminham nessa mesma direção. Walter Lima Jr. (Lima Jr., E, 1993), por exemplo, a qualifica como “um filme único que se repetia a cada ano”, “uma porcaria”, “cópia do cinema americano”. Para Cacá Diegues, a chanchada era “o fim da picada, uma coisa de uma vulgaridade de paródia mal feita do cinema americano” (Diegues, E, 1993). De acordo com Eduardo Coutinho, “era um cinema para um público popular e infantil (grifo nosso), que jamais ia ser levado a sério e que, portanto, não poderia mudar coisa alguma”. (Coutinho, E, 1993). Esse enunciado de opiniões não pretende ser exaustivo e completo; várias outras poderiam ter sido citadas. Entretanto, estas aqui ilustram o sentimento antichanchada que percorria o movimento. O importante é ficar claro que a chanchada era condenada por sua falta de ousadia estética, por seu caráter de imitação do cinema de Hollywood, por ser um cinema primário e que não ajudava o trabalho de conscientização do público e de mudanças na realidade do país. Em suma, a chanchada era criticada, basicamente, por não se enquadrar nos projetos que as esquerdas brasileiras haviam elaborado para o Brasil e o povo brasileiro; na imagem que estas queriam passar do país; na proposta, mais específica, que as esquerdas criaram para a função que a arte deveria desempenhar naquela conjuntura.


              Depois de alguns anos, quase todos os cinemanovistas fizeram autocrítica e alguns deles utilizaram elementos da chanchada. Esse é o caso de Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade. Nele foram usados não só elementos estéticos da chanchada como também Grande Otelo, estrela de vários filmes da Atlântida. Numa releitura a posteriori, muitos deles alegam nunca terem sido contra a chanchada. Cacá Diegues afirma que “não havia uma campanha contra o velho cinema brasileiro” (Diegues, E, 1993) porque este já não existia mais: os estúdios paulistas tinham falido e a chanchada havia migrado para a televisão.


              Não havia uma campanha contra a chanchada porque não havia mais um cinema “oficial” contra o qual lutar, como foi o caso na França, na Alemanha, na Itália e outros países. Daí é que, eu acho, nasce, um pouco, a megalomania inicial do Cinema Novo porque o inimigo direto é o cinema americano (ibid.).



              Zelito Viana diz que, naquela época, “a gente, lamentavelmente, não via” nada de positivo na chanchada. “Hoje a gente tem consciência de que a chanchada era muito importante” (Viana, E, 1993). “O Cinema Novo não ajudou a destruir as chanchadas; todo mundo as adorava e o Cinema Novo acabou ficando muito ligado à chanchada” (Carneiro, E, 1993). Já Flávio Moreira da Costa vê na chanchada “uma tradição cultural, aí no sentido antropológico, brasileira: o carnaval, a festa, a festa como cultu­ra. Nesse sentido, ela expressou (...) muito o Rio de Janeiro, mais que o Brasil” (Costa, E, 1993). Walter Lima Jr. diz que Macunaíma e Terra em Transe integraram muita coisa da chanchada. Mas faz uma ressalva: “eu não tenho uma visão positiva sobre a chanchada” (Lima Jr., E. 1994).


              A julgar pela maioria dos pontos de vista atuais desses cinemanovistas, o azar da chanchada foi o Cinema Novo ter surgido no momento em que o imaginário construído por ela ainda estava muito vivo na memória do público e das pessoas de cinema e, também, ter sido pega no fogo cruzado da batalha ideológica entre as elites brasileiras - burguesia e oligarquias x intelectuais de esquerda e setores nacionalistas. A radicalidade do momento não permitiu ao Cinema Novo perceber aspectos positivos contidos na chanchada, com isso não levando em conta os pontos de vista de dois dos seus mestres mais respeitados. Alex Viany dizia que “mesmo nos mais despretensiosos e desleixados filmusicais e chanchadas musicais poderão ser encontra­dos elementos valiosos para a formação do núcleo de um gênero popular-brasileiro capaz de agradar tanto aqui como no estrangeiro” (Viany, op.cit.:133-4). Em texto escrito nove anos depois e publicado na edição aqui em uso, ele volta ao tema alegando que


              a chanchada serviu para provar que o filme brasileiro podia ser um bom negócio; pondo na tela trejeitos e o linguajar da gentinha do Rio de Janeiro, acabou por sua vez com a lenda (...) de que o brasileiro não sabia comportar-se defronte da câmera e de que a língua portu­guesa não se prestava aos diálogos cinematográficos. Entre 1944 e 1954, (...) Oscarito e Grande Otelo (...) estabeleceram um clima de intimidade com as pla­téias populares (ibid.:133-4).


              Em artigo de 1959, Paulo Emílio Salles Gomes indaga “se o caminho certo não seria o exame mais cuidadoso da vitalidade sociológica da comédia carioca” (Salles Gomes, op.cit.: 44). Em outro texto, publicado quatorze anos depois, fora, portanto, dos debates calorosos da época, Paulo Emílio Salles Gomes vê um “marco” (Salles Gomes, 1980:91) importante no fenômeno chanchada devido à uma “produção ininterrupta durante cerca de vinte anos de filmes musicais e chanchadas (...) desvinculada do gosto do ocupante e contrária aos interesses estrangeiros” (ibid.) e à contribuição das “invenções cariocas efêmeras em matéria de anedota, maneira de dizer, julgar e se comportar” (ibid.).


              [O] acordo que se estabelecia entre [a chanchada] e o espectador era um fato cultural incomparavelmente mais vivo do que o produzido até então pelo contato entre o brasileiro e o produto cultural norte-americano. Neste caso o envolvimento era inseparável da passividade consumidora ao passo que o público estabe­lecia com o musical e a chanchada laços de tamanha intimidade que sua participação adquiria elementos de criatividade (...). A adoção, pela plebe, do malandro, do pilantra, do desocupado da chanchada, sugeria uma polêmica de ocupado contra ocupante (ibid.:91-2).


              A chanchada criticava de maneira sarcástica a xenofilia das elites brasileiras (Dias, 1993:33) e apresentava “um modelo ou um valor diferente daquele da elite letrada da época” (ibid.:35). Discorrendo sobre aquilo que Paulo Emílio Salles Gomes definiu como “intimidade” e “criatividade” do público, Rosângela de Oliveira Dias afirma que:


              Os espectadores barulhentos das chanchadas estariam cri­ticando a forma sisuda e tradicional de assistir aos filmes. As chanchadas não eram assistidas de forma disciplinada e imóvel, comum à missa católica. A platéia não ficava quieta e bem comportada diante desse tipo de filme; transformava-se em artista, como na festa carnavalesca, ignorando a distinção entre atores e espectadores, colocando o “mundo ao revés” (ibid.:45).


              Completando sua análise, esta autora pretende “mostrar que as chanchadas devolviam-nos o bagaço da cultura colonizadora devidamente mastigada e desnu­da, expondo através da sátira e do deboche as mazelas de nossas sociedade” (ibid.:10).


              Sem querer ser exaustivo no levantamento dos filmes (12), os temas das chanchadas eram notícias de jornais (O homem do Sputnik, de Carlos Manga), políticos e pessoas famosas da época (Carnaval em Caxias, de Jorge Ileli e Paulo Wanderley, que parodia a figura de Tenório Cavalcanti (13), paródias de filmes de Hollywood (Nem Sansão nem Dalila, de Carlos Manga) e temas políticos (O petróleo é nosso, de Watson Macedo). A propósito de Nem sansão nem Dalila, Sérgio Augusto escreveu que se tratava de “uma promissora sátira à condição subalterna do cinema brasileiro (...) e também ao populismo, à demagogia, às alianças políticas espúrias e ao golpismo militar” (Augusto, 1989:134). Com relação a O homem do Sputnik, ele identificava críticas “[à] morosidade de nossas repartições públicas, [à] futilidade da alta burguesia, [à] cupidez das grandes potências, [aos] absurdos da guerra fria, [aos] concursos de miss (...)” (ibid.:144) e completa dizendo ainda que “a última chanchada da Altlândida digna de nota (O homem do Sputnik) foi, portanto, um exercício de esquizofrenia: uma sátira ao poder americano, usando as mesmas armas de sedução e manipulação da comédia clássica americana” (ibid.).


              Por último há ainda o carnaval, elemento do qual a chanchada é quase um sinônimo e ao qual o Cinema Novo quase não deu importância, ignorando Oswald Andrade, que reconheceu a importância do carnaval para a cultura brasileira ao afirmar que “o carnaval do Rio é o acontecimento religioso da raça” (Andrade, 1978:5). “As chanchadas ao carnavalizarem a sociedade tornam-se um ritual carnavalesco que procura colocar o mundo às avessas” (Dias, op.cit.:44). A estrutura da chanchada era semelhante a do carnaval. Inversões ocorriam a toda hora: nobres em plebeus, ricos em pobres, homens em mulheres etc. Os filmes sempre acabavam em festa. O Cinema Novo pouco considerou esta particularidade. O carnaval é até hoje a principal forma espontânea de organização e representação popular. No entanto, como já dissemos antes, o reconhecimento da manifestação popular, não estava na ordem do dia das esquerdas de então. O povo tinha que ser submetido a um projeto específico de tomada de poder feito para ele pelas elites intelectuais de esquerda. Desta forma, muitos elementos importantes da cultura popular foram relegados a um segundo plano.



              4 - Do isolamento e da consagração.



              Ao criticar a chanchada e afastar-se do público cultivado por ela, o Cinema Novo relegou-se a um enorme isolamento. Dessolidarizando-se de sua classe de origem, criticando-a pela sua xenofilia e identificação com a cultura norte-americana e européia, esses quadros perderam o apoio que essa poderia lhes dar. Em contrapartida, o “ocupado” - o povo - não se sentia representado por esses jovens que só se dirigiam a ele para mostrar-lhe o quanto agia erradamente. Isso criou um enorme problema de comunicação e relacionamento. O público, que era basicamente urbano, não ia ver os filmes do Cinema Novo (14). Nos anos 50 e 60 existiam enormes continentes populacionais no campo que jamais tinham tido acesso a qualquer tipo de imagem em movimento. O camponês dificilmente ia ver um filme, brasileiro ou não, devido as suas condições materiais de existência e à dificuldade de se levar o aparato exibidor (projetores, filmes etc.) até ele. A burguesia e a classe média não viam porque não gostavam da imagem do Brasil que lhes era mostrada. Quanto à relação entre o Cinema Novo e os operários Maurice Capovilla contou-nos uma estória interessante: entre 1961 e 1962, a Cinemateca Brasileira montou um cine-clube dentro do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de São Paulo. Aí foram passados diversos clássicos do cinema mundial, que contaram com uma ínfima presença de público. No entanto, quando foi exibido, num desses programas, o filme Zuyderzee, de Joris Ivens - que mostra o processo de construção de um enorme dique na Holanda -, houve uma grande afluência de público e o filme foi exibido diversas vezes naquele dia. Maurice Capovilla, que era o programador desses filmes e homem de ligação da Cinemateca com esse sindicato, afirma que isso ocorreu porque “o filme tinha a ver com a vida deles, que, afinal, eram operários da construção civil” (Capovilla, E, 1993). Na maioria das vezes, o operário não via os filmes do Cinema Novo porque tratavam de temas que não lhes despertavam interesse.


              Apenas os estudantes e os intelectuais que compartilhavam da mesma cultura política que os realizadores iam ver os filmes. Fica caracterizado, assim, um movimento endógeno retroalimentado.


              Embora isolado internamente, o movimento ganhou legitimidade no exterior, através da conquista de novos públicos e novos mercados que puderam assegurar-lhe que estava no caminho certo. Os diretores do Cinema Novo exibiram seus filmes em importantes festivais internacionais e ganharam vários prêmios. Este reconhecimento externo gerou algumas conseqüências. A primeira foi uma maior receptividade pela classe média brasileira que, por ser xenófila (como a chanchada já havia identificado e parodiado), passou a olhar esses filmes com um pouco mais de condescendência, já que agora eles tinham o aval dos intelectuais e artistas dos países desenvolvidos. Em segundo lugar, causou uma certa perplexidade aos cinemanovistas, pois embora tenha havido um reconhecimento maior do seu trabalho, isso não foi suficiente para garantir-lhes uma fatia maior do mercado exibidor brasileiro. Esta era a questão fundamental: sem acesso ao grande público não seria possível combater o imperialismo e o colonialismo cultural; não seria possível criar o novo homem brasileiro; não seria possível desalienar o povo. Das propostas fundamentais do movimento, uma das poucas que pôde ser posta em prática, e que garantiu seu reconhecimento externo, foi a busca de uma forma nova e revolucionária. Isso não depende do público e passa por uma postura particular do realizador.


              Daí advém uma terceira conseqüência: a endogenia do movimento. Os únicos que compreendiam suas propostas e objetivos, em sua totalidade e complexidade, eram os próprios cinemanovistas ou aqueles setores identificados com eles. Assim, criou-se um processo de isolamento do público, muito embora desejassem intensamente alcançá-lo. Num texto de 1972, Cacá Diegues afirma que:


              Durante muitos anos, tentamos construir o mundo através do cinema. Não foi possível. De raiva, resolvemos destruí-lo. E ele, nem te ligo, continuou igualzi­nho. Aí botamos o mundo entre parênteses e inventamos outro de brincadeira. Um gueto onde nada de fora pudesse entrar para perturbar o brinquedo. (Diegues, 1988:11).


              Neste ponto, isolado, o Cinema Novo volta-se para o Estado a procura de um novo espaço que o movimento pudesse ocupar para tentar manter-se vivo. Tal como as gerações de intelectuais que os precederam, os cinemanovistas almejavam não só participar das elaborações das políticas estatais, como tomar o aparelho estatal. A partir do golpe militar, esta segunda hipótese mostrou-se muito remota, mas eles não desistiram da primeira (Ramos, 1983). Do Estado, o Cinema Novo esperava, entre outras coisas, leis que lhe garantissem o acesso ao circuito exibidor e facilidades para a produção. Essa foi a maneira encontrada para combater o cinema norte-americano e tentar abocanhar uma fatia maior do mercado. Após o golpe de 1964, o movimento viu-se obrigado a buscar apoio no Estado autoritário que censurava suas produções e dificultava, não só a exibição, mas ainda a exportação dos filmes.


              Um dos seus principais aliados estatais foi a Comissão de Apoio à Indústria Cinematográfica (CAIC) criada em 1963 no antigo estado da Guanabara pelo governo Carlos Lacerda (15). Para Paulo César Saraceni esta “foi, de longe, a melhor ajuda governamental que o cinema brasileiro teve em toda a sua trajetória” (Saraceni, 1993: 162). A CAIC buscava criar as condições e mecanismos para incentivar o surgimento de uma indústria cinematográfica brasileira. O decreto que a criou, “trazia em seu corpo, de forma clara e explícita, regras que definiam um controle ideológico para a produção” (Ramos, op.cit.: 32). Contudo, essa vigilância ideológica não se mostrou, na prática, tão rígida assim. Vários filmes que contaram com a ajuda dessa comissão eram filmes que foram considerados “esquerdistas” e mesmo, posteriormente, censurados pelas autoridades do golpe militar de 1 de abril.


              Entre os filmes produzidos com dinheiro da CAIC podemos citar, entre outros, O desafio, de Paulo César Saraceni, O padre e a moça, de Joaquim Pedro de Andrade, A hora e a vez de Augusto Matraga, de Roberto Santos, Menino de engenho, de Walter Lima Jr. (ibid.:171). Além disso, premiou Vidas secas, de Nelson Pereira dos Santos, Garrinhcha, alegria do povo, de Joaquim Pedro de Andrade e Porto das Caixas, de Paulo César Saraceni.


              Este relacionamento com o Estado pode ser encarado como um reconhecimento, por parte desse, de que os cinemanovistas conseguiram afirmar-se enquanto uma elite intelectual legítima, digna interlocutora do Estado e dos setores conservadores. Isto vem corroborar aquilo que Philippe Bradfer chama de “crença” popularmente difundida, segundo a qual “aquele que, através de sua atividade intelectual (...) adquire um certo prestígio, possui, um julgamento abalizado das questões políticas (Bradfer, 1992: 47). Nunca os cineastas brasileiros alcançaram tanto respeito e foram ouvidos tão amplamente por setores importantes sociedade brasileira quanto neste período.



              5 - Ganhos e perdas.



              Em quatorze anos (1950/1964) formou-se no Brasil, mais intensamente no Rio de Janeiro, uma geração cinematográfica. Oriunda, em sua maioria, dos meios universitários, dedicou-se à crítica, à teoria cinematográfica e à produção de filmes, na bitola que fosse possível. Desde o início era possível perceber-se em suas discussões uma enorme vontade de “botar a mão na massa”, de produzir filmes compromissados com a realidade cultural brasileira. Esse grupo utilizou todas as armas disponíveis para alcançar seu intento. Sua grande união em torno de princípios gerais - não se pode falar de um programa de ação devido à grande heterogeneidade entre membros que compunham esse grupo - foi fundamental para o enfrentamento dos “inimigos”, fossem eles parcelas da crítica nacional de cinema encasteladas na grande imprensa ou representantes de um modelo de cinema que produzia os filmes brasileiros de então: chanchadas e produções da Vera Cruz.


              As críticas à Vera Cruz e à chanchada funcionaram como um instrumento de retórica utilizado para marcar posição contra tudo o que fôra feito em cinema no Brasil até então e para definir as linhas gerais que todos do Cinema Novo deveriam seguir.


              Nesses quatorze anos os cinemanovistas conseguiram criar um movimento que contou com uma produção intelectual (livros, artigos etc.) e cinematográfica constante. Obtiveram sucesso de crítica e conseguiram incluir a cinematografia brasileira entre as mais importantes do mundo. Também foram reconhecidos como um grupo social com voz ativa e com cacife para se tornar um importante interlocutor do governo e de setores da burguesia brasileira.


              Outro sucesso do Cinema Novo foi criar uma incipiente indústria cinematográfica no país. Laboratórios cinematográficos foram montados ou modernizados; formou-se uma mão de obra especializada, ainda que pequena, baseada numa autodidática de grupo (os cinemanovistas praticavam o que liam nos livros enquanto faziam seus filmes, uns ajudando os outros). Órgãos e instituições financeiras, estatais ou privadas, que davam ajuda ao desenvolvimento da indústria cinematográfica no Brasil surgiram graças às pressões e às articulações políticas desse grupo junto a setores sociais influentes.


              Outra vitória foi o desenvolvimento de uma linha de pesquisa de linguagem cinematográfica que passou a influenciar, positiva ou negativamente, toda a produção cinematográfica feita no Brasil após os anos 60. Segundo David Neves, influenciou até os jovens cineastas alemães desse mesmo período (Neves, E, 1993).


              Entretanto, alguns fatores prejudicaram o desenvolvimento do Cinema Novo. O primeiro foi não ter conseguido desvencilhar-se da velha tradição messiânica do intelectual nacionalista brasileiro que encara o povo como algo sem vontade própria e que deve ser conduzido até a sua salvação. O Cinema Novo também se colocou como o dono da verdade, como aquele que tinha as melhores propostas para o país, porque fruto de um elaborado raciocínio intelectual, e as propostas mais sinceras, porque autenticamente populares e nacionalistas. O povo era apenas um elemento a ser moldado ou, como se dizia na época, conscientizado.


              O segundo fator prejudicial foi não ter elaborado uma política de distribuição para seu produto. Esse erro é tão mais importante porque foi o mesmo cometido pela Vera Cruz e que já fôra diagnosticado por Alex Viany, um dos críticos e diretores de cinema mais respeitados pelos cinemanovistas. Só depois, por volta de 1965, é que eles se preocuparam de fato com esse problema e criaram a distribuidora de filmes Difilm que, entretanto, teve vida curta.


              Um terceiro fator foi o grupo ter encarado o grande público de uma maneira “preconceituosa”. Embora os cinemanovistas tenham criado um pequeno público próprio através dos cine-clubes, o grande público lhes permaneceu inacessível, até este período, pelo menos. Muito por sua própria culpa já que se esqueceram, também, de traçar uma política de atração de espectadores. Isso pode ser encarado como uma outra influência da sua atuação messiânica: o povo deveria, apenas, fornecer os elementos primários básicos que seriam retrabalhados por esses artistas. Com isso, sua relação com o público tornou-se uma rua de mão única onde não havia trocas e interações entre os cinemanovistas e o povo. Foi um relacionamento viciado. Intelectuais “bondosos” faziam filmes para o povo, a quem só restava aceitá-los, ou não. Se o grande público não gostasse dos filmes, o problema não estava na linguagem, nem na estrutura de produção, distribuição e exibição, mas na pouca conscientização política e no ínfimo desenvolvimento cultural dos espectadores.


              Houve uma querela entre Flávio Moreira da Costa e David Neves, narrada pelo primeiro, que ilustra bem essa dificuldade de relacionamento entre o Cinema Novo e o público. Em um dos capítulos do seu livro, David Neves afirma que o grande problema do Cinema Novo é o público (Neves, 1966). Flávio Moreira da Costa retruca dizendo que era o contrário: o problema seria a conquista desse público (Costa, E, 1993). De qualquer maneira, houve, de fato, uma grande lacuna entre o Cinema Novo o público brasileiro.



              [1] Jean-Paul Sartre, citado por Daniel Pécaut (Pécaut, 1990:5).


              2 Sobre este tema, remetemos, entre várias outras obras, a Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto (Cardoso e Faletto, 1984), Celso Furtado (Furtado, 1967), Hélio Jaguaribe (Jaguaribe, 1962 e 1967) e Maria da Conceição Tavares (Tavares, 1982).


              3 Para um apanhado geral dessas teses, remetemos ao número especial sobre o Brasil da revista Les temps modernes (número 257, outubro de 1967).


              4 Simon Schwartzman, citado por Daniel Pécaut (Pécaut, op.cit.:109).


              5 Para maiores esclarecimentos, remetemos, entre outros, a Hélio Jaguaribe (Jaguaribe, 1979), Daniel Pécaut (Pécaut, op.cit.), Nelson Werneck Sodré (Sodré, 1978) e Caio Navarro de Toledo (Toledo, 1978).


              6 Para maiores dados sobre o CPC ver, entre vários outros, Heloisa Buarque de Hollanda (Buarque de Hollanda, 1981) e Renato Ortiz (Ortiz, 1986).


              7 Frantz Fanon, citado por Ismail Xavier (Xavier, 1983:154).


              8 Entrevista de Débora Zampari, esposa de Franco Zampari, fundador da Vera Cruz, à Maria Rita Galvão (Galvão, 1981).


              9 Para maiores informações sobre a Vera Cruz, remetemos Alberto Cavalcanti (Cavalcanti, 1976), à obra fundamental de Maria Rita Galvão (Galvão, 1981), a Alex Viany (Viany, 1987) e a Glauber Rocha (Rocha, 1963).


              10 As citações onde aparecem o sobrenome, a letra E maiúscula e o ano referem-se a entrevistas realizadas pelo autor.


              11 Cf. Sérgio Augusto (Augusto, 1989) e Rosângela de Oliveira Dias (Dias, 1993).


              12 Para um maior aprofundamento no tema chanchada, remetemos, entre inúmeras outras obras, àquelas de Rosângela de Oliveira Dias (Dias, op.cit.), que pode indicar extensa bibliografia, e Sérgio Augusto (Augusto, 1989), que contém a ficha técnica de todos os filmes.


              13 Político populista que, acompanhado sempre de sua metralhadora de “estimação” (a “Lurdinha”) a tiracolo, mandava na Baixada Fluminense, principalmente em Duque de Caxias, dos anos 50 até o golpe militar.


              14 Para uma apreciação da composição demográfica e do público de cinema no Brasil dos anos 50 e 60, remetemos, entre outros, à Rosângela de Oliveira Dias (Dias, op.cit.).


              15 Para maiores informações sobre a CAIC, ver, entre outros, David Neves (Neves, 1963), José Mário Ortiz Ramos (Ramos, 1983) e Paulo César Saraceni (Saraceni, 1993).




              Bibliografia


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              DIEGUES,Carlos. Cinema brasileiro: idéias e imagens. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS/MEC/SESu/PROED, 1988.


              FABRIS, Mariarosaria. Nelson Pereira dos Santos: um olhar neo-realista? SP: EDUSP, 1994.


              GALVÃO, Maria Rita. Burguesia e cinema: o caso Vera Cruz. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira/EMBRAFILME, 1981.


              _____ e BERNARDET, Jean-Claude. inema: repercussão em caixa de eco ideológica. São Paulo: Brasiliense, 1980.


              HENNEBELLE, Guy. Os cinemas nacionais contra Hollywood. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.


              NEVES, David E. Cinema Novo no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1966.


              RAMOS, Fernão (org.). História do cinema brasileiro. SãoPaulo: Art Editora, 1987.


              RAMOS, José Mário Ortiz. Cinema, estado e lutas culturais: anos 50, 60, 70. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.


              ROCHA, Glauber. Revisão crítica do cinema brasileiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963.


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              SALLES GOMES, Paulo Emílio. Cinema: trajetória no subdesenvolvimento. Rio de Janeiro:Paz e Terra/EMBRAFILME, 1980.


              _____.Crítica no suplemento literário, (volumes 1 e 2). Rio de Janeiro: Paz e Terra/EMBRAFILME, 1981.


              _____.Humberto Mauro. Cataguazes, Cinearte. São Paulo: Perspectiva, 1974.


              SANTOS, Nelson Pereira dos, ROCHA, Glauber & VIANY, Alex. Cinema Novo: origens, ambições e perspectivas. In: Revista Civilização Brasileira, Nº 1, março,1965.


              SARACENI, Paulo César. Por dentro do Cinema Novo: minha viagem. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.


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              XAVIER, Ismail. Alegorias do desengano: a resposta do Cinema Novo à modernização conservadora, tese de Livre-docência, ECA/USP, 1989.



              B) DIVERSOS:


              BRADFER, Philippe. Structures de sociabilité des intellectuels et normes de conduite politique. In:Les Cahiers de l'IHTP, Nº 20, março, 1992.


              BUARQUE DE HOLLANDA, Heloisa. Impressões de viagem: CPC, vanguarda e desbunde - 1960/1970 (2a edição). SãoPaulo: Brasiliense, 1981.


              CARDOSO, Fernando Henrique e FALETTO, Enzo. Dependência e desenvolvimento na América Latina (7a edição). Rio de Janeiro: Zahar, 1984.


              FURTADO, Celso. De l'oligarchie à l'Etat Militaire. In: Les Temps Modernes, Nº 257, octobre 1967.


              GULLAR, Ferreira. Vanguarda e sub-desenvolvimento: ensaios sobre arte (3a edição). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984.


              JAGUARIBE, Hélio. Le colonial fascisme. In:Les Temps Modernes, Nº 257, octobre, 1967.


              _____.Desenvolvimento econômico e desenvolvimento político. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1962.


              _____.Iseb, um breve depoimento e uma reapreciação crítica. In: Cadernos de Opinião, Nº 14, outubro/novembro, 1979.


              MOTA, Carlos Guilherme. Ideologia da cultura brasileira (1933/1974). São Paulo: Editora Ática, 1977.


              ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade social (2a edição). São Paulo: Brasiliense, 1986.


              PECAUT, Daniel. Os intelectuais e a política no Brasil: entre o povo e a Nação. São Paulo: Editora Ática, 1990.


              SCHWARZ, Roberto. Que horas são?: ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.


              SODRÉ, Nelson Werneck. A verdade sobre o Iseb. Rio de Janeiro: Avenir, 1978.


              _____.Síntese da história da cultura brasileira (11a edição). SãoPaulo: Difel, 1983.


              TAVARES, Maria da Conceição. Da substituição das importações ao capitalismo financeiro (10a edição). Rio de Janeiro: Zahar, 1982.


              TOLEDO, Caio Navarro. Iseb: fábrica de ideologias. São Paulo: Ática, 1978.



              C) ENTREVISTAS (em ordem cronológica):


              COSTA, Flávio Moreira da - 01/02/1993.


              CARNEIRO, Mário - 05/03/1993.


              COUTINHO, Eduardo - 07/05/1993.


              VIANNA, Zelito - 16/08/1993.


              NEVES, David - 06/10 1993.


              SARACENI, Paulo César - 06/10/1993.


              DIEGUES, Carlos (Cacá) - 30/11/1993.


              CAPOVILLA, Maurice - 22/12/1993.


              LIMA JUNIOR, Walter - 09/02/1994.



              Resumo: este artigo procura investigar a cultura política brasileira e, principalmente, do Rio de Janeiro sob a qual se formou a geração que participou do movimento político-cultural conhecido como Cinema Novo, cujos principais elementos podem ser percebidos nas obras desse movimento.